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VIAGEM APOSTÓLICA DE JOÃO PAULO II
MÉXICO E ESTADOS UNIDOS
22 A 28 DE JANEIRO DE 1999

  ENCONTRO COM OS JOVENS  NO "KIEL CENTER" 

DISCURSO DO SANTO PADRE

São  Luís, 26 de Janeiro de 1999

 

Parte 1

Queridos Jovens de São Luís
Dilectos Jovens dos Estados Unidos 
Louvado seja Jesus Cristo! 

1. As vossas calorosas e entusiastas boas-vindas fazem-me muito feliz. Elas dizem-me que hoje à noite o Papa vos pertence. Acabei de chegar da Cidade do México, onde celebrei o encerramento do Sínodo dos Bispos para a América. Ali, tive a satisfação de estar com muitos milhares de jovens. E agora, o meu júbilo continua aqui convosco, jovens de São Luís, do Missuri e de todos os Estados Unidos. 

2. Nesta tarde estamos aqui reunidos para ouvir Jesus que nos fala mediante a sua palavra e com o poder do Espírito Santo. 

Acabámos de ouvir o Apóstolo Paulo dizer a Timóteo, seu jovem companheiro de evangelização: «Exercita-te na piedade» (1 Tm 4, 7). Estas palavras são importantes para todos os cristãos, para todas as pessoas que deveras procuram seguir o Senhor e praticar as Suas palavras. Estas são particularmente relevantes para vós, jovens da Igreja. Assim, deveis perguntar-vos: que tipo de exercício estou a fazer para viver uma vida deveras cristã? 

Todos vós sabeis o que é o «exercício» e o que isto significa. De facto, encontramo-nos aqui no Centro «Kiel», onde inúmeras pessoas realizam longos e árduos exercícios em vista de competir em diferentes desportos. Hoje, este impressionante estádio tornou-se outro género de campo de treinamento  ―  não para o hóquei, para o futebol ou para o basquetebol, mas para aquele exercício que vos ajudará a viver de maneira mais decisiva a vossa fé em Jesus. Este é o verdadeiro «exercício da piedade» a que São Paulo se refere  ―  o exercício que vos torna capazes de dar-vos sem reservas ao Senhor e à obra para a qual Ele vos chama! 

3. Dizem-me que havia muito entusiasmo em São Luís, durante a recente temporada de beisebol, quando dois grandes jogadores (Mark McGwire e Sammy Sosa) competiam para bater o recorde de pontos («home-run»). Podeis sentir o mesmo grande entusiasmo, ao treinardes em vista de uma meta diferente: seguir Cristo e transmitir a sua mensagem ao mundo. 

Cada um de vós pertence a Cristo e Cristo pertence a vós. No Baptismo, fostes resgatados para Cristo com o sinal da Cruz; recebestes a fé católica como um tesouro a compartilhar com os demais. Na Confirmação, fostes selados com as dádivas do Espírito Santo e fortalecidos para a vossa missão e vocação cristãs. Na Eucaristia, recebestes o alimento que vos nutre em vista dos desafios espirituais de todos os dias. 

Estou particularmente feliz pelo facto que muitos de vós hoje tiveram a oportunidade de receber o Sacramento da Penitência, o Sacramento da Reconciliação. Neste Sacramento, experimentais de maneira muito pessoal a terna misericórdia e o amor do Salvador, ao serdes libertados do pecado e da sua hedionda companheira que é a vergonha. Sois aliviados dos vossos fardos e experimentais a alegria da nova vida em Cristo. 

A vossa pertença à Igreja não pode encontrar maior expressão ou apoio do que a participação na Eucaristia todos os domingos nas vossas paróquias. Cristo oferece-nos o dom do seu Corpo e Sangue a fim de fazer de nós um só corpo, um só espírito n'Ele, para nos congregar mais profundamente na comunhão com Ele e com todos os membros do seu Corpo, a Igreja. Fazei da celebração dominical nas vossas paróquias um verdadeiro encontro com Jesus na comunidade dos seus seguidores: esta é a parte essencial do vosso «exercício da piedade» ao Senhor!

4. Estimados jovens amigos, na Leitura que acabámos de ouvir, o Apóstolo Paulo diz a Timóteo: «Que ninguém o despreze por ser jovem» (1 Tm 4, 12). Di-lo porque a juventude constitui um maravilhoso dom de Deus. Trata-se de um tempo de especiais energias, particulares oportunidades e singulares responsabilidades. Cristo e a Igreja precisam dos vossos talentos especiais. Fazei bom uso das dádivas que o Senhor vos concedeu!

