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  Caros Irmãos no Episcopado 1. Depois de ter já recebido alguns Bispos do vosso País, eis que agora vós, Pastores das Dioceses do Oeste da França, vindes em visita ad limina Apostolorum. Evoco naturalmente a minha recente visita a Saint-Laurent-sur-Sèvre, na diocese de Luçon, e a Sainte-Anned’Auray, na diocese de Vannes, no passado mês de Setembro. O acolhimento caloroso que recebi na vossa terra, por parte dos fiéis de toda a vossa região, fez do início desse Outono um verdadeiro sinal da eterna Primavera da Igreja. Agradeço vivamente a D. Jacques Fihey, Bispo de Coutances e vosso Presidente, o balanço sintético que, em vosso nome, apresentou da situação pastoral na vossa Região apostólica do Oeste. Sede bem-vindos à casa do Sucessor de Pedro, à Cidade onde é exercido na continuidade o mandato confiado por Cristo ao Príncipe dos Apóstolos, que ofereceu ao Senhor o testemunho do sangue. O aprofundamento da fé 2. A formação dos fiéis leigos representa uma das actividades frequentemente abordadas nos vossos relatórios, com um sentido pastoral que desejo encorajar. A caminhada da vossa Conferência Episcopal, que conduziu à Carta intitulada «Propor a fé na sociedade actual », permitirá guiar de modo útil os vossos diocesanos, estimulando-os para que o seu testemunho seja cada vez mais reflectido. Quereria dedicar este encontro para ressaltar alguns pontos significativos para os diversos tipos de formação, que sois levados a dar. Todo o cristão é constantemente convidado a aprofundar a própria fé; isto ajudá-lo-á a aproximar-se mais de Cristo ressuscitado e a ser uma Sua testemunha na sociedade. Com efeito, em um mundo em que as pessoas não cessam de aperfeiçoar os seus conhecimentos científicos e técnicos, os conhecimentos da fé não se podem restringir ao catecismo aprendido na infância. Para crescer de maneira humana e espiritual, o cristão tem necessidade evidente de uma formação permanente. Sem ela, corre o perigo de já não ser esclarecido nas escolhas, por vezes escabrosas, que tem de fazer no decurso da sua vida e no cumprimento da sua missão cristã específica, no meio dos seus irmãos. Pois, como diz um dos mais antigos textos da literatura patrística, «aquilo que a alma é no corpo, os cristãos são-no no mundo [...]. O lugar que Deus lhes confiou é tão belo, que não lhes é permitido desertar dele» (Carta a Diogneto, n. 6). Encorajo, então, todos os discípulos de Cristo a responderem aos vossos apelos, e a dedicarem tempo para desenvolver a sua vida cristã e a sua inteligência da fé. O cristão deve ser consciente desta primeira verdade: Deus criou o homem à Sua imagem e confiou-lhe o poder de dominar a criação, para a colocar ao seu serviço e glorificar o Criador. Ao criá-lo como ser racional, deu-lhe também a possibilidade de aceder a uma forma de conhecimento racional de Deus que, além disso, o convida depois a entrar numa caminhada de fé. A formação pessoal tem por finalidade primordial oferecer aos fiéis a possibilidade de interiorizarem todos os conhecimentos adquiridos, para lhes permitir unificar o seu ser e a sua vida ao redor deste ponto central da pessoa, ao qual os Padres da Igreja chamavam o «coração do coração»; deste modo, do íntimo da sua alma, eles hão-de aderir a Cristo e desenvolverão todas as dimensões da sua existência, em particular no seu empenhamento profissional e na vida social. Pois todo o fiel tem o dever de participar na edificação da sociedade, pondo-se ao serviço dos seus irmãos para a busca do bem comum. Mediante o seu trabalho, que lhe permite prover às suas necessidades e às da família, ele participa também no desenvolvimento e aperfeiçoamento da criação. Em virtude do seu baptismo, o cristão é chamado a ser membro plenamente consciente e activo do Corpo inteiro da Igreja: «Em união com Cristo — diz São Paulo — vós sois integrados na construção para vos tornardes, no Espírito, habitação de Deus» (Ef. 2, 22). E, dado que traz Cristo em si mesmo, é chamado a torná-l'O conhecido aos seus irmãos e a ser um apóstolo, isto é, um enviado. O serviço responsável dos leigos 3. Nas cidades e pequenas localidades das vossas dioceses, muitos leigos assumem cada vez mais responsabilidades na vida eclesial. Eles estão dispostos a assumir a sua parte na evangelização; asseguram serviços de catequese, de animação litúrgica e de preparação para os sacramentos, de assistência espiritual aos doentes ou aos prisioneiros, de reflexão e de acção em muitos sectores da vida social. Para agirem no espírito do Evangelho, eles pedem frequentemente que os ajudeis a adquirir a formação necessária. Nas vossas dioceses, tal como foi ressaltado por D. Fihey no seu relatório regional, são tomadas múltiplas iniciativas: a nível diocesano ou até de muitas dioceses associadas, organizais ciclos de formação que às vezes duram muitos anos, em proveito das pessoas chamadas a assumir responsabilidades; é importante que os fiéis leigos utilizem assim os meios para desempenhar, do melhor modo possível, as funções que podeis confiar-lhes. Mais na base, grupos bíblicos ou formações teológicas elementares são propostos ?aos ?paroquianos, ?desejosos ?de ser testemunhas do Evangelho. Não posso deixar de vos convidar a prosseguir neste sentido os vossos esforços já bastante positivos, com a dedicação de todo ?o ?apóstolo, ?pois ?