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VIAGEM APOSTÓLICA  DO PAPA JOÃO PAULO II
AO AZERBAIJÃO E À BULGÁRIA
 (22-26 DE MAIO DE 2002)
 

 ENCONTRO COM SUA SANTIDADE O PATRIARCA MAXIM
E OS MEMBROS DO SANTO SÍNODO

DISCURSO DO SANTO PADRE

Palácio Patriarcal de Sófia
Sexta-feira,
 24 de Maio de 2002

Santidade
Venerados Metropolitas e Bispos
e todos vós,
queridos Irmãos no Senhor
Cristo ressuscitou!

1. Sinto-me feliz por me poder encontrar hoje, 24 de Maio, convosco, porque este é um dia particular, inscrito profundamente no meu coração e na minha memória. As visitas da Delegação búlgara que, desde o começo do meu serviço como Bispo de Roma, tive a alegria de receber no Vaticano no dia 24 de Maio de cada ano, foram para mim agradáveis ocasiões de encontro não só com a nobre Nação búlgara, mas também com a Igreja ortodoxa da Bulgária e com Vossa Santidade, nas pessoas dos Bispos que o representam.

Hoje o Senhor permite que nos encontremos pessoalmente e que nos demos o "beijo da paz". Estou reconhecido pela disponibilidade com que Vossa Santidade e o Santo Sínodo me permitiram realizar um desejo profundo, que desde há muito tempo eu trazia no coração. Venho até vós com sentimentos de estima pela missão que a Igreja ortodoxa da Bulgária está a desempenhar, e desejo testemunhar respeito e apreço pelo seu empenho em benefício destas populações.

2. Ao longo dos séculos, apesar das vicissitudes históricas complexas e por vezes hostis, a Igreja que Vossa Santidade  hoje  orienta  soube  anunciar  com perseverança  a  encarnação  do  Unigénito  Filho  de  Deus  e  a  sua  ressurreição. A cada geração repetiu a Boa Nova da salvação. Também hoje, no início do terceiro milénio, ela testemunha com renovadas forças a salvação que o Senhor oferece a cada homem e propõe a todos a esperança que não desilude e da qual o nosso mundo tem profunda necessidade.

Santidade, a visita que, pela primeira vez na história, um Bispo de Roma realiza a este País, encontrando Vossa Santidade juntamente com o Santo Sínodo, é justamente um momento de alegria, porque é sinal de um progressivo crescimento na comunhão eclesial. Contudo, isto não nos pode impedir de fazer uma franca observação:  Cristo Senhor fundou a Igreja una e única, mas nós, hoje, apresentamo-nos ao mundo divididos como se o próprio Cristo estivesse dividido:

"Esta divisão não só contradiz abertamente a vontade de Cristo, mas escandaliza o mundo e prejudica a santíssima causa da pregação do Evangelho a todas as criaturas" (Decreto Unitatis redintegratio, 1).

3. A plena comunhão entre as nossas Igrejas conheceu dolorosas lacerações no decurso da história, "por vezes por culpa dos homens de ambas as partes" (Ibid., 3). "Tais pecados do passado fazem sentir ainda, infelizmente, o seu peso e permanecem como tentações igualmente no presente. É necessário emendar-se, invocando intensamente o perdão de Cristo" (Carta Apostólica Tertio millennio adveniente, 34).

Contudo, um facto nos conforta:  o afastamento que se verificou entre católicos e ortodoxos nunca fez esvaecer neles o desejo de restabelecer a plena comunhão eclesial, para que fosse expressa com maior evidência aquela unidade pela qual o Senhor pediu ao Pai. Hoje podemos dar graças a Deus porque os vínculos existentes entre nós fortificaram-se visivelmente.

Já o Concílio Vaticano II realçava, a este propósito, que as Igrejas ortodoxas "têm verdadeiros sacramentos e sobretudo, em virtude da sucessão apostólica, o Sacerdócio e a Eucaristia" (Decreto Unitatis redintegratio, 15). O Concílio, além disso, recordava e reconhecia que "uma certa diversidade de usos e costumes... não se opõe de modo algum à unidade da Igreja, até lhe aumenta o decoro e muito contribui para o cumprimento da sua missão" (ibid., 16), e acrescentava:  "A perfeita observância deste princípio tradicional, que na verdade nem sempre foi respeitado, pertence àquelas coisas que são absolutamente exigidas como condição prévia para o restabelecimento da unidade" (Ibid.).