Este é o tempo do vosso «exercício», do vosso desenvolvimento físico, intelectual, emocional e espiritual. Todavia, isto não significa que podeis adiar o vosso encontro com Cristo e a vossa participação na missão da Igreja. Embora sejais jovens, este é o tempo para a acção! Jesus não «despreza a juventude». Ele não vos deixa de parte para um período posterior, quando fordes mais velhos e o vosso exercício se completar. O vosso treinamento jamais terminará. Os cristãos vivem em constante exercício. Vós estais prontos para o que Cristo quer de vós agora. Ele deseja que vós  ―  todos vós  ―  sejais a luz do mundo, como só os jovens o podem ser. Chegou a hora de fazerdes brilhar a vossa luz!

Em todas as minhas viagens, falo ao mundo acerca das vossas energias juvenis, dos vossos talentos e da vossa disponibilidade a amar e a servir. E aonde quer que eu vá, desafio os jovens  ―  como um amigo  ―  a viverem na luz e na verdade de Jesus Cristo. 

Exorto-vos a deixar que a Sua palavra entre nas vossas almas e, do íntimo dos vossos corações, a dizer-lhe: «Eis-me aqui, ó Senhor, para fazer a vossa vontade» (cf. Hb 10, 7).

 

Parte II 

«Vós sois a luz do mundo... que a vossa luz brilhe diante dos homens» (Mt 5, 14.16).

Prezados Jovens 

1. Perguntai-vos: acredito nestas palavras de Jesus no Evangelho? Jesus chama-vos luz do mundo. Ele pede-vos que deixeis a vossa luz brilhar diante dos outros. Bem sei que nos vossos corações quereis dizer: «Eis-me aqui, ó Senhor. Eis-me aqui. Venho para fazer a vossa vontade» (Salmo responsorial; cf. Hb 10, 7). Contudo, somente se fordes um só com Jesus podereis compartilhar a sua luz e, por vossa vez, ser a luz do mundo.

Estais prontos para isto? 

Infelizmente, hoje demasiadas pessoas vivem distante da luz  ―  num mundo de ilusões, de sombras fugazes e de promessas não mantidas. Se olhardes para Jesus, se viverdes a Verdade que é Jesus, tereis em vós a luz que revela as verdades e os valores sobre os quais podeis construir a vossa própria felicidade, enquanto edificareis um mundo de justiça, de paz e de solidariedade. Recordai o que Jesus disse: «Eu sou a luz do mundo; quem me seguir não caminhará nas trevas, mas terá a luz da vida» (cf. Jo 8, 12). 

Uma vez que Jesus é a Luz, também nós nos tornamos luz quando O proclamamos. Este é o cerne da missão cristã à qual cada um de vós foi chamado através do Baptismo e da Confirmação. Sois chamados a fazer com que a luz de Cristo brilhe esplendidamente no mundo. 

2. Quando éreis crianças, não tínheis às vezes medo da escuridão? Hoje não sois mais crianças que têm medo da escuridão. Sois adolescentes e jovens. Todavia, já compreendeis que há outro género de escuridão no mundo: a obscuridade da dúvida e da incerteza. É possível que sintais a obscuridade da solidão e do isolamento. As vossas ansiedades podem derivar de interrogativos acerca do futuro, ou de remorsos quanto às vossas opções do passado. 

Por vezes o próprio mundo parece impregnado de escuridão. A obscuridade das crianças que padecem fome e até mesmo morrem. A escuridão das pessoas desabrigadas que têm necessidade de trabalho e de assistência médica. A obscuridade da violência: a violência contra os nascituros, a violência no seio das famílias, a violência dos bandos de malfeitores, a violência do abuso sexual, a violência das drogas que destroem o corpo, a mente e o coração. Existe algo de terrivelmente errado quando um número tão elevado de jovens é esmagado pelo desespero, a ponto de cometer suicídio. E nalgumas regiões desta nação já foram outorgadas leis que permitem aos médicos pôr fim à vida das pessoas que eles juraram assistir. O dom divino da vida está a ser rejeitado. Escolhe-se a morte e não a vida, e isto traz consigo a escuridão do desespero.

