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SYNODUS EPISCOPORUM
BOLETIM

II ASSEMBLEIA ESPECIAL PARA A ÁFRICA
DO SÍNODO DOS BISPOS
4-25 OUTUBRO 2009

A Igreja em África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz.
"Vós sois o sal da terra ... Vós sois a luz do mundo" (Mt 5, 13.14)


Este Boletim é somente um instrumento de trabalho para uso jornalístico.
A
s traduções não possuem caráter oficial.


Edição portuguesa

04 - 05.10.2009

SUMÁRIO

- SOLENE ABERTURA DA II ASSEMBLEIA ESPECIAL PARA A ÁFRICA DO SÍNODO DOS BISPOS
- PRIMEIRA CONGREGAÇÃO GERAL (SEGUNDA-FEIRA, 5 DE OUTUBRO DE 2009, MANHÃ)
- AVISOS

SOLENE ABERTURA DA II ASSEMBLEIA ESPECIAL PARA A ÁFRICA DO SÍNODO DOS BISPOS

Ontem, domingo 4 de Outubro de 2009, dia em que é lembrado S. Francisco de Assis, concluída na Basílica de S. Pedro a Concelebração da Eucaristia com os Padres Sinodais por ocasião da solene abertura da II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, ritmada por cantos africanos, durante a qual se rezou também em várias línguas africanas, o Santo Padre Bento XVI apareceu à janela do seu escritório no Palácio Apostólico Vaticano para recitar o Angelus com os fieis e os peregrinos reunidos na Praça S. Pedro. Ao introduzir a oração mariana, o Papa disse: “O meu venerado predecessor, João Paulo II, convocou o primeiro ‘Sínodo africano’ em 1994, na perspectiva do ano 2000 e do terceiro milênio cristão. Ele, com o seu zelo missionário foi tantas vezes peregrino na terra africana, recolheu os conteúdos que emergiram daquela assembleia na Exortação apostólica Ecclesia in Africa, relançando a evangelização do Continente. Quinze anos mais tarde, esta nova Assembleia dá continuidade à primeira, para verificar o caminho percorrido, aprofundar alguns aspectos e examinar os desafios mais recentes. O tema escolhido é: ‘A Igreja na África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz’ - acompanhado por uma palavra de Cristo dita aos discípulos: ‘Vós sois o sal da terra ... vós sois a luz do mundo’ (Mt 5, 13.14). O Sínodo é sempre uma intensa experiência eclesial, uma experiência de responsabilidade pastoral colegial relativamente a um aspecto específico da vida da Igreja, ou então, como neste caso, de uma parte do Povo cristão determinada com base na área geográfica. O Papa e os seus colaboradores mais próximos reúnem-se com os Membros designados pela Assembleia, com os Peritos e os Auditores, para aprofundar a temática escolhida. É importante sublinhar que não se trata de uma reunião de estudo nem de uma assembleia programática. Escutam-se os relatórios e as intervenções na sala, debate-se nos grupos, mas todos nós sabemos bem que os protagonistas aqui não somos nós: é o Senhor, o seu Espírito Santo que guia a Igreja. A coisa mais importante, para todos, é escutar: escutar-nos uns aos outros e, todos, escutar o que o Senhor nos quer dizer. Por isso, o Sínodo decorre num clima de fé e de oração, em religiosa obediência à Palavra de Deus. Ao Sucessor de Pedro cabe convocar e guiar as Assembleias sinodais, recolher o que emergiu dos trabalhos dar depois as oportunas indicações pastorais. Queridos amigos, a África é um Continente que tem uma extraordinária riqueza humana. Actualmente a sua população é de cerca de um bilhão de habitantes e a sua taxa de natalidade global é a mais alta a nível mundial. A África é uma terra fecunda de vida humana, mas esta vida, infelizmente, sofre várias pobrezas e, por vezes, graves injustiças. A igreja está comprometida a superá-las com a força do Evangelho e a solidariedade concreta de muitas instituições e iniciativas de caridade. Peçamos à Virgem Maria que ela abençoe a II Assembleia sinodal para a África e obtenha paz e desenvolvimento para aquele grande e amado Continente”.

Por fim, depois da recitação da Oração mariana, o Papa acrescentou, em várias línguas: “[em italiano] No fim da Assembleia do Angelus deste domingo especial, em que dei início à Segunda Assembleia especial para a África do Sínodo dos Bispos, não posso esquecer os conflitos que actualmente põem em risco a paz e a segurança dos Povos do Continente africano. Nestes dias tenho seguido com preocupação os graves episódios de violência que abalaram a população da Guiné. Exprimo os meus pêsames às famílias das vítimas, convido as partes ao diálogo, à reconciliação e estou convencido que não serão poupados os esforços para chegar a uma solução equânime e justa. No próximo sábado, dia 10, à tarde, junto com os Padres sinodais, vou guiar na Sala Paulo VI uma recitação especial do santo Terço ‘com a África e pela África’, animada por jovens universitários de Roma. Vão unir-se à oração, em conexão via satélite, os estudantes de vários Países africanos. Queridos jovens universitários, espero-vos numerosos, para confiar à Virgem Maria Sedes Sapientiae o caminho da Igreja e da sociedade no Continente Africano. [em francês] Hoje inicia a segunda Assembleia especial para a África do Sínodo dos Bispos. Convido-vos a sustentar com a vossa oração a reflexão e os trabalhos dos padres sinodais. Convido-vos também a rezar por este querido continente africano que eu visitei no passado mês de Março. Que Deus o abençoe e lhe conceda a paz, a reconciliação e a justiça e que dê à Igreja na África a força e a coragem de ser ‘sal da terra’ e ‘luz do mundo’ para testemunhar a verdadeira vida de Jesus Cristo. Eu confio este Sínodo à intercessão materna da Virgem Maria, protectora da África! Que Deus vos abençoe! [em inglês] Eu convido-vos a unir-vos a mim em oração para a Segunda Assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a África aberta esta manhã na Basílica de S. Pedro. Talvez este grande evento eclesial fortaleça a Igreja na África em seu testemunho do Evangelho de Jesus Cristo e em seus esforços para promover a reconciliação, a justiça e a paz entre os povos. Que o Sínodo também ajude a voltar os olhos do mundo para este grande continente e inspire renovada solidariedade com nossos irmãs e irmãos africanos. Confiando estas orações à intercessão de Nossa Senhora, eu invoco sobre vós e vossas famílias a bênção de Deus de alegria e paz! [em alemão] Com a santa Missa na Basílica de S. Pedro, inaugurámos hoje de manhã a Segunda Assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a África. O tema é: ‘A Igreja na África a serviço da reconciliação, da justiça e da paz. Vós sois o sal da terra. ... Vós sois a luz do mundo’. Para nos tornarmos verdadeiramente sal da terra e luz do mundo, precisamos da graça de Deus. Oremos ao Senhor, para que Ele nos torne, a nós e aos nossos irmãos na fé na África, cada vez mais mensageiros da reconciliação, da esperança e da paz. Desejo-vos a todos um santo dia de domingo”.
No centro da II Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos dedicada à África vão estar os temas da reconciliação, da justiça e da paz, que foram afrontados - há 14 anos atrás - também na I Assembleia Especial dedicada à terra africana que ainda hoje está dilacerada por genocídios, guerras civis, SIDA, fome e muitíssimas outras pragas. “Quando se fala de tesouros da África - sublinhou o Papa Bento XVI na sua homilia de ontem - o pensamento vai logo aos recursos de que o seu território é rico e que infelizmente foram e, por vezes, ainda continuam a ser causa de exploração, de conflitos e de corrupção”. “Pelo contrário - especificou - a Palavra de Deus mostra-nos outro património: o espiritual e cultural, de que a humanidade precisa ainda mais do que das matérias primas”. O Papa sublinhou que “a África representa um imenso ‘pulmão’ espiritual para a humanidade que se encontra numa crise de fé e de esperança. Mas este ‘pulmão’ também pode adoecer. E, de momento, estão a afectá-lo pelo menos duas patologias: antes que mais, uma doença já difundida no mundo ocidental, isto é, o materialismo prático, associado ao pensamento relativista e niilista. Sem agora procurar a génese destes males do espírito, é todavia indiscutível que o chamado ‘primeiro’ mundo por vezes exportou e ainda exporta lixo tóxico espiritual, que contagia as populações dos outros continentes e especialmente as da África. Neste sentido, o colonialismo, mesmo se acabado sob o plano político, nunca acabou completamente. Mas, justamente neste perspectiva, deve-se assinalar um segundo ‘vírus’ que pode chegar a afectar também a África, isto é, o fundamentalismo religioso, misturado com interesses políticos e económicos. Grupos que se referem a várias pertenças religiosas estão a difundir-se pelo continente africano; fazem-no em nome de Deus, mas segundo uma lógica oposta à lógica divina, quer dizer, ensinando e praticando não o amor e o respeito pela liberdade, mas a intolerância e a violência”. A Igreja na África pode dar uma “grande contribuição para toda a sociedade”, sublinhou o Papa. “A reconciliação, dom de Deus que os homens devem implorar e acolher, é fundamento estável sobre o qual construir a paz, condição indispensável para o autêntico progresso dos homens e da sociedade, segundo o projecto de justiça escolhido por Deus. Nos últimos anos, a Igreja na África teve um grande dinamismo”, lembrou Bento XVI, falando também aos fieis leigos, “chamados a difundir o perfume da santitade no trabalho, nas escolas e em qualquer outro âmbito social e político”. Proteger as crianças com mão materna, “mesmo quando ainda não nasceram”, é uma das exortações dirigidas ontem por Bento XVI à África: “A realidade da infância constitui uma parte grande e infelizmente sofredora da população africana”. Crianças pelas quais a Igreja, “na África e em qualquer outra parte do mundo, manifesta a sua própria maternidade”, “mesmo quando ainda não nasceram”. Recolhendo “brevemente uma sugestão que precede toda a reflexão e indicação de tipo moral, e que tem a ver com a primazia do sentido do sagrado e de Deus, quis o Papa sublinhar: “o casamento, assim como a Bíblia nos apresenta, não existe fora da relação com Deus. A vida conjugal entre o homem e a mulher, e portanto a família que dela deriva, está inscrita na comunhão com Deus e, à luz do Novo Testamento, torna-se ícone do Amor trinitário e sacramento da união de Cristo com a Igreja. Na mistura em que conserva e se desenvolve a sua fé, a África poderá encontrar recursos imensos a favor da família baseada no casamento”.

[00015-06.06] [RE000] [Texto original: italiano]

PRIMEIRA CONGREGAÇÃO GERAL (SEGUNDA-FEIRA, 5 DE OUTUBRO DE 2009, MANHÃ)

Na manhã desta segunda-feira, 5 de outubro de 2009, às 09h, na presença do Santo Padre, na Sala do Sínodo no Vaticano, com o canto da Hora Terceira, iniciado pelo hino Veni, Creator Spiritus, começaram os trabalhos da II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, com a Primeira Congregação Geral.

O Santo Padre Bento XVI fez uma reflexão.

Falando sobre a acção do Espírito Santo, o Papa explicou que somente graças à sua força a Igreja continua a sua obra, e invocando-o, pede que o Pentecostes não seja somente um evento do passado, mas se recrie aqui e agora. A Igreja, acrescentou, não é uma organização, mas o fruto do Espírito rumo à Cidade de Deus que une todas as culturas. É justamente a língua de fogo que dá a palavra certa, para que se chegue a uma verdadeira unidade na pluralidade, colaborando no ato criador de Deus. Três são as palavras objectos de reflexão: “Confessio”, “Caritas”, “Prossumus”. A “Confessio”, disse o Papa, é renovação e transformação, para que através da luz de Deus se possa ver a realidade, conhecer a nós mesmos e depois compreender a realidade do mundo, e então testemunhar e evangelizar. Falando sobre a “Caritas”, o Santo Padre recordou que o cristianismo não é uma soma de ideias, nem de filosofia: torna-se cristão por amor. Citando a parábola evangélica do bom samaritano, o Para recordou que a caridade é universal e concreta. A universalidade parte do amor pelo próximo, “prossumus”. O Amor que vem do Espírito Santo, explicou o Papa, nos chama a uma responsabilidade ativa pelo próximo, que se torna universalidade, para sermos servidores dela agora no mundo.

[00016-06.04] [00000] [Texto original: italiano]

Publicaremos apenas possível o texto integral da reflexão do Papa.

Presidente delegado de turno, S.Em. Card. Francis ARINZE, Prefeito emérito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (Cidade do Vaticano).

A assembleia sinodal inaugurada ontem por Bento XVI, que presidiu a solene Concelebração Eucarística na Basílica de São Pedro, acolherá até o dia 25 de outubro de 2009 uma delegação de Prelados do mundo todo, sobre o tema A Igreja em África a serviço da reconciliação, da justiça e da paz. “Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 13.14).

Intervieram na Primeira Congregação Geral, após a Hora Terceira, S.Em. Card. Francis ARINZE, Prefeito emérito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (CIDADE DO VATICANO), para a Saudação do Presidente Delegado; S.E.R.Dom Nikola ETEROVIĆ, Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos (CIDADE DO VATICANO), para o Relatório do Secretário-Geral.
Após o intervalo interveio S.Em. Card. Peter Kodwo Appiah TURKSON, Arcebispo de Cape Coast (GANA), para o Relatório antes do Debate do Relator Geral.

Na conclusão da leitura da Relatio ante disceptationem seguiu un breve momento de intervençoes livres.

Publicamos a seguir os textos na íntegra das intervenções pronunciadas na Sala:

- SAUDAÇÃO DO PRESIDENTE DELEGADO, S.EM.R. CARD. FRANCIS ARINZE, PREFEITO EMÉRITO DA CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS (CIDADE DO VATICANO)
- RELATÓRIO DO SECRETÁRIO-GERAL DO SÍNODO DOS BISPOS, S.E.R. DOM NIKOLA ETEROVIĆ (CIDADE DO VATICANO)
- RELATÓRIO ANTES DO DEBATE DO RELATOR GERAL, S.EM.R. CARD. PETER KODWO APPIAH TURKSON, ARCEBISPO DE CAPE COAST (GANA)

A primeira Congregação Geral da II Assembleia Epecial para a África do Sínodo dos Bispos concluiu-se às 12.25 com a Oração do Angelus Domini guiada pelo Santo Padre.

