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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II A LOURDES
[14-15 DE AGOSTO DE 1983]

ENCONTRO COM OS JOVENS

PALAVRAS DO SANTO PADRE

Basílica de São Pio X
Lourdes, 14 de Agosto de 1983

 

Queridos jovens da França, da Europa e de outros continentes.

1. Sinto-me feliz de poder continuar com vocês esta bela meditação.

Temos deixado penetrar em nós a convicção do profeta Isaías: "Deus é sempre salvador". Em nós está igualmente gravada a visão da primeira comunidade cristã de Jerusalém, tão fraterna, reunida em torno do Apóstolo Pedro, e tão próxima de Maria, a Mãe de Jesus. Esses homens e essas mulheres que nos precederam são os nossos pais e mães, mas também os nossos contemporâneos na fé. Os nossos louvores acabam de fazer eco nos nossos corações às maravilhas da Aliança de Deus com a humanidade. Podemos então retomar o Magnificat, que brotou do coração humilde e da ardente fé de Nossa Senhora.

Alguns de vocês têm feito chegar até mim algumas perguntas. Sem respondê-las uma a uma, tê-las-ei presentes no espírito ao longo desta meditação.

2. "A minha alma glorifica ao Senhor!" (Lc. 1, 46).

Devo antes de tudo agradecer a Deus a nossa profunda comunhão: os jovens com o Papa, e o Papa com vocês!

Bendito sejais. Senhor, por todos estes jovens, vindos a Lourdes para fazer uma experiência de oração, de amizade fraterna, de serviço aos doentes, uma experiência de Igreja.

Bendito sejais, Senhor, por tudo quanto nos concedeis viver em Lourdes, lugar de esperança para tantos irmãos sofredores, lugar de conversão para quem busca a Deus com sinceridade! Esta esperança e esta conversão estão ligadas à presença, entre nós, de Maria. E Ela mesma não nos visita, misteriosamente, senão para revelar uma outra presença, estupenda, a presença do mesmo Deus, na pessoa do seu Filho muito amado. Ela convida-nos, como aos primeiros discípulos, a ir a Ele com toda a confiança.

3. "Feliz Maria que acreditou!" (Lc. 1, 45).

Maria antes de tudo leva-nos a crer.

A crer no amor de Deus Pai que nos circunda constantemente: não somos nós que amámos a Deus, é Ele que nos amou primeiro.

A crer no poder do Cristo manifestado na Redenção. Ele é o Deus salvador, previsto por Isaías. Ele é a fonte da vida, superabundante. Ele é a verdade de Deus e a verdade da nossa pobre existência. Ele é o caminho de Deus e o caminho do homem, o único homem plenamente conforme à sua vocação.

A crer no Espírito Santo que Maria acolheu sem reservas e nos deu a nós também.

Estamos seguros deste amor de Deus Trindade; é abrindo-nos a Ele pela fé que seremos felizes, com Maria, e que receberemos também nós o gesto e a força de amar.

Já pelo baptismo, a confirmação, o sacramento da reconciliação, a Eucaristia, e por outros gestos comunitários da Igreja, o Cristo veio a nós, sem mérito algum da nossa parte, às vezes sem que nós O tenhamos reconhecido previamente.

Que Maria nos ajude, pois, a acolher com coração simples o anúncio do amor de Deus. A crer nele apesar das dúvidas, que a sociedade e o nosso mesmo espírito surruram ao nosso coração! Não temamos! E se as dificuldades permanecerem, rezaremos para progredir na fé, apesar delas ou melhor por causa delas, por que é nelas que se prova a nossa confiança, a nossa fidelidade. A nossa fé, saberemos nutri-la com o estudo aprofundado da Palavra de Deus e da reflexão ininterrupta da Igreja, da Tradição viva. E procuraremos cumprir a verdade na nossa vida, para chegarmos à luz.

Oxalá tenhamos a fé límpida e profunda de Bernadette: desde o alvorecer dos 15 anos, segura da mensagem transmitida por Maria, ela teve a coragem tenaz de afrontar as suspeitas do mundo adulto, para ser fiel àquilo que tinha recebido e para o testemunhar.

4. "Nada é impossível a Deus!" (Lc. 1, 37),

Nós acolhemos esta promessa do anjo a Maria. Temos necessidade da esperança que é prolongação da fé. Muitos se sentem hoje transtornados, inquietos, ou desamparados diante das solicitações da nossa época: qual será o futuro? que emprego poderá encontrar-se? quem estará disposto a superar os vícios da sociedade? que esforços poderão trazer solução aos grandes problemas mundiais da fome, da guerra, dos atentados aos direitos humanos? que vale a nossa boa vontade para tantas pessoas? E finalmente, qual é o sentido desta vida? Muitos se sentem inúteis num mundo envelhecido, incapazes de fazer qualquer coisa num mundo fechado: chegam a duvidar do valor da sua condição de cristãos.

