Index   Back Top Print

[ EN  - ES  - FR  - IT  - PT ]

VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II
À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS
[25 DE JANEIRO - 1º DE FEVEREIRO DE 1979]

DISCURSO DO SANTO PADRE
AOS REPRESENTANTES
DAS ORGANIZAÇÕES CATÓLICAS DO MÉXICO

Segunda-feira, 29 de Janeiro de 1979

 

Amadíssimos filhos
das Organizações Católicas Nacionais do México

Bendito seja o Senhor que — na minha permanência nesta querida terra de Nossa Senhora de Guadalupe — me permite ainda saborear o prazer dum encontro convosco.

Agradeço as vossas vivas demonstrações de afecto filial e posso confessar-vos quanto me agradaria deter-me com cada um de vós para vos conhecer pessoalmente, para ficar mais informado do vosso serviço eclesial e para recolher informações abundantes sobre tantos aspectos fundamentais da vossa projecção apostólica. Desejo, ao menos, que estas palavras sejam testemunho eloquente de solidariedade, apreço e estímulo, e de orientação dos vossos melhores esforços como leigos — e como laicado católico organizado — por parte de quem, como Sucessor de Pedro, foi chamado ao serviço de todos os que servem ao Senhor.

Vós sabeis bem como o Concílio Vaticano II recolheu essa grande corrente histórica contemporânea de "promoção do laicado", aprofundando-a nos seus fundamentos teológicos, integrando-a e iluminando-a devidamente com a eclesiologia da Lumen Gentium, convocando e impulsionando a participação activa dos leigos na vida e missão da Igreja. No Corpo de Cristo, constituído em "pluralidade de ministérios mas unidade de missão" (AAS 2, cfr. Lumen Gentium 10, 32), os leigos, enquanto fiéis cristãos "incorporados em Cristo pelo baptismo, constituídos em povo de Deus e tornados participantes à sua maneira da função sacerdotal, profética e régia de Jesus Cristo", estão chamados a exercer o seu apostolado, especialmente "em todas e cada uma das actividades e profissões" que desempenham, "assim como nas condições ordinárias da vida familiar e social..." ( Lumen Gentium, 31) a fim de "impregnarem e aperfeiçoarem toda a ordem temporal com o espírito evangélico" (AAS, 5). 

No quadro global dos ensinamentos conciliares e particularmente à luz da "Constituição sobre a Igreja", abriram-se vastas exigências e renovadas perspectivas de acção dos leigos em variadíssimos campos da vida eclesial e secular. Sem prejuízo do apostolado individual, reconhecido como seu pressuposto indispensável, o decreto Apostolicam Actuositatem indicou também o apreço da Igreja pelas formas associativas do apostolado leigo, congénitas ao ser comunitário da Igreja e às exigências de evangelização do mundo moderno.

Vós sois, portanto, sinais e protagonistas dessa "promoção do laicado" que tantos frutos tem dado à vida eclesial nestes anos de aplicação do Concílio. A vós — e por meio de vós a todos os leigos e associações laicais da Igreja da América Latina — convido a que renovais uma dupla dimensão do vosso compromisso laical e eclesial.

Por um lado, a que testemunheis denodadamente a Cristo, confesseis com alegria e docilidade a vossa plena fidelidade ao Magistério eclesial, a que assegureis a vossa filial obediência e colaboração aos vossos Pastores, busqueis a mais adequada inserção orgânica e dinâmica do vosso apostolado na missão da Igreja e, em particular, da pastoral das vossas Igrejas locais. Muitos e muito provados exemplos disso, deu e dá o laicado mexicano. E é com alegria e agradecimento que desejo recordar especialmente a comemoração, neste ano de 1979, do cinquentenário da Acção Católica Mexicana, coluna vertebral do laicado organizado no País.

A III Conferência Geral do Episcopado latino-americano é momento forte de graça, que exige conversão pessoal e comunitária, para que se renovem a vossa comunhão eclesial, a vossa confiança nos Pastores, e o vosso vigor e impulso apostólico. Por outro lado, nessa perspectiva eclesial, quero convidar-vos a que reaviveis a vossa sensibilidade humana e cristã quanto à outra vertente do vosso compromisso: a participação nas carências, aspirações e desafios cruciais com que a realidade dos vossos próximos solicita a acção evangelizadora de leigos cristãos.

Entre a vastidão dos campos que exigem a presença do laicado no mundo, campos que assinala a Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi essa Carta Magna da Evangelização — quero assinalar alguns espaços fundamentais e urgentes no acelerado e desigual processo de industrialização, urbanização e transformação cultural na vida dos vossos povos.

