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VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE
AO PAQUISTÃO, FILIPINAS, GUAM, JAPÃO E ALASKA
(16 DE FEVEREIRO - 27 DE FEVEREIRO DE 1981)

SANTA MISSA PARA AS VOCAÇÕES

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

Agaña (Guam), 23 de Fevereiro de 1981

 

Queridos irmãos e irmãs

1. "Um só é o mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo Homem, que Se deu em resgate por todos..." (1 Tim 2, 5-6). Nestas palavras da segunda leitura, é expresso clara e vigorosamente o motivo desta nossa reunião. Deus, nosso amado Pai, demonstrou o seu abundante amor por nós, seus filhos, permitindo que o seu próprio Filho fosse o nosso resgate, determinando-o como único mediador da nova e eterna aliança. Sentado à direita do Pai, Cristo exerce uma missão de salvação universal missão que se estende a toda a humanidade,

2. Assim, foi confiada à Igreja, como Corpo de Cristo, a missão de proclamar o Evangelho que tem dimensões universais. Porque na misteriosa providência de Deus, ela foi chamada a participar no trabalho de salvação de modo que o desejo do Salvador de "que todos os homens se salvem" (1 Tim 2, 4), possa ser realizado em todo o mundo.

Por vezes este trabalho parece ser opressivo, mas assim a Igreja compreende que a palavra colocada nos seus lábios é a chave para a compreensão do significado da nossa existência terrena. E portanto uma alegria incomparável enche os corações do clero, dos religiosos e dos leigos quando se ouve o mandato do Divino Mestre outra vez no nosso tempo: "Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda a criatura" (Mc 16, 15).

Sim, sob a orientação do Espírito Santo, sempre presente para consolar e inspirar, a Igreja proclama, antes de tudo à comunidade cristã e depois a toda a humanidade, a maravilhosa notícia de que Jesus é a nossa Paz, Jesus é a nossa Esperança, Jesus é o Caminho para a vida eterna.

3. A evangelização é a essência da actividade da Igreja no mundo. Nisto consiste a sua vocação, aqui tem início o seu trabalho, aqui está o seu grande desafio. O meu predecessor Paulo VI explicava este ponto de modo muito eloquente na sua Exortação Apostólica sobre a Evangelização: "A Igreja fica no mundo, quando o Senhor da glória volta para o Pai. Ela fica aí como um sinal, a um tempo opaco e luminoso, de uma nova presença de Jesus, sacramento da sua partida e da sua permanência. Ela prolonga-o e continua-a. Ora, é exactamente toda a sua missão e a sua condição de evangelizadora, antes de mais nada, que ela é chamada a continuar" (Evangelii Nuntiandi, 15).

4. A Igreja transmite ao mundo uma fé viva visto que, quando anuncia, ensina ou baptiza, Cristo se torna presente naquele acontecimento. Por conseguinte, o Evangelho que deve ser anunciado é sempre novo, tocando cada geração sucessiva com vigor e vitalidade e convidando cada pessoa a uma relação profundamente pessoal com Cristo. E esta qualidade dinâmica do Evangelho nunca tem fim, porque o crente é chamado a uma contínua conversão do espírito e do coração de modo a conformar-se mais fielmente ao espírito e ao coração de Cristo. Ao mesmo tempo, que tremendo privilégio é conferido àqueles que são chamados a serem arautos do Evangelho! Que extraordinária satisfação se descobre no comunicar Cristo aos outros!

5. Já falei, à minha chegada a Guam, da divida de gratidão para com aqueles que, com espírito evangelizador, se dedicaram com abnegação a comunicar a fé de Cristo. O vigoroso testemunho de um missionário, Padre Luís Diogo San Vitores, por exemplo, continua a inspirar-nos hoje. E quão maravilhosa foi a resposta daqueles que escutaram a palavra de Deus através da pregação do missionário! Com a celebração da primeira Missa aqui em 1521, as sementes da fé começaram a lançar raízes nos corações do povo Chamorro. Em 1668, o seu apreço pelo Evangelho foi manifestado pelo generoso dom do Chefe Quipuha que ofereceu a terra sobre a qual foi construída a primeira Catedral. E aquela mesma Catedral tornou-se o símbolo da dedicada perseverança da fé do povo, visto que foi necessário reconstruir a Igreja várias vezes, sendo por última nesta nossa época. Sim, a história da fé em Guam possui um notável primado no fiel testemunho dos homens e das mulheres que viveram o Evangelho em palavras e em factos durante mais de três séculos, até esta mesma assembleia litúrgica.

