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APRESENTAÇÃO DO DOCUMENTO PREPARATÓRIO PARA A XV ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS

 PALAVRAS DO SECRETÁRIO-GERAL DO SÍNODO DOS BISPOS
 CARDEAL LORENZO BALDISSERI

15 de janeiro de 2017

 

Sinto-me feliz por me dirigir aos senhores e às senhoras da imprensa e dos meios de comunicação social, para apresentar, após o anúncio do tema a 6 de outubro passado, o Documento Preparatório, que o Sínodo dos Bispos oferece à Igreja e ao mundo, na perspetiva da celebração da sua décima quinta Assembleia Geral Ordinária, que terá lugar em outubro de 2018. O tema é: «Os jovens, a fé e o discernimento vocacional».

Ao mesmo tempo, aliás em primeiro lugar, tenho a honra de comunicar que precisamente hoje o Santo Padre envia uma carta — que se torna pública — diretamente aos jovens, como sinal da sua solicitude afetuosa por eles, porque como ele mesmo disse: «trago-vos no coração».

Na sua missiva o Santo Padre exorta os jovens a participar ativamente no caminho sinodal, porque o sínodo é realizado para eles e porque toda a Igreja se põe à escuta da sua voz, da sua sensibilidade, da sua fé, assim como das suas dúvidas e críticas. Além disso convida-os a «sair» seguindo o exemplo de Abraão, para se dirigir rumo à nova terra constituída «por uma sociedade mais justa e fraterna» a ser construída até às periferias do mundo. Recorda-lhes Cracóvia na abertura da JMJ quando disse: «As situações podem ser mudadas? E vós, unidos, gritastes um estrondoso sim». Este «sim» nasce de um coração jovem que «não suporta a injustiça nem pode submeter-se à cultura do descarte, nem ceder à globalização da indiferença». Convida-os a fazer escolhas audazes e não se esquece daqueles jovens que «foram obrigados a fugir do seu país natal» por causa «da prevaricação, da injustiça e da guerra».

A fim de realizar de maneira jubilosa e plena a sua vida, o Papa Francisco estimula os jovens a «empreender um percurso de discernimento para descobrir o projeto de Deus» sobre a sua vida e confia-os a Maria de Nazaré, «uma jovem à qual Deus dirigiu o seu olhar amoroso».

Com as suas palavras o Papa deseja imprimir uma escultural motivação humana e eclesial do próximo sínodo sobre os jovens, incluídos nas faixas etárias entre 16 e 29 anos, ciente de que a idade juvenil exige uma adaptação às diferentes realidades locais, como foi evidenciado pelo documento preparatório.

O Documento foi enviado aos Conselhos dos hierarcas das Igrejas orientais católicas, às Conferências episcopais, aos dicastérios da Cúria Romana e à União dos Superiores-Gerais e «dá início à fase da consulta de todo o Povo de Deus», com a finalidade de reunir informações acerca da condição hodierna dos jovens nos vários contextos em que vivem para a poder discernir adequadamente em vista da elaboração do Instrumentum laboris. Devemos ter presente que ele é dirigido a todos os jovens do mundo na mais ampla dimensão, compreensão e participação.

Ele põe-se em continuidade com o caminho que a Igreja está a percorrer sob a guia do magistério do Papa Francisco. A centralidade da alegria e do amor, muitas vezes evidenciada no texto, remete claramente à Evangelii gaudium e à Amoris laetitia. Não faltam referências também à Laudato si’, à Lumen fidei e ao ensinamento do Papa Bento XVI.

Em particular a Amoris laetitia, que repete 36 vezes a palavra «jovens», solicita a «encontrar as palavras, as motivações e os testemunhos que nos ajudem a tocar as cordas mais íntimas dos jovens, onde são mais capazes de generosidade, de compromisso, de amor e até mesmo de heroísmo» (n. 40).

O documento divide-se em três partes. Na primeira convida a pôr-se à escuta da realidade. A segunda evidencia a importância do discernimento à luz da fé para chegar a fazer escolhas de vida que correspondem realmente à vontade de Deus e ao bem da pessoa. A terceira concentra a sua atenção sobre a ação pastoral da comunidade eclesial.

O ícone evangélico do «discípulo amado» introduz às três partes com uma breve apresentação do caminho.