Estavam presentes 226 Padres Sinodais.

A segunda Congregação Geral, durante a qual serão apresentados os Relatórios sobre os cinco Continentes, realizar-se-á na parte da tarde de hoje, 5 de outubro de 2009, às 16h.30.

SAUDAÇÃO DO PRESIDENTE DELEGADO, S.EM.R. CARD. FRANCIS ARINZE, PREFEITO EMÉRITO DA CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS (CIDADE DO VATICANO)

Santo Padre,

Os Bispos da África, Madagáscar e ilhas adjacentes, agradecem-lhe a convocação desta segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos.
A Igreja na África quer ser cada vez mais fiel a este aspecto da sua missão, que é estar ao serviço da reconciliação, justiça e paz.
Nosso continente conheceu sofrimentos evitáveis, injustiças, opressões, repressões, explorações, tensões e guerras, que afastaram as pessoas de suas casas e produzem fome e doenças. Mas a África conheceu também o amor fraterno, a solidariedade para com os que sofrem, comissões de verdade e reconciliação, a ajuda regional entre países e deu passos para o desenvolvimento integral, como Vossa Santidade, explicou na Caritas in veritate.
Nosso amado Senhor e Salvador Jesus Cristo é a nossa paz (cfr. Ef 2, 14). Ensinou-nos que aquilo que fazemos ao menor dos seus irmãos e irmãs o fazemos a Ele (cfr. Mt 25, 40). Perdoou aqueles que o crucificaram e rezou por eles (cfr. Lc 23, 34). Enviou a sua Igreja para ser a luz do mundo e para agir como sal e fermento na sociedade (cfr. Mt 5, 13; Mc 9, 50; Lc 13, 21). Enviou-nos o Espírito Santo.
Obrigado, Santo Padre, por ter convocado os representantes dos bispos da África para reflectir, nestas três semanas, ao lado dos chefes dos dicastérios da Cúria Romana e de representantes do episcopado de todo o mundo católico, com a ajuda de um grupo altamente qualificado de peritos em teologia e noutros âmbitos, e de representantes dos sacerdotes, pessoas consagradas e fiéis leigos.
Abençoe-nos, Santo Padre, enquanto nos preparamos para começar os trabalhos! Que o trabalho deste Sínodo, guiado pelo Espírito Santo, possa ajudar a África e Madagáscar a progredir na promoção da reconciliação, da justiça e da paz, e também esclarecer e intensificar o papel da Igreja .

Card. Francis Arinze
5 de Outubro de 2009

[00009-06.07] [RE000] [Texto original: inglês]

RELATÓRIO DO SECRETÁRIO-GERAL DO SÍNODO DOS BISPOS, S.E.R. DOM NIKOLA ETEROVIĆ (CIDADE DO VATICANO)

Padre Santo,
Eminentíssimos e Excelentíssimos padres,
Queridos irmãos e irmãs,

"Com a força do Espírito Santo faço a todos um apelo: Reconciliai-vos com Deus! (2 Cor 5,20). Nenhuma diferença étnica ou cultural, de raça, género, religião deve se tornar para vós motivo de contenda. Vós todos sois filhos do único Deus, nosso Pai, que está nos céus. Com esta convicção será finalmente possível construir uma África mais justa e pacífica, a nível das legítimas expectativas de todos os seus filhos" [1].
Inspirado pelo Espírito Santo que guia os fiéis a perscrutar a Sagrada Escritura, com estas palavras, que mostram o Seu zelo apostólico no exercício da solicitude por toda a Igreja, Vossa Santidade expressou o seu amor pela Igreja peregrina em 53 países africanos, como também por toda a África, continente de grande dinamismo, mas também de não poucos desafios. Fê-lo em Iaundê, capital da República dos Camarões, durante a sua primeira Visita Apostólica à África que se realizou de 17 a 23 de Março de 2009. Em tal ocasião Vossa Santidade idealmente abriu os trabalhos da Segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos. De facto, no final da Eucaristia, celebrada no Estádio Amadou Ahidjo, na solenidade de São José Esposo da Bem-Aventurada Virgem Maria, Vossa Santidade entregou aos presidentes de 36 Conferências Episcopais da África e aos Chefes de 2 Sínodos dos Bispos da Igreja Católica Oriental sui iuris, como também da Assembleia da Hierarquia da Igreja Católica no Egipto, o Instrumentum laboris, documento de trabalho da presente Assembleia sinodal. O Estádio de Iaundé tornou-se o coração do continente porque ao redor do Bispo de Roma e Pastor Universal da Igreja, reuniram-se os bispos das Igrejas particulares, "representando de alguma forma a Igreja presente entre todos os povos da África" [2]. Em tal ocasião Vossa Santidade confiou a realização da Assembleia sinodal à protecção da Bem-Aventurada Virgem Maria, Nossa Senhora da África, invocando a sua intercessão a fim de que "a Rainha da Paz ajude todos os 'artesãos' da reconciliação, da justiça e da paz!" [3]. No encontro com o Conselho Especial para a África, na sede da Nunciatura Apostólica de Iaundê, Vossa Santidade, Santo Padre, por primeiro recitou a oração mariana que o Senhor mesmo redigiu a fim de acompanhar a preparação da Assembleia sinodal e para implorar a abundância de graças do Espírito Santo com o objectivo de obter um renovado dinamismo da Igreja disposta a servir cada vez melhor os homens de boa vontade do continente africano. No início dos trabalhos sinodais, fazemos nossa tal oração, a fim de que as reflexões da Assembleia sinodal contribuam para o crescimento da esperança para os povos africanos e para todo o continente; ajudem a infundir em cada Igreja local na África "um novo impulso evangélico e missionário ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz, segundo o programa formulado pelo Senhor: ‘Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo’ (Mt 5, 13.14). Que a alegria da Igreja na África em celebrar este Sínodo seja também a alegria da Igreja Universal!” [4].
Este desejo de Vossa Santidade está a realizar-se. São testemunhas os representantes dos episcopados de todos os continentes que com boa vontade aceitaram a nomeação pontifícia a fim de participar da Assembleia Sinodal, mostrando a proximidade à Igreja Católica na África, parte promissora da Igreja universal. Saúdo, portanto, os representantes das Conferências Episcopais dos outros 4 continentes, como também os bispos provenientes de 17 países. Junto com seus irmãos da África, eles estão dispostos a rezar, a dialogar, a reflectir sobre o presente e o futuro da Igreja Católica no continente africano. De tal forma eles inserem-se no processo sinodal de dar e receber, de participar nas alegrias e nas dores, nas esperanças e nas preocupações partilhando os dons espirituais para a edificação não só de algumas Igrejas particulares da África, mas de toda a Santa Igreja de Deus espalhada pelo mundo inteiro.
Saúdo cordialmente todos os 244 membros da Segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, cujos 78 participantes são ex-oficio, 129 são eleitos e 36 são de nomeação pontifícia. Entre eles estão 33 cardeais, 79 arcebispos e 156 bispos. Em relação aos departamentos, existem 37 presidentes das Conferências Episcopais, 189 bispos titulares, 4 coadjutores, 2 auxiliares e 8 eméritos.
Saúdo particularmente os Delegados irmãos, representantes de 6 Igrejas e comunidades eclesiais, agradecendo-os por terem aceitado o convite para participar deste evento eclesial.Saúdo os 29 Peritos e 49 Auditores, dispostos a dar sua ajuda para o bom andamento dos trabalhos sinodais, enriquecendo a reflexão com os seus significativos testemunhos.
Agradeço também a preciosa colaboração dos assistentes, colaboradores e dos técnicos, como também dos generosos colaboradores da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos. Sem o seu qualificado e generoso trabalho não teria sido possível organizar esta Assembleia sinodal.

Este pronunciamento é composto por VI partes:
I. Significado da Visita Apostólica na África
II. Alguns dados estatísticos
III. Convocação da Segunda Assembleia Especial para a África
IV. Preparação da Segunda Assembleia Especial para a África
V. Observações de carácter metodológico
VI. Conclusão

I. Significado da Visita Apostólica à África

Saúdo de maneira particular os 197 Padres Sinodais provenientes dos países africanos. Em nome deles agradeço Vossa Santidade pela Visita Apostólica à África que foi organizada com o olhar na Segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos. Disso é testemunha o tema que Vossa Santidade escolheu para a sua primeira visita pastoral ao continente africano: “Vós sois o sal da terra ... ‘Vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 13.14), o mesmo da presente Assembleia sinodal.
Obrigado, Santo Padre, sobretudo pelo iluminado magistério realizado durante tal Visita Apostólica. Ainda que materialmente se tenha realizado em dois países: Camarões e Angola, ela abrangeu toda a África. Além disso, ela reforçou ulteriormente os vínculos de unidade na fé, na esperança e na caridade, caracterizando as relações entre o Bispo de Roma e os seus irmãos no episcopado, chefes das Igrejas particulares da África, como também entre eles e os fiéis confiados aos seus cuidados pastorais, com referência ideal a todos os homens de boa vontade do grande continente africano. De facto, o Evangelho, Boa Nova, foi anunciado a todos os habitantes da África e do mundo inteiro. Referindo-se à vida da santa Josephina Bakhita, que o Servo de Deus João Paulo II canonizou em 1° de Outubro do ano 2000, Vossa Santidade a propôs a sua maravilhosa figura como exemplo da desejada transformação dos homens e das mulheres de todo o continente, que surgiu do seu encontro com o Deus vivo.
Também hoje, “a mensagem salvífica do Evangelho exige ser proclamada com força e clareza, a fim de que a luz de Cristo possa resplandecer na escuridão da vida das pessoas” [5]. A luz do Evangelho dissipa as trevas do pecado também na África onde homens e mulheres estão dispostos a deixarem-se transformar pelo Deus Todo-Poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo, ansiosos por ouvir uma palavra de perdão e de esperança. “Diante da dor ou da violência, da pobreza ou da fome, da corrupção ou do abuso de poder, um cristão não pode permanecer em silêncio” [6]. Tais males envolvem todos os habitantes da África que “imploram juntos reconciliação, justiça e paz, e isto é o que a Igreja lhes oferece. Não novas formas de opressão económica ou política, mas a liberdade gloriosa dos filhos de Deus (cfr Rm 8,21)” [7].
Os homens de Igreja são portanto chamados a serem apóstolos do Evangelho, Boa Nova também para o homem africano. “Depois de quase dez anos do novo milénio, este momento de graça é um apelo a todos os bispos, sacerdotes, religiosos e fiéis leigos do continente para que se dediquem novamente à missão da Igreja de levar a esperança aos corações do povo da África, e também aos povos do mundo inteiro” [8].Considerada a importância de tal Mensagem Apostólica para toda a África, como também para as reflexões sinodais, junto com o Instrumentum laboris, pareceu muito útil entregar aos Padres sinodais os discursos de Vossa Santidade nas línguas disponíveis: francês, inglês, italiano, português e espanhol. Não há dúvida de que tais documentos serão de grande ajuda aos Padres sinodais e que permitirão o aprofundamento de alguns temas importantes, relativos ao tema da segunda Assembleia Epecial para a África.

II. Alguns dados estatísticos

Juntos damos graças a Deus, bom e misericordioso, pelos vários dons que a Igreja na África tem recebido e que pôs ao serviço de todos, sobretudo dos pobres e necessitados. Em particular, damos graças pelo seu grande dinamismo, que pode ser indicado com as seguintes estatísticas.
Numa população mundial de 6.617.097.000 habitantes, 1.146.656.000, são católicos, ou seja, 17, 3%. Na África, tal porcentagem foi superada. De facto, numa população de 943.743.000 habitantes, 164.925.000 são católicos ou seja, 17,5%. O aumento parece muito significativo se considerarmos que, por exemplo, em 1978, no início do Pontificado do Papa João Paulo II, o número de católicos africanos era cerca de 55.000.000. Em 1994, ano em que foi realizada a Primeira Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, o número era de 102.878.000 fiéis, ou seja, 14,6% da população africana.
Também para as vocações ao sacerdócio e à vida consagrada, notámos no mesmo período, um impressionante aumento. Em todos os sectores registra-se, graças a Deus, um aumento consistente. Isso diz respeito sobretudo aos agentes pastorais: bispos, sacerdotes, diáconos, religiosas, leigos empenhados, entre eles os catequistas que ocupam um lugar de relevo. Pode ser significativo comparar os dados de 1994 com os dados disponíveis de 2007.
 

