Lumen Fidei - page 15

15
Dt
26, 5-11); narração esta, que o povo transmi-
te de geração em geração. A luz de Deus brilha
para Israel, através da comemoração dos factos
realizados pelo Senhor, recordados e confessa-
dos no culto, transmitidos pelos pais aos filhos.
Deste modo aprendemos que a luz trazida pela fé
está ligada com a narração concreta da vida, com
a grata lembrança dos benefícios de Deus e com
o progressivo cumprimento das suas promessas.
A arquitectura gótica exprimiu-o muito bem: nas
grandes catedrais, a luz chega do céu através dos
vitrais onde está representada a história sagrada.
A luz de Deus vem-nos através da narração da
sua revelação e, assim, é capaz de iluminar o nos-
so caminho no tempo, recordando os benefícios
divinos e mostrando como se cumprem as suas
promessas.
13. A história de Israel mostra-nos ainda a ten-
tação da incredulidade, em que o povo caiu várias
vezes. Aparece aqui o contrário da fé: a idola-
tria. Enquanto Moisés fala com Deus no Sinai,
o povo não suporta o mistério do rosto divino
escondido, não suporta o tempo de espera. Por
sua natureza, a fé pede para se renunciar à posse
imediata que a visão parece oferecer; é um con-
vite para se abrir à fonte da luz, respeitando o
mistério próprio de um Rosto que pretende reve-
lar-se de forma pessoal e no momento oportuno.
Martin Buber citava esta definição da idolatria,
dada pelo rabino de Kock: há idolatria, « quando
um rosto se dirige reverente a um rosto que não é
1...,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14 16,17,18,19,20,21,22,23,24,25,...86
Powered by FlippingBook