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SYNODUS EPISCOPORUM

XIII ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS

RELATÓRIO ANTE DISCEPTATIONEM
PRONUNCIADO PELO CARDEAL DONALD WILLIAM WUERL
POR OCASIÃO DA PRIMEIRA CONGREGAÇÃO GERAL
(*)

Segunda-feira, 8 de Outubro de 2012

 

É para mim uma grande honra servir de relator-geral neste Sínodo e estou grato ao nosso Santo Padre por este privilégio. Estamos para começar os nossos trabalhos sobre a nova evangelização para a transmissão da fé cristã e desejo abordar alguns pontos que espero contribuam para focalizar o nosso debate e fornecer alguns temas de reflexão.

Nenhum de nós chegou a este Sínodo sem uma preparação precedente recolhida no nosso ministério pastoral e por sua vez alimentada também pelo trabalho da secretaria geral do Sínodo dos bispos que produziu primeiro os Lineamenta com as sugestões e as propostas das conferências episcopais, dos Sínodos das igrejas católicas sui iuris, dos dicastérios da Cúria Romana, dos bispos sem Conferência Episcopal e da União dos superiores-gerais. Chegaram também observações de bispos individualmente, de mulheres e homens de vida consagrada e leigos, sem esquecer os movimentos eclesiais e as associações. Mais de recente beneficiamos do Instrumentum laboris, que fornece uma reflexão desenvolvida com atenção à nova evangelização. O Instrumentum já apresenta um quadro de referência para grande parte do debate do Sínodo e tenho a intenção de evidenciar algumas partes que podem ser desenvolvidas mais profundamente. Durante esta apresentação farei referência ao Instrumentum laboris.

Nas minhas observações, pretendo considerar os seguintes pontos:

1) o quê e quem proclamamos — a Palavra de Deus;
2) os recentes recursos para nos ajudar na nossa tarefa;
3) circunstâncias particulares do nosso tempo que tornam necessário este Sínodo;
4) elementos da nova evangelização;
5) alguns princípios teológicos para a nova evangelização;
6) qualidade dos novos evangelizadores;
7) carismas da Igreja de hoje que assistem na tarefa da nova evangelização.

1) O que /quem proclamamos

A nossa proclamação está centrada em Jesus, no seu Evangelho e no seu caminho. O caminho cristão é definido pelo encontro com Jesus. Quando Jesus veio entre nós, ofereceu-nos um estilo de vida totalmente novo. O entusiasmo difundiu-se à medida que o Filho de Deus, que se tornou um de nós, anunciava a vinda do reino. Hoje ele continua a oferecer o convite a ser discípulos e um lugar no reino, assim como o oferecia àqueles que o ouviam. E isto foi assim durante vinte séculos. À medida que a sua mensagem era melhor compreendida, tornava-se cada vez mais claro que Jesus nos oferece não só um novo modo de viver, mas também um novo modo de ser. São Pedro escreve: «Seja bendito Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo; na sua grande misericórdia ele regenerou-nos dos mortos, mediante a ressurreição de Jesus Cristo, para uma esperança viva...» (1 Pd 1, 3). Esta nova vida de filho de Deus através do baptismo foi-nos revelada por Jesus: «Na verdade vos digo, se alguém não nascer da água e do espírito, não pode entrar no reino de Deus» (Jo 3, 5) (cf. Instrumentum laboris, nn. 18-19, n. 31).

Alegramo-nos porque nos tornámos filhos adoptivos e são João garante-nos que esta adopção não é uma ficção jurídica: «Vede que grande amor nos deu o Pai por sermos chamados filhos de Deus, e realmente o somos» (1 Jo 3, 1).

O Evangelho que Jesus Cristo veio revelar não é uma informação acerca de Deus, mas antes o próprio Deus no meio de nós. Deus fez-se visível, audível, tangível. Em troca, pede o nosso amor, como o nosso Santo Padre ensinou no seu discurso à Cúria Romana em Dezembro de 2011: «A adoração é a primeira e constante resposta de amor. A nossa resposta a Deus que consiste em escuta, contemplação e adoração, está no centro de toda a evangelização» (cf. Instrumentum laboris, 26).

No sermão da montanha presente no Evangelho de Mateus, fala-se de um novo estilo de vida e de como envolve os misericordiosos, aqueles que têm fome e sede de justiça, aqueles que choram, os pacificadores, os pobres em espírito. Nisto conhecemos a chamada a ser sal da terra e luz no candeeiro. Mais tarde, no mesmo Evangelho, encontramos a extraordinária afirmação que deveríamos ver a própria presença de Cristo uns nos outros. Os discípulos de Jesus estão chamados a imaginar um mundo no qual não só os famintos têm de comer, os sedentos de beber, o estrangeiro é acolhido e o nu vestido, mas também, e mais surpreendente ainda, que os pecados são perdoados e se recebe o penhor da vida eterna (cf. Instrumentum laboris, 23, nn. 28-29).

