1600 ANIVERSÁRIO DO I CONCÍLIO CONSTANTINOPOLITANO
1550º ANIVERSÁRIO DO CONCÍLIO DE ÉFESO
SOLENIDADE DE PENTECOSTES
MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II (*)
I. Acto de Veneração
1. Credo in Spiritum Sanctum, Dominum et vivificantem.
(Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida).
Estas palavras, com as quais a Igreja professa a sua fé, fizeram com que nos reuníssimos na manhã de hoje, solenidade do Pentecostes, na Basílica de São Pedro. Efectivamente, completam-se este ano mil e seiscentos anos após a realização do primeiro Concílio de Constantinopla, o qual, precisamente com estas palavras, exprimiu a fé na divindade do Espírito Santo: "Qui cum Patre et Filio simul adoratur et conglorificatur" (que com o Pai e o Filho é adorado e glorificado).
As mesmas palavras nos trouxeram agora aqui, nestas horas pós-meridianas do Pentecostes, à Basílica de Santa Maria Maior. Se devemos, de facto, render uma plena homenagem de adoração ao Espírito Santo "que dá a, vida" ("Credo in Spiritum Sanctum, Dominum et vivificantem"), então, amados Irmãos no Episcopado, devemos venerá-l'O sobretudo em Jesus Cristo: naquele Jesus que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, e nasceu da Virgem Maria. Ele, de facto, só Ele, unicamente Ele, é o fruto mais esplêndido da obra do Espírito Santo em toda a história da Criação e da Redenção. Ele é a plenitude mais perfeita daquela vida que o Espírito Santo dá: Deus de Deus, Luz da Luz, gerado — como Filho da mesma substância do Pai — e não criado, que por nós, homens, e pela nossa salvação encarnou no seio da Virgem Maria por obra do Espírito Santo.
2. Para venerar o Espírito Santo, pois, na ocorrência deste ano jubilar, que exige de nós uma devoção particular para com Ele, viemos agora aqui, nesta tarde de Pentecostes, à Basílica Mariana de Roma, a este templo que de há tantos séculos, aqui precisamente, exalta aquele ponto culminante e aquela plenitude da obra do Espírito Santo no homem.
Induz-nos a realizar este novo encontro também a circunstância de neste Ano do Senhor de 1981, em que se completam dezasseis séculos após a realização do primeiro Concílio de Constantinopla, se passarem igualmente mil quinhentos e cinquenta anos após o sucessivo Concílio de Éfeso, que ficou inscrito na tradição viva da Igreja como o Concílio simultaneamente cristológico e mariológico. A obra mais admirável realizada pelo Espírito Santo mediante a Encarnação, ou seja o tornar-se homem do Verbo Eterno, de Deus-Filho, verificou-se com o assenso consciente e com o humilde "fiat" (faça-se) d'Aquela que, ao tornar-se Mãe de Deus, disse de Si mesma: "Eis aqui a serva do Senhor" (Lc 1, 38).
Assim, pois, a obra do Espírito Santo, a obra mais perfeita na história da Criação e da Salvação, é constituída simultaneamente pelo facto de o Filho de Deus, consubstancial ao Pai Eterno, se ter feito homem — e de Maria de Nazaré, a serva do Senhor da estirpe de David, se ter tornado a verdadeira Mãe de Deus: "Theotokos". Foi esta a verdade que os Padres cio Concílio professaram; e todo o povo cristão acolheu tal proclamação com grandíssima alegria.
3. Vimos aqui, pois, veneráveis Irmãos, e igualmente todos vós, amados Filhos e Filhas, junto desta Basílica Mariana de Roma, para anunciar — aproveitando a ocasião dos dois importantes aniversários que juntamente se evocam — as "magnalia Dei": as grandes obras de Deus, que iluminam a caminhada da Igreja através dos séculos e dos milénios. E nesta hora que vivemos, em que nos aproximamos já do final do segundo Milénio depois da vinda de Jesus Cristo, nós desejamos, com renovado impulso de fé, rever estas vias que O introduziram no mundo e O tornaram conjunto à história da grande família humana para todos os tempos. Estas vias passaram através da imperscrutável acção do Espírito Santo — d'Aquele que é Senhor e dá a vida — e, ao Mesmo tempo, através do coração humilde da serva, do Senhor, Maria de Nazaré.
"Benedictus Dominus Deus Israel, quia visitavit et fecit redemptionem plebis suae!" (Lc 1, 68).
(Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e resgatou o seu povo - Lc 1, 68).
"Magnificat anima mea Dominum... quia fecit mihi magna qui potens est" (cf. Lc 2, 46-49).
(A Minha alma glorifica o Senhor... porque me fez grandes coisas o Todo-Poderoso - Lc 1, 46-49).
