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MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II
 AOS BISPOS ITALIANOS POR OCASIÃO
DA XXIII ASSEMBLEIA GERAL DO EPISCOPADO ITALIANO

 

Caríssimos Irmãos no Episcopado

1. Não podendo estar pessoalmente presente no meio de vós, por ocasião da Assembleia Geral anual que nos próximos dias vos reunirá em profunda comunhão de intenções para reflectir sobre as necessidades e as esperanças das Igrejas confiadas ao vosso cuidado pastoral, desejo dirigir-vos uma cordial saudação no momento de deixar Roma para a minha viagem pastoral ao Extremo Oriente e à Oceânia. O afastamento físico não impedirá, porém que me sinta espiritualmente unido a vós no afecto e na oração, "agradecendo incessantemente por vós ao meu Deus, pela graça que Ele vos concedeu em Jesus Cristo; porque em todas as coisas fostes enriquecidos n'Ele: em toda a palavra e em toda a ciência" (l Cor. 1, 4-5).

Muitos são os problemas que a vossa Assembleia tenciona enfrentar, como pude ver lendo o programa dos trabalhos. A multiplicidade dos compromissos pastorais aos quais, caríssimos Irmãos, deveis dar orientação e apoio, bem como a complexidade deste nosso tempo, cheio de grandes esperanças mas assinalado também por graves contradições, exigem o vosso vivo e decidido empenho colegial na perspectiva do verdadeiro bem da Igreja e da própria comunidade civil.

Que o Senhor vos permita celebrar a vossa Assembleia em espírito de fé, com uma sincera vontade de viver em plenitude a comunhão entre vós, de modo a tornar a Conferência um sinal eficaz e crível de comunhão missionária em toda a Igreja italiana.

2. Desejo, antes de mais, aproveitar esta solene circunstância para vos manifestar o meu apreço e a minha gratidão pela vossa generosa colaboração para o êxito do Ano Jubilar da Redenção. Cada um de vós deu o seu precioso contributo mediante a predisposição, nas respectivas dioceses, de adequadas oportunidades para a aquisição da indulgência jubilar, promovendo também a organização de peregrinações às Basílicas romanas e à Sé de Pedro, para que assim se manifestasse mais claramente a comunhão de cada Igreja particular com a Igreja de Roma, que Cristo quis deixar como princípio e fundamento da autêntica, e vital unidade de quantos crêem nele. Estou-vos igualmente reconhecido pela solicitude com que respondestes ao convite que a seu tempo vos dirigi, a unir-vos a mim no solene acto de consagração do mundo à materna protecção da Virgem Santíssima.

3. Cabe agora a nós, Pastores a quem Cristo confiou a sua Igreja, empenhar-nos a fundo para fazer desenvolver os germes que o Espírito suscitou no coração dos fiéis, no decurso do Ano Jubilar extraordinário.

De entre estes germes, desejo recordar em primeiro lugar os reconfortantes sintomas de um aumento da prática do Sacramento da Penitência, graças ao qual muitas almas reencontraram a alegria da paz com Deus e da reconciliação com os irmãos. Será, todavia necessário um empenho maior e contínuo em relação a esta primária urgência pastoral, seguindo as indicações da recente Assembleia do Sínodo dos Bispos, a fim de que este humaníssimo e ao mesmo tempo divino instrumento de conversão espiritual, "escogitado" pelo amor misericordioso do Redentor, possa exercer, hoje como no passado, toda a sua intrínseca eficácia na vida pessoal e social dos cristãos.

É neste contexto de renovamento espiritual que devem ser igualmente vistos os vários argumentos propostos à consideração desta vossa Assembleia. Antes de mais, há a preparação do segundo Convénio eclesial sobre o tema: "Reconciliação cristã, e comunidade humana". Anunciado já há algum tempo e recebido com grande esperança tanto dentro como fora da Igreja, tal Convénio deverá ser uma expressão significativa de autentica comunhão eclesial. Para isso, é necessário que desde as primeiras fases de preparação e na própria composição dos órgãos aos quais ela será, confiada, sejam respeitadas as exigências da comunhão, procurando por um lado que o Episcopado tenha o lugar que lhe compete por instituição divina, e por outro que cada expressão da variada realidade eclesial, em sintonia com as legítimas Autoridades, se encontre devidamente representada.