Jesus atrai-nos para si. A alegria que experimentamos estimula-nos a partilhá-la com os outros. Nós não somos só discípulos, somos evangelizadores. Como aqueles primeiros discípulos, somos chamados a imaginar-nos a caminho ao lado de Jesus como semeador de sementes de um novo estilo de vida, de acções de um reino que durará eternamente (cf. Mt 13, 1-9, 18-23; Mc 4, 3; Lc 8, 5) (cf. Instrumentum laboris 25 e 34).

Hoje devemos ter viva aquela mesma visão, quando convidamos os outros a abrir as páginas do Evangelho e a ler o convite a ser ramos enxertados na videira do Senhor, a comer o pão de vida eterna e a ouvir as palavras de verdade, palavras para a eternidade.

Devemos ser capazes de renovar o nosso anúncio, com fé viva, firme convicção e testemunho jubiloso, com a certeza de que assim como Deus nos falou no passado, também continua hoje a falar connosco. Como o nosso Santo Padre indica com clareza na exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini, «A relação entre Cristo, Palavra do Pai, e a Igreja não pode ser entendida nos termos de um acontecimento simplesmente passado, mas trata-se de uma relação vital na qual cada fiel está chamado a entrar pessoalmente. Falamos de facto da presença da Palavra de Deus a nós hoje: “E Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo” (Mt 28, 20)» (vd, 51).

Aquilo que hoje distingue a nossa fé católica é precisamente a compreensão de que a Igreja é a presença permanente de Cristo, a mediadora da acção salvífica de Deus no nosso mundo, e o sacramento dos actos salvíficos de Deus. O Concílio Vaticano II na constituição dogmática sobre a Igreja, Lumen gentium, começa recordando-nos que «a Igreja é, em Cristo, o sacramento, ou seja, o sinal e o instrumento da união íntima com Deus e da unidade de todo o género humano...» (lg, 1) (cf. Instrumentum laboris, 27).

A separação intelectual e ideológica de Cristo da sua Igreja é uma das primeiras realidades que devemos enfrentar ao propor uma nova evangelização da cultura e da sociedade moderna. Já na sua encíclica Deus é amor (Deus caritas est), o nosso Santo Padre nos recorda que «a Igreja é a família de Deus no mundo» e que «a natureza íntima da Igreja se expressa numa tríplice tarefa: anúncio da Palavra de Deus, celebração dos Sacramentos e serviço da caridade». Além disso, ele ressalta que «são tarefas que se pressupõem reciprocamente e não podem ser separadas umas das outras» (Dce, 25).

Tudo isto que a Igreja é, recebeu-o de Cristo. O primeiro e mais precioso dos seus dons é a graça concedida através do mistério pascal: a sua paixão, morte e ressurreição gloriosa. Jesus libertou-nos do poder do pecado e salvou-nos da morte. A Igreja recebe do seu Senhor, não só a extraordinária graça que ele nos venceu, mas também o compromisso de partilhar e fazer conhecer a sua vitória. Somos chamados a transmitir fielmente ao mundo o Evangelho de Jesus Cristo. A missão primária da Igreja é a evangelização (cf. Instrumentum laboris, 23-26).

Um dos desafios que hoje abalam a nova evangelização e ao mesmo tempo cria uma barreira é o individualismo. A nossa cultura e a ênfase em grande parte da sociedade moderna exaltam o indivíduo e minimizam a relação necessária de cada um com o outro. Na nossa sociedade, que exalta a liberdade individual e a autonomia, a realização e a supremacia da pessoa, é fácil perder de vista a nossa dependência dos outros, juntamente com as responsabilidades que temos em relação a eles. O nosso Santo Padre, durante a sua visita a Washington em 2008, no seu discurso aos bispos dos Estados Unidos da América ensinou-nos que a ênfase sobre a nossa relação pessoal com Deus em desvantagem da chamada a ser um membro de uma comunidade remida «é simplesmente mais uma prova da necessidade urgente de uma reevangelização da cultura» (cf. Instrumentum laboris, 7, 35, 43-44, 48).

A Igreja nunca se cansa de anunciar o dom que recebeu do Senhor. O Concílio Vaticano II recordou-nos que a evangelização está precisamente no coração da Igreja. Na Lumen gentium, texto e núcleo fundamental da mensagem do Concílio sobre a vida da Igreja, os Padres do Concílio ressaltaram: «A Igreja recebeu dos Apóstolos o solene mandamento de Cristo de anunciar a verdade salvífica e deve prosseguir o seu cumprimento até aos extremos confins da terra». O Concílio falou com eloquência da verdade que a missão divina, que Jesus confiou à Igreja, continue através dos Apóstolos e dos seus sucessores até ao fim do mundo (cf. Instrumentum laboris, 27 e 92).

2) Recursos recentes

Não enfrentamos a tarefa da nova evangelização partindo do nada. Por decénios o Magistério dos Papas guiou a Igreja com uma profunda consciência tanto do problema como do modo como enfrentá-lo. O Papa Paulo VI deu início à sua focalização, o beato João Paulo II estimulou uma consciência mais profunda da sua necessidade e o nosso Santo Padre, Papa Bento XVI, fez desta tarefa da Igreja um tema constante do seu ensinamento e da sua pregação.

