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HOMILIA DO PAPA BENTO XVI
DURANTE O RITO DE CANONIZAÇÃO
DE TRÊS PRESBÍTEROS E UMA RELIGIOSA

Solenidade da Santíssima Trindade
Domingo, 3 de Junho de 2007

 

Queridos irmãos e Irmãs!

Celebramos hoje a Solenidade da Santíssima Trindade. Após o tempo pascal, depois de ter revivido o acontecimento de Pentecostes, que renova o baptismo da Igreja no Espírito Santo, dirigimos por assim dizer o olhar para "o céu aberto" para entrar com os olhos da fé nas profundezas do mistério de Deus, Uno na substância e Trino nas pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Enquanto nos deixamos envolver por este excelso mistério, admiramos a glória de Deus, que se reflecte na vida dos Santos; contemplamo-la sobretudo naqueles que há pouco propus à veneração da Igreja universal: Jorge Preca, Simão de Lipnica, Carlos de Santo André Houben e Maria Eugénia de Jesus Milleret. A todos os peregrinos, aqui reunidos para prestar homenagem a estas testemunhas exemplares do Evangelho, dirijo a minha cordial saudação. Saúdo, em particular, os Senhores Cardeais, os Senhores Presidentes das Filipinas, da Irlanda, de Malta e da Polónia, os venerados Irmãos no Episcopado, as Delegações governativas e as outras Autoridades civis, que participamnestacelebração.

Na primeira Leitura, tirada do Livro dos Provérbios, entra em cena a Sabedoria, que está ao lado de Deus como assistente, como "arquitecta" (8, 30). É maravilhosa a "panorâmica" sobre a criação observada com os seus olhos. A própria Sabedoria confessa: "brincando sobre o globo de sua terra e achando as minhas delícias junto dos filhos do homem" (8, 31). É no meio dos seres humanos que lhe apraz habitar, porque reconhece neles a imagem e a semelhança do Criador. Esta relação preferencial da Sabedoria com os homens faz pensar num célebre trecho de outro livro sapiencial, o Livro da Sabedoria: "Ela é um sopro do poder de Deus... Embora sendo única tudo pode, é imutável em si mesma, renova todas as coisas. Ela derrama-se, de geração em geração, pelas almas santas e forma os amigos de Deus e os profetas" (Sb 7, 25-27). Esta última sugestiva expressão convida a considerar a multiforme e inexaurível manifestação da santidade no povo de Deus ao longo dos séculos. A Sabedoria de Deus manifesta-se na criação, na variedade e beleza dos seus elementos, mas as suas obras-primas, onde realmente se manifesta a sua beleza e a sua grandeza, são os santos.

No trecho da Carta do apóstolo Paulo aos Romanos encontramos uma imagem semelhante: a do amor de Deus "derramado nos corações" dos santos, isto é, dos baptizados, "por meio do Espírito Santo" que lhes foi doado (cf. Rm 5, 5). É através de Cristo que o dom do Espírito passa, "Pessoa-amor, Pessoa-dom", como o definiu o Servo de Deus João Paulo II (Enc. Dominum et vivificantem, 10). Por meio de Cristo, o Espírito de Deus chega até nós como princípio de vida nova, "santa". O Espírito coloca o amor de Deus no coração dos crentes na forma concreta que Jesus de Nazaré tinha no homem. Realiza-se assim quanto diz São Paulo na Carta aos Colossenses: "Cristo em vós, esperança da glória" (1, 27). As "tribulações" não estão em contraste com esta esperança, aliás, concorrem para a realizar, através da "paciência" e da "virtude provada" (Rm 5, 3-4): é o caminho de Jesus, o caminho da Cruz.

Na mesma perspectiva, da Sabedoria de Deus encarnada em Cristo e comunicada pelo Espírito Santo, o Evangelho sugeriu-nos que Deus Pai continua a manifestar o seu desígnio de amor mediante os santos. Também aqui, acontece o que já observámos em relação à Sabedoria: o Espírito de verdade revela o desígnio de Deus na multiplicidade dos elementos da criação somos gratos por esta visibilidade da beleza e da bondade de Deus nos elementos da criação e fá-lo sobretudo mediante as pessoas humanas, de modo especial mediante os santos e as santas, nos quais transparece com grande vigor a sua luz, a sua verdade, o seu amor. De facto, "a imagem do Deus invisível" (Cl 1, 15) é propriamente só Jesus Cristo, "o Santo e o Justo" (Act 3, 14). Ele é a Sabedoria encarnada, o Logos criador que encontra a sua alegria em habitar entre os filhos dos homens, no meio dos quais armou a sua tenda (cf. Jo 1, 14). N'Ele aprouve a Deus pôr "toda a plenitude" (cf. Cl 1, 19); ou, como diz Ele mesmo no trecho evangélico de hoje: "Tudo quanto o Pai tem é Meu" (Jo 16, 15). Cada um dos Santos participa da riqueza de Cristo retomada pelo Pai e comunicada no tempo oportuno. É sempre a mesma santidade de Jesus, é sempre Ele, o "Santo", que o Espírito plasma nas "almas santas", formando amigos de Jesus e testemunhas da sua santidade. E Jesus quer fazer também de nós amigos seus. Precisamente neste dia abrimos o nosso coração para que também na nossa vida cresça a amizade por Jesus, de forma que possamos testemunhar a sua santidade, bondade e verdade.

