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DISCURSO DO SANTO PADRE
 AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA DA C.E.I.
 SOBRE A PASTORAL NO CAMPO DA SAÚDE

 Quinta-feira, 17 de Maio de 2001

1. Estou feliz por dar as boas-vindas a todos vós, que durante estes dias reflectis sobre a presença da Igreja no mundo da saúde, da doença e do sofrimento. Dirijo a minha saudação, em primeiro lugar, ao Cardeal Camillo Ruini, Presidente da Conferência Episcopal Italiana, e ao Bispo D. Javier Lozano Barragán, Presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral da Saúde, e agradeço-lhes as suas palavras cordiais. Saúdo os outros Prelados aqui presentes, de maneira especial D. Alessandro Plotti, Arcebispo de Pisa e Vice-Presidente da Conferência Episcopal Italiana, e D. Benito Cocchi, Bispo de Módena e Presidente da Comissão Episcopal da Conferência Episcopal Italiana para o serviço da caridade e a pastoral no campo da saúde.

Além disso, faço extensiva a minha saudação a todas as pessoas que vivem na enfermidade e no sofrimento, às suas famílias e a quantos cuidam delas. Como desejei escrever na Mensagem deste ano para o Dia Mundial do Doente, quero ir, verdadeira e espiritualmente, todos os dias visitar quem sofre, para "me deter ao lado dos enfermos, dos familiares e do pessoal que trabalha no campo da saúde" (Ed. port. de L'Osservatore Romano de 2 de Setembro de 2000, pág. 7, n. 3).

Esta vossa Assembleia, significativa por muitos motivos, insere-se no caminho empreendido pela Igreja italiana para uma promoção da pastoral da saúde, que seja cada vez mais activa. Encorajo-vos a prosseguir ao longo deste caminho, para que seja reconhecida à pastoral da saúde toda a sua força de testemunho evangélico, em plena fidelidade ao mandato de Cristo:  "Ide, proclamai o Reino de Deus e curai os enfermos" (cf. Lc 5, 1-2; Mt 10, 7-9; Mc 3, 13-19).

2. Reunistes-vos para aprofundar o sentido e as modalidades com que actualizar este mandato de Cristo nos dias de hoje. De um atento discernimento das actuais realidades socioculturais, sem dúvida surgem indicações concretas sobre qual deve ser a presença da Igreja no campo do cuidado da saúde, melhorando a sua qualidade e identificando os seus  novos  percursos  de  inserção apostólica.

A este propósito é útil recordar, como eu escrevia na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, que "não se trata de inventar um "programa novo". O programa já existe:  é o mesmo de sempre, expresso no Evangelho e na Tradição viva. Concentra-se, em última análise, no próprio Cristo" (n. 29).

E na Mensagem para o VIII Dia Mundial do Doente, durante o Grande Jubileu do Ano 2000, eu observava:  "Jesus não só purificou e curou os enfermos, mas foi também um incansável promotor da saúde através da sua presença salvífica, do ensinamento e da acção... N'Ele, a condição humana mostrava o rosto remido, e as aspirações humanas mais profundas encontravam a sua própria realização. Ele quer comunicar esta harmoniosa plenitude de vida aos homens de hoje" (Ed. port. de L'Osservatore Romano de 14 de Agosto de 1999, pág. 6, n. 10). Sim, Jesus veio para que todos "tenham vida e a tenham em abundância" (Jo 10, 10). E que âmbito, mais do que o da saúde e do sofrimento, espera o anúncio, o testemunho e o serviço do Evangelho da vida?
Imitando Cristo, que assumiu o rosto "doloroso" do homem a fim de o tornar "glorioso", a Igreja é chamada a percorrer o caminho do homem, especialmente quando ele sofre (cf. Redemptor hominis, 7, 14 e 21; cf. também Salvifici doloris, 3). A sua acção vai ao encontro da pessoa enferma para a escutar, cuidar e curar as suas feridas, abrindo-a para a compreensão do sentido e do valor salvífico da dor.

Jamais se insistirá suficientemente e vós fizeste-lo nesta Assembleia sobre a necessidade de pôr no centro a pessoa, tanto do doente como dos agentes que trabalham no campo da saúde.

3. A Igreja estima aquilo que os outros fazem neste campo e oferece às estruturas públicas a sua contribuição para corresponder às exigências de uma cura integral da pessoa.

Nisto, ela é impelida e sustentada por uma visão da saúde que não seja uma simples ausência da doença, mas uma tensão para a harmonia completa e o sadio equilíbrio a níveis psíquico, espiritual e social. Propõe um modelo de saúde que se inspira na "salvação salutar", oferecida por Cristo: uma oferta de saúde "global", "integral", que cura o enfermo na sua totalidade. Assim, a experiência humana da doença é iluminada pela luz do Mistério pascal. Experimentando o afastamento do Pai, Jesus crucificado dirige-lhe o seu pedido de ajuda mas, num acto de amor e de confiança filial, abandona-se nas Suas mãos. No Messias crucificado no Gólgota, a Igreja contempla a humanidade que, com confiança, estende a Deus os seus braços dolorosos. Ela aproxima-se com compaixão e solidariedade dos indivíduos que vivem no sofrimento, fazendo seus os sentimentos da misericórdia divina. Este serviço ao homem provado pela doença exige a estreita colaboração entre os agentes no campo da saúde e da pastoral, os assistentes espirituais e o voluntariado no sector médico. A este propósito, como é preciosa a acção das várias associações eclesiais de agentes no campo da saúde, tanto de tipo profissional, incluindo médicos, enfermeiros e farmacêuticos, como de tipo mais explicitamente pastoral e espiritual!

4. Quanto a isto, merecem uma menção especial as Instituições religiosas que, fiéis ao seu carisma, continuam a desempenhar um papel importante neste sector. Enquanto agradeço a estas Instituições, tanto masculinas como femininas, o seu testemunho que mesmo no meio de não poucas dificuldades elas oferecem com generosidade e competência, peço-lhes que salvaguardem e tornem cada vez mais reconhecível o seu carisma nas actuais situações.

Formulo votos sinceros para que ao seu serviço público jamais falte o justo reconhecimento por parte das autoridades civis. Além disso, trata-se de um serviço que exige um vigoroso e convicto investimento no sector da formação específica dos agentes que trabalham no campo da saúde.

Trata-se de "obras da Igreja", património e diaconia do evangelho da caridade para quantos têm necessidade de cuidados médicos. A tais obras nunca deve faltar o apoio de toda a Comunidade eclesial.

Caríssimos Irmãos e Irmãs! Eis um campo privilegiado em que a Igreja é chamada a testemunhar a presença do Senhor ressuscitado. A todos aqueles que estão comprometidos neste serviço, gostaria de reiterar aquilo que escrevi na mencionada Carta Apostólica Novo millennio ineunte:

"Sigamos em frente, com esperança! Diante da Igreja abre-se um novo milénio, como um vasto oceano em que se aventurar com a ajuda de Cristo" (n. 58). Que no início deste século se apresse o passo de quem é chamado, como o Bom Samaritano, a cuidar do homem ferido que sofre.

Maria, que do Céu vela maternalmente sobre as pessoas provadas pela dor, seja o sustento constante de quantos se dedicam a aliviá-la.

Com estes sentimentos, é de bom grado que concedo a todos uma especial Bênção apostólica.

 

 

 



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