4. Ao reflectir sobre este tema, não podemos deixar de dirigir o nosso olhar para o exemplo de unidade que no primeiro milénio ofereceram concretamente os Santos Irmãos Cirilo e Metódio, dos quais se conservam no vosso País uma viva memória e uma profunda herança. Para o seu testemunho podem olhar aqueles que, em âmbito político, se estão a empenhar no processo de unificação Europeia. De facto, na busca da própria identidade o Continente não pode deixar de voltar às suas raízes cristãs. Toda a Europa, a Ocidental e a Oriental, espera o comum empenho de católicos e de ortodoxos em defesa da paz e da justiça, dos direitos do homem e da cultura da vida.

O exemplo dos Santos Cirilo e Metódio é para nós muito emblemático, sobretudo para a unidade dos cristãos na Única Igreja de Cristo. Enviados ao Leste europeu pelo Patriarca de Constantinopla a fim de levarem a verdadeira fé aos povos eslavos na sua língua, face aos obstáculos apresentados à sua obra pelas dioceses ocidentais confinantes, que consideravam responsabilidade sua levar a Cruz de Cristo aos Países eslavos, foram recebidos pelo Papa para fazer autenticar a sua missão (cf. Carta Encíclica, Slavorum apostoli, 5). Por conseguinte, eles são para nós "como que os elos de união, ou como uma ponte espiritual entre a tradição oriental e a tradição ocidental, que convergem ambas na única grande Tradição da Igreja universal. Eles são para nós modelos e, ao mesmo tempo, os patronos do esforço ecuménico das Igrejas irmãs do Oriente e do Ocidente, para reencontrar, mediante o diálogo e a oração, a unidade visível na comunhão perfeita, "a união que... não é absorção nem sequer fusão"! A unidade é o encontro na verdade e no amor, que nos são dados pelo Espírito" (Ibid., 27).

5. Apraz-me recordar, durante este nosso encontro, os numerosos contactos entre a Igreja católica e a Igreja ortodoxa da Bulgária, iniciados com o Concílio Vaticano II, ao qual ela enviou observadores próprios. Estou confiante de que estes contactos directos, felizmente incrementados nos anos passados, incidirão positivamente também sobre o diálogo teológico, no qual católicos e ortodoxos estão empenhados através da Comissão mista internacional, instituída para esta finalidade.

Precisamente com a intenção de alimentar o conhecimento recíproco, a caridade mútua e a colaboração fraterna, sinto-me feliz por oferecer à comunidade ortodoxa búlgara de Roma o uso litúrgico da igreja dos Santos Vicente e Atanásio na Fonte de Trevi, segundo as modalidades que os nossos respectivos delegados deverão determinar.

Depois, fui informado de que o V Concílio da Igreja Ortodoxa Búlgara restabeleceu no passado mês de Dezembro a Metropolia de Silistra, a antiga Dorostol. Provinha daquela região o jovem soldado Dasio, de quem se celebra este ano o 1700° aniversário do martírio. Aceitando de bom grado o desejo que me foi manifestado, foi com alegria que trouxe comigo, graças à generosa disponibilidade da Arquidiocese de Ancona-Ósimo, uma insigne relíquia do santo para oferecer a esta igreja.

6. Santidade, para terminar gostaria de lhe exprimir, assim como a todos os Bispos da sua Igreja o meu sentido agradecimento pelo acolhimento que me foi reservado. Estou profundamente comovido.

Com sentimentos fraternos, garanto a minha constante oração, para que o Senhor conceda que a Igreja ortodoxa Búlgara realize com coragem, juntamente com a Igreja católica, a missão de evangelização que Ele lhe confiou neste País.

Deus se digne abençoar os esforços de Vossa Santidade, dos Metropolitas e dos Bispos, do Clero, dos Monges e das Monjas, concedendo uma abundante messe espiritual aos trabalhos apostólicos de cada um.

A Virgem Santíssima, ternamente venerada pelos fiéis da Igreja ortodoxa da Bulgária, vele sobre ela e a proteja hoje e sempre! Cristo ressuscitou!

 



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