«um ?semeia ?e outro recolhe». Sabendo muito bem como isto pode apresentar dificuldades em cada diocese, peço-vos que reserveis uma real prioridade à formação de alguns sacerdotes ou leigos, e também de religiosos e religiosas, aos quais é preciso permitir que adquiram uma competência comprovada e uma experiência duradoura, a fim de serem bons formadores. Tratase de investimentos indispensáveis, cujos frutos amadurecerão ao longo dos anos. A vossa região beneficia de uma Universidade católica, cujo papel é essencial na formação. A longo prazo, convém preparar professores e pesquisadores, que assegurem a substituição e dêem um novo impulso à teologia, e de igual modo à pastoral. Formação dos agentes de pastoral 4. Não tenho intenção de apresentar aqui programas para as diversas instâncias de formação; quereria antes evocar algumas das suas características essenciais. De modo especial quando se trata de pessoas chamadas a assegurar serviços de ordem pastoral, convém vigiar pelo equilíbrio entre o ensinamento e o empenho efectivo numa missão. Numa palavra, a formação atingirá tanto melhor o seu objectivo, se tiver em conta as pessoas que vivem uma experiência cristã activa: não isolar o trabalho intelectual exigido das pessoas do seu empenhamento na comunidade, para que elas progridam no sentido da Igreja. E, ao mesmo tempo que se fornece os meios de formação teórica e prática, não se pode deixar de oferecer os meios de um revigoramento propriamente espiritual, isto é, uma iniciação acompanhada da oração e de períodos consagrados às meditações ou retiros. Viver o mistério de Cristo 5. Como em toda a formação ou actividade catequética, a Sagrada Escritura ocupará um lugar privilegiado. Como o recordou o Concílio Vaticano II na Constituição dogmática Dei Verbum, a Sagrada Escritura é a alma da teologia (cf. n. 24). São Jerónimo dizia que «ignorar a Escritura é ignorar Cristo» (Coment. sobre Isaías, pról.). Sabemos que, lida na Igreja, a Escritura é a terra na qual pode crescer a árvore da ciência de Deus. O Povo de Deus não pode esperar viver da Vida do seu Mestre, se não assimila as palavras mesmas que lhe foram transmitidas, para que, crendo em Cristo, tenha «a vida no Seu nome » (Jo. 20, 31). Uma boa familiaridade com a Escritura nutre a vida espiritual e permite participar em profundidade na Liturgia. Dois milénios de meditação e de reflexão sobre o Mistério de Cristo levaram a Igreja a uma inteligência da fé, da qual cada um deve apropriar-se. Os cristãos, para não se deixarem «levar por qualquer sopro de doutrina» (Ef. 4, 14), haverão de tirar proveito duma sólida reflexão sobre o Credo, o que não significa necessariamente um estudo erudito. Na cultura difundida deste tempo, a imagem de Cristo pode ser deformada se se negligencia a descoberta da sua riqueza, graças à elaboração feita ao longo dos anos pelos Concílios, pelos Padres, pelos teólogos, sem esquecer os espirituais. O estudo do Credo, feito de modo correcto, nada tem de um empreendimento intelectual gratuito; ele dá solidez à fé e ajuda a transmiti-la. Foi neste espírito que o Concílio Vaticano II demonstrou com clareza que a Igreja encontra a sua razão de ser em Deus Pai, Filho e Espírito Santo, revelado pela obra de Cristo Redentor. O Catecismo da Igreja Católica foi realizado para fornecer indispensáveis pontos de referência, o que a vossa Conferência Episcopal, tal como outras no mundo, retomou seguindo uma pedagogia própria da vossa cultura. O ensinamento moral da Igreja 6. Postos em evidência mediante uma apresentação clara e sólida, os dados da fé contribuirão com eficácia para fazer compreender que a adesão a Cristo supõe uma regra de vida, uma lei que liberta em vez de constranger. O laço profundo que existe entre a fé e a moral passa despercebido a muitos dos nossos contemporâneos, que as consideram somente como proibições, tal como é observado por inúmeros dos vossos relatórios. Importa permitir que os fiéis conscientes compreendam bem o sentido positivo e vital do ensinamento moral da Igreja. Foi o que me pareceu necessário expor sobretudo nas Encíclicas Veritatis splendor e Evangelium vitae. Quotidianamente, os católicos têm necessidade de praticar um discernimento esclarecido diante das correntes de opinião, cuja influência se difunde, e perante as quais é preciso que permaneçam livres. Quer se trate da moral pessoal ou da moral social, um discípulo de Cristo deve saber reconhecer onde se encontram verdadeiramente a vida recta, a verdade sobre o homem e o respeito da vida. Aquilo a que se chama a evolução dos costumes não pode, por si mesmo, reformar regras da vida fundadas sobre a lei natural, que todo o homem de boa vontade é capaz de apreender pela razão recta, e sobre o Evangelho. Aquilo que normas jurídicas civis autorizam ?não ?corresponde ?necessariamente à verdade da vocação humana, nem ao bem que todo o homem deve procurar ?cumprir ?nas ?suas ?opções pessoais ?e ?na ?sua ?conduta ?para ?com o outro. Em resumo, num contexto cultural N. 6 - 8 de Fevereiro de 1997 (59) 7

