NA FESTA LITÚRGICA DOS SANTOS PAIS DE NOSSA SENHORA Paróquia de Santa Ana no Vaticano
Esta Celebração Eucarística oferece-nos a ocasião para experimentar a bem-aventurança daqueles que ouvem a Palavra de Deus; que entram numa relação viva com o seu desígnio de salvação, através da comunhão com o Corpo, o Sangue e a Alma de Cristo, nosso Salvador. "Quanto a vós, ditosos os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem. Em verdade vos digo: muitos profetas e justos desejaram ver o que estais vendo, e não viram, e ouvir o que estais ouvindo, e não ouviram!" (Mt 13, 16-17). Jesus faz com que os seus discípulos sintam a grandeza do dom recebido. Ele não lhes fala em parábolas do Reino de Deus. As parábolas velavam uma doutrina que a interpretação de muitos corria o risco de deturpar em sentidos nacionalista e material; a eles, que dóceis e humildes, Jesus comunicava a interpretação exacta das parábolas: a felicidade e a libertação são para todos, acima de tudo para os marginalizados, os oprimidos, os frágeis, as mulheres, os excluídos, os pequeninos, os estrangeiros e os pobres; a origem desta libertação terrena e eterna é Deus, que Ele anuncia como Pai e Filho e Espírito Santo. O Deus trinitário não é um mistério incompreensível, do qual é melhor não falar. O seu mistério é mistério do Amor, em que todos nós somos inseridos. Mas para o compreendermos é necessário que nos tornemos amigos de Jesus como o Santo Padre nos exorta constantemente a fazer seus íntimos, seus discípulos, é preciso que O sigamos na sua missão. O motivo que nos congrega em redor do altar desta igreja paroquial do Vaticano, dedicada a Santa Ana, é a festa patronal. Ana e Joaquim, esposos judeus exemplares, viveram uma época crucial da história da Igreja da salvação, no momento em que estava para ser cumprida a promessa de Deus a Abraão, e a humanidade estava prestes a receber a resposta esperada pelos justos do Antigo Testamento, que aguardavam a consolação de Israel. Ouvimos as palavras do Salmo 131, sobre a fidelidade de Deus à sua promessa: "O Senhor jurou a David: verdade da qual nunca se afastará "o fruto do teu ventre hei-de colocar sobre o teu trono!" [...] Realmente, o Senhor escolheu Sião, desejou-a para sua morada: "Este será para sempre o lugar do meu repouso, aqui habitarei, porque o escolhi"" (vv. 11.13). Sem dúvida, Ana e Joaquim pertenciam ao grupo daqueles judeus piedosos que esperavam a consolação de Israel, e precisamente a eles foi dada uma tarefa especial na história da salvação: foram escolhidos por Deus, para gerar a Imaculada que, por sua vez, é chamada a gerar o Filho de Deus. Conhecemos os nomes dos pais da Bem-Aventurada Virgem através de um texto não canónico, o Protoevangelho de Tiago. Eles são citados na página que precede o anúncio do Anjo a Maria. Esta sua filha não podia deixar de irradiar aquela graça totalmente especial da sua pureza, a plenitude da graça que a preparava para o desígnio da maternidade divina. Podemos imaginar quanto receberam dela estes pais, ao mesmo tempo que cumpriam o seu dever de educadores. O quadro que predomina sobre o altar desta igreja faz-nos intuir algo daquele que pode ter sido o relacionamento entre Santa Ana e Maria, também no que se refere à Palavra de Deus revelada. Mãe e filha estavam unidas não apenas por laços familiares, mas também pela comum expectativa do cumprimento das promessas, pela recitação multiforme dos Salmos e pela evocação de uma vida entregue a Deus. Teremos nós os olhos e os ouvidos abertos para reconhecer um mistério tão excelso? Peçamos a Santa Ana e a São Joaquim não só para ver e ouvir a mensagem de Deus, mas inclusive para participar com amor pelas pessoas com as quais nos encontrarmos, no seu amor, em particular transmitindo luz e esperança a todas as nossas famílias. Confiemos de maneira especial a Santa Ana as mães, sobretudo as que são impedidas na defesa da vida nascente ou que encontram dificuldades para criar e educar os seus filhos. Quando visitou pela primeira vez esta sua Paróquia de Santa Ana (10 de Dezembro de 1978), o Papa João Paulo II falou por assim dizer da casa paterna de Maria, Mãe de Cristo; desta casa em que, circundada pelo amor e pela solicitude dos seus pais, Maria "aprendia" de sua mãe como ser Ela mesma mãe: "Mas quando, como "herdeiros da promessa" (cf. Gl 4, 28.31) divina, nos encontramos no contexto desta maternidade afirmou o Servo de Deus João Paulo II e quando voltamos a sentir a sua santa profundidade e plenitude, então pensamos que foi precisamente Santa Ana a primeira que ensinou Maria, sua filha, a ser mãe". Existe mais um aspecto, que gostaria de ressaltar: Santa Ana e São Joaquim podem ser tomados como modelo também pela sua santidade vivida em idade avançada. Em conformidade com uma antiga tradição, eles já eram idosos quando lhes foi confiada a tarefa de dar ao mundo, conservar e educar a Santa Mãe de Deus. Na Sagrada Escritura, a velhice é circundada de veneração (cf. 2 Mac 6, 23). O justo não pede para ser privado da velhice e do seu peso; ao contrário, ele reza assim: "Vós sois a minha esperança, a minha confiança, Senhor, desde a minha juventude... Agora, na velhice e na decrepitude, não me abandoneis, ó Deus, para que eu narre às gerações a força do vosso braço, o vosso poder a todos os que hão-de vir" (Sl 71 [70], 5-18). Com a sua própria presença, a pessoa idosa recorda a todos, e de maneira especial aos jovens, que a vida na terra é uma "curva", com um início e com um fim: para experimentar a sua plenitude, ela exige a referência a valores não efémeros nem superficiais, mas sólidos e profundos. Os idosos que receberam uma educação moral sadia deveriam demonstrar, mediante a sua vida e o próprio comportamento no trabalho, a beleza de uma sólida vida moral. Deveriam manifestar aos jovens a profunda força da fé, que nos foi transmitida pelos nossos mártires, e a beleza da fidelidade às leis divinas da moral conjugal. Há tempos, dirigiu-se-me um grupo de católicos japoneses, desejosos de constituir uma Pia Associação, inspirada em Joaquim e Ana, que reúne casais da chamada "terceira idade", dedicadas precisamente à promoção dos ideais de vida que acabei de expor. Para terminar, desejo propor a todos vós aqui presentes, a oração que eles recitam diariamente: Ó São Joaquim e Santa Ana Acompanhai os idosos Suavizai a passagem Amém. |
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