Na sua exortação apostólica Evangelii nuntiandi, o Papa Paulo VI retoma o ensinamento do Concílio quando afirma que a Igreja é «uma comunidade que por sua vez é evangelizadora. O mandamento aos Doze de ir anunciar a Boa Nova é válido também para todos os Cristãos, mesmo se de modo diferente... a Boa Nova do reino que vem e que já começou, é para todos os homens de todos os tempos. Quantos receberam a Boa Nova e que foram recolhidos por ela na comunidade da salvação, podem e devem comunicá-la e difundi-la». E neste documento histórico, promulgado exactamente dez anos depois do encerramento do concílio Vaticano II, o Papa intuiu a necessidade de «uma nova fase de evangelização» (cf. Instrumentum laboris, 3 e 27).

O pontificado do beato João Paulo II forneceu-nos contínuas referências aos elementos da nova evangelização com o ensinamento encorajador da exortação apostólica pós-sinodal Catechesi tradendae, da exortação Christifideles laici depois do Sínodo sobre os leigos, juntamente com a encíclica Redemptoris missio. O beato João Paulo II recordou-nos que a evangelização é «o primeiro serviço que a Igreja pode oferecer a cada homem e a toda a humanidade» e assumiu o compromisso de uma evangelização «nova no fervor, nos métodos e na sua expressão» (cf. Instrumentum laboris, 3 e 45).

O Papa Bento XVI afirmou que o discernimento das «novas exigências de evangelização» é uma «tarefa profética do Sumo Pontífice». Ressaltou que «toda a actividade da Igreja é uma expressão de amor» que procura evangelizar o mundo. Com o anúncio da formação de um novo dicastério Vaticano para a nova evangelização, feito durante a sua homilia na solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo na Basílica de São Paulo Extramuros, o nosso Santo Padre deu uma estrutura formal a este esforço e ressaltou a urgência e o compromisso em todos os âmbitos desta missão da Igreja (cf. Instrumentum laboris, 130 e 149).

Outro recurso disponível para a Igreja universal neste esforço de repropor mais uma vez o Evangelho é o Catecismo da Igreja católica (CIC). Este compêndio da fé nas suas múltiplas manifestações e aplicações fornece um farol de luz naquela que, em demasiados casos, se tornou a escuridão da ignorância religiosa (cf. Instrumentum laboris, 100-101).

3) Circunstâncias do nosso tempo

O contexto do Sínodo é o seguinte: uma sociedade que está a mudar de modo dramático e serve de fundo ao acolhimento da fé, fazendo-a sua e transformando-a em vida. A chamada a repropor a fé católica, a repropor a mensagem evangélica, a repropor o ensinamento de Cristo, é necessária precisamente porque nos deparamos com muitos que inicialmente ouviram este anúncio salvífico, mas depois esta mensagem perdeu todo o seu vigor. A visão foi esvaecendo. As promessas tornaram-se vazias ou sem vínculo algum com a vida real (cf. Instrumentum laboris, 41-44).

Deparamo-nos na Igreja em muitos casos, e de modo particular na maior parte dos chamados países do primeiro mundo, com uma drástica redução da prática da fé entre aqueles que já são baptizados. O nosso Santo Padre esclareceu ainda que a obra da nova evangelização é repropor Jesus Cristo e o seu Evangelho «aos países nos quais o primeiro anúncio da fé já foi feito e onde existem igrejas de antiga fundação, mas que estão a viver a progressiva secularização da sociedade numa espécie de “eclipse do sentido de Deus”...» (28 de Junho de 2010) (cf. Instrumentum laboris, 12, 52-53 e 94).

As respostas recebidas dos bispos dos países do terceiro mundo — sociedades evangelizadas mais recentemente — referem contudo a mesma experiência nas suas igrejas locais (cf. Instrumentum laboris, 87-89).

A situação actual afunda as suas raízes precisamente nas alterações dos anos 70 e 80, decénios nos quais existia uma catequese deveras escassa ou incompleta a tantos níveis de instrução. Tivemos que nos confrontar com a hermenêutica da descontinuidade que penetrou grande parte dos ambientes dos centros de instrução superior e que teve reflexos também em aberrações na prática da liturgia. Gerações inteiras dissociaram-se dos sistemas de apoio que facilitavam a transmissão da fé. Foi como se um furacão de influência secular desenraizasse toda a paisagem cultural, arrastando consigo indicadores sociais como o matrimónio, a família, o conceito de bem comum e a distinção entre bem e mal. Depois, de modo trágico, os pecados de poucos encorajaram uma desconfiança nalgumas das estruturas da Igreja (cf. Instrumentum laboris, 69, 95 e 104).

A secularização modelou duas gerações de católicos que não conhecem as orações fundamentais da Igreja. Muitos não reconhecem o valor da participação na missa, não recebem o sacramento da penitência e muitas vezes perderam o sentido do mistério ou do transcendente como se tivesse um significado real e verificável.