Certamente não estaremos dispensados de imaginar e de realizar um investimento custoso e paciente da nossa liberdade: a esperança não o dispensa. Mas Deus indica-nos o que devemos pedir-Lhe antes de tudo: o Espírito Santo, seu Espírito, que renova a face da terra, porque renova o nosso espírito, o nosso coração. Maria está aberta ao Espírito Santo. O Poderoso fez nela maravilhas. Ele fará em nós grandes coisas. Ele nos fará seguir o Cristo: no desapego das tentações do poder, da riqueza, do orgulho, e na adesão ao ideal das bem-aventuranças. Não inaugurou Ele um mundo verdadeiramente novo? Na esperança contemos com Ele, não nos decepcionará.

5. "Maria dirigiu-se à pressa para a casa da sua prima Isabel!" (Lc. 1, 39-40).

A fé e a esperança conduzem ao amor ao próximo. A existência toda tira o seu valor da qualidade do amor. Dize-me qual é o teu amor e te direi quem és.

Maria guia o nosso olhar, o nosso coração, as nossas mãos para os outros, como na casa de Isabel, como em Caná. Não podemos fechar-nos no círculo estreito dos nossos interesses, dos nossos julgamentos. Uma solidariedade liga-nos fundamentalmente àqueles que nos estão próximos, os membros da nossa família, os do nosso país, àqueles também com os quais devemos comportar-nos como próximos, por exemplo, os do terceiro mundo, porque é preciso que nos abramos sempre ao universal. O amor segundo Deus não tem fronteiras. Felizes os que acolhem o filho que chega, e que por alguns é rejeitado. A pessoa que a sociedade considera inútil. A pessoa que sofre no corpo e no espírito. A que esqueceu da sua dignidade humana.

É a mesma abertura de coração que faz apelo a vocês a preocuparem-se de tudo quanto possa melhorar a sorte dos homens: o respeito à vida e à dignidade humana, o advento de uma justiça maior, a partilha dos bens, a fraternidade e a paz entre os povos e as classes sociais, o acolhimento do estrangeiro, o saneamento dos costumes, a promoção de uma cultura digna deste nome, etc... Que vocês se dediquem a isto, que vocês trabalhem, com empenhos concretos, e assim desenvolvam os seus talentos para melhor servir o homem em todas estas dimensões, os. olhos fixos em Jesus, único modelo da humanidade.

Em Lourdes, aprendemos em que consiste o amor à vida: na Gruta e nos hospitais, consiste na ajuda aos doentes. Lá em cima, na Capela das confissões, consiste no escutar as misérias morais, no perdão reconfortante de Cristo. O amor é inseparável do espírito de serviço, que dá valor à vida, à vida dos jovens. Este espírito não é somente uma ajuda: é um intercâmbio, uma oferta de comunhão.

6. Simeão disse a Maria: "Este Menino está aqui para ser sinal de contradição"... "Junto da cruz de Jesus estava Sua mãe!" (Lc. 2. 34: Jo. 19, 25).

O caminho do amor segundo Cristo é um caminho difícil, exigente. Temos que ser realistas. Engana-os, quem não fale a vocês senão da espontaneidade, de facilidade. O domínio progressivo da nossa vida, aprender a ser o que Deus quer, exige já um esforço paciente, uma luta sobre nós mesmos. Sejam homens e mulheres de consciência. Não sufoquem a própria consciência, não a deformem, chamem pelo seu nome o bem e o mal. Inevitavelmente vocês conhecerão as contradições de uma sociedade cujos vícios são bem conhecidos. Sem se separar da caridade, mas com coragem, é preciso construir em nós mesmos antes de tudo, a forma de sociedade que queremos para o amanhã. A fé é um risco.

Cristo foi sinal de contradição, ofereceu, até à sua morte, a sua amizade a todos, com Maria em pé junto de Cruz. Também Bernadette conheceu a contradição e o sofrimento. Não foi só para os demais que ela transmitiu a palavra da Virgem: "penitência". E tinha sido avisada por Maria da dureza do caminho: "Não te prometo ser feliz neste mundo mas no outro".

Não tenhamos medo: responder a esta exigência une-nos verdadeiramente ao Cristo que oferece a vida, é uma fonte de alegria interior, e uma condição de eficácia da igreja no mundo.

7. "Cristo amou a Igreja e por ela Se entregou para a santificar... para a apresentar a Si mesmo como Igreja gloriosa sem mancha nem ruga, mas santa e imaculada!" (Ef. 5, 23-27).

