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DISCURSO DO SANTO PADRE
 À EMBAIXADORA DA ÁFRICA DO SUL
 JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO
 DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS

18 de maio de 2001 

 

Excelência

É com prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e aceito as Cartas Credenciais que a nomeiam Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República da África do Sul junto da Santa Sé. Estou-lhe grato pelas cordiais saudações que me apresentou da parte do Senhor Presidente Thabo Mbeki e do povo da sua querida Nação, e peço-lhe a amabilidade de lhes transmitir a certeza das minhas orações incessantes pelo progresso, a paz e a prosperidade do seu País.

A Conferência mundial sobre o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e intolerâncias afins, que a África do Sul está a organizar para o final deste ano, oferece uma excelente oportunidade não só para a sua nação e o continente africano, mas na realidade para toda a comunidade internacional para abordar um tema de importância crucial para todos os povos. Embora os conflitos fundamentados na origem étnica ou nacional já tenham obrigado a humanidade a pagar um preço gravíssimo no século que acabou de terminar, estas atitudes deploráveis continuam a representar um espectro ameaçador no cenário mundial. Portanto, no alvorecer do novo milénio, toda a família das nações faz bem em confirmar o seu compromisso no reconhecimento, na salvaguarda e na promoção da dignidade fundamental e dos direitos inalienáveis de cada ser humano. Este é o caminho seguro para ultrapassar os preconceitos e combater todas as formas de racismo; trata-se do caminho que deverá despertar a consciência de que todos os povos pertencem a uma única família, desejada e reunida pelo próprio Deus Todo-Poderoso.

Senhora Embaixadora, o recente "renascimento" da sua própria Nação, assente na rejeição da segregação e da discriminação, a fim de que todos os cidadãos possam caminhar juntos ao longo da senda da unidade e da fraternidade, constitui um sinal esperançoso e encorajador para as sociedades que estão a enfrentar problemas análogos. A própria paz começa a ser uma realidade tangível, quando o espírito humano decide evitar o caminho da divisão e do conflito, a fim de seguir o itinerário do perdão e da reconciliação. Esta paz exige a força de uma coragem destemida, capaz de superar a vingança cega, que só daria origem a novas formas de violência. Como a história do seu próprio País tem demonstrado, embora seja importante conhecer a verdade sobre o passado e fazer com que as devidas responsabilidades sejam assumidas, é ainda mais importante que se dê continuidade ao delicado processo de edificação de uma sociedade multirracial, justa  e harmoniosa.

Hoje em dia, o que é essencial é que os indivíduos, as famílias e todos os povos se tornem capazes de participar de modo verdadeiramente activo beneficiando do mesmo no desenvolvimento económico e político que os líderes de várias Nações tiveram em vista, ao tomarem a iniciativa denominada "Millennium African Programme". Nas suas finalidades clarividentes e de longo alcance, este empreendimento conjunto deveria basear-se na visão da unicidade de cada ser humano, assente na inviolabilidade da dignidade da pessoa humana. Todos nós gostaríamos de conhecer um mundo em que os indivíduos não fossem constrangidos ao anonimato, que deriva da colectividade ou da infuência poderosa de instituições, estruturas ou sistemas. Como indivíduo, a pessoa não é um número ou simplesmente um elo de uma cadeia, e muito menos um elemento impessoal que pertence a um sistema específico. Da mesma forma, também os povos e as nações têm o direito ao seu pleno desenvolvimento, que inclui não só os aspectos económicos e sociais mas também, o que é mais importante, a sua identidade cultural individual e o seu carácter religioso. Por este motivo, a necessidade de desenvolvimento nunca deve tornar-se uma desculpa para impor aos outros os estilos de vida ou as expressões culturais que não reflectem a individualidade e a história de um determinado povo.

É-me grato observar que Vossa Excelência quis reconhecer a significativa contribuição oferecida pela Igreja católica, para a edificação da sociedade da África do Sul, tanto no passado como no presente. Os católicos do vosso País continuam a estar comprometidos no trabalho conjunto com os seus compatriotas, como participantes activos no progresso político, social e cultural da Nação, de forma especial no combate à pobreza, ao analfabetismo e à sida. Com esta finalidade, as pessoas que trabalham na Igreja, inclusivamente os seus numerosos missionários, membros de Comunidades religiosas e também leigos e leigas, realizam a sua própria obra nos campos da educação, dos serviços sociais e do cuidado à saúde. O trabalho que eles levam a cabo não é somente para o benefício dos católicos, mas também para o bem de todas as pessoas. A minha esperança é de que, tanto o seu Governo como as Autoridades públicas do seu País fomentem este seriço realizado pela Igreja, assistindo os missionários e os seus colaboradores, enquanto eles procuram dar continuidade a estes esforços que visam garantir um futuro mais brilhante para a África do Sul e o seu povo em geral.

Senhora Embaixadora, no momento em que começa a sua missão diplomática na Santa Sé, pode ter a certeza de que poderá contar com qualquer tipo de assistência de que tiver necessidade no cumprimento das suas responsabilidades. Enquanto expresso os meus sinceros votos pelo bom êxito do seu trabalho, invoco cordialmente sobre Vossa Excelência e sobre os governantes e o povo da República da África do  Sul, as abundantes Bênçãos de Deus Todo-Poderoso.

 

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