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 DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO NOVO EMBAIXADOR DA DINAMARCA
JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO
DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS*

 

Excelência

É-me grato dar-lhe as boas-vindas hoje e aceitar as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino da Dinamarca junto da Santa Sé. Embora a minha visita ao seu país teve lugar há vários anos, recordo com prazer o afecto e a hospitalidade com que fui recebido. Agradeço as amáveis palavras de saudação que Vossa Excelência me transmite da parte de Sua Majestade a Rainha Margarida II, e pedir-lhe-ia que comunicasse a Sua Majestade, aos membros do governo e a todo o povo da Dinamarca os meus bons votos e a certeza das minhas preces pela paz e pelo bem-estar da nação.

O compromisso constante da Santa Sé na promoção da dignidade da pessoa humana encontra-se no coração da sua actividade diplomática. Sem uma compreensão autêntica do valor incomparável dos homens e das mulheres, as pretensões de defesa dos direitos humanos fundamentais e os esforços em vista de obter uma coexistência pacífica entre os povos serão vãos. É somente no respeito e na salvaguarda da dignidade inviolável de cada pessoa que a busca da solidariedade e da harmonia no nosso mundo encontra o seu fundamento seguro. Com efeito, a necessidade urgente que toda a família humana tem de dar uma expressão concreta àquilo que o meu Predecessor, o Beato Papa João XXIII, definiu como os quatro pilares da paz verdade, justiça, caridade e liberdade deriva precisamente do facto de eles serem "os requisitos prévios do espírito do homem" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz, n. 3).

No seio da comunidade internacional, a Dinamarca é reconhecida pela generosidade com que tem caracterizado os seus relacionamentos com as nações em vias de desenvolvimento, no mundo inteiro. Uma expressão tangível desta solidariedade encontra-se na liderança dinamarquesa nas operações de manutenção da paz, na participação altruísta aos projectos de assistência e na disponibilidade a contribuir para as exigências da estabilidade internacional e da segurança necessária para o progresso no mundo. A este propósito, é-me particularmente grato reconhecer a observação que Vossa Excelência fez em relação ao modo como a Dinamarca e a Santa Sé apoiaram mutuamente a Declaração do Milénio. O compromisso exemplar da sua nação, em ordem a corresponder às finalidades dessa Declaração, não passou despercebido, e estou convicto de que a Dinamarca contribuirá com determinação para o recém-proposto Programa Financeiro Internacional, cujas iniciativas são corroboradas pela Santa Sé.

A solidariedade concreta constitui sempre a expressão de um desejo firme e perseverante de promover o bem comum. Não obstante este desejo ressoe no interior do coração de todos os homens e mulheres, ele exige também a determinação em vista de promover activamente a cultura da aceitação. Para esta finalidade, o seu país procura introduzir programas de educação para a paz, contribuir para projectos de combate à fome e à injustiça, e encorajar a tolerância, de modo especial no que diz respeito à comunidade de imigrantes. No seu nível mais significativo, estas iniciativas dignas de louvor ajudam a descobrir o reconhecimento da natureza essencial da vida humana como uma dádiva e do nosso mundo como uma família de pessoas. Com efeito, o compromisso genuíno em prol da solidariedade humana, a nível internacional, encontra a sua raiz no núcleo familiar. Se a comunhão autêntica e madura entre as pessoas no seio da família a primeira e insubstituível escola de vida social não for valorizada e salvaguardada, as relações da solidariedade internacional, caracterizadas pelo respeito, a justiça, o diálogo e a caridade, que servem o bem comum, serão gravemente limitadas (cf. Exortação Apostólica  Familiaris consortio, 43).

Durante a minha visita à Dinamarca, observei que a sua bandeira, chamada Dannebrog, está marcada pelo sinal da Cruz. Então sugeri que, em fidelidade a este símbolo histórico da sua existência como povo, a Dinamarca será fiel à sua própria identidade. Uma parte integrante da vossa história é o Evangelho cristão que, como inspiração e ajuda ao vosso povo (cf. Discurso de chegada, Copenhaga, 6 de Junho de 1989), é tão crucial hoje como o foi por mais de mil anos. Contudo, não se pode deixar de observar que um obscurecimento do sentido de Deus lançou a sua sombra não apenas sobre o seu país, mas inclusivamente sobre todo o Continente europeu. Muitas pessoas se sentem desorientadas, confusas, e outras até mesmo sem esperança. Com numerosos europeus que vivem desprovidos de raízes espirituais, não causa admiração o facto de existirem movimentos políticos e sociais que procuram criar uma visão da Europa que ignora a sua herança religiosa e, em particular, a sua alma profundamente cristã (cf. Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Europa, 7). Os defensores destes esforços desvirtuados reclamam os direitos dos povos europeus, e afirmam que falam no nome deles, mas permanecem cegos diante da realidade da lei objectiva superior, inscrita no coração de cada homem e de cada mulher, que a consciência humana conhece bem.

A visão da Europa desapegada de Deus só pode levar à fragmentação social, à confusão moral e à desunião política. Perante os sinais perturbadores que ofuscam o horizonte do continente europeu, desejo repetir de novo as palavras tiradas da Escritura, que eu citei durante a minha visita ao seu país:  "Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único... a luz veio ao mundo... mas quem age conforme a verdade, aproxima-se da luz, para que as suas acções sejam vistas, porque são feitas como Deus quer" (Jo 3, 16.19.21). A verdade de Cristo não desilude. Ela ilumina e orienta o nosso caminho, dissipando as sombras da desorientação e do medo. Cristo convida-nos todos, de novo, "para traçar caminhos sempre novos que desemboquem na "Europa do espírito", a fim de fazer dela uma verdadeira "casa comum" onde haja alegria de viver" (Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Europa, 121).

Com estas palavras de encorajamento, asseguro-lhe que a Igreja católica, em irmandade ecuménica com os seus irmãos e irmãs cristãos na sua terra, Senhor Embaixador, continuará a trabalhar em benefício do enriquecimento espiritual e do desenvolvimento social do povo dinamarquês. Através do testemunho da caridade, a Igreja alcança todos os homens e mulheres, independentemente da sua etnia ou religião, promovendo o crescimento de uma "cultura da solidariedade" e dando nova vida aos valores universais da existência humana (cf. ibid., n. 85).
Senhor Embaixador, estou persuadido de que a missão que Vossa Excelência começa no dia de hoje ajudará a revigorar os vínculos cordiais de compreensão e de cooperação entre a Dinamarca e a Santa Sé. No momento em que Vossa Excelência assume as suas novas responsabilidades, tenha a certeza de que os diversos departamentos da Cúria Romana estão prontos para o assistir no cumprimento dos seus deveres. Invoco sobre o Senhor Embaixador, sobre a sua família e os seus compatriotas, as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.


*L'Osservatore Romano n. 51 p. 7.

 

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