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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
 AO SENHOR MARGUS LAIDRE
NOVO EMBAIXADOR DA ESTÓNIA
JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO
DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS

11 de Janeiro de 1997

 

Senhor Embaixador

É um prazer para mim dar-lhe as boas-vindas no momento de receber as Cartas Credenciais, mediante as quais o Presidente, Sua Excelência o Senhor Lennart Meri, o designa Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Estónia junto da Santa Sé. Estou profundamente grato pelas suas saudações e retribuo-lhas com a certeza das minhas orações pelo bem-estar de todos os habitantes da Estónia.

Ainda conservo na memória a minha Visita pastoral à Estónia e às outras Repúblicas bálticas em 1993, imediatamente após a lâmpada da liberdade ter sido acesa de novo e a independência ter sido restabelecida. Neste século os habitantes da Estónia sobreviveram e lutaram contra dois sistemas totalitários, hostis aos seus interesses políticos, económicos, culturais e religiosos: o regime inspirado pelo Nazismo, durante a segunda guerra mundial e, depois, no longo período pós-guerra, a ditadura comunista caracterizada pelo ateísmo militante. Como Vossa Excelência observou com perspicácia, a Nação superou estas grandes provas graças aos sacrifícios heróicos de inumeráveis cidadãos, até ao martírio. Quanto a mim, renovo a gratidão a Deus Todo-poderoso por aqueles sofrimentos terem ajudado a criar um novo clima de esperança na Estónia. Verdadeiramente, «a efectiva vontade de independência nacional e o desejo de experimentar o valor da genuína liberdade começam, agora, a produzir os seus frutos na vida dos indivíduos e da comunidade civil inteira do seu País» (Discurso de despedida da Estónia, Tallinn, 10 de Setembro de 1993, ed. port. de L’Osservatore Romano de 26.IX.93, pág. 9).

O itinerário que leva da opressão à liberdade é árduo. Um aspecto essencial de cada uma destas peregrinações de liberdade é a necessidade de suportar o pesado fardo legado pela história. A tirania pode continuar a imprimir a sua marca destruidora na sociedade sob a forma do medo, da suspeita e da divisão — tanto nas famílias e nas comunidades como entre as religiões e os grupos étnicos. Na minha Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1997, exortei todos os homens e mulheres de boa vontade a recusarem-se a permanecer prisioneiros do passado e, ao contrário, a olharem para o futuro com esperança. O respeito pela plenitude da verdade incumbe até mesmo sobre aqueles que sofreram graves formas de injustiça, para a «purificação das memórias», que se exprime de maneira concreta na oferta do perdão. Se quisermos que o espírito de reconciliação impregne a vida nacional e internacional — uma condição prévia para a verdadeira paz — os indivíduos e os povos deverão examinar de novo as ofensas do passado «com sentimentos novos », aprendendo «precisamente das experiências sofridas que só o amor constrói, enquanto o ódio produz devastação e ruínas» (loc. cit., n. 3).

O desenvolvimento genuíno duma Nação pode ser medido pelo grau em que os seus cidadãos desejam ser julgados pela verdade e pelas suas exigências éticas. Uma parte da preciosa herança de valores cristãos da Estónia é a convicção de que existe um vínculo inseparável entre liberdade e verdade na vida política, económica e cultural. Somente o reconhecimento da verdade transcendental pode garantir a dignidade e os direitos invioláveis de cada pessoa humana (cf. Veritatis splendor, 99). O respeito pelo exercício livre destes direitos humanos fundamentais deve constituir a característica principal de cada democracia fundada sobre o imperativo da lei. Quando povos diferentes vivem no mesmo território, como é o caso da Estónia, deve-se ter uma particular preocupação por garantir que os direitos das minorias étnicas e religiosas sejam sempre salvaguardados. Efectivamente, «o respeito para com as minorias (...) deve ser considerado, de algum modo, como a pedra de toque para uma convivência social harmoniosa e como índice da maturidade civil alcançada por um País e pelas suas instituições» (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1989, n. 12).

Vossa Excelência mencionou os novos desafios que a Estónia está a enfrentar, enquanto busca um padrão de vida mais digno para todos os seus cidadãos. O ensinamento católico social reconhece o papel positivo desempenhado na vida económica duma Nação, pelo mercado livre, pela propriedade privada e pela criatividade pessoal. Todavia, hoje deve-se considerar também um grande perigo: a chamada «idolatria» do mercado. Isto verifica-se quando um sistema económico, fundamentado sobre um capitalismo licencioso, estabelece políticas que dilapidam os recursos naturais, desrespeitam a dignidade dos trabalhadores, debilitam a família, célula primária da sociedade, e promovem uma cultura consumista, em que o «ter» é mais importante que o «ser». Os governantes que quiserem agir eticamente deverão ter isto em conta e estudar as forças do mercado, assegurando, se for necessário, a correcção das mesmas em nome dos princípios da lei natural, da justiça social, dos direitos humanos e do bem comum. A Igreja oferece o rico património da sua doutrina social como um recurso e uma guia para a sua Nação, Senhor Embaixador, enquanto procura progredir ao longo do caminho da solidariedade e da justiça. Esta doutrina põe em particular evidência a importância da solicitude prática para com os pobres, os marginalizados e os que sofrem.

A proximidade do Terceiro Milénio impele os crentes no seu País a um compromisso cada vez mais intenso na «comunhão plena e visível» (Ut unum sint, 95) de todos os cristãos. Desejo confirmar a convicção que manifestei no meu discurso na igreja luterana de São Nicolau, em Tallinn: «A busca da unidade constitui, portanto, um autêntico serviço ao mundo actual. Alcançar a almejada comunhão entre todos os crentes em Cristo poderá constituir, e certamente constituirá, um dos principais eventos da história humana» (loc. cit., ed. port. de L’Osservatore Romano de 26.IX.93, pág. 5). Estou persuadido de que, com a graça de Deus, uma Primavera ecuménica na Estónia dará frutos na constante oração comum, na caridade fraterna e nos empreendimentos conjuntos, em vista da promoção da vida social e cultural. Os fiéis católicos no seu País, embora sejam numericamente exíguos, estão sempre prontos a contribuir para a tarefa da edificação do futuro da Estónia.

Senhor Embaixador, exprimo a ardente esperança de que sejam fortalecidos os vínculos de amizade, que caracterizam os relacionamentos cordiais entre a Santa Sé e a República da Estónia. No momento em que inicia a sua missão, asseguro-lhe que os vários departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos a auxiliá-lo no cumprimento das suas responsabilidades. Sobre Vossa Excelência e sobre todo o querido Povo estoniano invoco as abundantes bênçãos do Omnipotente.

 

© Copyright 1997 - Libreria Editrice Vaticana

 



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