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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II
 A CABO VERDE, GUINÉ-BISSAU, MALI E BURKINA FASO

[25 DE JANEIRO - 1º DE FEVEREIRO]

DISCURSO DO SANTO PADRE
DURANTE A CERIMÓNIA DE DESPEDIDA
DA GUINÉ-BISSAU

Aeroporto Osvaldo Vieira, Bissau
Domingo, 28 de Janeiro de 1990

 

Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
Senhor Bispo de Bissau,
Excelências, minhas Senhoras e meus Senhores
e queridos Guineenses
,

1. No momento de deixar a vossa terra, para prosseguir a visita pastoral a outros países da África, leve a sensação de que as horas transcorridas convosco, passaram depressa, mas foram muito densas, graças a Deus.

Exprimo o meu vivo reconhecimento, através dos presentes, a quantos colaboraram nesta breve visita. Em especial:

- a Vossa Excelência, Senhor Presidente de República, por me sentir tão bem acolhido neste País, confiado à sua alta responsabilidade. Pude encontrar em bom número os seus compatriotas, num clima de serenidade, graças às disposições dadas e às medidas tomadas por Vossa Excelência,

- a todas as Autoridades nacionais e locais, que se desvelaram pelo bom andamento desta visita e honraram, por vezes, com a sua presença, os actos que ela comportou,

- a todos aqueles que prestaram a sua cooperação nos trabalhos e diligéncias que requerem as deslocações, a segurança e serviço de ordem, o arranjo dos locais e a difusão dos acontecimentos pelos meios de comunicação social.

Exprimo também apreço, com sentimentos fraternos, a quantos, não compartilhando a fé católica, vieram encontrar-se comigo, pressentindo, certamente, que todos estamos a buscar o maior bem do homem, segundo o plano de Deus.

2. Fiz esta visita pastoral sobretudo para os irmãos e irmãs que comungam a minha fé e integram a Igreja católica na Guiné-Bissau. Verifiquei que se tinham preparado cuidadosamente. Estão de parabéns o Senhor Bispo da Diocese e os seus directos colaboradores, pois o empenho comum contribuiu para fazer dos nossos encontros momentos de comunhão intensa na oração, na fraternidade e na alegria de sermos Igreja. Registo a felicidade que pude auscultar em muitos, de se sentirem mais próximos de Jesus Cristo, o Chefe invisível da mesma Igreja, una, santa, católica e apostólica, no contacto com o sucessor de São Pedro.

As circunstâncias exigem que eu seja breve, nesta despedida. Mas estou grato ao Bom Pastor pelos sentimentos que manifestastes; e não posso esconder os que eu próprio vivi: de emoção e gratidão, por ver o trabalho missionário realizado e o empenhamento actual da Igreja que aqui peregrina, com sinceridade e seriedade na Fé. Sinto-me realmente feliz por ter estado no meio de vós, ainda que por pouco tempo.

As homenagens que me foram tributadas, entendo-as como finalmente dirigidas, àquele que disse ao Apóstolo de quel sou sucessor as densas e tremendas palavras: “ Tu és Pedro e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja ” ( Mt 16, 8). Na minha breve passagem entre vós, quereria ter sido um eco e um reflexo, limitado mas autêntico, do mesmo Senhor Jesus, que passou entre os homens, solícito em trazer a “ salvação de Deus para todos os homens ” ( Tt 2, 11) sem exclusivismos nem discriminações; mas com particular atenção aos pobres, aos “ mais pequeninos ” e aos sofredores.

3. A derradeira imagem que acabo de colher na vossa terra, ao visitar o Leprosário de Cumura, é emblemática; tez-me pensar nos dramas que muitos Guineenses ainda vivem, debatendo-se com males e carências deprimentes e paralisantes, para os quais, quiçá, não seriam precisos milagres. Vem-me espontaneamente à lembrança o Mestre, Jesus Cristo, que, por obras e palavras, acentuou bem que evangelização e atenção às necessidades concretas dos homens andam ligadas. Ao pregar o Reino de Deus, Ele ia multiplicando os gestos concretos de amor para com todos os que sofriam: leprosos, cegos, paralíticos, pessoas de luto, etc.