Tudo isto que mencionámos fez com que uma grande parte de fiéis estivesse impreparada para enfrentar uma cultura que, como o nosso Santo Padre ressaltou nas suas visitas pelo mundo, se caracteriza pelo secularismo, materialismo e individualismo.

Mas nem todas as circunstâncias do nosso tempo são negativas. Assim como é possível detectar as causas ou pelo menos as ocasiões para a situação negativa actual, é também possível identificar uma resposta que vemos cada vez mais positiva. Muitas pessoas, sobretudo os jovens, que estiveram afastadas da Igreja, estão a descobrir que o mundo laico não lhes oferece as respostas adequadas às questões perenes e profundas do coração humano (cf. Instrumentum laboris, 63-64; 70-71).

Muitos pastores observaram que a nova evangelização se está a desenvolver contemporaneamente a dois níveis, a introdução à fé das crianças e a instrução dos seus pais. Para muitos professores e para quem já é catequizado, este é um momento especial, porque desta vez, os jovens adultos aproximam-se da fé com maior abertura que vem da necessidade profunda de conhecer mais.

Hoje muitos jovens encontram pontos de contacto nos programas de pastoral universitária nas universidades laicas e institutos, nos programas paroquiais ou diocesanos, onde são focalizadas questões de interesse actual e, para quem tem filhos, também em manifestações organizadas para famílias, onde encontram apoio espiritual e social.

Hoje deve ser feita uma menção especial à própria família como modelo-lugar da nova evangelização e das relativas questões sobre a vida. Enquanto a sociedade contemporânea pretende subestimar e, por vezes, ridicularizar a vida da família tradicional, ela permanece contudo uma realidade natural e o primeiro elemento constitutivo da comunidade. A família representa o contesto natural e normal para a transmissão tanto da fé como dos valores, e é aquela realidade à qual muitas vezes se volta para um apoio durante toda a vida (cf. Instrumentum laboris, 110-113).

Uma característica cada vez mais evidente da nova evangelização é que os nossos esforços para difundir o Evangelho já não nos levam necessariamente a terras estrangeiras e a povos distantes. Aqueles que precisam de ouvir falar de Cristo, mais uma vez, estão ao nosso lado, nos nossos bairros e nas paróquias, mesmo se os seus corações e mentes estão distantes de nós. A imigração e a difundida emigração criaram um novo ambiente para a evangelização que muitas vezes é deveras uma prática de nova evangelização.

Os missionários da primeira evangelização percorreram imensas distâncias geográficas para levar a Boa Nova. Nós, missionários da nova evangelização, devemos superar distâncias ideológicas de igual modo imensas, muitas vezes ainda antes de sair fora do nosso bairro ou da nossa família.

4) Elementos da nova evangelização

A nova evangelização não é um programa. Trata-se de um modo de pensar, ver e agir. É como uma lente através da qual vemos as oportunidades de proclamar de novo o Evangelho. É também um sinal que o Espírito Santo continua a trabalhar activamente na Igreja.

No centro da nova evangelização está a proposta renovada do encontro com o Senhor Ressuscitado, com o seu Evangelho e com a sua Igreja, àqueles que já não consideram atraente a mensagem da Igreja. Penso que existam três fases distintas, mas interligadas: a renovação ou aprofundamento da nossa fé a nível quer intelectual quer afectivo (cf. Instrumentum laboris, 24, 37-40; 118-119, 147-158), uma nova confiança na verdade da nossa fé (cf. Instrumentum laboris, 31, 41, 46, 49, 120) e a vontade de a partilhar com os outros (cf. Instrumentum laboris, 33-34, 81).

A nova evangelização começa onde todos nos comprometemos por renovar mais uma vez a nossa compreensão da fé, fazendo com que ela se torne parte de nós, abraçando profundamente, com disponibilidade e alegria, a mensagem evangélica e pondo-a em prática na vida quotidiana.

Depois do compromisso por renovar o nosso apreço pela fé nasce uma nova confiança na verdade da nossa mensagem. Infelizmente, por demasiado tempo vimos esta confiança corroída pela substituição de um sistema de valores laicos que nos últimos decénios se impôs como um estilo de vida superior e melhor em relação ao proposto por Jesus, pelo seu Evangelho e pela sua Igreja. Na cultura educativa e teológica que reflecte a hermenêutica da descontinuidade, demasiadas vezes a visão do Evangelho foi ofuscada e uma voz segura e confiante cedeu o lugar às desculpas para tudo o que defendemos e cremos.

Lemos no Evangelho que Jesus ensinava com autoridade (Mc 1, 21-22). Ensinou do fundo da sua identidade. Jesus tem autoridade por ser quem é: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida», proclamou (Jo 14, 6). Esta pedagogia divina permanece o modelo para nós, hoje. A verdade — a revelação de quem é Jesus — ele partilha-a connosco através da Igreja. Jesus não nos deixa órfãos. Antes de voltar para o Pai, ele chamou os que tinha escolhido e ungido no Espírito Santo para que continuassem a ensinar tudo quanto lhes tinha dado a conhecer e a anunciá-lo até aos extremos confins da terra.

