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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO ORGANIZADO
 EM ROMA PELA ACADEMIA DIPLOMÁTICA INTERNACIONAL

12 de Novembro de 1998

 

Queridos Amigos

1. Sinto-me feliz por vos receber no final do vosso congresso sobre «Vinte anos de diplomacia sob o pontificado de João Paulo II». Desejaria agradecer, em primeiro lugar, aos organizadores deste encontro, à Academia Diplomática Internacional e ao Instituto Europeu para as Relações entre a Igreja e o Estado, bem como aos diferentes conferencistas, que apresentaram análises de conjunto das vicissitudes diplomáticas da Santa Sé ou que abordaram questões particulares relativas a determinadas situações, por vezes delicadas a nível de negociações. Esta iniciativa manifesta a atenção que dedicais à Santa Sé e à sua acção no mundo. Faço votos por que as vossas frutuosas jornadas de trabalho sejam, para numerosas pessoas, a ocasião de descobrirem e aprofundarem os diferentes aspectos da missão diplomática do Papa e da Santa Sé.

O vosso Congresso insere-se no âmbito da celebração do vigésimo aniversário de pontificado do Papa, que neste momento vos recebe. Quisestes reflectir sobre a importante e original dimensão do seu ministério pastoral, que constitui a sua participação activa na vida diplomática. O Papa é o Servo dos servos de Deus, servo do Deus da história, que criou o mundo para nele colocar o ser humano, não para o abandonar ao seu destino, mas conduzi-lo à sua plena realização; ele é também servo do homem.

O Senhor comunicou à Igreja o seu amor pelo homem. Eis por que, segundo uma longa tradição e de acordo com os princípios internacionais, o Servo dos servos de Deus exerce a sua missão diplomática como um serviço concreto à humanidade, no âmbito do seu ministério pastoral. A Santa Sé deseja também oferecer a todos os homens e a todos os povos um contributo específico, a fim de os ajudar a realizar cada vez melhor o seu destino, na paz e na concórdia, em vista do bem comum e do desenvolvimento integral das pessoas e dos povos.

2. O vosso Congresso tomou em consideração vinte anos de fim de século e de milénio, durante os quais se verificaram numerosas mudanças, sinal do profundo desejo de viver na liberdade, por vezes adquirida com o alto preço de inúmeros sofrimentos, mas também sinal duma profunda inquietude e duma viva esperança.

Por vezes precursora e actriz, noutras ocasiões limitando-se a acompanhar e a aprovar as mudanças feitas, a própria diplomacia vive um período de transição. Nos nossos dias, ela já não enfrenta os inimigos mas, a partir das oportunidades comuns, dedica-se a assinalar os desafios da mundialização e a eliminar as ameaças que não cessam de surgir em escala mundial. De facto, os diplomatas de hoje, já não se devem ocupar em primeiro lugar de questões concernentes à soberania territorial, às fronteiras e ao território, mesmo se em algumas regiões estes problemas ainda não foram resolvidos. Os novos factores de desestabilização são representados pela pobreza extrema, desequilíbrios sociais, tensões étnicas, degradação do meio-ambiente, falta de democracia e de respeito pelos direitos do homem, enquanto os factores de integração já não se podem basear simplesmente num equilíbrio de forças, na dissuasão nuclear ou militar, nem sequer no entendimento entre governos.

3. Compreende-se melhor que a única finalidade da diplomacia pontifícia é promover, expandir em toda a terra e defender a dignidade do homem e de todas as formas de convivência humana, que podem ser a família, o lugar de trabalho, a escola, a comunidade local, a vida regional, nacional ou até internacional. Ela participa de maneira activa, de acordo com as modalidades que lhe são próprias, na interpretação sob forma jurídica daqueles valores e ideais sem os quais a sociedade estaria em discórdia. Mas sobretudo, ela empenha-se para que o consenso acerca dos princípios fundamentais se possa concretizar na vida nacional e internacional. Ela trabalha convicta de que, para garantir a segurança e a estabilidade das pessoas e dos povos, se consiga aplicar os diferentes aspectos do direito humanitário a todos os povos sem distinção - também no âmbito da segurança - de acordo com o princípio da justiça distributiva. Em todas as partes do mundo, a Igreja tem o dever de fazer ouvir a sua voz, a fim de que a voz dos pobres seja escutada por todos como um apelo fundamental à partilha e à solidariedade. A solicitude do Sucessor de Pedro, e das Igrejas locais espalhadas pelo mundo, tem em vista o bem espiritual, moral e material de todos. A via diplomática baseia-se nos princípios éticos que põem a pessoa humana no centro das análises e das decisões, e que reconhecem a dignidade de todos os seres humanos e de qualquer povo, pois eles têm o direito inalienável a uma vida digna, em função da sua própria natureza. Já tive ocasião de recordar que, «se não existe nenhuma verdade última que guie e oriente a acção política, então as ideias e as convicções podem ser facilmente instrumentalizadas para fins de poder» ou interesses de parte (Centesimus annus, 46).

Não é aceitável que se mantenham indefinidamente desigualdades entre os continentes, por motivos políticos e económicos, e é dever dos diplomatas e dos dirigentes das Nações empenharem-se por que os aspectos éticos sejam privilegiados no processo decisório, a todos os níveis. Deste ponto de vista, os diplomatas, que estão em contacto com as realidades quotidianas vividas pelos povos que eles descobrem e que aprendem a conhecer e a amar, devem dar a conhecer a aflição de pessoas e povos desesperados devido a situações que os oprimem, pois estas estão relacionadas com os sistemas internacionais, cada vez mais duros para os países em vias de desenvolvimento.

A Santa Sé realiza, como é normal, a sua própria actividade diplomática junto dos Governos, das Organizações internacionais, dos centros de decisão que se multiplicam na sociedade actual e, ao mesmo tempo, dirige-se a todos os protagonistas da vida internacional, indivíduos ou grupos, a fim de suscitar o consenso, a boa vontade e a colaboração no que diz respeito às grandes causas do homem.

Em particular, a diplomacia pontifícia baseia-se na unidade que existe no interior da Igreja católica, presente em quase todos os países do mundo. A comunhão que garante as relações entre as diferentes Igrejas locais e o Bispo de Roma, dado que se trata dum princípio eclesiológico imprescritível, é também uma riqueza internacional.

Ao agradecer o vosso contributo à reflexão sobre os critérios que guiam a diplomacia da Sé Apostólica, através das vossas pesquisas e da documentação proposta, concedo-vos de coração a Bênção Apostólica, bem como a todos os vossos entes queridos.

 

© Copyright 1998 - Libreria Editrice Vaticana 

 



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