 3. Todavia, vós acreditais na luz (cf. Jo 12, 36)! Não presteis atenção àquelas pessoas que vos encorajam a mentir, a subtrair-vos às responsabilidades, a pensar antes de mais em vós próprios. Não escuteis aqueles que vos dizem que a castidade pertence ao passado. Nos vossos corações, sabeis que o verdadeiro amor constitui um dom de Deus e que respeita o seu plano para a união do homem e da mulher no matrimónio. Não vos deixeis levar por falsos valores e slogans falazes, especialmente acerca da vossa liberdade. 

A liberdade genuína é uma maravilhosa dádiva de Deus, e tem constituído uma parte preciosa da história do vosso país. Contudo, quando a liberdade se separa da verdade, os indivíduos perdem a sua orientação moral e o próprio tecido da sociedade começa a dilacerar-se. 

A liberdade não é a capacidade de fazermos tudo o que desejamos e quando queremos. Pelo contrário, a liberdade é a capacidade de vivermos de maneira responsável a verdade acerca do nosso relacionamento com Deus e com os outros. Recordai o que Jesus disse: «Conhecereis a verdade e a liberdade libertar-vos-á» (Jo 8, 32). Não deixeis que ninguém vos desnorteie ou impeça de ver aquilo que é realmente importante. Voltai-vos para Jesus, escutai-O e descobri o genuíno significado e a verdadeira direcção da vossa vida. 

4. Vós sois os filhos da luz (cf. Jo 12, 36)! Pertenceis a Cristo, que vos chamou pelo nome. A vossa responsabilidade primordial consiste em procurar conhecê-Lo tanto quanto puderdes nas vossas paróquias, na educação religiosa nas vossas escolas e colégios, bem como nos grupos juvenis e nos Centros «Newman». 

Todavia, só O conhecereis verdadeira e pessoalmente através da oração. É necessário que faleis com Ele e que O escuteis. 

Hoje vivemos numa época em que as comunicações são imediatas. Contudo, conseguis perceber que singular forma de comunicação é a oração? Esta permite-nos encontrar Deus no mais profundo do nosso ser, vinculando-nos directamente a Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, numa constante permuta de amor. 

Mediante a oração, aprendereis a ser a luz do mundo, porque na prece vos tornais um só com a fonte da nossa verdadeira luz, Jesus mesmo.

 5. Cada um de vós tem uma especial missão na vida e é chamado a ser discípulo de Cristo. Muitos de vós servirão a Deus na vocação da vida matrimonial cristã; alguns de vós O servirão como pessoas singularmente devotadas; outros, como sacerdotes e religiosos. Todavia, todos vós deveis ser a luz do mundo. Àqueles de entre vós que julgam que Cristo vos está a convidar para O seguir no sacerdócio ou na vida consagrada, dirijo este apelo pessoal: peço-vos que Lhe abrais os vossos corações com generosidade; não adieis a vossa resposta. O Senhor ajudar-vos-á a conhecer a sua vontade; auxiliar-vos-á a seguir a vossa vocação com coragem. 

6. Queridos jovens, nos dias, nas semanas e nos anos que hão-de vir, enquanto vos recordardes desta tarde, lembrai-vos de que o Papa veio aos Estados Unidos, à Cidade de São Luís, a fim de chamar os jovens da América para Cristo, a fim de vos convidar a segui-Lo. Ele veio para vos desafiar a ser a luz do mundo! «Esta luz brilha nas trevas e as trevas não conseguiram apagá-la» (Jo 1, 5). Jesus, que derrotou o pecado e a morte, recorda-vos: «Eu estarei sempre convosco» (Mt 28, 20). Ele diz: «Coragem, sou Eu! Não tenhais medo!» (Mc 6, 50).

No horizonte desta Cidade encontra-se o «Arco de Ingresso» que, com frequência, captura a luz do sol nas suas diferentes cores e matizes. Também vós, de mil maneiras diversas, deveis reflectir a luz de Cristo na vossa vida de oração e de alegre serviço ao próximo. Com a ajuda de Maria, Mãe de Jesus, os jovens da América hão-de fazê-lo de modo magnífico! 

Lembrai-vos: Cristo chama-vos; a Igreja tem necessidade de vós; o Papa acredita em vós e espera grandes coisas de vós!

 Louvado seja Jesus Cristo! 

Antes de se despedir dos jovens, o Santo Padre improvisou as seguintes palavras: 

Desta forma, estou preparado para voltar a jogar hóquei! Mas sou capaz de o fazer? Eis a questão. Talvez depois deste encontro o serei um pouco mais.



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