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pode transformar-se numa verdadeira experiên-
cia de fraternidade, numa caravana solidária,
numa peregrinação sagrada. Assim, as maiores
possibilidades de comunicação traduzir-se-ão em
novas oportunidades de encontro e solidariedade
entre todos. Como seria bom, salutar, libertador,
esperançoso, se pudéssemos trilhar este cami-
nho! Sair de si mesmo para se unir aos outros faz
bem. Fechar-se em si mesmo é provar o veneno
amargo da imanência, e a humanidade perderá
com cada opção egoÃsta que fizermos.
88.âO ideal cristão convidará sempre a superar
a suspeita, a desconfiança permanente, o medo
de sermos invadidos, as atitudes defensivas que
nos impõe o mundo actual. Muitos tentam es-
capar dos outros fechando-se na sua privacidade
confortável ou no cÃrculo reduzido dos mais Ãnti-
mos, e renunciam ao realismo da dimensão social
do Evangelho. Porque, assim como alguns quise-
ram um Cristo puramente espiritual, sem carne
nem cruz, também se pretendem relações inter-
pessoais mediadas apenas por sofisticados apara-
tos, por ecrãs e sistemas que se podem acender e
apagar à vontade. Entretanto o Evangelho con-
vida-nos sempre a abraçar o risco do encontro
com o rosto do outro, com a sua presença fÃsica
que interpela, com o seu sofrimentos e suas rei-
vindicações, com a sua alegria contagiosa perma-
necendo lado a lado. A verdadeira fé no Filho
de Deus feito carne é inseparável do dom de si
mesmo, da pertença à comunidade, do serviço,
da reconciliação com a carne dos outros. Na sua