Um amigo de Jesus e testemunha da santidade que vem d'Ele foi Jorge Preca, nascido em La Valletta na ilha de Malta. Foi um sacerdote totalmente dedicado à evangelização: com a pregação, com os escritos, com a guia espiritual e a administração dos Sacramentos e, antes de tudo, com o exemplo da sua vida. A expressão do Evangelho de João "Verbum caro factum est" orientou sempre a sua alma e a sua acção, e assim o Senhor pôde servir-se dele para dar vida a uma obra benemérita, a "Sociedade da Doutrina Cristã", obrigado pelo vosso compromisso! que tem por objectivo garantir às paróquias o serviço qualificado de catequistas bem preparados e generosos. Alma profundamente sacerdotal e mística, ele efundia-se em impulsos de amor a Deus, a Jesus, à Virgem Maria e aos Santos. Gostava de repetir: "Senhor Deus, quanto te sou devedor! Obrigado, Senhor Deus, e perdoa-me Senhor Deus!". Uma oração que poderíamos repetir também nós, da qual nos poderíamos apropriar. São Jorge Preca ajuda a Igreja a ser sempre, em Malta e no mundo, o eco fiel da voz de Cristo, Verbo encarnado.

O novo santo, Simão de Lipnica, grande filho da terra polaca, testemunha de Cristo e seguidor da espiritualidade de São Francisco de Assis, viveu numa época distante, mas precisamente hoje é proposto à Igreja como modelo actual de um cristão que animado pelo espírito do Evangelho está pronto a dedicar a vida pelos irmãos. Assim, cheio da misericórdia que hauria da Eucaristia, não hesitou em levar ajuda aos doentes atingidos pela peste, contraindo essa doença que o levou também à morte. Hoje de modo particular confiamos à sua protecção todos os que sofrem por causa da pobreza, da doença, da solidão e da injustiça social. Através da sua intercessão pedimos para nós a graça do amor perseverante e activo, a Cristo e aos irmãos.

"O amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado". Na verdade, no caso do sacerdote passionista, Carlos de Santo André Houben, observamos como este amor foi prodigalizado numa vida totalmente dedicada ao cuidado das almas. Ao longo dos numerosos anos de ministério sacerdotal na Inglaterra e na Irlanda, o povo o procurava para obter conselhos sábios, a sua solicitude compassiva e o seu toque taumatúrgico. Na doença e no sofrimento reconheceu o rosto de Cristo crucificado, a cuja devoção tinha dedicado toda a sua vida. Hauriu em abundância das torrentes de água viva que brotava do lado trespassado, e com a força do Espírito deu testemunho perante o mundo do amor do Pai. Durante as exéquias deste sacerdote muito amado, afectuosamente chamado Padre Carlos de Mount Argus, o seu Superior observou: "O povo já o declarou santo".

Maria Eugénia Milleret recorda-nos antes de tudo a importância da Eucaristia na vida cristã e no crescimento espiritual. De facto, como ela mesma ressaltou, a sua primeira comunhão foi um tempo forte, mesmo se não se apercebeu disso completamente naquele momento. Cristo, presente no mais profundo do seu coração, trabalhava nela, deixando-lhe o tempo de caminhar ao seu ritmo, de prosseguir a sua busca interior que a levaria a doar-se totalmente ao Senhor na vida religiosa, em resposta aos apelos do seu tempo. Ela compreendia sobretudo a importância de transmitir às jovens gerações, em particular às jovens, uma formação intelectual, moral e espiritual, que fizesse delas adultas capazes de se ocupar da vida da sua família, sabendo dar a sua contribuição à Igreja e à sociedade. Durante toda a sua existência encontrou a força para a sua missão na vida de oração, associando incessantemente contemplação e acção. Que o exemplo de Santa Maria Eugénia convide os homens e as mulheres de hoje a transmitir aos jovens os valores que os ajudem a tornar-se adultos fortes e testemunhas jubilosas do Ressuscitado. Que os jovens não receiem acolher estes valores morais e espirituais, vivê-los com paciência e fidelidade. Desta forma construirão a sua personalidade e prepararão o seu porvir.

Queridos irmãos e irmãs, damos graças a Deus pelas maravilhas que realizou nos Santos, nos quais resplandece a sua glória. Deixemo-nos atrair pelos seus exemplos, deixemo-nos guiar pelos seus ensinamentos, para que toda a nossa existência se torne, como a deles, um cântico de louvor para glória da Santíssima Trindade. Obtenha-nos esta graça Maria, a Rainha dos Santos, e a intercessão destes quatro novos "Irmãos maiores" que hoje veneramos com alegria. Amém.

© Copyright 2007 - Libreria Editrice Vaticana



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