  1994 9 2007 10 + %
       
Circunscrições eclesiásticas 444 516 + 16,21
Bispos 513 657 + 28,07
Sacerdotes 23.263 34.658 + 49,09

diocesanos

12.937 23.154 + 78.97

regulares

10.326 11.504 + 11.40
Diáconos permanentes 326 403 + 23,61
Religiosos não sacerdotes 6.448 7.921 + 22,84
Consagradas 46.664 61.886 + 32,62
Membros de institutos seculares 390 578 + 48,20
Missionários leigos  1.847 3.590 + 94,36
Catequistas 299.994  399.932 + 33,31
Seminaristas 17.125  24.729  + 44,40

Devem-se lembrar também os agentes pastorais que marcaram o seu serviço eclesial com o sacrifício da vida. De 1994 a 2008 morreram na África 521 agentes pastorais. Nesta lista estão incluídas também 248 vítimas das tragédias no Ruanda em 1994 e, depois, 40 seminaristas menores assassinados em 1997 no Burundi. Trata-se de pessoas não só africanas, mas também missionários provenientes de outros países. Por exemplo, em 2006 morreram 11 agentes pastorais: 5 sacerdotes diocesanos, dos quais 1 peruano, e 4 religiosos, sendo 1 deles português e 1 brasileiro, 1 religiosa italiana e 1 missionária leiga portuguesa; em 2007, 4 agentes pastorais perderam a vida: 1 sacerdote diocesano, 2 religiosas e 1 religiosa suíça; em 2008 morreram 5 missionários dos quais 1 religiosa da Inglaterra e 1 religioso francês.
Com os olhos da fé, por detrás das estatísticas podemos reconhecer um grande dinamismo na evangelização do continente africano que impulsiona os agentes pastorais ao compromisso generoso e unido, até ao dom da própria vida no martírio. Juntamente com a acção de graças a Deus Todo-Poderoso pelo dom da infinita misericórdia, rezemos para que tal dinamismo continue, aliás que se reforce, pelo bem das Igrejas particulares na África e no mundo inteiro. Os Pastores das Igrejas particulares não deixarão de reconhecer entre o número eleito de servidores do Evangelho aqueles que poderão ser canonizados, segundo as normas da Igreja, não só para aumentar o número de santos africanos, entre eles muitos mártires, mas para obter mais intercessores no céu a fim de que as queridas Igrejas particulares do continente continuem, com zelo renovado, a sua peregrinação terrena no louvor a Deus e a serviço do próximo.
Além da evangelização, sua missão principal, a Igreja Católica é muito activa também no campo da caridade, da saúde, da educação e, em geral, em várias iniciativas de promoção humana. Como exemplos significativos recordamos a Fundação para o Sahel, instituída a 22 de Fevereiro de 1984, Ano Santo da Redenção, pelo Papa João Paulo II, após a visita Apostólica ao Burkina Faso e o memorável Apelo de Uagadugu de 10 de Maio de 1980 [11]. Há oito anos, a 12 Fevereiro de 2001, o Papa João Paulo II constituiu a Fundação O Bom Samaritano com a finalidade de ajudar os enfermos mais carentes, sobretudo os doentes de SIDA [12].
No continente africano existem:
Caritas nacionais e Caritas internacional. No continente africano actuam 53 Caritas nacionais das quais 20 têm uma finalidade a mais, geralmente relativa à promoção da solidariedade e do desenvolvimento integral do homem e da sociedade. Portanto, as Caritas muitas vezes realizam juntas a missão que em alguns países é destinada à Comissão "Justiça e Paz". Existem também a Caritas do Oriente Médio e a do Norte da África. Todas as organizações nacionais são coordenadas pela Caritas África que tem sede em Campala, Uganda.
Comissões Justiça e Paz. Além do Secretariado Justice and Peace do SECAM, existem 8 Comissões regionais e 34 nacionais, junto das respectivas Conferências Episcopais. Além disso, numerosas organizações internacionais e nacionais católicas dedicam-se a ajudar a população africana [13]. Existem também 12 Institutos e Centros de promoção da Doutrina Social da Igreja [14].
Pastoral da saúde. A Igreja Católica está muito presente no campo da Pastoral da Saúde. Segundo os últimos dados de 2007 [15], existem em todo o continente africano 16.178 centros de saúde dos quais: 1.074 hospitais, 5.373 ambulatórios, 186 leprosários, 753 casas para idosos e inválidos, 979 orfanatos, 1997 creches, 1.590 consultórios matrimoniais, 2.947 centros de reeducação social, 1.279 centros de saúde de vário tipo. Obviamente, de tais dados resulta o testemunho, louvável e significativo, de muitos cristãos, sobretudo de pessoas de vida consagrada e leigos católicos, empenhados nas mencionadas estruturas médicas. Em relação ao tipo de doença, as estatísticas revelam entre as emergências sanitárias mais alarmantes a que provém do HIV/SIDA. É motivo de gratidão constatar que, segundo os dados fornecidos pela ’UnAids, 26% das estruturas médicas no mundo que se interessam pelo fenómeno da SIDA são geridas por organizações católicas [16]. A Igreja Católica está em primeira fila na luta contra a difusão da doença. Ela é muito activa no cuidado dos doentes de SIDA, como mostra por exemplo o método DREAM, promovido com sucesso pela Comunidade de Sant’Egídio.
Todavia, não nos podemos esquecer de que os dados estatísticos mostram que a malária é a maior causa de morte no continente africano. As pessoas qualificadas de toda comunidade internacional deveriam dedicar mais energias e meios tanto para prevenir a sua difusão como também para encontrar um válido remédio a esse temível mal e enfermidade muito difundida que provoca todos os anos no mundo a morte de cerca de 1.000.000 pessoas, das quais 85% são crianças abaixo de cinco anos.
Escolas católicas. A Igreja Católica, como mater et magistra, juntamente com o anúncio do Evangelho, desde sempre promove a educação integral das pessoas através das suas escolas. Esta importante obra continua também nos nossos dias. De facto, no continente africano existem 12.496 jardins-de-infância com 1.266.444 inscritos; 33.263 escolas de ensino básico com 14.061.806 alunos; 9.838 escolas de ensino médio com 3.738.238 alunos. Nas Escolas de Ensino Superior frequentam 54.362 estudantes; nas Universidades 11.011 estudantes cursam os estudos eclesiásticos e 76.432 outras disciplinas.

III. Convocação da segunda Assembleia Especial para a África

A ideia de convocar a segunda assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos amadureceu no decorrer dos anos. Esta possibilidade foi tomada em consideração, nos últimos anos do Pontificado de João Paulo II, enquanto o falecido Cardeal Jan Pieter Schotte era Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos. Em particular, sobre tal ideia discutiu-se várias vezes nas reuniões do Conselho Especial para a África da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos.
Portanto, mesmo depois da minha nomeação como Secretário-Geral em 2004, o tema continuou a ser actual. Em particular, o próprio Papa João Paulo II falou publicamente, a 15 de Junho de 2004, por ocasião da audiência concedida ao Conselho Especial para África da Secretaria Geral ao formular a seguinte pergunta: “Não teria chegado o momento, como solicitam numerosos Pastores da África, de aprofundar esta experiência sinodal africana? O excepcional crescimento da Igreja na África, a rápida mudança de pastores, os novos desafios que o continente deve enfrentar exigem respostas que somente a continuação do esforço pedido na elaboração da Ecclesia in Africa poderia oferecer, dando novamente assim renovado vigor e reforçada esperança a este continente em dificuldade” [17].
Por sua vez, os Membros do Conselho Especial para a África agradeceram ao Santo Padre pela solicitude apostólica em relação às Igrejas particulares e empenharam-se, com renovado ardor, a preparar bem a Assembleia sinodal. Durante a reunião do Conselho Especial para a África nos dias 15 e 16 de Junho de 2004, foi decidido submeter à benévola decisão do Papa João Paulo II a proposta de convocar oficialmente a II Assembleia Especial para a África. Os membros do Conselho encarregaram o secretário-geral de propor ao Santo Padre o anúncio da decisão no 10° aniversário da celebração da Primeira Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos. Em particular, foi sugerido fazer o anúncio a 13 de Novembro de 2004, na festa do 1650° aniversário do nascimento de Santo Agostinho, grande africano e glória da Igreja universal. A ocasião era propícia pelo facto de que em tal data se reunia em Roma o Simpósio dos Bispos do S.E.C.A.M (Simpósio das Conferêrncias Episcopais da África e Madagáscar)-C.C.E.E. (Consilium Conferentiarum Episcoporum Europae) Symposium, para recordar o 10° aniversário do Sínodo para a África. Segundo o parecer dos Membros do Conselho para a África, era preciso um tempo suficiente de preparação para a celebração da Assembleia sinodal, que poderia realizar-se no mês de Outubro de 2009, na festa do 15° aniversário da primeira Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos. O tema poderia ser sobre a Igreja na África entendida como Família de Deus chamada a anunciar o Evangelho de Jesus Cristo para a salvação e a reconciliação, a justiça e a paz.
O Servo de Deus João Paulo II acolheu de bom grado tal proposta. Por ocasião da Audiência pontifícia aos participantes do Simpósio dos Bispos da África e da Europa reunidos em Roma ele anunciou: “Acolhendo os votos do Conselho pós-sinodal, intérprete do desejo dos Pastores africanos, aproveito a ocasião para anunciar a minha intenção de convocar uma segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos” [18]. Ao mesmo tempo confio tal projecto à oração dos fiéis, enquanto exorto “fervorosamente todos a implorarem do Senhor para a amada terra da África o dom precioso da comunhão e da paz” [19].
O falecido Pontífice expressou noutra ocasião o seu apoio à ideia de uma segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos. Na carta que endereçou ao Excelentíssimo Secretário-Geral, por ocasião da XIII Reunião do Conselho Especial para a África de 24 e 25 de Fevereiro de 2005, Papa João Paulo II expressou a sua visão sobre a segunda Assembleia sinodal. ”Ao compreender o dinamismo que nasceu da primeira experiência sinodal africana, esta Assembleia procurará aprofundar e prolongá-la, baseando-se na Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Africa, considerando as novas circunstâncias eclesiais e sociais do continente. Terá como tarefa ajudar as Igrejas locais e os seus Pastores e ajudá-los nos seus projectos pastorais, preparando assim o futuro da Igreja no continente africano, que vive situações difíceis, tanto no plano político, económico e social como no que concerne a paz” [20]. A seguir, o Papa João Paulo II ressaltou algumas dificuldades: conflitos armados, a pobreza persistente, as doenças e as suas consequências devastadoras, começando pelo drama da SIDA, a corrupção e o difundido sentido de insegurança em várias regiões. Os fiéis, juntamente com todos os homens de boa vontade devem trabalhar para construir uma sociedade próspera e estável, assegurando um futuro digno para as novas gerações. A Igreja Católica, que nas últimas décadas conheceu um grande desenvolvimento, dá graças a Deus. Ao mesmo tempo, o Pontífice ressalta: “Para que este crescimento continue, encorajo os bispos a vigiar sobre o aprofundamento espiritual daquilo que foi realizado, como também sobre o amadurecimento humano e cristão do clero e dos leigos” [21]. No final, confiando a preparação do evento eclesial à intercessão materna de Nossa Senhora da África, o Papa João Paulo II desejou: “Possa a futura Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a África, favorecer o crescimento da fé em Cristo Salvador e a uma autêntica reconciliação!” [22].
A Providência Divina quis que o Papa João Paulo II fosse para a Casa do Pai a 2 de Abril de 2005. No Conclave do mesmo mês, os eminentíssimos cardeais elegeram, a 19 de abril de 2005, Bispo de Roma, o Santo Padre Bento XVI. Dois meses depois da sua eleição pontifícia, Sua Santidade Bento XVI pronunciou-se também em relação à convocação da segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos. Depois de um estudo apropriado da questão, o Santo Padre reconfirmou a decisão do seu predecessor. Saudando os Membros do Conselho Especial para a África do Sínodo dos Bispos da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos, o Sumo Pontífice disse: ”Confirmando o que disse o meu Predecessor a 13 de Novembro do ano passado, desejo anunciar a minha intenção de convocar a segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos. Tenho grande confiança em que tal Assembleia dê um maior impulso ao continente africano na evangelização, no fortalecimento e no crescimento da Igreja e na promoção da reconciliação e da paz” [23].
A proclamação oficial da Assembleia sinodal realizou-se a 28 de Junho de 2007, vigília da solenidade dos Santos Pedro e Paulo. Em tal ocasião foi indicado o tema e a data da celebração: “O Santo Padre Bento XVI proclamou a segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos sobre o tema A Igreja em África a serviço da reconciliação, da justiça e da paz, Vós sois o sal da terra... vós sois a luz do mundo (Mt 5, 13.14)”, a realizar-se no Vaticano de 4 a 25 de Outubro de 2009" [24].
Depois da decisão do Santo Padre, os Membros do Conselho Especial iniciaram o trabalho de preparação da Assembleia sinodal.
IV. Preparação da segunda Assembleia Especial para a África

Amadurecida a ideia de uma Segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, os membros do Conselho Especial receberam a tarefa de preparar da melhor forma possível a realização do evento eclesial.
Em primeiro lugar era preciso redigir os Lineamenta, documento de preparação da Assembleia sinodal. Para tal preparação foram realizadas várias reuniões do Conselho Especial para a África da Secretaria Geral.
Na reunião realizada nos dias 25 e 26 de Fevereiro de 2005, os Membros do Conselho Especial para a África contribuíram com o esquema dos Lineamenta com indicações precisas acerca do seu conteúdo. Na sucessiva reunião de 21 e 22 de Junho de 2005, o esboço do Documento foi objecto de profundo estudo. A 13 de Janeiro de 2006, o Santo Padre Bento XVI aprovou o tema da Assembleia Sinodal. Assim, os Membros do Conselho Especial puderam reflectir mais profundamente sobre o projecto do Documento, fazendo várias modificações que foram depois inseridas no texto. O documento foi enviado via e-mail aos Membros do Conselho Especial para a África, para uma última aprovação, a fim de que eventuais modificações fossem feitas até 24 de Abril de 2006. Dois Membros do Conselho, representantes respectivamente dos grupos de língua francesa e inglesa, junto com a Secretaria Geral examinaram e acrescentaram as observações que chegaram nos dias 27 e 28 de Abril de 2006. Depois, o documento pôde ser traduzido em 4 línguas: francês, italiano, inglês e português, e foi acrescentada a versão em árabe.
Os Lineamenta foram publicados a 27 de Junho de 2006. O texto foi apresentado na Sala de Imprensa da Santa Sé pelo Eminentíssimo Cardeal Francis Arinze, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos e pelo Excelentíssimo Dom Nikola Eterovic, Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos. O Documento foi amplamente difundido, inclusive através do site internet do Vaticano e pela Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos.
As Conferências Episcopais, as Igrejas Católicas Orientais sui iuris, e outros organismos interessados, tiveram tempo até ao fim do mês de Outubro de 2008 para enviar à Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos as respostas ao Questionário dos Lineamenta. Tais propostas serviram para redigir o Instrumentum laboris, documento de trabalho da segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos.

O Instrumentum laboris

A percentagem das respostas aos Lineamenta foi dividida em várias categorias de instituições com as quais a Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos mantém relações oficiais.