6. Mas não devemos contentar-nos com exaltar uma herança gloriosa do passado sem dirigir a nossa atenção para as exigências do momento presente. O nosso Credo não pode nunca ser considerado como propriedade preciosa só para ser admirada e depois guardada por segurança. Pelo contrário, devemos exprimir o nosso Amém naquilo que julgamos, pondo em prática a nossa fé na vida de todos os dias.

Por conseguinte, não devemos limitar as nossas considerações sobre a evangelização à simples difusão da fé nas várias áreas geográficas do mundo ou entre as diversas culturas. Devemos também atender a que o trabalho de evangelização atinja todos os aspectos da vida humana, modificando "os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que os apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação" (Evangelii Nuntiandi, 19).

A este respeito desejo salientar o papel essencial que a família desempenha no trabalho da evangelização. A família, como nos ensinou o Concílio Vaticano II, é uma "íntima comunidade de vida e de amor" (Gaudium et Spes, 48). Os cônjuges, ao modelar o seu amor conjugal segundo o exemplo de Cristo, cultivam no lar os valores cristãos de ternura, compaixão, paciência e compreensão; estes, por sua vez, dão origem a um estilo de vida que, de per si, comunica a mensagem do Evangelho. Estes valores são depois infundidos e fomentados nos filhos que nascem deste amor conjugal. Assim, a família torna-se a primeira escola de vida cristã, onde se alimenta o amor a Cristo, à sua Igreja e ao seu apelo à santidade.

Ao mesmo tempo, é na família que tem lugar o crescimento necessário das vocações para o sacerdócio e para a vida religiosa. Os pais deveriam estar atentos aos primeiros sinais destas vocações e rezar para que, com a graça de Deus, os seus filhos ou filhas perseverem neste chamamento. Que bênção maior poderia ter uma família do que ver os seus esforços de viver o Evangelho coroados de êxito, com o chamamento de um dos próprios filhos para um serviço de pregação e de ensino da Boa Nova, durante toda a sua vida!

7. Sobre todos os baptizados, pois, "a glória do Senhor levanta-se" (Is 60, 1), estimulando todos os crentes a participarem desta luz em toda a parte e em todos os tempos. Esta luz do Evangelho não se pode apagar, ainda que as trevas cubram realmente os valores e as prioridades do mundo. Mas, mediante a perseverança e a oração, os crentes recebem a graça de reflectir a verdade que é Cristo, de modo que "a sua glória iluminará" (Is 60, 2). Então, sejamos constantes na fé, conformando-nos segundo o exemplo daqueles eminentes evangelizadores que nos precederam. Não nos deixemos nunca desencorajar nem desesperar, porque Cristo está connosco para confirmar e revigorar todos os nossos esforços em defesa do Evangelho.

8. Aqui, nesta Eucaristia, celebramos a realidade profunda da universalidade da Igreja. Dando o seu Corpo e o seu Sangue para participarmos deles, Jesus predispõe-nos ao mesmo tempo a abrirmo-nos e a acolhermos todos os homens e mulheres como irmãos e irmãs. A nossa comunhão em Cristo, leva-nos pois a compartilhar com cada pessoa o maravilhoso mistério da vida de Cristo que nos foi dada. Ao recebermos o Pão da Vida, assumimos o desejo de Cristo de que "todos os homens se salvem' (1 Tim 2, 4).

Visto que uma vez mais nos aproximamos daquele santíssimo momento no qual o pão e o vinho se transformam no Corpo e no Sangue do nosso Salvador, renovemos o nosso propósito de levar a presença da sua palavra para as nossas casas e comunidades, para os nossos escritórios e lugares de trabalho, para onde quer que formos e em tudo o que fizermos. E, penetrados pelo calor do amor eucarístico de Cristo, procuremos modos mais eficazes para proclamar a mensagem daquele amor a todas as pessoas que encontrarmos.

Meus irmãos e minhas irmãs, deixai que a luz do Evangelho de Cristo resplandeça através das vossas palavras e acções. Elevai os vossos olhos para Jesus, chamando constantemente a atenção do mundo para ele. Alegrai-vos sempre com a certeza de que Jesus está com a sua Igreja; de que a sua oração será plenamente satisfeita; e de que ele faz novas todas as coisas. E portanto, com "corações palpitantes e dilatados" (cf. Is 60, 5), cantemos o nosso louvor ao Pai pelo amor que derramou sobre nós em Jesus Cristo seu Filho, "que se deu em resgate por todos" (1 Tim 2, 6). Amém.

 



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