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HOMILIA DO CARDEAL TARCISIO BERTONE
NA CERIMÓNIA DE BEATIFICAÇÃO
DO SERVO DE DEUS ZEFERINO NAMUNCURÁ

Chimpay (Argentina), 11 de Novembro de 2007

 

"Nesse mesmo instante, estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: "Bendigo-Te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra"" (Lc 10, 21).

Nesta Santa Missa, que tenho a grande alegria de presidir, concelebrando com os meus irmãos no Episcopado e com tantos sacerdotes, acompanhados de numerosos fiéis vindos de diversas regiões desta Nação, dou graças ao Senhor por todos aqueles que aqui estão reunidos, formando uma multidão cheia de alegria, para participar na Beatificação do Servo de Deus Zeferino Namuncurá.

A todos dirijo a minha saudação e a expressão do meu grande afecto com um abraço de paz.
Hoje, também nós juntamente com Jesus e com toda a sua Igreja, exultamos no Espírito Santo e louvamos o Pai, Senhor do céu e da terra, que revelou aos pequeninos, e não aos sábios do mundo, os mistérios da sua vida e do seu amor (cf. Ibid.).

Aos pequeninos, aos pobres, aos sedentos de justiça, aos promotores de paz, aos perseguidos, a quem se esforça todos os dias por vencer o mal com o bem, Deus comunica a sua vida, isto é, a santidade.

O episódio dramático da sarça ardente, absolutamente central na revelação do Antigo Testamento, recorda-nos que existe um abismo, por si intransponível, entre a criatura e o Criador. Mas em Jesus Cristo o Filho de Deus que se fez pequeno e pobre e que se humilhou até à morte de cruz o abismo foi preenchido, e quem crê n'Ele pode haurir da própria vida de Deus.

Hoje celebramos estes prodígios da graça num jovem araucano, Zeferino Namuncurá, filho do Grã-Cacique dos Pampas. O Papa Bento XVI, a quem transmitimos o nosso pensamento reconhecido, quis que este rapaz de 19 anos fosse inscrito no Álbum dos Beatos.

Mas quem é Zeferino, e qual é o "segredo" da sua santidade?

Zeferino bem o sabemos nasceu numa família digna e generosa da forte tribo dos Índios Araucanos, da terra da Patagónia.

Se a santidade pôde florescer nele, é porque achou um terreno fértil nas qualidades humanas próprias da sua terra e da sua estirpe, qualidades que ele assumiu e aperfeiçoou.

Apraz-nos ver no Beato Zeferino toda a história, fequentemente dramática, do seu povo. Ele resume em si os sofrimentos, as ansiedades, as aspirações dos Mapuches, que exactamente durante os anos da sua juventude se encontraram com o Evangelho e se abriram ao dom da fé.

Hoje, louvar o Senhor no Beato Zeferino significa também fazer memória viva e reconhecida das antigas tradições do povo mapuche, altivo e indómito; e ao mesmo tempo redescobrir a fecundidade do Evangelho, que nunca destrói os valores autênticos, dos quais uma cultura é portadora, mas assume-os, purifica-os e aperfeiçoa-os.

A própria vida de Zeferino é como uma "parábola" desta verdade profunda. Zeferino nunca esqueceu que era mapuche: o ideal supremo para ele era ser útil ao seu povo. Mas o encontro com o Evangelho fez crescer numa perspectiva nova a sua aspiração fundamental: alcançou assim o desejo ardente de se tornar salesiano, e sacerdote, "para mostrar" aos seus irmãos mapuches "o caminho do céu".

Escolheu Domenico Savio como modelo de vida. Este aluno predilecto de Dom Bosco foi proclamado santo por PioXII em 1954 e, num certo sentido então foi também canonizada a "receita simples" da santidade, que o "pai e mestre dos jovens" um dia entregou a Domenico. Uma receita que diz mais ou menos assim: "Sê sempre alegre; faz bem os teus deveres de estudo e de piedade; ajuda os teus companheiros".

A alegria, antes de tudo. "Sorria com os olhos", diziam de Zeferino os seus companheiros. Era a alma das recreações, nas quais participava com criatividade e entusiasmo, às vezes até com impetuosidade. Sabia fazer alguns jogos de prestidigitação, que lhe deram o apelido de "mago". Organizava diversas competições e instruía os seus companheiros sobre a melhor maneira de preparar arcos e flechas, para os treinar no tiro ao alvo.

Dom Bosco ainda recomendava a Domenico Savio as tarefas de estudo e de piedade. No colégio salesiano de Villa Sora, em Frascati, Zeferino embora tivesse um pouco de dificuldade com a língua italiana chegou a ser em poucos meses o segundo da classe. Na caderneta escolar sobressaía o óptimo êxito em latim: era um requisito importante para se tornar sacerdote.

A piedade de Zeferino era a mesma dos ambientes salesianos, radicada robustamente nos Sacramentos, e em particular na Eucaristia, considerada "a coluna" do sistema preventivo. Por isso Zeferino desempenhava de bom grado o encargo de sacristão. Durante os meses da sua estadia em Turim, detinha-se por horas no Santuário de Maria Auxiliadora, em diálogo íntimo com Jesus.
Enfim, Dom Bosco aconselhava que Domenico ajudasse os seus companheiros.

A propósito disso, é impressionante o testemunho de um salesiano, Dom Brio. Três dias antes que Zeferino morresse, Dom Iorio fora visitá-lo no hospital Fatebenefratelli da Ilha Tiberina, em Roma. Ouviu do nosso Beato, já em fim de vida, o seguinte: "Padre, eu daqui a pouco vou embora, mas confio-lhe este pobre rapaz que tem o leito ao lado do meu. Venha visitá-lo com frequência... Sofre muito! De noite, quase não dorme, tosse demais...". E dizia isso, quando ele próprio estava numa situação muito pior e não conseguia dormir de modo algum.

Quem entra na Basílica Vaticana pode ver no alto, no último nicho à direita da nave central, uma grande imagem de São João Bosco, que indica o altar e o túmulo de São Pedro. Ao seu lado estão dois jovens, um com traços europeus e outro com os típicos traços somáticos do povo sul-americano. A referência aos dois jovens santos é evidente: Domenico Savio e Zeferino Namuncurá. É a única representação de jovens presente na Basílica Vaticana. Assim, permanece fixado no mármore, no coração da cristianidade, o exemplo da santidade juvenil, e permanece fixada também a perene validade das intuições pedagógicas de Dom Bosco: num século e meio, na Patagónia, como na Itália e noutras partes do mundo, o sistema preventivo amadureceu frutos quase inesperados, formou heróis e santos.

Beato Zeferino, agora dirigimo-nos à tua intercessão poderosa: apoia o nosso caminho, a fim de que também nós possamos proceder na estrada da santidade, fiéis aos ensinamentos de Dom Bosco.

Tu alcançaste os cimos da perfeição evangélica cumprindo bem os deveres de todos os dias. Dessa maneira, recordas-nos que a santidade não é algo excepcional, reservado a poucos eleitos: a santidade é a vocação comum de todos os baptizados, e é a meta empenhativa da vida cristã quotidiana.

Faz-nos compreender que, no final de tudo, só uma coisa importa: ser santos, como Ele, o Senhor, é santo.

Beato Zeferino, guia-nos com o teu olhar sorridente. Mostra-nos o caminho do Céu! Acompanha-nos todos juntos ao encontro com o teu Amigo Jesus. Amém!

 

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