Instituições Respostas %

Conferências Episcopais 36 25 30 83,33
Conferências Episcopais Internacionais 6 26 1 16,66
Igrejas Católicas Orientais sui iuris 2 27 1 50
Assembleia Hierárquica Católica do Egipto 1 0
Organismos da Cúria Romana 25 28 14 56
Uniões dos Superiores Gerais 1 1 100

A Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos recebeu ajuda também de algumas Universidades Católicas e de Instituições de Ensino Superior, como também de várias pessoas, inclusive leigos, que se preocupam com o presente e o futuro da Igreja Católica na África.
As respostas foram examinadas pelo Conselho Especial para a África do Sínodo dos Bispos na reunião de 27 e 28 de Outubro de 2008. Os Membros do Conselho concordaram com o esquema do Documento, fornecendo indicações exactas sobre o conteúdo, obviamente, respeitando as ajudas oferecidas pelos episcopados de cada país. A Secretaria Geral, com a ajuda de alguns peritos, redigiu um esboço do Documento que foi discutido na XVIII reunião do Conselho Especial para a África que se realizou nos dias 23 e 24 de Janeiro de 2009. Depois de terem feito algumas modificações, com o objectivo de aperfeiçoar o texto, o documento foi aceite com consenso unânime.
O Instrumentum laboris foi traduzido em quatro línguas: francês, italiano, inglês e português. Em Março de 2009, o Santo Padre Bento XVI teve a bondade de entregar pessoalmente em Iaundê, Camarões, aos Chefes dos Sínodos dos Bispos das Igrejas Católicas Orientais sui iuris e aos Presidentes das Conferências Episcopais da África, aos quais renovamos o nosso agradecimento. A seguir, a Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos, favoreceu uma ampla difusão do Documento que será aprofundado durante a presente Assembleia Sinodal.

Nomeações dos Membros da Presidência da Assembleia Sinodal

A 14 de Fevereiro de 2009 o Sumo Pontífice Bento XVI nomeou três Presidentes Delegados da segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos: as suas Eminências Reverendíssimas os Senhores Cardeais: Francis Arinze, Prefeito emérito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos; Théodore-Adrien Sarr, arcebispo de Dacar, Senegal, e Fox Wilfrid Napier, O.F.M., arcebispo de Durban, África do Sul. Ao mesmo tempo, Sua Santidade nomeou o Relator-Geral, Sua Eminência Reverendíssima o Senhor Cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, arcebispo de Cape Coast, Gana e dois Secretários Especiais, Sua Excelência Reverendíssima Dom António Damião Franklin, arcebispo de Luanda, Angola, e Sua Excelência Reverendíssima Dom Edmond Djitangar, bispo de Sarh, Chade [29].

Agradecimento aos Membros do Conselho Especial para a África

Dos três Cardeais Presidentes Delegados nomeados pelo Sumo Pontífice Bento XVI, dois foram membros do Conselho Especial para a África da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos. Acredito partilhar o parecer dos Padres sinodais aqui presentes ao dirigir um cordial agradecimento a todos os Membros do Conselho Especial para a África pelo seu precioso serviço eclesial. De 12 membros eleitos a 17 de Maio de 1994, no final da Primeira Assembleia Especial para a África, 9 deles perseveraram até ao fim. No entanto, o Excelentíssimo Cardeal Hyacinthe Thiandoum, arcebispo emérito de Dacar, faleceu em 2003, recomendemo-lo à infinita misericórdia de Deus. Sua Eminência o Cardeal Armand Gaétan Razafindratandra, arcebispo de Antananarivo, Madagáscar, retirou-se em 2006 por motivo de idade, e em 2007, por motivo de saúde, Sua Excelência Dom Paul Verdzekov, arcebispo de Bamenda, na República dos Camarões. Eles foram substituídos, respectivamente, por Sua Excelência Dom Anselme Titianma Sanon, arcebispo de Bobo-Dioulasso, Burkina Faso, por Sua Excelência Dom Odon Maria Arsène Razanakolona, arcebispo emérito de Antananarivo, e por D. Cornelius Fontem Esua, arcebispo emérito de Bamenda, Camarões.
Com o início dos trabalhos da presente Assembleia finalizam o mandato, que exerceram durante 15 anos, os Membros do Conselho Especial para a África da Secretaria do Sínodo dos Bispos. Durante tal período participaram em 19 reuniões. O serviço precioso do Conselho Especial para a Igreja que peregrina na África pode ser dividido em três fases. Na primeira, logo depois da primeira Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, o Conselho tinha o objetivo de preparar o projecto da Exortação Apostólica pós-sinodal, ajudando na delicada tarefa o Santo Padre que assinou a Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Africa em Iaundê, a 14 de setembro de 1995, festa da Exaltação da Santa Cruz. A seguir, o Conselho Especial procurou pôr em prática esse importante Documento. A fase coincidiu com a preparação da presente Assembleia sinodal.

V. Observações de caráter metodológico

Na audiência que me foi concedida a 23 de Junho de 2007, o Santo Padre Bento XVI aprovou os critérios acerca da participação na Assembleia sinodal, concordados durante a reunião do Conselho Especial para a África do Sínodo dos Bispos, realizada nos dias 15 e 16 de Fevereiro de 2007. Depois da aprovação do Sumo Pontífice, tais critérios foram comunicados aos Presidentes das Conferências Episcopais e aos Chefes dos Sínodos das Igrejas Católicas Orientais sui iuris.
Segundo a decisão do Santo Padre Bento XVI, na Assembleia sinodal participarão ex officio todos os cardeais africanos, sem limite de idade, como também os presidentes das 36 Conferências Episcopais e Chefes das duas Igrejas Orientais sui iuris (Copta e Etíope). Para assegurar uma adequada representação do episcopado, para cada 5 bispos o fração de 5 prevê-se a eleição de 1 bispo representante. Além disso, seria desejável ter pelo menos um representante de cada país africano.
Segundo as normas do Ordo Synodi Episcoporum, o Santo Padre completou o número dos Padres Sinodais. Em particular, nomeou os representantes dos episcopados de outros continentes, o de países que possuem um considerável número de católicos de origem africana. Estiveram presentes também os bispos representantes de países que oferecem notável ajuda à Igreja Católica na África tanto como agentes, quanto como missionários e missionárias, e também ajuda financeira. Além disso, como gesto de reconhecimento da obra bem realizada, Sua Santidade incluiu entre os Padres sinodais os membros do Conselho Especial para a África que por vários motivos não foram eleitos por seus irmãos.
O Santo Padre Bento XVI, aceitou a proposta do Conselho Especial de convidar um significativo número de auditores, homens e mulheres, empenhados na evangelização e na promoção humana na África. Deste modo, espera-se ter uma visão mais ampla da vida eclesial e social do continente, também do ponto de vista dos leigos cristãos. Obviamente, também a tarefa dos peritos é importante, sobretudo para ajudar os dois Secretários Gerais durante os trabalhos sinodais.
Neste ponto pode ser útil assinalar alguns procedimentos metodológicos cuja prática deverá facilitar os trabalhos desta Assembleia sinodal e reforçar ainda mais as relações de comunhão eclesial entre os Padres sinodais.
1) No início da Assembleia Sinodal recomenda-se muito a leitura do Vademecum que cada participante recebeu. Nele está indicado detalhadamente a maneira de proceder, observando as normas da Carta Apostolica sollicitudo e do Ordo Synodi Episcoporum, e segundo a prática experimentada nos Sínodos precedentes.
2) Conforme o Calendário dos trabalhos, inserido em língua latina no final do Vademecum, estão previstos 20 Encontros gerais e 9 sessões dos Círculos menores.
3) Para facilitar uma participação maior de todos, cada padre sinodal poderá intervir na sala sinodal por 5 minutos.
4) Além disso, no final da Reunião Geral da tarde, das 18 às 19, será realizada uma hora de debate livre. No primeiro dia a discussão durará mais tempo, necessário para reflectir sobre a aplicação da Ecclesia in Africa. Depois de uma apresentação orgânica, feita pelo Padre sinodal, Dom Laurent Monsengwo Pasinya, arcebispo de Kinshasa, será aberto o diálogo que permitirá rever o entusiasmo com o qual foi realizada a primeira Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos. Além disso, tal ocasião permitirá evidenciar resultados positivos, como também aspectos que não foram suficientemente postos em prática ou que deveriam ser aplicados mais a fundo. Tal discussão servirá para introduzir os trabalhos em continuidade ideal com a Assembleia sinodal realizada há 15 anos.
5) É muito importante ressaltar que a discussão livre deverá ser circunscrita ao tema do Sínodo: “A Igreja na África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz: Vós sois o sal da terra... vós sois a luz do mundo (Mt 5, 13. 14)”. Trata-se de um tema muito importante e rico de conteúdo, que precisa de ser aprofundado sob vários aspectos eclesiais e de ser concretizado em iniciativas de actividade pastoral. Os Presidentes Delegados devem prestar atenção para que o debate não saia do tema estabelecido.
6) De maneira análoga, os Padres sinodais deverão seguir, nos seus pronunciamentos, o mais possível, a estrutura do Instrumentum laboris, para orientar a discussão. Eles são cordialmente convidados a indicar nas suas intervenções o número, ou pelo menos, a parte do Instrumentum laboris. A Secretaria Geral procurará considerar isso ao compor a lista de ordadores. Portanto, devem falar em primeiro lugar aqueles que tratarão do primeiro capítulo do Instrumentum laboris, depois os do segundo, do os terceiro e, por fim, os do quarto. Obviamente, os Padres já podem inscrever-se, indicando a parte do Documento que pretendem trabalhar.
7) As sínteses dos textos pronunciados, feitos pelos Padres sinodais, normalmente são publicadas. Se alguém não quiser que o seu pronunciamento seja difundido, deve comunicar à Secretaria Geral. Como se sabe, é sempre possível também entregar à Secretaria Geral os textos in scriptis que serão tomados em consideração pela Presidência da Assembleia Sinodal.
8) As línguas usadas nos debates são quatro: francês, italiano, inglês e português. Será feita nestas línguas a tradução simultânea.
9) Nas mencionadas línguas será possível fazer as Proposições. Pede-se que cada proposição seja concisa e breve, tratando um único tema. Não é muito útil repetir a conhecida Doutrina da Igreja. Os Padres sinodais deverão propor conselhos a fim de favorecer uma renovação da vida eclesial e uma prática pastoral da Igreja para promover a evangelização e a promoção humana, especialmente em relação à reconciliação, à justiça e à paz.
10) O uso dos meios electrónicos tornou-se comum. Também na Assembleia Sinodal procurar-se-á fazer uso apropriado a fim de facilitar o diálogo e aprofundar a comunhão episcopal. Além disso, serão feitas várias eleições e votações com o aparelho que os senhores têm à disposição. Agradecemos antecipadamente os técnicos pelo bom funcionamento do sistema e pela assistência. No entanto, os Padres devem ajudar-se reciprocamente, sobretudo no início das sessões, indicando ao seu próximo, se necessário, como usar tais meios.
11) Para favorecer uma maior participação dos Padres sinodais, recomenda-se que um Padre sinodal chamado a exercer uma função não assuma outro compromisso dentro do Sínodo.
12) Segundo a práxis já determinada, também nesta Assembleia Sinodal participarão em elevado número alguns Delegados irmãos, representantes de outras Igrejas e comunidades eclesiais. De modo particular, estou feliz por anunciar a participação do Patriarca da Igreja Ortodoxa Tewahedo Etíope, Sua Santidade Abuna Paulos. Ele aceitou o convite do Sumo Pontífice Bento XVI e, se Deus quiser, estará connosco terça-feira de manhã, dia 6 de Outubro. Desde agora damos graças ao Senhor pela qualificada participação no Sínodo do representante da mencionada Igreja cristã presente na África ininterruptamente desde os tempos apostólicos.
13) Dois convidados especiais serão aguardados durante os trabalhos sinodais. Trata-se do Sr. Jacques Diouf, Diretor-Geral da FAO, que deverá informar os Padres sinodais sobre os esforços da FAO para garantir segurança alimentar na África. O Sr. Rudolf Adada, Chefe da Joint United Nations/African Union Peacekeeping Mission para o Darfur, foi convidado para falar sobre os esforços de paz na região de Darfur, que interessa a vários países africanos.