A salvaguarda, promoção, santificação e projecção apostólica da vida familiar devem contar os leigos católicos entre os seus agentes mais decididos e coerentes. Célula básica do tecido social, considerada pelo Concílio Vaticano II como "Igreja doméstica", exige um esforço evangelizador, que active os seus factores de crescimento humano e cristão e vença os obstáculos que atentam contra a sua integridade e suas finalidades.

Os "mundos" que se levantam na sua complexidade — os intelectuais e universitários, o proletariado, os técnicos e dirigentes de empresas, os vastos sectores "campesinos" e populações suburbanas submetidas ao impacto acelerado de mudanças económico-sociais e culturais — reclamam atenção apostólica especial, as vezes quase missionária, por parte do laicado católico na projecção pastoral do conjunto da Igreja.

Como não assinalar também a presença dessa multidão interpelante da juventude, nas suas inquietas esperanças, rebeldias e frustrações, nos seus ilimitados anelos às vezes utópicos, nas suas sensibilidades e buscas religiosas, assim como nas suas tentações vindas de ídolos consumísticos ou ideológicos! Os jovens esperam testemunhos claros, coerentes e alegres, da fé eclesial, que os ajude a reestruturar e canalizar as suas disponíveis e generosas energias em sólidas opções de vida pessoal e colectiva.

A caridade, seiva dominante de vida eclesial, manifeste-se por meio dos leigos cristãos, também na solidariedade fraterna diante de situações de indigência, opressão, desamparo ou solidão dos mais pobres, predilectos do Senhor que é libertador e redentor.

E como esquecer o mundo todo do ensino, no qual se forjam os homens de amanhã; até o terreno da política, a fim de que esta se ajuste a critérios de bem comum; o campo dos organismos internacionais, para que sejam encontros de justiça, esperança e entendimento entre os povos; o mundo da medicina e do serviço sanitário, onde são possíveis tantas intervenções que muito de perto dizem respeito à ordem moral; o campo da cultura e da arte, terrenos férteis na sua contribuição para que se dignifique o homem no humano e no espiritual?

Nesta dupla vertente de renovado compromisso cristão, a vossa fidelidade eclesial —  recolhendo e fortalecendo a tradição do laicado mexicano — lançar-vos-á com renovadas energias a operar como fermento no sentido de mais vastas perspectivas de convivência social.

A tarefa é imensa. Vós sois chamados a participar nela, assumindo e continuando depois o melhor da experiência de participação eclesial e laical nos últimos anos; indo deixando de lado as crises de identidade, contestações estéreis e ideologizações que sejam estranhas ao Evangelho.

Um dos fenómenos dos últimos anos em que se manifestou com crescente vigor o dinamismo dos leigos na América Latina e noutros lugares, é o das chamadas comunidades de base que têm vindo surgindo em coincidência com a crise do espírito associativo católico.

As comunidades de base podem ser um instrumento válido de formação e vivência da vida religiosa dentro dum novo ambiente de impulso cristão e podem servir, entre outras coisas, para uma penetração capilar do Evangelho na sociedade.

Mas para que isso seja possível é necessário que se mantenham bem presentes os critérios tão claros enunciados na Evangelii Nuntiandi (Cfr. Evangelii Nuntiandi , 58), a fim de que se alimentem da Palavra de Deus na oração, e permaneçam unidas; não separadas e menos ainda contrapostas, à Igreja, aos Pastores e aos outros grupos ou associações eclesiais.

Sejam as vossas associações como até hoje — e melhor ainda — forjas de cristãos com vocação à santidade, sólidos na fé, seguros na doutrina. proposta pelo magistério autêntico, firmes e activos na Igreja, cimentados numa densa vida espiritual, alimentada com a aproximação frequente dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, perseverantes no testemunho e na acção evangélica, coerentes e decididos nos seus compromissos temporais, constantes promotores de paz e justiça contra toda a violência ou opressão, agudos no discernimento crítico das situações e ideologias à luz dos ensinamentos sociais da Igreja, confiados e esperando no Senhor.

Chegue a minha Bênção Apostólica a vós, a todos os leigos das vossas associações, aos vossos assistentes eclesiásticos e ao conjunto do laicado mexicano. E também aos milhões de leigos latino-americanos que elevam a sua oração por Puebla e em Puebla depositam a sua esperança. A todos vos recomendo à protecção maternal da Virgem Maria, chamada de Guadalupe.

 



Copyright © Dicastero per la Comunicazione - Libreria Editrice Vaticana