Muitos dos que hoje procuram algumas garantias para o valor e o sentido da vida são convencidos pela mensagem clara, inequívoca e confiante de Cristo presente na sua Igreja. Para fazer bem isto precisamos de superar a síndrome do embaraço que alguns verificaram na falta de confiança na verdade da fé e na sabedoria do Magistério que caracteriza a nossa época.

O terceiro elemento da nova evangelização deve ser a vontade e o desejo de partilhar a fé. Há muitas pessoas, sobretudo no mundo ocidental, que já ouviram falar de Jesus. O nosso desafio consiste em mover e reacender na sua vida quotidiana e nas situações concretas, uma nova consciência e familiaridade com Jesus. Somos chamados não só a anunciar, mas a melhorar o nosso método a fim de atrair e solicitar uma geração inteira a reencontrar o tesouro simples, genuíno e tangível da amizade com Jesus.

O primeiro momento de qualquer evangelização não nasce de um programa, mas do encontro com uma Pessoa, Jesus Cristo, o Filho de Deus. A Igreja afirma que «é o mesmo Senhor Jesus que, presente na sua Igreja precede a obra dos evangelizadores, a acompanha, a segue e faz de modo que o seu trabalho dê frutos: o que aconteceu nas origens da história cristã, continua ao longo de todo o seu percurso» (Congregação para a Doutrina da Fé, Nota doutrinal sobre alguns aspectos da evangelização, 1).

Confiamo-nos a Jesus do início até ao fim. Só Ele é a pedra angular. Ao aproximarmo-nos de quantos se tornaram frios e distantes na sua fé, o critério é a simplicidade da instrução que toca e fala à profundidade da pessoa. Dirijamo-nos aos nossos irmãos e irmãs que receberam o baptismo, mas que já não participam na vida da Igreja. Ofereçamos-lhes a nossa experiência do amor de Jesus, e não uma tese filosófica sobre o comportamento.

O modo de comunicar deve encontrar acesso aos corações de uma forma que o Espírito Santo possa reconduzir os nossos irmãos e irmãs à amizade com Jesus, o único que é «a chave, o centro e o fim de toda a história humana» (Gaudium et spes, 10).

O testemunho pessoal do seguidor de Jesus é em si uma proclamação da Palavra. A nossa mensagem hoje deve estar portanto radicada no testemunho da vida. São estes os momentos para acolher e não para afastar.

Devemos comunicar a todos a nossa alegria de ser plena e imensamente amados e portanto capazes de amar. A nossa comunicação deve expressar-se com palavras e com a vida, em orações e obras, em acção e em capacidade de sofrer.

5) Fundamentos teológicos para a nova evangelização

Evangelização e nova evangelização além de serem conceitos teológicos são iniciativas pastorais.

O documento Dominus Iesus da Congregação para a Doutrina da Fé apresenta nove carências teológicas/filosóficas prevalecentes hoje no nosso pensamento conceitual que minam os nossos esforços de evangelização. Dez anos antes a Conferência episcopal dos Estados Unidos da América tinha feito uma sonsagem de textos catequéticos e tinha detectado dez carências doutrinais que necessitavam correcção.

Dado que a teologia usa conceitos que estão radicados no Evangelho para transmitir a nossa fé, os próprios princípios da nossa fé estão ameaçados se as pessoas têm dificuldade com a sua estrutura conceitual. O secularismo e o racionalismo criaram uma ideologia que submete a fé à razão. A religião torna-se uma questão pessoal. A doutrina em matéria de fé limita-se a posições idiossincráticas sem possibilidade alguma de reivindicar a verdade universal.

Conceitos como a encarnação, a ressurreição, a redenção, o sacramento e a graça — temas centrais da teologia utilizados para explicar a nossa fé em Jesus Cristo — têm pouco significado para o católico e para quem se afastou do catolicismo numa cultura na qual prevalece o racionalismo (cf. Instrumentum laboris, 20).

O evangelizador, e talvez também os pastores, sente-se tentado a não se confrontar com estes obstáculos conceituais e talvez concentre a sua atenção e energias em prioridades mais sociológicas ou em iniciativas pastorais ou até desenvolva um vocabulário distinto da nossa teologia.

Se é importante que a nova evangelização esteja atenta aos sinais dos tempos e fale com uma voz que o povo de hoje ouça, deve contudo fazê-lo sem se afastar da raiz da tradição vivíssima de fé da Igreja já expressa em conceitos teológicos.

Para iniciar os nossos trabalhos e as reflexões sobre a nova evangelização, gostaria de sugerir um certo número de pontos com fundamento teológico que sobressaíram dos Lineamenta, do Instrumentum laboris, e de grande parte do material fornecido pelas Conferências dos bispos de todo o mundo. Gostaria de me prolongar sobre quatro deles.

a) Fundamento antropológico da evangelização

Se a secularização com as suas tendências ateístas elimina Deus da equação, a compreensão daquilo que significa ser humano está alterada. Assim a nova evangelização deve indicar a própria origem da nossa dignidade humana, o conhecimento de si e a realização de si. O facto de que cada pessoa é criada à imagem e semelhança de Deus constitui a base para a declaração, por exemplo, da universalidade dos direitos humanos. Aqui, mais uma vez, vemos a necessidade de falar com convicção a uma comunidade cheia de dúvidas acerca da verdade e da integridade de realidades como o matrimónio, a família, a ordem moral natural e a distinção entre bem e mal (cf. Instrumentum laboris, 63-64; 151).