 

que tende a relativizar a maior parte das convicções, o fiel deve dedicar-se à busca e ao amor da Verdade. Este é um princípio central. O próprio Senhor Jesus disse: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo. 14, 6), e prometeu aos seus discípulos o Espírito da verdade, que «guiará para a verdade total» (Jo. 16, 13). Isto equivale a repetir mais uma vez que uma formação, que ajuda realmente a viver a condição cristã, implica uma adesão inteligente e responsável à verdade recebida de Deus mediante o Evangelho. Os movimentos de apostolado leigo 7. É oportuno recordar aqui que a formação faz parte dos objectivos dos movimentos que agrupam os cristãos segundo diferentes finalidades e sustentam o dinamismo dos indivíduos. Os movimentos de espiritualidade, de apostolado ou de ajuda mútua, as equipas de acolhimento ou de preparação para os sacramentos, preparam os seus membros para se porem ao serviço dos irmãos e irmãs praticantes ocasionais ou das pessoas afastadas da Igreja. Eles podem ser os melhores divulgadores da mensagem cristã, em ambientes onde o Evangelho ainda é desconhecido ou deformado, através do seu testemunho de fé e de amor concreto ao próximo. Vós informastes-me acerca do desenvolvimento actual do catecumenato de jovens ou de adultos nas vossas dioceses. Naturalmente, ele constitui um lugar privilegiado de formação para homens e mulheres que aspiram a descobrir a fé na Igreja. Congratulo-me convosco pelo espírito fraterno e pela com-

