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MENSAGEM DO CARDEAL ANGELO SODANO
EM NOME DO SANTO PADRE AOS PARTICIPANTES
NO XXIV ENCONTRO PARA A AMIZADE ENTRE OS POVOS
EM RÍMINI (ITÁLIA)

 


Excelência Reverendíssima

Também neste ano o Santo Padre deseja transmitir-lhe, a Vossa Excelência, aos organizadores e a quantos participam no Encontro para a amizade entre os povos, a sua cordial saudação.

1. O tema escolhido para a edição de 2003 constitui uma expressão tirada do Salmo 33 [34]: 

"Quem não deseja a vida, quem não quer dias felizes?". Trata-se de uma interrogação que leva a reflectir. O homem passa longos períodos da sua existência quase insensível ao chamamento da verdadeira felicidade, chamamento este que contudo encontra abrigo na sua consciência; ele vive como que "distraído" pelas numerosas relações com a realidade, enquanto parece que o seu ouvido interior já não sabe reagir.

Vêm à mente as palavras de Isaías:  "Ninguém invocava o teu nome, nem se esforçava para se apoiar em ti, pois Tu escondeste-nos a tua face e entregaste-nos ao poder das nossas culpas" (64, 6). O profeta realça a raiz da dificuldade suscitada pela pergunta do Salmo, acrescentando: 

"Apresentei-me àqueles  que  não  perguntavam  por mim e deixei que aqueles que não me procuravam me encontrassem. E ao povo que não invocava o meu nome, Eu disse:  "Aqui estou, aqui estou!"" (Ibid., 65, 1).

Estas palavras do profeta Isaías são, talvez, o melhor contraponto para o tema do Encontro: 

Deus faz-se vivo, interpela o homem fechado em si mesmo e confundido pela sua própria iniquidade; torna-se-lhe presente, procurando constantemente chamar a sua atenção. A insistência de Deus, que se manifesta com amor a um filho cuja vida se encontra à deriva, constitui um comovedor mistério de misericórdia e de gratuidade.

2. O mundo que a humanidade construiu, sobretudo nos séculos mais recentes, tende com frequência a ocultar nas pessoas a aspiração natural à felicidade, aumentando a "distração" em que elas já correm o risco de cair, em virtude da sua debilidade intrínseca. A sociedade actual favorece um tipo de desejo controlável segundo leis psicológicas e sociológicas e, por conseguinte, utilizável frequentemente para finalidades de lucro ou de gestão do consenso. Uma pluralidade de aspirações substituiu o anseio que Deus inseriu na pessoa como um aguilhão, para que O procure e só nele encontre a plena realização e a paz. As aspirações parciais, orientadas por meios poderosos, capazes de influenciar as consciências, tornam-se forças centrífugas, que afastam o ser humano cada vez mais de si mesmo, tornando-o infeliz e, por vezes, mesmo violento.

O Encontro de Rímini2003 volta a propor um tema de actualidade perene:  a criatura humana, animada por esta aspiração de realização infinita, nunca é redutível a um meio para alcançar qualquer interesse que seja. A marca do divino, que nela adquire a forma de saudade da felicidade, torna-a por sua natureza não instrumentável.

3. Por conseguinte, a dificuldade diante da interrogação levantada no Salmo 34 [33] brota do facto de que o homem muitas vezes não encontra a força para dizer:  "Eu! Eu sou um homem que deseja a vida, que quer dias felizes". O tema do Encontro recorda a necessidade de um desagravo:  ele deve recuperar a energia e a coragem de se colocar diante de Deus para responder ao "Aqui estou, aqui estou!" do Senhor, dizendo embora com voz ténue, eco daquele mesmo chamamento:  "Aqui estou, também eu estou aqui! Invoco-te, agora que me encontraste".

Esta resposta ao Deus que clama até vencer a nossa surdez descreve a tomada de consciência, repleta de emoção, a que a pessoa chega no âmago mais íntimo de si mesma. Isto acontece precisamente no momento em que o chamamento de Deus consegue passar pelas nuvens que pairavam sobre a consciência. Somente esta resposta:  "Aqui estou!" restitui ao homem o seu verdadeiro rosto e representa o início do seu resgate.

Porém, a pessoa deve ser ajudada por uma educação adequada que tenda, como sua finalidade, a favorecer o despertar pessoal da consciência do seu objectivo, suscitando no seu coração as energias necessárias para o obter. Por conseguinte, a educação nunca visa a massa, mas cada pessoa individualmente, na sua fisionomia singular e irrepetível. Isto pressupõe um amor sincero pela liberdade do homem e um compromisso incansável em sua defesa.

4. Com o tema do corrente ano o Encontro recorda, além disso, aos povos da Europa que parecem vacilar sob o peso da sua história, onde é que mergulham as suas raízes. Voltando a propor a interrogação do Salmo, a manifestação de Rímini recorda com vigor a grande figura de São Bento no acto de acolher quem pedia para entrar no mosteiro (cf. Regra, Prólogo 15). A sua Regra representou, além de um caminho de perfeição cristã, um instrumento inigualável de civilização, de unidade e de liberdade. Durante séculos, muitas vezes marcados pela confusão e a violência, ela permitiu edificar baluartes, graças aos quais os homens e as mulheres de diferentes épocas foram novamente orientados para a plena realização da sua dignidade. O futuro edifica-se recomeçando a partir das origens da Europa e valorizando as experiências do passado, profundamente assinaladas pelo encontro com Cristo.

Enquanto faz votos a fim de que o Encontro seja uma ocasião de verdadeiro crescimento cultural e espiritual, Sua Santidade assegura a sua oração e envia de coração uma especial Bênção apostólica a quantos participarem nas várias manifestações programadas.

Também eu formulo votos de pleno bom êxito para esta nobre iniciativa e é de bom grado que me confirmo, com sentimentos de distinto respeito.

Seu, devotíssimo no Senhor

Angelo Card. SODANO
Secretário de Estado

 

 

 

 



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