A nova evangelização deve basear-se sobre a compreensão teológica que é Cristo que revela o homem a si mesmo, que a verdadeira identidade do homem está em Cristo, o novo Adão. Este aspecto da nova evangelização tem um significado muito prático para o indivíduo. Se é Cristo que nos revela quem é Deus e, por conseguinte, quem somos e como nos relacionamos com Deus, então Deus não está distante ou incrivelmente distante (cf. Instrumentum laboris, 19).

O fundamento da nova evangelização deve ser o desejo natural, que todos sentimos, de comunhão com o transcendente — com Deus. Em cada ser humano há a orientação de base para o transcendente e para a justa ordem da vida radicada na ordem natural criada. O Catecismo da Igreja católica recorda-nos que o Decálogo é em si uma expressão privilegiada da lei natural. A nova evangelização deve basear-se na convicção de que é a fé cristã que nos oferece uma certa compreensão do problema do mal, da realidade do pecado, da queda e da chamada a uma nova vida. O mal e o pecado certamente são obstáculos ao Evangelho, mas é precisamente a mensagem Evangélica que dá sentido à condição humana e à possibilidade de uma vida que supere os limites intrínsecos da fragilidade humana. Em síntese, a nova evangelização deve basear-se no reconhecimento de que é à luz de Jesus Cristo, que nós compreendemos plenamente o que significa ser humanos.

b) Fundamento cristológico da nova evangelização

Como já foi observado, a nova evangelização é a re-introdução e a re-proposta de Cristo. Mas o nosso anúncio de Cristo começa com uma clara explicação teológica de quem é Cristo, da sua relação com o Pai, da sua actividade e humanidade, e da realidade da sua morte e Ressurreição. No centro da nossa fé cristã está Cristo. Mas o Cristo que proclamamos é o Cristo da revelação, o Cristo entendido na sua Igreja, o Cristo da tradição e não uma criação pessoal, sociológica, ou uma aberração teológica. Sozinho, nenhum de nós poderia chegar a conhecer a mente, o coração, o amor e a identidade de Deus. Jesus veio revelar a verdade — sobre Deus e sobre nós mesmos (cf. Instrumentum laboris, 18-21).

c) Fundamento eclesiológico da nova evangelização

A nova evangelização deve fornecer uma clara explicação teológica da necessidade da Igreja para a salvação. Trata-se de um aspecto delicado da nossa pregação que muitas vezes foi descuidado na catequese. Dilaga em grande parte da cultura moderna o sentimento que a salvação se obtém através de uma relação directa com Jesus separado da Igreja. Mas o que deve ser ressaltado e demonstrado é que Cristo encontra o homem, onde quer que se encontre, dentro e através da presença da Igreja (cf. Instrumentum laboris, 35-36).

As escrituras fornecem muitas imagens e parábolas para descrever a Igreja. Uma imagem é a de uma grande família de pessoas unidas em Cristo e entre si através do baptismo. São Paulo fala da Igreja como corpo de Cristo, com nosso Senhor como cabeça e nós como membros. Ao escrever aos fiéis de Corinto diz: «Agora vós sois corpo de Cristo e, cada um segundo a própria parte, seus membros» (1 Cor 12, 27).

A base dos nossos esforços na nova evangelização deve ser o reconhecimento de que no baptismo Cristo deu a cada um de nós os dons do Espírito Santo. É o Espírito, a alma da Igreja, que nos liga numa unidade que supera qualquer tipo de divisão (cf. 1 Cor 12, 13) (cf. Instrumentum laboris, 119).

A nova evangelização deve falar da vontade salvífica universal de Deus e ao mesmo tempo reconhecer que Jesus ofereceu um percurso claro e único para a redenção e a salvação. A Igreja não é um entre os muitos modos para alcançar Deus, considerados todos igualmente válidos. Enquanto Deus quer que sejamos todos salvos, é precisamente pela sua vontade salvífica universal que Deus enviou Cristo para nos fazer filhos adoptivos e levar-nos à eventual glória eterna.

d) Fundamentos soteriológicos da nova evangelização

Intrínseca à compreensão da presença de Deus connosco é a consciência do que entendemos como seu reino. Em todo o Novo Testamento, fala-se do reino. Parece uma preocupação de Jesus. A partir do momento em que ele «começou a pregar», o seu anúncio era que «o reino dos céus está próximo» (Mt 4, 17). Jesus falou dos sujeitos do reino, do seu poder, dos seus confins, da sua duração (cf. Instrumentum laboris, 24).

O coração do Evangelho é o reino. Se quisermos viver uma vida Cristã — se quisermos reivindicar o facto de que somos seguidores de Jesus — é essencial que olhemos para este reino que ele proclamou.