II. Acto de Agradecimento
4. Quando nos encontrávamos reunidos esta manhã na Basílica de São Pedro no Vaticano, afigurou-se-nos por um momento que aquele templo esplendoroso era o pobre cenáculo de Jerusalém, onde Cristo Se apresentou depois da sua Ressurreição e, após ter saudado os Apóstolos com votos de paz, soprou sobre eles, dizendo: "Recebei o Espírito Santo" (Jo 20, 22). E, mediante tais palavras, os mesmos Apóstolos receberam o Dom que Ele lhes havia alcançado com a Sua paixão e, contemporaneamente, foram confiados ao Espírito Santo no caminho da missão, que o mesmo Cristo havia inaugurado antes deles: "Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós" (cf. Jo 20, 21). E toda a Igreja então foi confiada ao Espírito Santo para todo o sempre.
Com as palavras pronunciadas na tarde da Ressurreição já teve início o Pentecostes das festividades hierosolimitanas. E nós, que nos encontramos reunidos nesta festa de Pentecostes do Ano do Senhor de 1981, desejamos receber de novo o mesmo Dom, perseverando como Sucessores dos Apóstolos do Cenáculo na fervorosa entrega ao Espírito Santo, ao qual Cristo nessa ocasião confiou a Igreja de maneira irreversível, até ao fim do mundo.
5. E congregados junto desta Basílica Mariana de Roma, nós sentimos de um modo também novo a semelhança com os Apóstolos que, reunidos no cenáculo, perseveravam em oração com Maria, Mãe de Cristo. Nós viemos aqui porque, recordando de maneira particular a presença de Maria no nascer da Igreja, fixámos o nosso olhar na sua Maternidade maravilhosa, que é para nós esperança e inspiração ao longo dos caminhos da missão herdada dos Apóstolos — herdada a partir do dia do Pentecostes hierosolimitano.
6. Oh! Como é belo estarmos aqui! Como é belo que o II Concílio do Vaticano, ao anunciar no nosso século as "magnalia Dei" (as grandes obras de Deus), nos tenha tornado manifesto o lugar particular de Maria no mistério de Cristo e conjuntamente da Igreja! E como é belo que nos tenha indicado tal lugar seguindo fielmente o ensino dos Concílios da antiguidade e a luz herdada dos grandes Padres da Igreja e Mestres da fé!
"A Mãe de Deus é figura da Igreja — como já ensinava Santo Ambrósio — na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo... Pois bem, a Igreja que contempla a Sua santidade misteriosa e imita a Sua caridade... torna-se também, ela própria, mãe: efectivamente, pela pregação e pelo Baptismo, gera, para uma vida nova e imortal, os filhos concebidos por obra do Espírito Santo e nascidos de Deus... Na sua acção apostólica, a Igreja olha com razão para Aquela que gerou Cristo, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo e nasceu da Virgem precisamente para nascer e crescer também nos corações dos fiéis, por meio da Igreja" (Const. dogm. Lumen Gentium, 63-65).
7. Demos graças ao Espírito Santo pelo dia do Pentecostes! Demos-Lhe graças pelo nascimento da Igreja! Demos-Lhe graças por ter estado presente a esse nascimento a Mãe de Cristo, que perseverava na oração juntamente com a Comunidade primitiva!
Sim, agradeçamos pela Maternidade de Maria, que se comunicou e continua a comunicar-se à Igreja! Agradeçamos pela Mãe sempre presente no cenáculo do Pentecostes! Agradeçamos, ainda, porque podemos chamá-l'A também Mãe da Igreja!
III. Acto de entrega confiante
8. Ó Vós que mais do que qualquer outro ser humano fostes confiada ao Espírito Santo, ajudai a Igreja do Vosso Filho a perseverar na mesma entrega confiante, a fim de que ela possa derramar sobre todos os homens os inefáveis bens da Redenção e da Santificação, para ser libertada a inteira criação (cf. Rom 8, 21).
Ó Vós que estivestes com a Igreja nos princípios da sua missão, intercedei por ela, a fim de que, indo por todo o mundo, ensine a todas as gentes e anuncie o Evangelho a todas as criaturas.
Sim, que a Palavra da Verdade Divina e o Espírito do Amor tenham acesso aos corações dos homens, os quais sem esta Verdade e sem este Amor não podem realmente viver a plenitude da vida.
Ó Vós que conhecestes da maneira mais plena o poder do Espírito Santo, quando Vos foi concedido conceber no Vosso seio virginal e dar à luz o Verbo Eterno, alcançai para a Igreja que ela possa continuamente fazer renascer pela água e pelo Espírito Santo os filhos e filhas de toda a família humana, sem distinção alguma de língua, de raça ou de cultura, dando-lhes dessa maneira o "poder de se tornarem filhos de Deus" (Jo 1, 12).
