DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AOS PARTICIPANTES NO 33º CONGRESSO
DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL FRANCESA
DOS DIRECTORES DIOCESANOS
DE PEREGRINAÇÕES
17 de Outubro de 1980
Caríssimos amigos
Vindes de Loreto, ao término dos dias de amizade, de reflexão e de oração, que vos infundiram novas energias para cumprir a missão particular a vós confiada pelos vossos respectivos Bispos. Não esperais do Papa, neste breve encontro, uma exposição sobre a arte de ser, hoje, Director diocesano de peregrinações. Permiti-me tão somente expressar-vos o meu cordial agradecimento pela vossa visita e fazer-vos sentir quanto partilho as vossas alegrias e as vossas preocupações pastorais.
1. Jamais sereis bastante felizes e reconhecidos para com Nosso Senhor por terdes que guiar os vossos irmãos cristãos por sublimes lugares espirituais e em momentos privilegiados da sua existência. Amai apaixonadamente o vosso serviço eclesial. Talvez um tanto eclipsado num passado recente, ele reencontra, felizmente, e quase por toda a parte, o seu justo lugar, muitas vezes bastante revalorizado. Se eu pudesse deter-me com cada um de vós, estou bem certo que me comunicaríeis profundas e numerosas alegrias sacerdotais, devidas às maravilhas operadas por Nosso Senhor na alma dos peregrinos.
2. Sois felizes, além disso, por haverdes contribuído para a ampliação e a qualificação das vossas equipes diocesanas ou regionais de pastoral dos peregrinos. Os vossos predecessores têm direito ao vosso respeito e à vossa gratidão. A vós cabe-vos procurar, formar e sustentar numerosos colaboradores, tanto entre os leigos, como entre os vossos irmãos de hábito e entre os religiosos e as religiosas.
Bem sabeis que o Papa vos aprova e vos encoraja. Para que a vossa alegria persista no seu vigor evangélico, mantende, antes de mais nada, no interior das vossas equipes, os elos de uma fé e de uma oração ardentes, conjugai as vossas capacidades de reflexão, as vossas experiências, partilhai as vossas responsabilidades, dai sem cessar prova de feliz imaginação! Oxalá não se glorie nenhuma equipe diocesana de ter enfim encontrado a fórmula ideal, mas todas permaneçam vigilantes, e ajudem com o seu dinamismo apostólico aqueles que se encontram em dificuldades.
3. A vossa alegria é, igualmente, e deve ser sempre, a de superar as questões de organização, de transporte, de alojamento, de orçamento — que certamente não deixam de ter a sua importância — e de excogitar maneiras aptas a colocar os espíritos e os corações dos vossos peregrinos em vias de conversão. Neste sentido, é de capital relevância o vosso exemplo pessoal, assim como o dos vossos colaboradores. Arcais prioritariamente com a responsabilidade do clima que faz caminhar as almas rumo à luz de Deus. Mesmo afastados da fé, ficam sensibilizados comas assembleias orantes e cantantes dos cristãos. Sabemos que Agostinho, em Milão, ficou comovido com a melodia dos salmos, e que Paul Claudel foi conquistado pela graça durante o canto das vésperas de Natal em Notre-Dame de Paris. A vossa alegria de promotores de assembleias é simplesmente uma participação na alegria de Deus, Pastor do seu povo, que ressoa através da Bíblia e do Evangelho.
4. A vossa felicidade é, enfim, a de experimentardes que a peregrinação constitui um avanço ou uma redescoberta da missão que incumbe a todo o cristão. Numerosas confidências pessoais, bem como os testemunhos ou a partilha espiritual que se vai operando, cada vez mais, durante as peregrinações ou depois delas, fazem-vos conhecer e admirar adultos e jovens que despertam para uma fé melhor integrada na sua vida concreta, nas responsabilidades precisas que lhes cabem na Igreja ou nos seus ambientes de vida, enquanto alguns começam a perceber a chamada de Cristo para o dom total.
5. Gostaria, enfim, de vos ajudar a suportar as vossas preocupações pastorais. Conheço a vossa inquietude no sentido de enquadrar ou, pelo menos, educar um «turismo religioso» que se desenvolve paralelamente à expansão das verdadeiras peregrinações, com a única finalidade de visitar os sublimes lugares espirituais. Importa manter com os responsáveis e animadores de tal turismo, um relacionamento e um diálogo que possam dar os seus frutos com o tempo.
6. Tendes igualmente, de uma peregrinação à outra, e de um ano ao outro, a preocupação do alimento doutrinal das massas reunidas em assembleias. Existem assuntos doutrinais e apostólicos que é preciso ter a coragem de retomar e de aprofundar. As peregrinações tornaram-se, antes, durante e depois de se realizarem, um momento original da catequese eclesial (cf. Exortação Catechesi tradendae, 47). Podeis contribuir singularmente para um novo surto do apetite doutrinal no povo de Deus, que permanece uma condição absolutamente essencial da sua vitalidade espiritual e apostólica. Poder-se-iam citar bons exemplos de temas de peregrinação, a serem preparados com muito cuidado e integrados, a seguir, na vida quotidiana.
7. Penso também vir ao encontro dos vossos anseios, ao sublinhar a vossa preocupação pela qualidade das cerimónias que estruturam as jornadas de peregrinação, sobretudo com as celebrações eucarísticas e com o sacramento da reconciliação, cuja dimensão pessoal muito importa preservar. Muito já se tem feito neste sentido. Sabemos que aqui mesmo vários organismos, entre outros o Centro pastoral de acolhimento dos peregrinos de língua francesa, dão a sua contribuição. Zelai bem e constantemente para que toda a cerimónia seja digna, viva e recolhida, fiel às normas sabiamente traçadas pelo Papa e pelos Bispos; numa palavra, exemplar. As celebrações vividas no decurso de uma peregrinação, podem beneficiar muito ou, infelizmente, muito pouco — os participantes, geralmente bem dispostos. Lembrai-vos igualmente de que tais cerimónias, muitas vezes, constituem uma escola para as comunidades paroquiais das dioceses. Ponderai a vossa responsabilidade.
8. Caros amigos, tendes nas mãos uma chave do futuro religioso do nosso tempo: as peregrinações cristãs, redescobertas e vividas em todas as suas dimensões e exigências, que podem corresponder a uma expectativa mais ou menos consciente dos homens e dos crentes, insatisfeitos com o ambiente materialista actual. As concentrações religiosas, demasiadamente subestimadas por alguns, poderão evitar-lhes a aventura de uma adesão a grupos que buscam, em fontes equívocas, um certo calor humano e religioso. E tempo de conceder à pastoral das peregrinações um lugar pelo menos igual ao que se deve dar à indispensável formação de uma elite. E muito desejável que se promova tanto uma como outra, sem as opor, mas de maneira complementar e dinâmica. É com esta esperança que vos abençoo de todo o coração, como também aos vossos dedicados colaboradores.
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