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DISCURSO DO SANTO PADRE
 AO EMBAIXADOR DO SRI LANKA JUNTO À SANTA SÉ
POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO
DAS CARTAS CREDENCIAIS

18 de Maio de 2001 

 

Senhor Embaixador

É com prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e recebo as Cartas Credenciais mediante as quais Sua Excelência o Senhor Presidente Chandrika Bandaranaike Kurnaratunga o designa Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Democrática Socialista do Sri Lanka junto da Santa Sé. Agradeço as cordiais saudações e bons votos que Vossa Excelência me transmitiu da parte do Senhor Presidente e do Governo, e pediria que comunicasse a Sua Excelência a certeza das minhas preces pela paz, a harmonia e a prosperidade de toda a sua Nação.

Em 1995, tive a alegria de visitar o seu País, cujas belezas naturais lhe granjearam o nome de "Pérola do Oceano Índico". A hospitalidade e a amabilidade constantes do povo do Sri Lanka deixaram em mim uma impressão duradoura, e durante a minha permanência ali pude perceber que a variedade cultural e religiosa dos povos dessas Ilhas assinalou profundamente a história e a identidade da sua Nação. Cada um dos vários grupos religiosos ofereceu uma importante contribuição para o desenvolvimento da Nação em geral. Vossa Excelência chamou a atenção para o facto de que os seguidores de tais religiões possuem uma longa tradição de vida conjunta harmoniosa e de respeito mútuo. Isto está em sintonia com o espírito autêntico de todas as principais religiões mundiais, enquanto a intolerância e a violência em nome da religião constitui uma distorção do seu espírito genuíno.

A convicção religiosa verdadeira leva à promoção dos valores comuns, essenciais para o bem da sociedade, como o respeito pela dimensão transcendente da vida, a abertura ao próximo e o profundo sentido da dignidade inalienável de cada pessoa humana. A atenção ao lugar da transcendência na vida humana constitui uma exigência para o desenvolvimento genuíno, uma vez que a pessoa e a sociedade precisam não só do progresso material, mas também dos valores religiosos (cf. Centesimus annus, 61). Como nos ensinam as trágicas experiências do século que acabámos de deixar atrás de nós, o esquecimento da dimensão espiritual da vida leva inevitavelmente a várias formas de injustiça contra os indivíduos mais vulneráveis: os nascituros, as pessoas idosas e os indivíduos frágeis. Por este motivo, o tradicional respeito cingalês pela religião é uma dádiva a ser valorizada e protegida. É também essencial que os líderes espirituais trabalhem em conjunto, num espírito de diálogo e de cooperação, para assegurar que a religião seja uma força promotora da paz e da compreensão recíproca. Quanto à sociedade civil, ela tem o dever de garantir a liberdade religiosa necessária para assegurar a coexistência harmoniosa dos seguidores de todas as religiões, uma liberdade que, como Vossa Excelência mencionou, é salvaguardada pela Constituição do seu País.

Nos anos mais recentes, o Sri Lanka foi tragicamente atingido por conflitos que causaram muito sofrimento e semearam mortes horríveis, infelizmente também nas últimas semanas. Devemos esperar que os esforços que estão a ser despendidos em prol de uma solução pacífica e equitativa para as causas latentes levem as partes interessadas a abandonarem os caminhos da violência e a comprometerem-se na negociação paciente e perseverante. A paz justa deve fundamentar-se na protecção e na promoção dos direitos fundamentais de todos os cidadãos, assim como sobre o respeito pelas suas tradições culturais e religiosas, em conformidade com as exigências do bem comum. A Igreja católica no Sri Lanka, cujos membros são oriundos de todos os grupos étnicos, está a fazer tudo o que lhe é possível para promover um clima de diálogo e fomentar a paz. Como o Senhor Embaixador bem sabe, a Igreja sempre apoia as iniciativas que têm como objectivo criar uma paz assente no respeito pela dignidade humana.

Um dos principais desafios que muitos países e a comunidade internacional em geral devem enfrentar diz respeito à necessidade de promover um diálogo mais intenso entre as culturas e as tradições. A Organização das Nações Unidas chamou a atenção para a urgência desta necessidade, declarando 2001 como o "Ano Internacional do Diálogo entre as Civilizações". A cultura forma os indivíduos e as gentes que, por sua vez, se expressam através dela. Cada cultura tem uma concepção particular da vida política e económica e, no seu centro, tem uma compreensão específica das questões fundamentais que atingem a vida das pessoas, inclusivamente das suas interrogações a nível religioso. O homem é um ser que busca a verdade e luta para viver em harmonia com ela. A cultura de uma nação haure a sua índole da busca da verdade, que nunca esmorece e que se renova em cada geração (cf. Centesimus annus, 49-50). As diversas culturas "constituem fundamentalmente modos diferentes de enfrentar a questão sobre o significado da existência pessoal" (Ibid., n. 24). É necessário respeitar a singularidade de cada cultura, mas também compreender a diversidade cultural "na perspectiva fundamental da unidade do género humano" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2001, n. 7). A compreensão e a comunhão entre as culturas "predispõem os ânimos para a aceitação recíproca, em ordem a uma colaboração autêntica, de acordo com a vocação primordial de toda a família humana à unidade" (cf. Ibid., n. 10).

Já passaram 25 anos deste que o primeiro Embaixador do Sri Lanka junto da Santa Sé, Sua Excelência o Senhor Ediriwira R. Sarachchandra, apresentou as Cartas Credenciais ao meu predecessor, Papa Paulo VI. Durante estes anos, os vínculos de amizade entre o seu País e a Santa Sé foram revigorados e consolidados, enquanto a sua presença hoje aqui constitui um testemunho destas boas relações. Vossa Excelência falou com grande afabilidade da contribuição da Igreja para o progresso da sociedade em sectores como a educação e o desenvolvimento social. De acordo com o mandato do seu divino Fundador, de amarmos o nosso próximo como a nós mesmos, a Igreja continuará a fazer esforços para assegurar que as pessoas tenham a possibilidade de levar uma vida mais digna e feliz, em harmonia com a vocação transcendente de cada ser humano.

Senhor Embaixador, no momento em que assume as suas responsabilidades no seio do Corpo Diplomático credenciado junto da Santa Sé, formulo-lhe os meus votos pelo bom êxito do cumprimento da sua excelsa missão. Asseguro-lhe que as várias repartições e departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontas a assisti-lo. Sobre Vossa Excelência e o amado povo do Sri Lanka, invoco as abundantes Bênçãos divinas.


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