O primeiro capítulo, intitulado «Os jovens no mundo de hoje», oferece elementos úteis para contextualizar a situação juvenil na realidade hodierna, tendo em consideração que o quadro traçado pede para ser adaptado às circunstâncias específicas de cada região. Nele têm-se presentes «alguns resultados das pesquisas em âmbito social úteis para enfrentar o tema do discernimento vocacional», e também os múltiplos desafios relativos à cultura «cientificista», à insegurança, ao desemprego, à corrupção e também aos fenómenos do alcoolismo, do jogo e da toxicodependência.

O segundo capítulo, centro do documento, é intitulado «Fé, discernimento, vocação». «A fé, enquanto participação no modo de ver de Jesus, é a fonte do discernimento vocacional», através da qual «a pessoa chega a fazer, em diálogo com o Senhor e na escuta da voz do Espírito, as escolhas fundamentais, a partir daquela sobre o estado de vida». Só um discernimento correto permitirá ao jovem encontrar deveras a sua pessoal, única e irrepetível «estrada na vida». Este percurso é inspirado pelos três verbos já utilizados na Evangelii gaudium, n. 51: reconhecer (o que acontece no próprio mundo interior), interpretar (o que se reconhece) e decidir (através de um «exercício de autêntica liberdade humana e de responsabilidade pessoal»).

Devemos esclarecer que o termo «vocacional» deve ser entendido no sentido amplo e se refere a toda a vasta gama de possibilidades de realização concreta da própria vida na alegria do amor e na plenitude derivante do dom de si mesmo a Deus e aos outros. Trata-se de encontrar a forma concreta na qual esta realização plena pode ocorrer «através de uma série de escolhas, que incluem estado de vida (matrimónio, ministério ordenado, vida consagrada, etc.), profissão, modalidade de compromisso social e político, estilo de vida, gestão do tempo e do dinheiro, etc.».

A escolha de vida verifica-se no segredo da própria consciência. Ali cada um ouve a voz de Deus, com ele dialoga e no final decide. A ajuda de outras pessoas, por quanto necessária, nunca pode substituir este diálogo íntimo e pessoal.

O terceiro capítulo, intitulado «A ação pastoral», evidencia o significado que tem para a Igreja «acompanhar os jovens a receber a alegria do Evangelho» numa época, como a nossa, «marcada por incertezas, precariedade e insegurança».

A atenção é dirigida aos sujeitos, lugares e instrumentos deste acompanhamento.

Os sujeitos da ação pastoral são os próprios jovens, quer como protagonistas quer como recetores. A Igreja pede-lhes «para a ajudar a identificar as modalidades mais eficazes hoje para anunciar a Boa Nova». Como referência precisamos de pessoas: em primeiro lugar os pais, depois os pastores, os consagrados, os professores e outras figuras educativas. Estas pessoas de referência devem ser «competentes, com clara identidade humana, sólida pertença eclesial, visível qualidade espiritual, vigorosa paixão educativa e profunda capacidade de discernimento». Depois, a atenção sobre o papel e a responsabilidade da inteira comunidade dos crentes.

Os lugares da ação pastoral são a vida diária, as atividades para os jovens, as JMJ, os eventos diocesanos, as paróquias, os oratórios, as universidades, as escolas católicas, o voluntariado, as atividades sociais, os centros de espiritualidade, as experiências missionárias, as peregrinações, a piedade popular. Não falta uma menção ao «mundo digital», que se abre a oportunidades inéditas, mas também a novos perigos.

Os instrumentos são as linguagens (privilegiando as mais expressivas para os jovens), a educação, a oração, o silêncio, a contemplação.

O questionário anexado é parte integrante do documento, não um simples apêndice.

Também ele se divide em três partes. A primeira refere-se à recolha de dados estatísticos. A segunda é composta por perguntas. A novidade é constituída pelo facto de que às perguntas gerais propostas a todos indistintamente (15 ao todo), acrescentaram-se outras 3 específicas para cada área geográfica, às quais devem responder só os habitantes do continente interessado. A terceira parte tem como objeto a «partilha das práticas», segundo as modalidades que são claramente expostas. A finalidade desta parte, que é também uma novidade, é enriquecer toda a Igreja dando a conhecer as experiências, com frequência de grande interesse, que se desenvolvem nas diversas regiões do mundo a fim de que possam servir de ajuda a todos.

Os elementos que emergirem das respostas servirão para a redação do Instrumentum laboris, documento que será entregue aos padres sinodais antes da assembleia.