E dizia, ao explicar o Juízo das “ nações ”, que o Reino está preparado para aqueles que, usando de misericórdia, partilham com os pobres, visitam os doentes e encarcerados e se põem ao serviço dos “ mais pequeninos ” (Cfr. Mt 25).

Em particular, faz-me lembrar a cena do paralítico, junto à piscina de Bezatha. Quando Jesus passava, leu-lhe nos olhos esperança e desejo de viver melhor, e ouviu-lhe esta frase muito interpeladora: “ Eu não tenho ninguém ”(Jo 5, 7). Ninguém que me ajude, me mostre solidariedade. Oxalá que idêntica exclamação nunca pudesse escapar dos lábios de Guineense algum!

Praza a Deus que os poderes públicos, de mãos dadas com a iniciativa privada, com a colaboração da Igreja e com a solidariedade da família humana, possam proporcionar a todos os pobres e sofredores desta Nação a possibilidade de romper o círculo da pobreza e de ter acesso aos bens que lhes permitam “ ser mais ”.

Para tanto, dizia-o na Encíclica Sollicitudo Rei Socialis , importa eliminar do homem o pecado, que impede aquela visão de “ outrem, pessoa, povo o nação... como um nosso " semelhante ", um " auxílio ", que se há-de tornar participante, juntamente connosco, no banquete da vida, para o qual todos os homens são convidados por Deus ” (Sollicitudo Rei Socialis, 39).

4. Aos oprimidos pela pobreza e pela doença, desejo nesta hora deiar uma palavra de conforto: que se sintam amados e estimados pela Igreja e pelo Papa, assim como os ama e estima o próprio Jesus Cristo, Filho de Deus. Ele deu a vida por todos; e, ao estabelecer as bases do seu Reino, propôs-se como modelo de amor fraterno aos discípulos ( Jo 13, 34); e deu-lhes um código para se chegar a tal amor: as “ Bem-aventuranças ”.

Desejaria que esta minha palavra fosse ao mesmo tempo, de esperança e de estímulo; não se deiem desanimar pelas provações actuais! Conservem sempre viva a confiança num amanhã melhor, com a ajuda de Deus e com a ajuda solidária de muitos! Sem se rebaiarem nem abdicarem das próprias capacidades, façam tudo o que puderem para superar as dificuldades da pobreza não querida, com o seu cortejo de amarguras; façam-no, não para passarem à riqueza da iniquidade, mas para manterem a dignidade de homens, de filhos de Deus.

5. Aos meus irmãos e irmãs católicos lembro ainda: a Igreja não deve limitar-se a ser simplesmente um sinal de esperança para o mundo. Deve também dar-lhes as razões dessa esperança. Deve ajudar, não só a levantar os problemas, mas também a buscar-lhes as respostas, à luz dos desígnios divinos, que se entrevêem na Palavra revelada.

Continuai, pois, a escutar a palavra com que Cristo vos envia: “ sereis minhas testemunhas ” (At 1, 8)! Continuai a evangelizar, com os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo (Cfr. Fl 2, 1-5), para que se opere a simbiose perfeita entre a fé anunciada e a alma africana, firmes na certeza de que, para isso, o Evangelho não precisa nem pode mudar. Sede corajosos para enfrentar os problemas pastorais: os antigos e os novos, os trazidos pelas mudanças da vida moderna, por exemplo, pelo urbanismo ou pelo acesso aos estudos de muitos jovens desta Nação.

Senhor Presidente e queridos Guineenses,

Para concluir, quero dizer; gostei da Guiné-Bissau e da sua gente. Levo comigo uma lembrança grata. Exorto a todos a viverem como bons cidadãos em harmonia operosa. Ao deixar este País reitero os votos de que o meu serviço apostólico possa contribuir para o maior bem da sociedade nacional; e de que se continue a construir aqui uma comunidade onde reinem a solidariedade, a paz, a justiça e o amor. E peço a Deus que, fiéis à sua identidade, cada vez mais todos os Guineenses sejam felizes, nos caminhos do progresso e da prosperidade.

Muito obrigado a todos! E que Deus omnipotente abençoe a Guiné-Bissau e o querido Povo guineense!

Adeus!  

 



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