Na terra o reino está misteriosamente escondido e pode ser encontrado em toda a parte, mas só de modo espiritual. O reino de Deus «já existe e cumprir-se-á no fim dos tempos. O reino veio na pessoa de Cristo e cresce misteriosamente no coração de quantos a ele são incorporados» (CIC 865).

Assim chegamos ao conhecimento de que Cristo estabeleceu o seu reino na terra, mesmo se ainda não na plenitude da sua glória. Está aqui, mas ainda em fase de crescimento. «No fim dos tempos, o Reino de Deus alcançará a sua plenitude» (CIC 1060). Entretanto, «Cristo Senhor já reina através da Igreja» (CIC 680).

Estes quatro fundamentos teológicos da nova evangelização esclarecem que tudo o que esperamos realizar neste Sínodo e quaisquer que sejam os objectivos pastorais que decidirmos para repropor Cristo hoje, devemos fazê-lo firmemente radicados na visão bíblica do homem, criado à imagem e semelhança de Deus, e parte de uma criação que reflecte a sabedoria de Deus e apresenta uma ordem moral natural para as actividades do homem. É o pecado que estraga a beleza criada e é o egoísmo que marcou qualquer geração sucessiva. Contudo, Deus enviou o Seu Filho a este mundo para nos oferecer a vida nova. Fundou a Igreja para prosseguir a sua presença viva e salvífica. A nossa salvação está intimamente ligada à nossa participação no grande sacramento que é a Igreja através do qual desejamos manifestar o reino que se actualiza e realizar a nossa participação na glória.

6) As qualidades dos novos evangelizadores

Entre as muitas qualidades identificadas e exigidas aos evangelizadores de hoje, evidenciam-se quatro: o arrojo e a coragem, o vínculo com a Igreja, um sentido de urgência e a alegria (cf. Instrumentum laboris, 46, 49, 168-169).

Nos Actos dos Apóstolos a palavra que descreve os Apóstolos depois da efusão do Espírito Santo no Pentecostes é «coragem». Pedro é representado corajosamente de pé, enquanto prega a Boa Nova da Ressurreição; mais tarde Paulo retoma o tema e, numa corrida frenética pelo mundo então conhecido, anuncia corajosamente a palavra (cf. Instrumentum laboris, 41).

Hoje a nova evangelização deve mostrar uma coragem nascida da confidência em Cristo. Temos tantos exemplos de coragem pacífica: são Maximiliano Kolbe, a beata Teresa de Calcutá, e antes deles o beato Miguel Pro, os recentes mártires da Lituânia, Espanha, México, e o testemunho mais distante dos santos da Coreia, Nigéria e Japão (cf. Instrumentum laboris, 128 e 158).

Quando se fala de coragem, devemos reconhecer também a necessidade do testemunho institucional naquelas igrejas particulares que gozam da presença de expressões institucionais da Igreja, escolas, universidades, hospitais, serviços de assistência no campo da saúde, serviços sociais e outros tipos de ajuda para os pobres; deve haver um reconhecimento de que também estas expressões institucionais da vida da Igreja deveriam dar testemunho da Palavra de Deus.

Os evangelizadores da nova evangelização precisam de estar unidos com a Igreja, com o seu Evangelho e com os seus pastores. A autenticação daquilo que proclamamos e a verificação da verdade da nossa mensagem, que elas são palavras de vida eterna, dependem da nossa comunhão com a Igreja e da nossa solidariedade com os seus pastores (cf. Instrumentum laboris, 77-78).

Outra qualidade da nova evangelização, e por conseguinte de quantos nela estão comprometidos, é o sentido de urgência. Talvez tenhamos necessidade de voltar à narração de Lucas da Visitação de Maria a Isabel, modelo para o nosso sentido de urgência. O Evangelho narra como Maria partiu às pressas para uma longa e difícil viagem de Nazaré a uma aldeia nas colinas da Judeia. Não havia tempo a perder, porque a sua missão era muito importante (cf. Instrumentum laboris, 138 e 149).

Por fim, quando olhamos ao nosso redor e vemos o vasto campo aberto à espera de que nós nele lancemos sementes de vida nova, devemos fazê-lo com alegria. A nossa mensagem deve ser tal ao ponto de inspirar os outros a seguir-nos com alegria ao longo do percurso rumo ao reino de Deus. A alegria deve caracterizar o evangelizador. A nossa é uma mensagem de grande alegria, Cristo ressuscitou, Cristo está connosco. Sejam quais forem as nossas circunstâncias, o nosso testemunho deve irradiar, juntamente com os frutos do Espírito Santo, amor, paz e alegria (Gl 5, 22).