VI. Conclusão

“Reconciliai-vos com Deus !” (2 Cor 5,20). O premente convite do Santo Padre Bento XVI aos cristãos da África, repete a exortação de São Paulo aos cristãos de Corinto. Iluminado pelo Espírito Santo, dom do Senhor ressuscitado, o Apóstolo dos Gentios experimentou pessoalmente a importância da reconciliação para a fé cristã: “Tudo isto porém vem de Deus, que nos reconciliou consigo por meio de Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação” (2 Cor 5, 18). A reconciliação requer o perdão recebido pelo pai e dado aos irmãos, segundo o ensinamento do Senhor Jesus: “perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos aqueles que nos devem” (Lc 11, 4; cfr Mt 6, 11). A Igreja anuncia essa feliz Boa Nova da reconciliação e a realiza através dos sacramentos, sobretudo, o Sacramento da Penitência. Trata-se da “reconciliação ‘fonte’ de onde nasce todo gesto ou acto de reconciliação, também no âmbito social” [30]. Nessa reciprocidade é preciso respeitar a justiça, que inclui também a pena por eventuais crimes cometidos. Todavia, é a palavra do nosso Mestre: “Aprendam, pois, o que significa: ‘Eu quero a misericórdia e não o sacrifício’. Porque eu não vim para chamar os justos, e sim os pecadores” (Mt 9, 13). A misericórdia cristã não anula, mas vai além da justiça humana.
O tema da reconciliação, fonte de paz e de justiça, torna-se o coração da reflexão da Assembleia Especial para a África . Isso pressupõe o Anúncio da Boa Nova e a sua assimilação. Ao mesmo tempo, diante de tantos exemplos de conflitos, de violência e também de ódio, parece urgente começar uma nova evangelização também lá onde a Palavra de Deus já foi anunciada. A situação muda de um país para o outro. Do Egipto, Etiópia e Eritreia, onde se amadureceu a continuidade do cristianismo com os tempos apostólicos, até à África subsaariana onde algumas Igrejas particulares celebraram 500 anos de fundação, enquanto outras recordaram solenemente o primeiro século de evangelização. Se formos da costa para o interior do continente existem países em que os primeiros missionários chegaram há 50 anos. De qualquer forma, todos os cristãos são chamados a reconciliar-se com Deus e com o próximo. Nessa urgente e permanente tarefa, eles devem ser guiados pelos pastores, bispos, sacerdotes, religiosos, diáconos, como também pelas pessoas de vida consagrada. A disponibilidade para reconciliação é o barómetro da profundidade da evangelização de uma pessoa, de uma família, de uma comunidade, de uma nação, como também das Igrejas particulares e universal. Somente de um coração reconciliado com Deus, podem nascer iniciativas de caridade e de justiça em relação ao próximo e a toda a sociedade.
“Vós sois o sal da terra... vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 13. 14). Essas fortes palavras, que são ao mesmo tempo a constatação da dignidade cristã e um convite a vivê-la melhor, são dirigidas a todos os cristãos, hoje de modo particular aos da África. Eles sabem, na graça do Espírito Santo, que a resposta afirmativa pressupõe a conversão e a firme vontade de seguir Jesus Cristo. A Igreja Católica na África deve iluminar ainda mais as complexas realidades do continente com a luz do Senhor Jesus, tornando-se cada vez mais o sal da terra africana, dando gosto divino às realidades de todo tipo.
A Igreja na África é muito dinâmica, como mostram os dados estatísticos. Enquanto damos graças a Deus com o coração cheio de reconhecimento, rezemos ao Deus Ommnipotente Pai, Filho e Espírito Santo para que este crescimento quantitativo se torne cada vez mais qualitativo. De tal modo, os cristãos, guiados por seus Pastores, poderão aproximar-se do ideal para o qual o Senhor Jesus chama todos os seus discípulos, ou seja, para que se tornem o sal da terra e a luz do mundo (cfr Mt 5, 13. 14). Somente unidos a Ele, que dá sentido a tudo o que existe e, sobretudo, à existência humana, os cristãos podem desempenhar a vocação de ser sal da terra, de oferecer o sabor divino, eterno, aos bens terrenos, às coisas materiais das quais se devem servir para realizar a sua vida humana de maneira cristã. Somente revestindo-se de Jesus Cristo, luz do mundo, os cristãos podem reflectir esta luz nas trevas do mundo actual, conduzindo tantos homens de boa vontade, na busca da luz verdadeira, rumo à sua fonte inesgotável: o Senhor Jesus, morto e ressuscitado, aquele que é o “Alfa e o Ómega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim” (Ap 22, 13).
Confiemos a realização deste propósito à intercessão de todos os santos africanos, de maneira especial a bem-aventurada Virgem Maria, fazendo nosso o desejo do Santo Padre Bento XVI para que a Igreja na África “possa continuar crescendo na santidade, no serviço da reconciliação, da justiça e da paz [...] para que o trabalho da segunda Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos possa soprar sobre o fogo dos dons que o Espírito derramou sobre a Igreja na África [..] Deus abençoe a África!” [31].
Obrigado pela escuta paciente. Que a graça do Espírito Santo nos acompanhe no nosso trabalho sinodal.

NOTAS

[1] Bento XVI, Discurso ao Conselho Especial para a África (Iaundê, 19 Março de 2009): L’Osservatore Romano, 20-21 de Março 2009, p. 14.
[2] Ibidem.
[3] Ibidem.
[4] Ibidem.
[5] Bento XVI, O discurso do Papa à chegada à capital dos Camarões, (Iaundê 17 de Março de 2009): L’Osservatore Romano, 19 de Março de 2009, p. 5.
[6] Ibidem.
[7] Ibidem.
[8] Ibidem.
[9] Cf. Secretaria Status Rationarium Generale Ecclesiæ, Annuarium statisticum Ecclesiæ 1994, Cidade do Vaticano.
[10] Cf. Secretaria Status Rationarium Generale Ecclesiæ, Annuarium statisticum Ecclesiæ 2007, Cidade do Vaticano 2006.
[11] Durante os 25 anos, a Fundação distribuiu cerca de 40.000.000 Dólares americanos por 9 Países: Burkina Faso, Cabo Verde, Chade, Gâmbia, Guiné-Bissau, Níger, Mali, Mauritânia e Senegal, financiando projectos de acesso à água e de plantação nos terrenos cultiváveis, como também de formação e educação.
[12] A Fundação está confiada ao Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde.
[13] É preciso mencionar, em ordem alfabética, as seguintes: AVSI (Associação Voluntários para o Serviço Internacional); Caritas Internationalis; Catholic Relief Services (CRS); Comunidade de Santo Egídio; Konrad Adenauer Stiftung; International Commission for Catholic Prison Pastoral Care (ICCPPC); Misereor; Pax Christi International; COSMAM (Confederation des Conferences des Superior(s)s Majeur(s)s d’Afrique et de Madagascar); Rencontre et developpemente (CCSA); Associação nolite timere Onlus, Adopções à distância.[14] African Forum Catholic Social Teaching, Harare, Zimbábue; Institut des Artisans de Justice et de Paix (IAJP), Cotonou, Benim; Centre Ubuntu, Bujumbura, Burundi; Mediation Sociale et Justice et Paix, Iaundê, Camarões; Centre d’Etudes pour l’Action Sociale (CEPAS), Kinshasa, Congo; Centre Carrefour, Port-Matthurin, Via Mauritius; Center for Social Justice and Etihcs/ Catholic University of Eastern Africa (CUEA), Nairobi Quénia; Institute of Sociale Ministry in Mission Tangaza College/ Catholic University of Eastern Africa (CUEA); Justice and Peace Desk Conference of Major Superiors, Lesoto; Catholic Institute for Development Justice and Peace (CIDJAP), Enugu, Nigéria; Christian Professionals of Tanzania (CPT), Dar es Salam, Tanzânia.
[15] Cfr. Secretaria Status Rationarium Generale Ecclesiæ, Annuarium statisticum Ecclesiæ 2007, Cidade do Vaticano 2009, p. 357.
[16] Cf. Riccardo Cascioli, Aids, África e mentira, Avvenire, 28 Março 2009, p. 3.
[17] João Paulo II, Discurso do Santo Padre na Reunião do Conselho pós-sinodal da Assembleia Especial para a África da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos (15 de Junho de 2004): L’Osservatore Romano, 17 de Junho de 2004, p. 7.
[18] João Paulo II, Discurso aos participantes do Simpósio dos Bispos para a África e da Europa promovido pelo Conselho das Conferências Episcopais da Europa (13 de Novembro de 2004): AAS XCVI, 2004, p. 955.
[19] Ibidem.
[20] João Paulo II, Carta ao Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos por ocasião da 13a reunião do Conselho Especial para a África da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos (23 de Fevereiro 2005): http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/letters/2005/documents/hf_jp-ii_let_20050223_eterovic-synod_en.html.
[21] Ibidem.
[22] Ibidem.
[23] Bento XVI, Audiência Geral de 22 de Junho de 2005: L’Osservatore Romano 23 de Junho de 2005, p. 1.
[24] O anúncio foi publicado a 29 de Junho de 2007 na edição do L’Osservatore Romano de sexta-feira 29 de Junho de 2007, p. 1.
[25] Não responderam as Conferências Episcopais da Gâmbia e Serra Leoa, de Guiné Equatorial, do Lesoto, do Malavi e do Oceano Índico (C.E.D.O.I.).
[26] Respondeu somente a AMECEA (The Association of Member Episcopal Conferences in Eastern Africa).
[27] Não chegou a resposta da Igreja Metropolita sui iuris Etíope.
[28] Não responderam 2 Congregações: Para as Causas dos Santos e para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedade de Vida Apostólica; 2 tribunais: Penitenciaria Apostólica e Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica; 5 Pontifícios Conselhos: para a Promoção da Unidade dos Cristãos, para os Textos Legislativos, para o Diálogo Inter-religioso, para a Cultura e para as Comunicações Sociais; e a Prefeitura para os Assuntos Económicos da Sé Apostólica.
[29] Cf. L’Osservatore Romano, 15 Fevereiro de 2009, p. 1.
[30] João Paulo II, Exortação Apostólica Pos-sinodal Reconciliatio et Paenitentia, 4: AAA LXXVII, 1985, p. 194.
[31] Bento XVI, Discurso do Papa ao chegar à capital dos Camarões (17 de Março de 2009): L’Osservatore Romano, 19 de Março de 2009, p. 5.

[00010-06.11] [RE000] [Texto original: italiano]

- RELATÓRIO ANTES DO DEBATE DO RELATOR GERAL, S.EM.R. CARD. PETER KODWO APPIAH TURKSON, ARCEBISPO DE CAPE COAST (GANA)
INTRODUÇÃO


Com o canto do “Te Deum...” e com toda a sala do sínodo onde ressoava este hino de ação de graça ao meio-dia do dia 7 de Maio de 1994, encerrou-se formalmente a Primeira Assembleia Especial para África do Sínodo dos Bispos. O Sínodo teve como tema principal: “A Igreja em África e a sua missão evangelizadora rumo ao ano 2000: ‘Vós sereis minhas testemunhas’ (At 1: 8)». Ele lançou uma mensagem à Igreja e ao mundo que reflectiu os pontos essenciais das acções do sínodo, e votou as várias resoluções, sob forma de Proposições. A partir desse ponto, os Padres sinodais, e toda a Igreja, aguardaram intensamente a Exortação Apostólica Pós-Sinodal do Santo Padre, Presidente do Sínodo, que haveria de reunir os frutos do Sínodo em uma mensagem que marcaria a definitiva conclusão das actividades colegiais e consultivas do Sínodo. Foi o que o Santo Padre fez ao divulgar a Exortação Apostólica Pós-Sinodal “Ecclesia in Africa” (“A Igreja na África”) e ao apresentá-la à África e ao mundo em Iaundé, nos Camarões, no dia 14 de Setembro de 1995, e depois em Joanesburgo, na África do Sul, no dia 17 de Setembro de 1995 e, por fim, em Nairobi, no Quénia, no dia 19 de Setembro de 1995. [1]

I. DA PRIMEIRA À SEGUNDA ASSEMBLEIA ESPECIAL PARA A ÁFRICA

O Papa João Paulo II descreveu o Sínodo, concluído com a publicação da sua Exortação Apostólica Pós-Sinodal Ecclesia in Africa, como “o sínodo de ressurreição e de esperança”. [2] Aquela assembleia sinodal, que havia sido convocada segundo um espírito contrário à prevalecente visão pessimista do mundo em relação à África, e contra a visão segundo a qual a situação do continente é “deploravelmente desfavorável”, representando um desafio peculiar para a missão evangelizadora da Igreja nos últimos anos do século XX. Supunha-se, todavia, que fosse um momento decisivo na história do continente. [4]
Quando o Santo Padre e os Padres sinodais se reuniram para o primeiro sínodo, tiveram que considerar “elementos quer positivos quer negativos (luzes e sombras) nos ‘sinais dos tempos’”. [5] Contemplaram e celebraram os sucessos da evangelização e o crescimento das Igrejas locais no continente; mas ao mesmo tempo, lamentaram e deploraram uma série de misérias e males do continente. Eles tinham o heroísmo e o espírito pioneiro dos missionários a honrar; mas tinham também a criticar o pouco empenho e zelo pastoral da Igreja local, o surgimento de tendências sincréticas, a proliferação das seitas, a politização do Islão e a sua intolerância às críticas. Tinham a saudar com otimismo a formação de democracias e o despertar de uma profunda tomada de consciência cultural, social, económica e política no continente; mas também a lastimar os regimes despóticos e ditatoriais, o mau governo, a corrupção difundida e o preocupante aumento da pobreza. A situação do continente era extremamente ambivalente assim como paradoxal; e a rápida sucessão de acontecimentos tais como o colapso do apartheid e a triste deflagração do genocídio em Ruanda exemplificam muito bem este paradoxo.
Tendo em conta esta combinação paradoxal, na qual o mal e o sofrimento pareciam prevalecer sobre o bem e a virtude, o cenário pascal da Primeira Assembleia Especial para a África inspirou a mensagem de esperança para o continente. Com a publicação da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Ecclesia in Africa, a Igreja em África ganhou um novo impulso e um novo élan para a sua vida e actividade no continente, como Igreja Missionária, isto é, Igreja com missão. Com seu clima pascal e a Exortação Apostólica Pós-Sinodal, o Sínodo deu um novo impulso à Igreja em África, nomeadamente:
- esperança em Cristo ressuscitado, como novo estímulo para viver o seu “projecto” e a sua missão evangelizadora;
- um novo paradigma: a Igreja como Família de Deus, para oferecer uma perspectiva e um sistema de valores para viver o seu “projecto”, mas, sobretudo promover a unidade e a comunhão de todos, apesar das diferenças;
- um conjunto de prioridades pastorais: evangelização como Proclamação, evangelização como Inculturação, evangelização como Diálogo, evangelização como Justiça e Paz e evangelização como Comunicação, para guiar a implementação do seu “projecto” e missão numa África com uma combinação paradoxal de deploráveis misérias humanas e grandes heroísmos, dentro e fora da Igreja. [6]
O período que seguiu a publicação da Exortação Apostólica Pós-Sinodal foi, portanto, como acreditava também o Papa João Paulo II [7], um tempo para aprofundar esta experiência sinodal e implementar Ecclesia in Africa com empenho perseverante e conjuntamente com o objectivo de recuperar novas forças e uma esperança com bases sólidas para o continente em dificuldade. Este período pós-sinodal encontra-se agora no seu décimo-quarto ano; e se, por um lado, a situação do continente, das suas ilhas e da Igreja ainda mantém algumas “luzes e sombras” [8] que ocasionaram o primeiro sínodo, por outro, a situação mudou bastante. Esta nova realidade requer uma análise meticulosa, que vise renovados esforços de evangelização, que implicam um exame mais aprofundado dos temas específicos, importantes para o presente e o futuro da Igreja Católica neste grande continente” [9].
De acordo com esta ideia, reunidos novamente na Segunda Assembleia Especial para a África quinze anos depois da primeira, devemos nos imergir profundamente no primeiro Sínodo [10], e analisar, com consciência e determinação,“os novos dados eclesiais e sociais do continente” [11], que influem hoje na missão da Igreja no continente e exigem que a Igreja Africana, para além de se ver como “testemunha de Cristo”, também se veja como “o sal da terra, a luz do mundo” e “ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz”.

