EVANGELII GAUDIUM - page 67

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82. O problema não está sempre no excesso de
actividades, mas sobretudo nas actividades mal
vividas, sem as motivações adequadas, sem uma
espiritualidade que impregne a acção e a torne
desejável. Daí que as obrigações cansem mais do
que é razoável, e às vezes façam adoecer. Não se
trata duma fadiga feliz, mas tensa, gravosa, de-
sagradável e, em definitivo, não assumida. Esta
acédia pastoral pode ter origens diversas: alguns
caem nela por sustentarem projectos irrealizáveis
e não viverem de bom grado o que poderiam
razoavelmente fazer; outros, por não aceitarem
a custosa evolução dos processos e querem que
tudo caia do Céu; outros, por se apegarem a al-
guns projectos ou a sonhos de sucesso cultiva-
dos pela sua vaidade; outros, por terem perdido
o contacto real com o povo, numa despersonali-
zação da pastoral que leva a prestar mais atenção
à organização do que às pessoas, acabando assim
por se entusiasmarem mais com a «tabela de mar-
cha» do que com a própria marcha; outros ainda
caem na acédia, por não saberem esperar e que-
rerem dominar o ritmo da vida. A ânsia hodierna
de chegar a resultados imediatos faz com que os
agentes pastorais não tolerem facilmente o que
signifique alguma contradição, um aparente fra-
casso, uma crítica, uma cruz.
83. Assim se gera a maior ameaça, que «é o
pragmatismo cinzento da vida quotidiana da
Igreja, no qual aparentemente tudo procede
dentro da normalidade, mas na realidade a fé
vai-se deteriorando e degenerando na mesqui-
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