7) Carismas da Igreja hoje para contribuir para a nova evangelização

Problemas de justiça social

Uma área que põe em destaque um renovado apreço e interesse da nossa fé católica é o valor que se atribui às questões de justiça social. Damo-nos conta de que a doutrina social católica, articulada há mais de um século, plasmou e continua a influenciar grande parte do desenvolvimento da justiça social em vastas áreas do mundo. A justiça social católica não se desenvolveu do nada. Nos decénios antes da encíclica Rerum novarum, a situação era tal que desembocou na luta pela justiça social e pelos direitos humanos. Com a promulgação da Rerum novarum em 1891, a Igreja procurou enfrentar a terrível exploração e a pobreza dos trabalhadores do fim do século XIX (cf. Instrumentum laboris, 71, 123-124 e 130).

Enquanto seria inexacto dizer que Jesus promoveu um particular programa político, social ou económico, estabeleceu contudo princípios de base que deveriam caracterizar qualquer sistema justo, humano, económico ou político. Só a fé pode fornecer a convicção de que as nossas obras de justiça servem como parte do plano de Deus para realizar o reino de Deus.

Hoje, ao olharmos para aquelas questões que oferecem um convite a quem se afastou da Igreja, retomemos coragem ao ver o desejo de tantos jovens de ter parte activa no serviço pastoral. Para eles, o ensinamento da Igreja sobre a justiça social é ao mesmo tempo uma revelação e um convite a uma vida mais plena na Igreja.

Novas comunidades / Movimentos eclesiais

Não estamos sozinhos ao enfrentar a tarefa da nova evangelização. E também não somos os primeiros que estudamos como levar em frente esta acção. Um sinal da nova evangelização são os movimentos eclesiais e as novas comunidades que são uma grande bênção à Igreja de hoje. Estas expressões do trabalho do Espírito Santo acrescentam-se à riqueza espiritual dos carismas antigos das ordens religiosas e das congregações que trabalham com tanta fidelidade para testemunhar a vinda do reino com o seu compromisso por viver os conselhos evangélicos de perfeição. O convite de Cristo a muitos para se tornarem seus discípulos ainda está vivo na Igreja de modo especial na vida religiosa (cf. Instrumentum laboris, 115).

Não vou enumerar aqui as novas comunidades religiosas, pelo receio de não incluir demasiadas que já estão a dar grandes frutos. O mesmo é válido para os novos movimentos eclesiais como Comunhão e Libertação, Opus Dei e Caminho Neocatecumenal, citando apenas três. Todos têm como finalidade a obra do Espírito Santo, que compromete a Igreja de hoje a encaminhar-se em direcção dos que se afastaram.

Uma das nossas tarefas no compromisso de envolver a Igreja na obra da nova evangelização poderia ser o de convidar todos os novos movimentos e as novas comunidades a integrar mais plenamente as suas energias e actividades na vida de toda a Igreja, especialmente a nível local, na Igreja particular sob a atenção apostólica do bispo (cf. Instrumentum laboris, 116).

No encontro promovido pelo Pontifício Conselho para a promoção da Nova Evangelização em Setembro de 2011, sobressaiu bastante que há um bom grupo de jovens, com fé vibrante que já estão comprometidos nas tarefas da nova evangelização e que já estão reunidos em grupos compostos por uma vasta gama de movimentos e centros espirituais.

Conclusão

Ao começar a responder à chamada do nosso Santo Padre neste Sínodo para estudar a nova evangelização, parece-me oportuno sugerir o que nos espera e que é uma missão quádrupla:

1) reafirmar a natureza essencial da evangelização;
2) notar os fundamentos teológicos da Nova Evangelização;
3) encorajar as numerosas actuais manifestações da nova evangelização;
4) sugerir modos concretos com os quais a nova evangelização pode ser encorajada, estruturada e realizada, por exemplo, nas paróquias, nos programas de pastoral universitária, nas organizações de profissionais, nas capelanias de diversos grupos, incluídos os militares, os serviços de assistência no campo da saúde e social, juntamente com o apoio de jovens profissionais em todos os campos para que possam descobrir-se como instrumentos de actividade evangelizadora da Igreja. Considerada a importância da política que é reflexo da liberdade e dignidade humana e da ordem moral natural, deveríamos focalizar nas nossas observações práticas a geração dos que no futuro se comprometerão na vida política.

Parece que das deliberações sobre a actual situação que a Igreja deve enfrentar hoje, deveria sobressair a afirmação da sua essencial chamada à evangelização, o reconhecimento de tantos factores e instrumentos de renovação e a apresentação de uma guia prática juntamente com um encorajamento.

Este Sínodo deve ser uma chamada para toda a Igreja a olhar para a vida e para a realidade através da lente da nova evangelização de uma forma que seja evidenciado que muitas iniciativas já estão a decorrer e que muitos fiéis já têm familiaridade com os seus aspectos, mesmo se nem sempre são definidos com o nome de nova evangelização.

Agora que começamos os nossos trabalhos, temos todas as razões para o fazer com optimismo e entusiasmo porque as sementes da nova evangelização semeados ao longo dos pontificados de Paulo VI, João Paulo II e Papa Bento XVI já começaram a germinar. A nossa tarefa é encontrar o modo de cultivar, encorajar e acelerar o seu crescimento.

 

 

(*) L'Osservatore Romano, ed. em Português, n. 41, 13 de Outubro de 2012

 

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