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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II
 A ANGOLA E SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

(4 - 10 DE JUNHO DE 1992)

DISCURSO DO SANTO PADRE
 AOS SACERDOTES, RELIGIOSOS, RELIGIOSAS,
 CATEQUISTAS E REPRESENTANTES ECUMÉNICOS
  NA CATEDRAL DE SÃO TOMÉ

Sábado, 6 de Junho de 1992

Vinde, subamos à Casa do Deus de Jacob! Ele nos ensinará os Seus caminhos, e nós andaremos pelas Sua veredas” (Cfr. Is 2, 3).

Caríssimos sacerdotes,
Irmãos e Irmãs religiosas
Queridos leigos, servidores do Evangelho

1. Há cerca de 400 anos que esta Casa do Senhor serve de cenáculo, onde, sob a valiosa intercessão de Nossa Senhora das Graças, se congrega, num só e mesmo Espírito, esta porção do Povo de Deus que, em São Tomé e Príncipe, peregrina pelas veredas do Evangelho. Sinto-me feliz pela visita à igreja-mãe desta diocese, precisamente na Vigília da Solenidade do Pentecostes: o grande afecto que em Cristo sinto por todos vós trouxe-me até aqui para vos confirmar no vosso compromisso eclesial, vivido em estreita união com o vosso bispo, o nosso estimado Irmão Dom Abílio Ribas.

Ao ver-vos, vêm-me ao pensamento as palavras de Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” ( Jo 14, 6). Ele pronunciou-as, a primeira vez, como resposta a São Tomé, que perguntara: “Senhor, como podemos saber o caminho?”. Também este povo sente necessidade de melhor conhecer o caminho da Vida. Vós, missionários vindos de fora ou cristãos filhos desta terra, conheceis Jesus Cristo, e aceitastes iluminar o caminho deste povo. Em nome da Igreja, vos digo o meu “Bem hajam!”.

2. O Evangelho está implantado na vida desta jovem Nação, como bem o pude constatar na maravilhosa Eucaristia desta manhã. Mas há necessidade de uma reevangelização da vida familiar e social, da cultura santomense.

Já não se trata propriamente de proclamar o Evangelho àqueles que nunca o ouviram; hoje e aqui, a questão que se vos depara é dirigir-se àqueles que o escutaram, mas já não respondem: penso naqueles que são baptizados, mas não permitem que a fé modele a sua vida pessoal nem se comprometem activamente com a Igreja.

3. No livro do profeta Isaías, lemos um convite que, nesta circunstância, me apraz dirigir a todo o povo santomense: “Vinde, subamos à Casa do Deus de Jacob! Ele nos ensinará os Seus caminhos, e nós andaremos pelas Sua veredas” (Is 2, 3). O profeta antevia o tempo em que a gente, tomada pelo desejo de encontrar Deus, animar-se-ia a procurá-l’O conjuntamente: “subamos à Casa de Deus”! Ora a Igreja, a família de Deus, é o cumprimento dessa profecia. Domingo a domingo, os irmãos juntam-se para subir à Casa do Senhor: acorrem para compreender a verdade divina e procurar a face do Deus vivo. Isso ajuda-nos a sair de nós próprios, a vencer o nosso egoísmo: e a experiência mostra que o homem não pode ser ele mesmo, enquanto não se superar a si próprio até se abrir e conhecer Deus.

Uma das tentações peculiares do nosso tempo é a de o homem se tornar tão seguro e auto-suficiente que a sua mente e o coração não se abrem à palavra de Deus. Esta é “viva, eficaz e mais penetrante que uma espada de dois gumes” ( Hb 4, 12), mas é necessário abrir-se livremente a ela para ter a vida. A “porta estreita” e o “caminho apertado” do Evangelho são de facto o caminho “que conduz à vida” (Cfr. Mt 7, 14); a “estrada larga” do egoísmo, do hedonismo, do erotismo acaba por levar à desumanização, sem satisfazer a profunda inquietação do homem. É que distanciar-se de Deus é uma fuga para a escuridão e para a morte; mas, os caminhos da Casa de Deus são os caminhos que levam à vida.  (Cfr. Rm 8, 11)

4. Todavia, na perspectiva cristã, há ainda mais. Jesus Cristo é aquele que nos revelou uma nova vida: a vida do Espírito. Segundo as palavras do Concílio Vaticano II Jesus Cristo “não nos deu simplesmente o exemplo para seguirmos os seus passos, mas rasgou um caminho novo; se o seguirmos, a vida e a morte tornam-se santas e adquirem um significado” (Gaudium et Spes, 22). Jesus Cristo oferece continuamente a verdadeira vida ao homem: a cada indivíduo, a cada família, e a toda a humanidade.

Estas ilhas –  tão abençoadas e no entanto tão necessitadas – e este povo de São Tomé e Príncipe tem sede da vida. Ele tem sede da verdadeira vida. Dizei-lhe que aceitar Cristo e viver o seu Evangelho significa escolher a vida. Unido a tantos filhos e filhas de Deus que, em São Tomé e Príncipe, vivem generosamente a sua fé, o Papa quer dizer a todos quantos se sentem distantes da comunidade cristã: a Igreja precisa de vós! Voltai para casa! A comunidade de fé em que renascestes, e até certo ponto crescestes, pede-vos que ocupeis o vosso lugar no meio do Povo de Deus, um lugar que só vós podeis ocupar.

5. Queridos sacerdotes, Irmãos e Irmãs religiosas, catequistas e demais agentes da pastoral: estai certos de que o meu afecto e a minha solicitude pastoral vos acompanham. De todo o coração vos abençoo: a vós e a quantos vos foram confiados pelo Senhor! Quando voltardes para as vossas comunidades, paróquias, instituições, ou famílias, levai a todos o abraço fraterno e a bênção do Papa, e transmiti-lhes a minha solidariedade e a imensa esperança que nos une, pois celebramos diariamente a mesma Eucaristia e testemunhamos, por todo o lado, a mesma fé.

Vele sobre todos vós e os vossos, a Virgem Nossa Senhora. No Seu coração de Mãe, foram recolhidas e nele floresceram as esperanças de vida para toda a humanidade, a Ela confiada do alto da Cruz, na pessoa do discípulo amado.

6. Mãe da divina Graça, confio-vos a Igreja em São Tomé e Príncipe, e peço-vos que lhe alcanceis aquela confiança, doação e santa alegria, que inundou o vosso coração quando o Espírito Santo foi enviado sobre vós, tanto nos primórdios da Encarnação como nos da Igreja.

Confirmai no coração de todos os cristãos a fidelidade às palavras e promessas de Deus, para que se tornem, à vossa semelhança, testemunhas ardorosas de Cristo, a Esperança e Luz dos povos, no caminho desta Nação e de toda a humanidade!

No meio dos sofrimentos e das provações da vida, possam estes vossos filhos e filhas encontrar a plenitude da alegria na vitória do vosso Filho ressuscitado, certos de que ela perdura em cada um dos crentes, graças ao dom do Espírito.

Ajudai-os a viver no Espírito Santo a plena alegria do vosso Coração Imaculado! Amém!



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