A ninguém passa despercebido que para o êxito do Convénio é necessário antes de mais urna vontade corajosa e unânime de todos vós, caríssimos Irmãos, para que sejam aplicados com segurança os recursos da Igreja italiana, sejam indicados ao pais claros valores e razões de esperança, e seja garantido de modo adequado um oportuno aprofundamento sobre o tema da Reconciliação à luz dos resultados do recente Sínodo dos Bispos e das experiências do Ano Jubilar.

Será igualmente necessário que cada um de vós esteja consciente dos riscos que uma tal iniciativa poderá comportar, e que esteja decidido a enfrentá-los juntamente com os seus Irmãos no Episcopado, ao serviço do Evangelho, da Igreja e da comunidade humana.

4. Um outro argumento que não deixará de ser objecto da vossa particular solicitude será as perspectivas que, sob o plano pastoral, derivam do conteúdo do Acordo entre a Santa Sé e a Itália, de 18 de Fevereiro passado, o qual introduz algumas alterações na Concordata lateranense. Em tal importante documento, destinado a influenciar por diversos motivos a vida da Igreja na Itália nos próximos anos, tem particular significado as disposições referentes ao ensino da religião nas escolas públicas. A sua eficácia para a educação religiosa dos jovens, no âmbito das finalidades próprias da escola, dependerá do sentido de responsabilidade que animar os pastores de almas, os alunos e as famílias, e também os professores, cada um segundo o seu papel específico. Não posso deixar de constituir uma preocupação comum fazer com que o maior número possível de jovens, que recebem na escola uma formação fundamental para a sua vida, beneficiem, no mesmo ambiente escolar, de um competente e apropriado ensino religioso.

5. Afigura-se por outro lado de especial importância para esta vossa Assembleia a revisão do Estatuto da Conferência Episcopal. Pertencerá de modo particular à vossa Assembleia definir com maior precisão a fisionomia da própria Conferência à luz da doutrina conciliar e das disposições do novo Código de Direito Canónico, os quais recordam oportunamente as impreteríveis prerrogativas da Santa Sé e dos Bispos como pastores das Igrejas particulares.

Se forem bem traduzidos nos Estatutos, estes aspectos principais poderão dar o necessário impulso a este órgão do "Affectus collegialis" do Episcopado, que é a Conferência, transformando-o num seguro instrumento de comunhão eclesial, na linha de um coordenamento cada vez melhor da acção pastoral ao serviço do Povo de Deus no nosso tempo.

6. Não posso deter-me aqui sobre os outros numerosos e graves argumentos, acerca dos quais a vossa sabedoria, venerados Irmãos, é chamada a pronunciar-se. Já tive ocasião de exprimir o meu parecer sobre eles em diversas circunstâncias, tanto em precedentes encontros convosco, como ao receber os Episcopados, de outras nações ou ao visitá-los eu mesmo nos seus países.

Os meus votos fraternos e cordiais são que a vossa reflexão chegue a conclusões responsavelmente compartilhadas, de modo que esta vossa Assembleia represente um momento significativo de comunhão e contribua para tornar cada vez mais eficaz a acção que as diversas componentes eclesiais realizam na realidade social italiana. Com estes votos, elevo a Deus a minha oração, implorando para vós aqueles dons de clarividência, de fortaleza e discernimento que a complexidade dos problemas em discussão comporta. Que o Senhor Jesus vos conceda abundantes luzes e consolações interiores. Peço-lho por intercessão de Maria Santíssima, Sua e nossa Mãe. Com estes sentimentos, concedo-vos de boa vontade, como penhor de intenso afecto, a minha especial Bênção Apostólica.

Vaticano, 1 de Maio de 1984

JOÃO PAULO PP. II

 



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