“Cristãos e muçulmanos: partilhamos alegrias e dores”
MENSAGEM PARA O MÊS DO RAMADÃO
E ‘ID Al-FITR 1443 H. / 2022 A.D.
Estimados irmãos e irmãs muçulmanos!
Como todos sabemos, a pandemia causada pela Covid-19 ceifou a vida a milhões de pessoas em todo o mundo, até a membros das nossas famílias. Outros ficaram doentes e sararam, mas passaram por muita dor e sofrimento durante muito tempo devido às consequências do vírus. Celebrando o mês do Ramadão que termina com ’Id al-Fitr, o nosso pensamento é de gratidão a Deus Todo-Poderoso que nos protegeu a todos na sua Providência. Também recordamos na oração os mortos e os enfermos com pesar e esperança.
A pandemia com os seus trágicos efeitos em todos os aspetos do nosso estilo de vida chamou mais uma vez a nossa atenção para um detalhe importante: a partilha . Por isso consideramos oportuno abordar este tema na Mensagem que temos o prazer de enviar a todos e cada um de vós.
Todos partilhamos os dons de Deus: ar, água, vida, alimentos, abrigo, os frutos do progresso médico e farmacêutico, os resultados do progresso científico e tecnológico em vários campos e a sua aplicação, a descoberta contínua dos mistérios do universo... A consciência da bondade e generosidade de Deus enche o nosso coração de gratidão a Ele e, ao mesmo tempo, encoraja-nos a partilhar os seus dons com os nossos irmãos e irmãs que se encontram com vários tipos de necessidades. A pobreza e a situação precária em que muitas pessoas vivem devido à perda do trabalho e aos problemas económicos e sociais ligados à pandemia tornam ainda mais urgente o nosso dever de partilhar.
A partilha encontra a sua motivação mais profunda na consciência de que tudo o que somos e temos é um dom de Deus e que, consequentemente, devemos colocar os nossos talentos ao serviço de todos os nossos irmãos e irmãs, partilhando com eles o que temos.
A melhor forma de partilha tem a sua fonte na empatia genuína e na compaixão efetiva pelos outros. A este respeito, encontramos um desafio significativo no Novo Testamento: «Quem possuir bens deste mundo e vir o seu irmão em necessidade, e fechar-lhe o coração, como pode estar nele o amor de Deus? Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com obras e na verdade» (1 Jo 3, 17-18).
No entanto, a partilha não se limita aos bens materiais, mas é sobretudo a partilha das alegrias e dores mútuas, que fazem parte de cada vida humana. São Paulo aconselhava os cristãos de Roma a alegrar-se com quantos se alegram; e a chorar com os que choram (cf. Rm 12, 15). O Papa Francisco, por sua vez, declarou que uma dor partilhada é dividida e uma alegria partilhada é duplicada (cf. Encontro com os alunos de Scholas occurrentes , 11 de maio de 2018).
Da empatia nasce a partilha das atitudes e dos sentimentos dos nossos parentes, amigos e vizinhos, inclusive dos que pertencem a outras religiões, por ocasião de eventos importantes, alegres e tristes da sua vida: as suas alegrias e dores tornam-se nossas.
Entre as alegrias partilhadas há o nascimento de uma criança, a cura de uma doença, o sucesso nos estudos, no trabalho ou nos negócios, voltar são e salvo de uma viagem e certamente outras circunstâncias. Há também uma alegria especial para os fiéis: a celebração das grandes festas religiosas. Quando visitamos os nossos amigos e vizinhos de outras religiões ou quando os felicitamos em tais ocasiões, partilhamos a sua alegria na celebração da sua festa sem fazer nossa a dimensão religiosa da ocasião comemorada.
Entre as dores partilhadas, em primeiro lugar a morte de um ente querido, a doença de um membro da família, a perda de um emprego, o fracasso de um projeto ou de uma empresa, uma crise na família, que às vezes provoca a sua divisão. É óbvio que precisamos mais da proximidade e solidariedade dos nossos amigos em tempos de crise e dor do que em tempos de alegria e paz.
Caros irmãos e irmãs muçulmanos, a nossa esperança é que continuemos a partilhar as alegrias e as dores dos nossos vizinhos e amigos, porque o amor de Deus abraça cada pessoa e todo o universo.
Como sinal da nossa humanidade comum e da fraternidade que dela deriva, desejamos-vos um Ramadão pacífico e fecundo, bem como uma alegre celebração de ’Id al-Fitr.
Vaticano, 18 de fevereiro de 2022
Miguel Ángel Cardeal Ayuso Guixot, MCCJ
Presidente
Mons. Indunil Kodithuwakku Janakaratne Kankanamalage
Segretário
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