Ó Vós que assim tão profundamente e maternamente estais ligada à Igreja, precedendo na caminhada da fé, da esperança e da caridade todo o Povo de Deus, abraçai a todos os homens que se acham a caminho, peregrinos através da vida temporal em direcção aos destinos eternos, com aquele amor que o próprio Redentor divino, Vosso Filho, derramou no Vosso coração do alto da Cruz. Que Vós sejais sempre a Mãe em todos os nossos caminhos terrenos, mesmo quando estes se tornam tortuosos, a fim de podermos, no final, encontrar-nos naquela grande Comunidade que o mesmo Vosso Filho chamou redil, oferecendo por ela a sua vida como Bom Pastor.
Ó Vós que fostes a primeira Serva da unidade do Corpo de Cristo, ajudai-nos e ajudai todos os fiéis que tão dolorosamente sentem o drama das divisões históricas do Cristianismo, a procurar o caminho da unidade perfeita do Corpo de Cristo, mediante a fidelidade incondicionada ao Espírita de Verdade e de Amor, que nos foi dado à custa da Cruz e da Morte do Vosso Filho.
Ó Vós que sempre desejastes servir! Vós que servis como Mãe toda a família dos filhos de Deus, alcançai para a Igreja, enriquecida pelo Espírito Santo com a plenitude dos dons hierárquicos e carismáticos, que ela possa prosseguir com constância no sentido do futuro pelo caminho daquela renovação que provém daquilo que diz o Espírito Santo e que teve expressão no ensino do II Concílio do Vaticano, assumindo nessa obra de renovação tudo o que é verdadeiro e bom, sem se deixar enganar, nem numa direcção nem na outra, mas discernindo assiduamente entre os sinais dos tempos aquilo que serve para o advento do Reino de Deus.
Ó Mãe dos homens e dos povos, Vós conheceis todos os seus sofrimentos e as suas esperanças, Vós sentis maternalmente todas as lutas entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas, que abalam o mundo — acolhei o nosso brado, dirigido no Espírito Santo directamente ao Vosso coração, e abraçai com o amor da Mãe e da Serva do Senhor aqueles que mais esperam por este abraço e, ao mesmo tempo, aqueles cuja entrega confiante Vós também esperais de maneira particular. Tomai sob a Vossa protecção materna a inteira família humana que, com enlevo afectuoso, nós Vos confiamos, ó Mãe. Que se aproxime para todos o tempo da paz e da liberdade, o tempo da verdade, da justiça e da esperança.
Ó Vós que — mediante o mistério da Vossa particular santidade, isenta de toda e qualquer mácula desde o momento da Vossa concepção — experimentais de maneira particularmente profunda que "a criação geme e sofre... as dores do parto" (Rom 8, 22), ao mesmo tempo que, "submetida à caducidade", "nutre a esperança de que será, também ela, libertada da escravatura da corrupção (ibid. 8, 20-21), contribuí, sem cessar, para a "revelação dos filhos de Deus" que "a mesma criação aguarda, ansiosamente" (ibid. 8, 19), para entrar na liberdade da sua glória (cf. ibid. 8, 21).
Ó Mãe de Jesus, Vós que já estais glorificada no Céu em corpo e alma — qual imagem e início da Igreja que deverá ter o seu completamento no século futuro — aqui sobre a terra, enquanto não chegar o dia do Senhor (cf. 2 Ped 3, 10), não deixeis de brilhar diante do Povo de Deus peregrino, como sinal de esperança segura e de consolação (cf. Const. dogm. Lumen Gentium, 68).
Deus Espírito Santo, que com o Pai e o Filho sois adorado e glorificado: acolhei estas palavras de humilde entrega confiante dirigidas a Vós passando pelo coração de Maria de Nazaré, Vossa Esposa e Mãe do Redentor, à Qual também a Igreja chama sua Mãe, porque d'Ela apreende, desde o cenáculo do Pentecostes, a própria vocação materna. Acolhei estas palavras da Igreja que peregrina, proferidas no meio de canseiras e de alegrias, entre temores e esperanças, palavras que são expressão de entrega humilde e confiante, palavras com as quais a Igreja confiada a Vós para sempre, Espírito do Pai e do Filho, no cenáculo do Pentecostes, não cessa de repetir convosco ao seu Esposo divino: Vem!
Sim, "o Espírito e a esposa dizem ao Senhor Jesus 'Vem'" Apoc 22, 17). "E assim a Igreja universal aparece como um povo unido, pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Const. dogm. Lumen Gentium, 4).
Assim se expressa neste dia, mediante a nossa voz, a Igreja, confiando na Vossa bondade materna, ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria.
(*) Mensagem gravada pelo Santo Padre no Hospital Gemelli, no período de internação.
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