OS NOVOS DADOS ECLESIAIS E SOCIAIS DO CONTINENTE

Dados eclesiais

a. Subsidia Fidei: é importante notar que o estímulo e o impulso dados pela Primeira Assembleia Especial para a África à Igreja em África no sentido de renovar suas forças e fundamentar com mais firmeza sua esperança no Senhor, foram muito acentuados graças a uma série de eventos eclesiais sucessivos e às actividades do Papa e da Cúria Romana, que podemos definir como “subsidia fidei” para a Igreja. Assim, o “Sínodo sobre a Eucaristia” reiterou a centralidade da Eucaristia na vida da Igreja-Família de Deus, como símbolo da unidade. O Sínodo sobre “O Bispo: Servidor do Evangelho....” relembrou aos Bispos e Pastores o seu ministério essencial, isto é, ser anunciadores do Evangelho na Igreja-Família de Deus; e o Sínodo sobre “A Palavra de Deus” recordou à Família de Deus a eterna e imperecível semente da sua existência. Além disso, as Encíclicas do Papa “Deus caritas est”, “Spe salvi”, “Caritas in veritate”, as suas homilias e discursos na recente viagem à África (Camarões e Angola) proporcionaram catequeses de inestimável valor para a Igreja em África. Por fim, os Dicastérios da Cúria Romana organizaram seminários sobre:
- “Liturgia” (Kumasi 2007), com o objectivo de orientar a obra permanente de inculturação na liturgia.
- A “Doutrina Social da Igreja” (Dar-es-Salam 2008) para promover o conhecimento e a difusão dos ensinamentos sociais da Igreja.- “Imigração” (Nairobi 2008) para discutir a imigração e as novas formas de escravidão.
- O “Trabalho das Comissões Teológicas das Conferências Episcopais” (Dar-es-Salam 2009) para recordar aos Bispos a importância da sua obra magistral na Igreja, inclusive quando pedem ajuda a peritos.
Estes encontros aumentaram a consciência da Igreja em África relativamente à sua vida e ao seu ministério.

b. O crescimento extraordinário da Igreja em África: nas última décadas (inclusive nos anos seguintes à Primeira Assembleia especial para a África), tornou-se normal falar deste crescimento, cujos índices, como afirmado nos Lineamenta e no Instrumentum Laboris o comprovam. Todavia, as reais novidades nos sinais de crescimento da Igreja no continente e nas suas Ilhas são:
- A ascendência de membros africanos de congregações missionárias a posições de liderança e a funções tais como: membros de conselhos, vigários gerais, e até superiores gerais.
- Busca da auto-suficiência por parte das Igrejas locais, que realizam investimentos capazes de gerar lucro (bancos, uniões de crédito, companhias de seguro, agências imobiliárias e lojas).
- Aumento significativo de estruturas e instituições eclesiais (seminários, universidades católicas e institutos católicos de ensino superior, centros de formação permanente para religiosos, catequistas e leigos, escolas de evangelização), assim como o aumento de especialistas e pesquisadores nos campos da fé, missão, cultura e inculturação, história, evangelização e catequese.
Todavia, a Igreja em África enfrenta também enormes desafios:
- Quando se fala de uma Igreja próspera em África, esquece-se que em vastas áreas ao norte do Equador ela é pouco presente. O crescimento extraordinário da Igreja verificou-se sobretudo ao sul do Sahara.
- A fidelidade e o compromisso de alguns sacerdotes e religiosos à sua vocação.
- A necessidade de evangelizar (ou re-evangelizar), para obter uma conversão profunda e permanente.
- A perda de membros que passaram para novos movimentos religiosos ou para as seitas. Os jovens católicos vão para o exterior (Europa e América) e retornam não-católicos, porque nas Igrejas de fora não se sentem envolvidos.
- A queda dos índices de crescimento demográfico na Europa, tradicionalmente cristã, e na América.
c. O Sínodo para a África e o “Simpósio das Conferências Episcopais da África e do Madagáscar” (SECAM)”: o aprofundamento da experiência sinodal africana no continente e nas ilhas dependeu em grande parte de um organismo específico da Igreja continental, o “SECAM”. Durante o Concílio Vaticano II, os Bispos africanos, buscando meios idóneos de cooperação, criaram um secretariado para coordenar as suas intervenções e apresentar um ponto de vista (africano) comum ao Concílio. Após o Concílio, e na presença do Papa Paulo VI em Campala (1969), os Bispos africanos decidiram tornar permanente este organismo, com a criação do SECAM. Na época, o SECAM deveria ser uma associação ou instituição permanente que promovesse junto aos Pastores o exercício de uma solidariedade pastoral orgânica no continente. Deveria ser um “instrumento dos Bispos para promover no continente a Evangelização na co-responsabilidade” [12]; foi a este organismo que o Papa João Paulo II atribuiu a ideia originária de um Sínodo para a África [13].
Durante a II Assembleia Especial para a África, seria oportuno que os Pastores do continente examinassem novamente a necessidade da existência do SECAM e o engajamento dos mesmos em relação ao organismo.
Ao abordar “alguns pontos críticos da vida das sociedades africanas” [14], o Instrumentum Laboris identificou e discutiu muitos destes novos dados sociais. Queremos acrescentar poucas notas de rodapé que consideramos importantes e deixar à assembleia sinodal a tarefa de completar o quadro.
d. Notas Sócio-históricas ao Instrumentum Laboris: em 1963, durante um encontro da Organização para a Unidade Africana (OAU), os líderes africanos decidiram manter alguns dos vestígios da era colonial, confirmando as fronteiras e a descrição dos estados, independentemente do seu caráter artificial. Todavia, essa decisão não foi seguida por um equivalente aumento do nacionalismo, que valoriza as diferenças étnicas, privilegiando o bem comum da nação sobre os interesses étnicos regionais. Por esse motivo a diversidade étnica continua a representar focos de conflitos e tensões, que minam até mesmo o sentido de pertença comum à Igreja-Familia de Deus.
A escravidão e o escravismo, que o mundo árabe levou por primeiro à costa oriental africana, e que os europeus, com a colaboração dos próprios africanos, conheceram no século XIV
e estenderam a todo o continente, representou um movimento forçado de africanos. Hoje as migrações voluntárias dos filhos e das filhas da África em direção da Europa, América e Extremo Oriente por vários motivos, coloca-os em uma condição servil que exige a nossa atenção e o nosso cuidado pastoral.
e. Nota sócio-política ao Instrumentum Laboris; intimamente interligadas ao desenvolvimento das situações pós-coloniais do continente foram as celebrações de independência e o nascer de estados e nações africanas com governos geridos apenas por africanos. O exercício do poder político e de governo foi geralmente criticado e muitas vezes viciado por despotismos, ditaduras, politização da religião e da etnia, desprezo pelos direitos dos cidadãos, falta de transparência e de liberdade de imprensa, etc.
Mas o período sucessivo à I Assembleia para a África, isto é, mesmo no início do Terceiro Milénio, parecia ter coincidido, no continente, com um desejo emergente nos próprios líderes africanos de um “Renascimento africano” (Thabo Mbeki), “uma nova contemporânea auto-asserção africana para a construção de uma civilização africana em sintonia com os ditames dos nossos tempos, nomeadamente a prosperidade económica, a liberdade política e a solidariedade social”. [15]
Os líderes políticos africanos pareciam determinados a mudar o vulto da administração pública no continente; e realizaram uma auto-avaliação crítica da África que indicou o mau governo como a causa da pobreza e dos sofrimentos em África. Delinearam então projetos para o bom governo e para a formação da classe política, capaz de acolher a parte melhor das tradições ancestrais africanas e de a integrar com os princípios de governo das sociedades modernas. Adotaram um quadro estratégico (NEPAD) para orientar as ações e guiar a renovação da África através de lideranças políticas transparentes [16]. Consegue, a Igreja em África, reconhecer o compromisso político dos seus filhos e das suas filhas e dar-lhes o estímulo da mensagem evangélica, que os desafie para que sejam a “luz das (suas) nações” e o “sal das suas comunidades”, exercendo uma “liderança ao serviço dos outros”?
f. nota sócio-económica ao Instrumentum Laboris: a relação radical entre governo e economia é claro; demonstra que um mau governo produz uma má economia. Isto explica o paradoxo da pobreza de um continente que é, sem dúvida, um dos mais ricos de potencialidades do mundo. A consequência desta “equação governo-economia” é que quase nenhum país africano consegue respeitar as próprias obrigações de orçamento, quer dizer, os programas financeiros nacionais planificados, sem recorrer às ajudas externas sob forma de obrigações ou de empréstimos. Este financiamento contínuo dos orçamentos nacionais, recorrendo a empréstimos, não faz outra coisa senão aumentar uma dívida nacional que já é opressora. A Igreja universal junto com a Igreja Africana realizaram uma campanha para o cancelarem no ano do Grande Jubileu.
As relações económicas tradicionais dos estados africanos com os seus ex-colonizadores, por exemplo o “Commonwealth”, foram substituídos por outras poderosas alianças económicas entre os estados africanos individualmente ou em bloco com os Estados Unidos (Millenium Challenge Account), a Comunidade Económica Europeia (Lomé Culture, Yaoundé Agreement e o Cotonou Agreement) [17]) e o Japão (TICAD I-III). Recentemente, a China e a Índia, ávidas de recursos naturais, também entraram em cena e manifestaram interesse por cada aspecto possível e imaginável das economias nacionais africanas. No centro da maioria destes protocolos e acordos está o debate sobre “comércio e apoio”, que consideram os países que se desenvolveram, fizeram-no através do comércio (e não apenas de “matérias-primas”) e não graças a uma “síndrome de dependência das ajudas”. Por isso, são uma razão de grande interesse para as jovens economias comerciais africanas, as decisões e as condições impostas pela Organização Mundial do Comércio (WTO) e pelo mundo desenvolvido.
Como já dissemos, os líderes africanos criaram há pouco tempo uma estrutura estratégica (NEPAD) [18] com o objetivo de guiar as parcerias económicas da África e a emergência da pobreza, e os compromissos dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Como Dr. Uschi Eid coloca, “Só estimulos e esforços vindos da África levarão ao sucesso” [19]. Nesse sentido, As emergências da África que vem de suas dores econômicas devem ser trabalhadas por Africanos e lideradas por eles [20]. Seus corações devem ser convertidos e os olhos curados para apreciar novos caminhos para administrar a saúde pública em prol do bem-estar comum; e isto remete à missão evangelizadora da Igreja no continente e nas ilhas.

g. Notas sociais no Instrumentum laboris: Os efeitos das situações acima (históricos, políticos, económicos) determinam quão saudável é (estável, pacífica, próspera) a sociedade Africana; e eles também constituem as fontes tradicionais dos desafios para a missão evangelizadora da Igreja no continente e nas ilhas.
Existem também certos fenómenos globais e iniciativas internacionais, que causam impacto na sociedade Africana e em algumas das suas estruturas, que merecem ser avaliadas, e que criam novos desafios para a Igreja. Enquanto a importância, que se está a dar cada vez mais ao lugar e ao papel das mulheres na sociedade é um feliz desenvolvimento, as emergências globais dos estilos de vida, valores, atitudes, associações, etc., que desestabilizam a sociedade, é inquietante. Isso ataca as bases sobre as quais se apoia a sociedade (matrimónio e família), diminuem o capital humano (migração, tráfico de drogas e comércio de armas) e põem a vida do planeta em perigo.
O Matrimónio e a Família têm sofrido estranhas e terríveis pressões para redefinir sua natureza e funções na sociedade moderna. Matrimónios tradicionais, que fundam famílias, são desafiados por uma crescente proposta de uniões e relacionamentos alternativos, desprovidos de conceitos de uniões duradouras, não-heterossexual em caráter, e sem o intuito da procriação. Esses também encontram defensores dentro da Igreja em certas partes do continente. Esse ataque violento ao matrimónio e à família é impulsionado e apoiado por grupos que propõem um glossário que deseja que sejam substituídos os tradicionais conceitos e termos sobre matrimíonio e família com novos conceitos. O alvo é estabelecer uma nova ética global sobre o matrimónio, a família, a sexualidade humana e os temas relacionados do aborto, contracepção, aspectos de engenharia genética, etc.
Tráfico de drogas e tráfico de armas: Certas partes do continente tornaram-se atalhos estabelecidos para o tráfico de drogas para a América Latina e Europa. Na África Ocidental, o tráfico de drogas é citado como causa oculta da instabilidade e perturbação política na Guiné-Bissau, e agora, também na Guiné. Quando em Julho, os militares da Guiné declararam um estado de alerta máximo, foi por causa de tentativas de invasão, sustentadas por cartéis de drogas.
As drogas não só passam através de partes do continente e das ilhas, elas encontram usuários em qualquer lugar. O uso de drogas e o vício entre os jovens tornou-se rapidamente a maior fonte de dissipação do capital humano na África e nas ilhas, juntamente coma migração, conflitos e doenças, como HIV-SIDA e a malária.
Intimamente relacionado com o tráfico de drogas e ao aventurismo político está o tráfico de armas: em pequena e larga escala. A Igreja em África, reunida em Assembleia Especial associa-se com a Santa Sé para agradecer as bem-vindas iniciativas da ONU para deter o tráfico ilegal de armas, e para realizar todo comércio legal de armas mais transparente. Isso se refere particularmente aos estudos em andamento sobre a preparação de um acordo com força jurídica sobre a importação, exportação e a canalização de armas convencionais através da África.
Meio ambiente e Mudanças climáticas: A cobertura ocasional de “smog” que se lança sobre a maior parte da África Oriental, acompanhada pela diminuição das chuvas, a seca e fome são usualmente considerados um efeito do El niño. Mas, isso aponta quanto são duras as condições climáticas geralmente existentes no continente, e como ao contrário o precário equilíbrio ecológico em partes da África pode ser afectado pelas observadas “mudanças climáticas” no planeta. Então a ONU e cúpulas mundiais sobre as mudanças climáticas, emissões verdes de gás, degradação da camada de ozónio, como a que acontecerá em dezembro em Copenhagem deve incluir um pedido de apoio da África, enquanto ela assina para explorar e para desenvolver fontes alternativas de energia limpa (sol, vento, marés, biocombustível, etc.).
No fim dessa pesquisa, a qual se admite incompleta, está claro que, embora o continente e a Igreja no continente ainda encontram-se em situação difícil, podem modestamente ainda regozijar-se por suas conquistas e performance positiva, e começar a repudiar generalizações estereotipadas sobre os conflitos, a fome, a corrupção e má governação. As quarenta e oito nações que perfazem a África sub-saariana mostram grandes diferenças na situação das suas igrejas, seus governos e sua vida socioeconômica. Fora dessas quarenta e oito nações, somente quatro: Somália, Sudão, Nigéria e partes da República Democrática do Congo estão agora em guerra; e pelo menos duas estão em guerra por interferência externa: a República Democrática do Congo e Sudão. De facto, existem menos guerras na África que na Ásia.
De modo crescente, comerciantes da guerra e criminosos de guerra foram denunciados, acusados e processados. Um oficial da República Democrática do Congo foi processado, Charles Taylor, da Libéria, está diante do Tribunal internacional.
A verdade é que a África foi sobrecarregada por muito tempo pela mídia com tudo que é repugnante à humanidade; e esse é o tempo de “mudar a marcha” e ter a verdade sobre a África dita com amor, promovendo o desenvolvimento do continente que poderia ajudar o bem-estar de todo o mundo [21]. Os membros do G-8 e os países do mundo devem amar a África na verdade! [22] Geralmente considerada por ocupar a décima posição na economia mundial, a África, entretanto, é o segundo mercado emergente do mundo depois da China. Então, como logo após a cúpula do G-8 disse, é um continente de oportunidades. Isso precisa ser verdade também para o povo do continente. É esperado que a busca de reconciliação, justiça e paz, feita particularmente pelos cristãos por suas raízes no amor e misericórdia, possa restaurar totalmente a Igreja-Família de Deus no continente, e por fim, como sal da terra e luz do mundo, deveria curar os “corações humanos feridos, o último lugar oculto pelas causas de toda a desestabilização no continente Africano” [23]. Então, o continente e as suas ilhas irão realizar as oportunidades e os dons doados por Deus.