Também nós amamos a Igreja. Como gostaríamos que ela fosse mais transparente, mais livre de todo o compromisso! Mas nós somos a Igreja! Não podemos criticá-la como se fosse exterior a nós. Se nós amarmos a quantos ela reúne, se formos disponíveis ao seu serviço poderemos procurar e encontrar com ela formas de vida nova, uma linguagem verdadeira. Poderemos descobrir lugares onde cada um mais facilmente responda à sua vocação. Redescobriremos também que a paróquia é o lugar onde nós formamos um só Corpo, com os nossos irmãos, e irmãs de todos os horizontes e de todas as gerações. Com a Igreja serviremos, à causa dos homens: Com ela, no amor e no respeito aos demais, não teremos medo algum de testemunhar de manifestar e de proclamar a nossa fé, pois de outra forma, como poderá este mundo indiferente conhecê-la? Nós contribuiremos para devolver à Igreja, a cada uma das suas paróquias, dos seus movimentos, dos seus seminários, a juventude do Espírito!

"Ide, pois, ensinai todas as nações"! Este mandamento do Senhor foi confiado a Pedro e aos outros Apóstolos.

E eu, por minha vez, envio todos vocês em missão, como baptizados e confirmados. E queridos Jovens, tenho tuna coisa importante a dizer-lhes: desejo que alguns de entre vocês respondam "sim" ao apelo do Senhor, para dedicar todas as suas forças ao Seu serviço exclusivo! Este pode ser o lugar é esta a hora de reflectir sobre a vocação diante de Maria.

Maria, a mãe da Igreja, continua a formar o corpo místico de Cristo! Que ela nos ensine a servir a Igreja!

8. No dia de Pentecostes, "os discípulos subiram para a sala de cima, e entregavam-se assiduamente à oração, em companhia de Maria, mãe de Jesus!" (Act. 1, 13-14).

Maria, ensina-nos a orar. Como Maria, deixemo-nos possuir, do ímpeto do Espírito Santo. Muitos de nós redescobriram a alegria da oração: pensar em Deus amando-O, louvá-1'O em comunidade escutar a sua Palavra. A oração não é em primeiro lugar uma satisfação nossa. Ela é o despojamento de nós mesmos para nos colocarmos à disposição do Senhor, para deixá-l'O rezar em nós. Ela é a respiração da Igreja e o seu sintonizar com Deus. Ela constitui um serviço essencial da Igreja, o serviço de louvor, e o serviço que permite aos homens abrirem-se ao Redentor. Ela é a fonte e o resultado do nosso empenho. Oxalá nunca separemos a acção, da contemplação. E que as nossas orações se concentrem na Eucaristia, onde o mesmo Cristo toma a nossa vida para a oferecer com a Sua e fazer que produza os seus frutos.

Tudo quanto temos evocado permite vislumbrar a vida verdadeira. Cristo quer que nós amemos a vida, que espalhemos ao nosso redor o gosto de viver e de amar. Ele veio para que tenhamos a vida em abundância.

Ó Mãe, bendita entre todas as mães, eu Te confio os jovens aqui presentes, os jovens do mundo inteiro. Eu Te suplico por todos e por cada um: concede-lhes a graça de amarem a vida, de depositarem toda a sua confiança no teu Filho Jesus Cristo, de colaborarem de maneira correta na Igreja, na sua missão de verdade, de justiça e de paz!

E agora, com todos vocês, demos graças a Deus retomando aos palavras de Maria.

Com particular afecto saúdo agora os numerosos jovens vindos de diversos lugares da Espanha e da América Latina.

Caríssimos: como fruto deste encontro, animo todos a contemplarem com renovado entusiasmo a figura sempre viva da Mãe do Redentor. Que saibam, como Ela, ser sempre fiéis a Cristo e à Igreja. E, unidos por idênticos sentimentos de amor à vida e aos irmãos, caminhem juntos pelo caminho que leva ao Pai. Com o meu sincero agradecimento pelo vosso carinhoso acolhimento, abençoo-vos de todo o coração.

Quero acrescentar uma palavra a todos os jovens de língua inglesa. Ao reflectir sobre a vida de fé, esperança e caridade, que somos chamados a viver como membros da Igreja de Cristo, descobrimos imediatamente a necessidade da oração. Queridos jovens, é a oração que nos conserva unidos a Cristo. A oração capacita-nos a perseverar no amor verdadeiro e generoso de uns para com os outros e a dar uma contribuição duradoura ao serviço do mundo. Rezemos hoje e sempre juntamente com Jesus Cristo, o Filho de Maria e nosso irmão, o Filho de Deus e Salvador do mundo.

Queridos jovens dos países de língua alemã! De todo o coração desejo-lhes possam experimentar ainda muitas vezes uma união fraterna semelhante à que vivemos nestas horas aqui em Lourdes. Assim vocês serão alegres na fé e fortificados na sua união com Jesus Cristo e a sua Igreja. Que Maria acompanhe vocês neste caminho com a sua maternal intercessão.

 



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