 

Pensapetência dos numerosos cristãos que acompanham catecúmenos e neófitos no seu caminho. Prolongando ainda o meu discurso, quereria também encorajar os fiéis que trabalham nos mass media, cristãos ou não, em nível nacional ou local, a fim de esclarecer muitos leitores ou ouvintes sobre o sentido da sua vida e dos acontecimentos. A comunicação social das comunidades requer porta-vozes bem formados, que saibam, por sua vez, oferecer elementos de formação positivos àqueles que os escutam. O testemunho da vida conjugal 8. Sob outro ponto de vista, desejo ainda recordar que a acção pastoral deve estar atenta aos diferentes estados de vida, que os fiéis podem escolher e que têm todos um grande valor. Vividos na fidelidade à opção inicial, eles são uma forma eminente de confissão de fé, pois mostram que, tanto nos momentos de alegria como nas dificuldades, a vida com Cristo é o caminho da felicidade. É o caso daqueles que estão empenhados no sacerdócio, no diaconato ou na vida consagrada, sobre os quais já falei com os Bispos doutra Região apostólica. Aqueles que vivem no matrimónio são as testemunhas privilegiadas da aliança de Deus com o seu povo. Mediante o sacramento, o seu amor humano assume um valor infinito, pois os cônjuges tornam presente, de maneira particular, o amor do Pai e recebem uma responsabilidade importante no mundo: gerar para a vida filhos chamados a tornar-se filhos de Deus, e ajudálos no seu crescimento humano e sobrenatural. No mundo actual, o amor humano é muitas vezes ridicularizado. Os pastores e os casais empenhados na Igreja terão particularmente a peito aprofundar a teologia do sacramento do matrimónio, a fim de ajudar os jovens esposos e as famílias em dificuldade a reconhecerem melhor o valor do seu compromisso e a acolherem a graça da aliança. Convido as pessoas casadas a testemunharem a grandeza da vida conjugal e familiar, fundada sobre o compromisso e a fidelidade. Só o dom total torna plenamente livre para amar de verdade, não só segundo a dimensão afectiva do seu ser, mas com aquilo que há de mais profundo em si, a fim de realizar a união dos corações e dos corpos, fonte de alegria profunda e imagem da união do homem a Deus, à qual todos nós somos chamados. Não esqueço aqueles que não puderam realizar esse projecto de vida. Se o seu celibato não foi escolhido, eles podem, por isso, ter o sentimento de que a sua vida em parte fracassou. Que não desanimem, pois Cristo jamais abandona aqueles que a Ele se confiam! Saibam consagrar-se aos outros e desenvolver relações fraternas regozijantes. Eles são exemplos para muitos. Ocupam plenamente o seu lugar na comunidade eclesial. Em qualquer condição, uma vida doada é fonte de alegria. Saudação final 9. Por ocasião da minha recente visita à França,

 

Saudação final 9. Por ocasião da minha recente visita à França, eu disse que apreciava a vitalidade da Igreja no vosso país, apesar das dificuldades encontradas. Estou convicto de que as vossas iniciativas nos sectores da formação dos fiéis, assim como ?a ?vossa ?solicitude ?em ?ajudar cada um a realizar-se na comunidade e a testemunhar na sociedade, produzirão os seus frutos neste tempo de renovação, ?que ?é ?o ?aproximar-se ?do ?grande Jubileu. Caros Irmãos no Episcopado, através de vós, os vossos diocesanos estão presentes aqui. No ano do centenário da morte de Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face, confiamos à sua intercessão as vossas pessoas, o vosso ministério, assim como todos os fiéis da vossa Região apostólica. É pensando em todos eles que, do íntimo do coração, vos?concedo?a?minha Bênção Apostólica.

 

 

 

 

 



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