II. DO SER “FAMÍLIA DE DEUS AO SER SERVIDORES (MINISTROS=DIAKONOI) DE RECONCILIAÇÃO, JUSTIÇA E PAZ”

Como anteriormente observado, quando a primeira Assembleia para África reuniu-se para avaliar a evangelização no continente e nas suas ilhas na passagem do terceiro milénio da fé cristã, ela adoptou o tema Igreja-Família de Deus como princípio-guia para a evangelização da África [24]. A imagem da Igreja-Família de Deus evocava valores como o cuidado para com os outros, solidariedade, diálogo, confiança, aceitação e entusiasmo nas relações. Contudo, evocava também as realidades socioculturais de paternidade, geração e filiação, parentesco e fraternidade, bem como uma rede de relacionamentos que são gerados por essas realidades sociais e nas quais os membros se envolviam. Os relacionamentos constituem a vida de comunhão da família; mas também exigem algo dos membros, cujo cumprimento ao mesmo tempo constitui a sua justiça e torna a relação harmoniosa e pacífica. Quando, entretanto, as exigências dos relacionamentos não são realizadas, a justiça é interrompida e a vida de comunhão resulta ofendida, prejudicada e enfraquecida.
O Instrumentum laboris observa isso e aponta os muitos desafios à comunhão e à ordem social que a indiferença pelas justas exigências dos relacionamentos causa ao continente. A restauração da comunhão e da justa ordem nesses casos é o que a reconciliação espera; e ela toma a forma do restabelecimento da justiça, que por si mesma restitui paz e harmonia à Igreja-Família de Deus e à família da sociedade.
O que segue pretende contribuir para o debate do tema sinodal, fornecendo uma breve base bíblica dos conceitos referidos com a finalidade de reunir exemplos dos termos e da sua interacção nos relacionamentos humanos (na sociedade humana) principalmente na relação de Deus com o homem (humanidade).

a. Servidores (diakonoi) de Reconciliação como Restabelecimento da Justiça

Nas Escrituras. Reconciliação é uma iniciativa divina, uma acção livre e gratuita de Deus para com a humanidade; e o seu propósito é reparar e restaurar a comunhão que convém estabelecer, mas que o pecado ameaça e destrói.
O ensinamento de São Paulo aos Coríntios nessa matéria é muito instrutivo: “Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho; eis que tudo se fez novo! Tudo isso vem de Deus, que nos reconciliou consigo, por Cristo, e nos confiou o ministério desta reconciliação. Porque é Deus que, em Cristo, reconciliava consigo o mundo, já não considerando os pecados dos homens, e pôs nos nossos lábios a mensagem da reconciliação. Portanto, desempenhamos o cargo de embaixadores em nome de Cristo, e é o próprio Deus que exorta por nosso intermédio. Em nome de Cristo rogamo-vos: reconciliai-vos com Deus!”
Reconciliação, portanto, é um acto divino, o qual nós (humanidade) experimentamos, e através dessa experiência tornamo-nos os seus instrumentos e embaixadores.

A Experiência de Reconciliação dos Apóstolos

Os Evangelhos apresentaram a vida e o ministério de Jesus como a obra de salvação do Pai para o género humano. Os discípulos de Jesus foram os primeiros a ser chamados para experimentar a oferta de salvação do Pai em Jesus e fizeram isso de várias maneiras, inclusive através do perdão e da reconciliação. A oferta de “paz” de Jesus aos discípulos na manhã da Ressurreição (Jo 20:19-21), por exemplo, era de perdão pela traição e abandono, bem como de restabelecimento da amizade.
Jesus não pediu uma admissão de culpa por parte de seus discípulos. Não há pedido de perdão; e nenhuma desculpa foi proferida. Simplesmente houve um benigno comentário sobre as suas faltas. Foram oferecidos um perdão gratuito e uma conciliatória saudação de paz.
A Reconciliação aqui é um gesto conciliatório livre e imerecido, no qual o ofendido (Jesus) vai até aos ofensores (os discípulos). Agora enviados a anunciar o Evangelho até aos confins da terra, os discípulos-apóstolos de Jesus desempenham a sua missão como “evangelizadores que foram evangelizados” e como “embaixadores da reconciliação que experimentaram a reconciliação”.

A Experiência de Reconciliação de Paulo

Sucessivamente, Paulo segue os discípulos-apóstolos de Jesus como um pregador da mesma oferta de salvação em Jesus. Contudo, tendo recebido a tarefa de anunciar Jesus nas particulares circunstâncias do seu encontro com o Senhor ressuscitado no caminho de Damasco, também Paulo entende a oferta de salvação em Jesus por parte do Pai como um acto de reconciliação do Pai. Por conseguinte, como ele mesmo admite: “eu que outrora era blasfemo, perseguidor e injuriador. Mas alcancei misericórdia, porque ainda não tinha recebido a fé e o fazia por ignorância. E a graça de nosso Senhor foi imensa...” (1Tm 1:13-14).
Além disso, para Paulo a experiência da salvação foi também uma passagem da hostilidade e inimizade a Cristo e a sua Igreja para a fé em Cristo e a fraternidade com a sua Igreja. Esta passagem da inimizade para a amizade constitui reconciliação; e é uma experiência imerecida que só Deus pode impulsionar e conduzir a fazer. Nisto, Paulo considerou-se a si mesmo um exemplo para aqueles que mais tarde acreditariam em Cristo (cf. 1Tm 1:16).

Reconciliação com Deus (vertical) e entre os seres humanos (horizontal)

Em Jesus: na sua vida e no seu ministério, mas especialmente, na sua morte e ressurreição, Paulo vê Deus Pai que reconcilia o mundo (todas as coisas no céu e na terra) consigo mesmo, relevando os pecados da humanidade (cf. 2 Cor 5:19; Rm 5:10; Cl 1:21-22). Paulo vê Deus Pai que reconcilia judeus e gentios consigo mesmo num corpo através da cruz (Ef 2:16). Mas Paulo também vê Deus reconcilar judeus e gentios, criando um homem novo em lugar de dois (Ef 2:15; 3:6). Assim, a experiência da reconciliação estabelece comunhão a dois níveis: comunhão entre Deus e a humanidade; e através da experiência da reconciliação faz-nos também “embaixadores da reconciliação”. Isso restabelece inclusive a comunhão entre os homens.

Reconciliação entre Deus e a Humanidade

A criação da humanidade à imagem e semelhança de Deus, a eleição de Israel para ser “parte e herança de Deus”, e a redenção da humanidade em Cristo e o selo do Espírito Santo (cf. Ef 1:13; 4:30) direccionam a humanidade para a comunhão com Deus.
Quando a humanidade está alienada e afastada de Deus por causa do pecado (desobediência, idolatria, rejeição de Jesus), a reconciliação concretiza-se no perdão; esta é a obra de Deus [26]. É Deus quem inicia a reconciliação com Israel e a humanidade pecadora e afastada, trazendo-os de volta a Si (Sl 80:3, 7, 19; Os 11; 14) “para servirmos à celebração de sua glória” (Ef 1:12) e de acordo com a “imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade”. (Ef 4:24); e Jesus, “Aquele que não conheceu o pecado, Deus o fez pecado por nós” (2 Cor 5:21; Gl 3:13; Rm 8:5) permanece o nosso significado de reconciliação. Isto, entretanto, é a obra do amor de Deus.
Reconciliação com a Família Humana

Recordando brevemente a história de Jesus e Zaqueu (Lc 19), reconhecemos que o encontro entre eles não leva só a uma conversão que estabelece a comunhão entre Zaqueu e o Senhor. Este encontro leva inclusive a uma conversão que restabelece o relacionamento de Zaqueu com o seu povo. Nesse novo relacionamento, a sua visão do próprio povo também mudou: eram irmãos, não para serem explorados ou defraudados.
A reconciliação, portanto, não está limitada a um Deus que atrai a humanidade afastada e pecadora em Cristo através do perdão dos pecados e do amor. É a restauração dos relacionamentos entre as pessoas através da harmonização das diferenças e da remoção de obstáculos nos relacionamento com a experiência do amor de Deus. Com efeito, este é o factor distintivo da reconciliação no ministério de Jesus Cristo. Por outro lado, as Escrituras atestam muitas formas de reconciliação através de alianças, como:
- o ofensor admite o erro e pede perdão, reconhecendo assim que o ofendido está da parte do direito (rectidão) [28];
- o ofensor nega o erro e então inicia um julgamento para estabelecer quem tem direito;
- o ofendido perdoa unilateralmente e encontra a cessação das hostilidades, estabelecendo a paz e a reconciliação.
Em todos os casos citados, a reconciliação, como uma passagem da hostilidade para a paz, da alienação à comunhão, não é um sacrifício dos direitos e não substitui a justiça. Ao contrário, é o restabelecimento da justiça e o seu fruto.
Em suma, a reconciliação da humanidade ainda afastada pode tomar a forma da vinda dos Judeus e dos Gentios juntos como herdeiros do reino (Ef 2:13-15). Pode ter a forma dos membros de uma comunidade orante que harmonizam as próprias diferenças e restabelecem a paz uns com os outros (Mt 5:23-26; 1 Cor 3:3); e pode também ter a forma de uma comunidade composta por membros que se perdoam reciprocamente as ofensas (Mt 18:15; Lc 17:3-4), e não alimentam raiva e rancor (Ef 4:26). Através do perdão, os membros da família humana constroem uma comunidade de reconciliados (Ef 2: 16-19), cujo perdão mútuo reflecte o do nosso Pai do céu (Mt 6:12; Lc 11:4), o qual iniciou a nossa reconciliação com o seu amor e misericórdia.
Uma perspectiva para o Instrumentum laboris

Eis uma espiritualidade da reconciliação que pode inspirar o debate no Instrumentum laboris, e que se deve tornar a atitude do servidor da reconciliação. Por isso, numa Igreja que é uma família em comunhão, a reconciliação não se torna um estado ou um acto, mas um processo dinâmico, uma tarefa a ser realizada todos os dias, um objectivo a perseguir, uma tentativa sem fim para reatar, através do amor e da misericórdia, amizades interrompidas, vínculos fraternos, confiança e segurança.

B. Servidores (diakonoi) da Justiça (adesão aos princípios morais)

O fruto da reconciliação entre Deus e os homens e dentro da família humana (entre homem e homem), como já foi observado precedentemente, é o restabelecimento da justiça e a busca de uma relação. Ao mesmo tempo, é ética e religiosa, e é motivada pelo amor e pela misericórdia.

Falsas formas de justiça

O conceito de justiça tornou-se secularizado antes de significar:
- meramente “a lei do mais forte”;- um compromisso social para evitar males piores; e
- a virtude da imparcialidade na aplicação geral de uma lei, sem qualquer precaução pela justiça natural[30].
O surgimento do “Espírito do Capitalismo” também acrescentou à alienação do conceito de justiça de algumas raízes transcendentais [31]. A ética da economia, por exemplo, era racionalista e individualista. A principal preocupação era o lucro; e estava distante da necessidade de solidariedade, um “ordo amoris” e de todos os vínculos religiosos e éticos. Consequentemente, toda a noção de justiça social foi eliminada e a justiça foi aplicada às convenções de contratos negociados em conformidade com a lei da oferta e da procura, sem restrições para as empresas individuais. O Estado meramente reforçou a ordem pública e a execução dos contratos, enquanto permanecia rigorosamente neutro em relação ao conteúdo [32].
Ao contrário, a justiça da diaconia cristã é a ordem justa das coisas e a realização da busca equilibrada de relações. É a justiça e a adesão aos princípios morais de Deus e do seu reino (Mt 6:33).
Na actual situação de pecado da humanidade e de corações feridos, de qualquer modo, o Antigo Testamento é firme na visão da justiça que não pode chegar ao homem através da própria força mas é um dom de Deus; o Novo Testamento desenvolve completamente esta visão, fazendo da justiça a revelação suprema da graça salvífica de Deus.

