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DISCURSO DO SANTO PADRE
AO EMBAIXADOR DO MALI JUNTO À SANTA SÉ
POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO
DAS CARTAS CREDENCIAIS

6 de Dezembro de 2001

Senhor Embaixador

1. Sinto grande prazer em receber Vossa Excelência quando apresenta as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Mali junto da Santa Sé.

Agradeço a Vossa Excelência as saudações cordiais que acaba de me dirigir em seu nome e da parte do Presidente do Mali. Ficar-lhe-ia grato por se dignar transmitir a Sua Excelência o Senhor Alpha Oumar Konaré os votos que formulo pela sua pessoa e pelo cumprimento da sua nobre missão ao serviço do povo do Mali. Peço ao Altíssimo que abençoe os esforços de todos os que estão empenhados na edificação de uma sociedade baseada nos valores da justiça e da paz, no reconhecimento dos direitos de todos os componentes da Nação.

2. No seu discurso, Vossa Excelência realçou a permanência das relações frutuosas e amistosas que existem entre o seu País e a Santa Sé. Elas baseiam-se na convicção comum de que a dignidade e os direitos fundamentais da pessoa devem ser promovidos e defendidos em todos os tempos e em qualquer circunstância. Depois dos dias sombrios que marcaram, há alguns meses, a consciência de toda a humanidade, congratulo-me pelos esforços constantes feitos pela sua Nação para servir a causa da paz, não apenas no âmbito das suas fronteiras, mas também mediante uma acção diplomática firme, na dimensão de todo o Continente africano. Nesta perspectiva, é importante realçar a importância do encontro da Organização da Unidade Africana, que a sua capital Bamako recebeu em Novembro de 2000, tratando o tema da limitação da proliferação das armas ligeiras. No momento em que o seu País se empenhou decididamente no processo de edificação de uma sociedade democrática, faço votos por que o estabelecimento e a organização de um estado de direito permita que todos gozem das suas prerrogativas de cidadãos, livremente e no respeito de um pluralismo legítimo, colaborando para o bem comum, o que exige em particular o respeito dos valores e das tradições religiosas próprias de cada um, respeito que contribui para a unidade nacional e para manter a paz e a concórdia entre todos os membros da sociedade.

Estabelecer e desenvolver uma cultura de paz é para uma nação um dever exigente e nobre, inscrito na vocação da humanidade de se reconhecer como uma família. Este empenho chama todas as nações a fazer opções corajosas, para combater o egoísmo sob todas as suas formas, do qual se verificam as consequências, sobretudo nos desequilíbrios de ordem económica e social assim como na ausência de confiança que, muitas vezes, danificam as relações de uma sadia cooperação entre os homens e os povos. A este respeito, tive ocasião de recordar várias vezes que não pode haver "paz verdadeira sem equidade, verdade, justiça e solidariedade. Está destinado à falência qualquer projecto que deixe separados dois direitos indivisíveis: o direito à paz e o direito a um progresso integral e solidário" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2000, n. 13). Com a finalidade de pôr remédio às graves injustiças que mantêm na miséria nações inteiras, convido os países ricos a apoiar os esforços dos países mais pobres, ajudando-os sobretudo a realizar estruturas de desenvolvimento e meios de formação apropriados. De facto, os países em vias de desenvolvimento devem ser ajudados por si mesmos e não em função de interesses particulares das nações às quais são devedores. Desta forma, será deveras realizada a mundialização da solidariedade que desejo ardentemente, e que representa uma grande oportunidade não só para o crescimento económico da humanidade, mas também para o seu desenvolvimento cultural e moral.

3. Quanto à Igreja católica, ela quer ter uma parte activa na vida do povo do Mali, desejando contribuir com a sua ajuda específica para a promoção do bem da comunidade nacional. Em nome da missão de serviço do Evangelho que recebeu de Jesus Cristo, ela deseja encorajar qualquer projecto que contribua para o desenvolvimento integral das pessoas e dos povos, em conformidade com a sua vocação. Ela considerou sempre a educação um terreno insubstituível para um sadio crescimento das jovens gerações, contribuindo para orientar as suas consciências para os valores do amor, do respeito, da liberdade, da justiça e da solidariedade. Neste âmbito da educação, assim como no da saúde ou da acção social, a Igreja católica continuará a empenhar-se pelo bem comum, com todas as componentes da sociedade civil. Esta perspectiva supõe que ela disponha dos meios materiais e do reconhecimento que lhe permita garantir a sua missão junto das pessoas que lhe estão confiadas, sem discriminações. A fim de permitir que os jovens que beneficiam desta educação integral contribuam de maneira eficaz para o progresso da sociedade por um caminho mais fraterno, é necessário promover e apoiar a família, valor fundamental da cultura africana, que "possui vínculos vitais e orgânicos com a sociedade, porque constitui o seu fundamento e alimento contínuo mediante o dever de serviço à vida: de facto, os cidadãos nascem na família, e nela encontram a primeira escola das virtudes sociais, que são a alma da vida e do desenvolvimento da mesma sociedade" (Familiaris consortio, 42). Por fim, é profundamente desejável que esta educação integral permita aos cristãos e aos muçulmanos estabelecer relações no respeito mútuo, na confiança e na amizade, para realizar uma cooperação frutuosa, na concórdia e na estima recíproca. Oxalá eles tirem as suas forças necessárias do património autêntico das suas tradições religiosas, para colaborar no progresso solidário do seu país!

4. Senhor Embaixador, permita-me saudar calorosamente, através de Vossa Excelência, os Bispos, os sacerdotes, os religiosos, as religiosas, os catequistas e os fiéis católicos do seu País. Encorajo-os a ter sempre esperança em Cristo, a fim de dar testemunho vivo do amor de Deus entre os seus irmãos e irmãs. Convido-os a trabalhar com fervor, pelo caminho do diálogo e mediante o empenho na vida social, para superar as causas de divisão e edificar uma sociedade cada vez mais equitativa e unida.

5. No momento em que Vossa Excelência inicia a sua missão junto da Santa Sé, apresento-lhe os meus cordiais votos para a nobre tarefa que o espera. Tenha a certeza de que encontrará sempre, junto dos meus colaboradores, o acolhimento atento e compreensivo do qual poderá ter necessidade.

Sobre Vossa Excelência, a sua família, os seus colaboradores, o povo do Mali e quantos presidem ao destino da Nação, invoco de coração a abundância das Bênçãos divinas.

 

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