O sentido da “Rectidão do Reino”

A rectidão ou a justiça do reino não é uma justiça suficientemente recompensada, não obstante isto às vezes seja o sentido da sua atribuição a Deus (Ap 15:4; 19:2, 11; 16:5-6; Hb 6:10; 2 Ts 1:6).
Não há sequer o sentido de “conformidade com uma norma ou com um conjunto de normas”. Pelo menos, não é este o significado principal e neste sentido nunca pode ser aplicado a Deus.
Apresentada diversamente como tsedaqah e tsedek, a justiça (rectidão) é o cumprimento da exigência de relação, relacionamento com Deus ou com os homens [34]; e quando Deus ou o homem cumprem as condições impostas sobre si mesmos pela relação, em termos bíblicos é “justo” (tsadiq/dikaios).
Fundamentalmente, três eventos explicam todas as relações entre Deus e os homens e entre homem e homem; são eles:
- a criação da humanidade “à sua imagem e semelhança” (Gn 1:26-27) que faz dos seres humanos criaturas de Deus. De qualquer maneira, o próprio acto da criação postula para a humanidade uma origem e uma paternidade comuns que liga profundamente todos os membros da família humana, uns aos outros, como irmãos e irmãs [35];
- a aliança-eleição de Israel por parte de Deus que faz de Israel “o primogénito de Deus”, “a sua herança”, “o seu dote”. Ele torna irmãos também os filhos de Israel (Dt 15:11-12);
- a nova aliança no sangue de Cristo, pelo qual todos os seus seguidores recebem o “selo do Espírito Santo” (Ef 1:13-14), que os torna “templos do Espírito Santo” e “moradas de Deus”.
Isso constitui a base do relacionamento entre Deus e a humanidade, em vários pontos da história; e essas iniciativas de Deus são actos do seu amor. Nesse sentido, a rectidão é uma radical e compreensiva justiça de caráter religioso, que requer que a humanidade se renda a Deus, em obediência e em fé, e que torna qualquer pecado uma “injúria”, uma injustiça e impiedade. Isso também requer que o homem cumpra as justas exigências de relacionamento-padrão homem/mulher por razões da criação e da fraternidade universal dos homens, e por razão de salvação e um chamado comum à santidade e filiação em Cristo.
Rectidão (Justiça) baseada na Criação

A questão sobre o pagamento de impostos a César (Mt 22:15-22; Mc 12:13-17; Lc 20:20-26) dá a Jesus a oportunidade para definir a relação básica entre Deus e o homem como justiça (rectidão).
Na resposta de Jesus, o denário pertencia a César, porque trazia a marca da propriedade de César, nomeadamente, a sua imagem e a sua inscrição. Por justiça, a propriedade de César da moeda deve ser reconhecida e sustentada; então, “dai a César o que é de César”.
A segunda parte da resposta de Jesus é dirigida ao tema mais fundamental se a Deus se dá o justo valor por aqueles que foram criados à sua “imagem e semelhança”, nomeadamente, o ser humano (Gn 1:26-27). A pertença da humanidade a Deus, por razão da sua criação à “imagem e semelhança de Deus” é a base da vida de comunhão entre Deus e a humanidade; e tem a forma de justiça: humanidade dando a Deus o seu justo valor. Nas Escrituras, a humanidade dá a Deus o justo valor quando o homem “obedece à voz de Deus”, “crê Nele”, “teme” e “ louva-O”; e onde isso falta, a humanidade precisa mostrar “arrependimento” (Act 17:30).
Analogamente a paternidade comum dos homens (Act 17:28-29) impõe a isso um “ordo amoris” de solidariedade e fraternidade universal, que é sustentada pela justiça nos seus relacionamentos.

Rectidão (Justiça) baseada nas Alianças de Deus

As diferentes alianças no Antigo Testamento estabeleceram várias relações entre Deus e
os indivíduos: Abraão (Gn 17:4), Isaac (Gn 17:19,21), Jacó (Ex 6:4), Davi (2 Cr 21:7);
a tribos e as famílias: Abraão (Gn 17:11), Davi (2 Sm 7); e
o povo de Israel (Dt 4:12-13); portanto, Êx 19-20; 24:8; Is 24;5).
Algumas das alianças do Antigo Testamento também expressam os relacionamentos entre os seres humanos:
Isaac e Abimeleque (Gn 26, 28-29), Jacó e Labão (Gn 31, 44), Davi e Jônatas (1Sm 20 , 16).
As alianças estabeleceram relações especiais que impuseram exigências aos envolvidos[36]; e justiça (rectidão) era a observância dessas exigências dos relacionamentos, os quais garantiam a fidelidade e a comunhão, verticalmente, entre Deus e a humanidade, e horizontalmente, entre as pessoas. Os termos opostos na Bíblia são “malvado (malfeitor)” e “perverso” (rasha); e denotam o mal cometido contra alguém, com quem se relaciona. Então, o “malvado” destrói a comunidade (comunhão) porque falha em cumprir exigências do relacionamento em comunidade [37]. As alianças entre Deus e as pessoas e com o povo de Israel representam iniciativas de Deus, que levam as pessoas, as famílias e o povo de Israel a um relacionamento especial e requerem que eles vivam as exigências dos relacionamentos com Deus e entre si. As exigências do relacionamento, por um lado, eram submissão na fé e confiança na oferta de Deus, expressas algumas vezes através da execução de um simples rito de circuncisão (Gn 17:10-11), mas, algumas vezes, através da observância das leis (torah) de Deus (Êx 19:5; Dt 7:9, etc). Por outro lado, os Israelitas deviam cumprir certas exigências entre si (justiça social) devido à sua relação de aliança com Deus.
Com os seus muitos pecados e violações das exigências da sua relação de aliança com Deus, Israel agiu injustamente (injúria) e colocou-se a si mesmo fora da relação. Já não pode clamar a Deus como um parceiro da aliança. Se Deus continuou a tratá-lo como um parceiro de aliança, foi porque ignorou as suas violações, “fazendo-o retornar” (Sl 80:3, 7, 19).
Israel, por sua vez, só podia confessar os seus pecados e deixar que Deus a trouxesse de volta. Este foi o tema principal de Oseias e dos profetas do pós-exílio. A rectidão de Deus agora consistia na sua justificação de Israel: trazendo Israel para uma aliança de relacionamento não obstante as suas falhas. Por sua vez, a rectidão de Israel consistia em confessar os seus pecados, reconhecendo as suas faltas e aceitando na fé a generosa oferta da salvação de Deus.

Rectidão (Justiça) baseada na Nova Aliança em Cristo

É nesta linha que João Baptista, iniciou o seu ministério; e o seu ministério cumpriu toda a justiça no sentido que o arrependimento e a confissão dos pecados que exigia eram a admissão de Israel (da Humanidade) que não conseguia ser fiel às exigências da Aliança, a sua experiência imerecida de receber de qualquer modo o perdão justificador e o favor e reconhecimento que Deus age só por amor e misericórdia. Quando, entretanto, Jesus se fez baptizar por João, ele uniu-se à humanidade para professar tudo o que disse como justiça de Deus. Por isso se diz que Jesus cumpriu toda a justiça!
Em Jesus e no seu ministério, vêem-se duas coisas:
- A revelação da justiça como graça justificante de Deus que ignora as justas exigências da relação da Aliança e introduz a humanidade por misericórdia [38] e amor num relacionamento de aliança. Porque, “gratuitamente fostes salvos mediante a fé. Isto não provém dos vossos méritos, mas é puro dom de Deus”. (Ef 2:8)
- O dom do Espírito de Jesus para a Igreja e os seus membros, habilitando-os a corresponder à justiça de Deus (rectidão) na fé e tornar-se “justiça de Deus em Cristo” (2 Cor 5:21), “justificando”, por sua vez, quem está fora da misericórdia e amor [39]: ignorando os seus pecados e violações aos seus direitos, os relacionamentos sociopolíticos, etc., e restaurando dessa forma a comunhão da família de Deus e da família da sociedade.
Este sentido de justiça e rectidão sugere que a exortação do Instrumentum laboris para ser servidores de justiça é antes de mais e sobretudo um convite a uma experiência espiritual: a experiência da justificação de Deus (graça justificante) na fé, e a testemunhá-la na Igreja e na sociedade, justificando os outros. De que modo as feridas e as muitas lacerações que o povo vive e experimenta no continente podem sarar e a comunhão ser restaurada?

c. Servidores/Ministros (diakonoi) de Paz: O Catecismo da Igreja Católica repete o ensinamento de Santo Agostinho que a “paz é a tranquilidade da ordem” [40]. Isso vai confirmar como o “respeito pelo desenvolvimento da vida humana requer isso”, e como é “o trabalho da justiça e o efeito da caridade” [41].

Paz como obra de justiça

Justiça, (Honestidade) como foi ressaltado, é um conceito de relação; o justo é aquele/aquela que atende às exigências do relacionamento no qual está inserido.
O caso de Israel corrompido e da humanidade decaída (Rm 5,6), que Deus justificou em Cristo atribuindo-Lhe a sua justiça (rectidão), consiste no reconhecimento desta necessidade para a graça justificante de Deus e a sua submissão a ela na fé. Este seria exactamente o comportamento para predispor a humanidade à paz de Deus no Evangelho. Porque quando, no nascimento de Jesus, o anjo anuncia o advento da Paz de Deus na terra, destinava-se somente àqueles “que Ele ama” (Lc 2,14).
Na terra, “a Paz” destina-se “aos homens que Ele ama” (Lc 2,14); e o significado da frase “aos homens que Ele ama”, segundo alguns autores, é “todo aquele que receberá a graça de Deus e responderá com fé” [42]. Esta interpretação da frase, como se recorda, coincide com o significado de “justo” e “recto”, como acima, e faz crer que os “justos”, como aqueles que estão dispostos a aceitar a obra de Deus na fé são também aqueles sobre os quais, na terra, repousa a “paz de Deus”. Ao que parece, aqueles que experimentam a paz de Deus são os que se dispõem a promover a paz na terra, cumprindo as condições das relações em que se encontram envolvidos.
Evidencia-se assim uma estreita relação entre paz e justiça (rectidão), na qual Isaías vê (Is 32,17), o Salmista canta (Sl 85,10) e Paulo vê em todo Cristão que caminha na recta via (justificado) com Deus em Cristo: “Justificados, pois, pela fé temos a paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo...”. (Rm 5,1). Portanto, a paz provém do céu. É o dom de Deus, e está estreitamente relacionado com a sua justiça/rectidão (“os homens que ele ama”).

A paz como Caridade (o amor de Deus em Cristo)

Visto que a”paz” foi directamente relacionada com a aliança e com a vivência das suas exigências, quando o povo de Deus desrespeitou a aliança, a “paz” também foi expulsa. Foi necessária uma nova intervenção de Deus e a sua amorosa misericórdia para levar a paz ao seu povo. Por isso, as escrituras de Israel pós-exílio começaram a ver a “paz” gerada do castigo do servo de Deus:“O castigo que nos salva pesou sobre ele”(Is 53,5).
Na sua missão e no seu ministério, Jesus Cristo cumpriu a visão dos últimos profetas de Israel: “Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único” (Jo 3,16): e depois de “ser entregue por nossos pecados” (Rm 4,25), o Filho de Deus se tornou a nossa “paz”. Assim sendo, se a “paz” provém de Deus (Gl 1,3; Ef 1,2; Ap 1,4) e é de Deus, (Fl 4,7; Cl 3,15; Rm 15,33) Cristo é aquela “paz”; (Ef 2,14). É Ele que a proclama e a estabelece (Ef 2,17); e Ele é a presença de Deus, que traz aquela paz que o mundo não pode dar.

O significado da Paz de Cristo

A “Paz” não tem apenas um significado laico, por significar a ausência de conflitos, (Gn 34,21, Js 9,15; 10,1,4; Lc 14:32), a presença de harmonia em casas e famílias (Is 38,17, Sl 37,11, 1 Cor 7,15, Mt 10,34; Lc 12,51), a segurança e a prosperidade individual e nas comunidades (nações) (Jz 18,6; 2 Rs 20,19; Is 32,18). A “Paz” não existe só quando os seres humanos e as sociedades cumprem os seus deveres e reconhecem os direitos de outras pessoas e sociedades” [43] e nem é apenas um dos resultados da acção da justiça [44]. Essencialmente, a “Paz” transcende o mundo e os esforços humanos [45]. É um dom de Deus (Is 45,7; Nm 6,26) doado aos “honestos/justos”.
Normalmente é expressa como “shalom” (Antigo Testamento) e “eirēnē” (LXX & Novo Testamento), toda forma de “paz” é um conjunto determinado por Deus e “doado” aos homens que ele ama”, ou seja, os honestos e os justos.
Consequentemente, quando Deus perdoou o pecador (Lc 7,50) e curou os doentes (Mc 5,34), mandou-os embora “em paz”: “ide em paz”. “Ide em paz” não era apenas uma bênção de adeus, mas a concessão da paz. Os perdoados e os curados não tiveram apenas a sua saúde física restabelecida; foram pacificados com Deus através da sua fé, e tornaram-se perfeitamente saudáveis diante de Deus e da comunidade [46].
Este é também o significado da saudação de “paz” de Jesus a seus discípulos, na manhã da ressurreição (Jo 20,19-21). Era o perdão por o terem traído e um novo sinal de amizade. Jesus não precisava que os seus discípulos fizessem uma admissão de culpa. Não havia algum pedido de perdão; não foram proferidas desculpas. Ao contrário, deu-se um livre perdão e uma saudação conciliatória de “paz”.
A “paz” de Jesus é a nossa paz, pois ele foi castigado em virtude das nossas iniquidades (Is 53,5). Ela é, portanto, a restauração gratuita e imerecida da plenitude e da comunhão com Deus e com os homens; e é recebida por todos aqueles que a acolhem como graça de Deus e respondem com fé, ou seja, “aqueles que ele ama” (os justos, honestos).
Como justos portadores da paz de Cristo na terra, Paulo exorta as comunidades cristãs a perseguir a paz (Rm 14,19; Ef 4,3; Hb 12,14) e a estar em paz uns com os outros (Rm 12,18; 2 Cor 13,11), exactamente como o instrumentum laboris exorta que a Igreja faça com a África. Ainda em qualidade de portadores da paz de Cristo na terra, devemos recordar-nos, assim como o fizemos com a “justiça”, que a “paz” é um acto que vai além da justiça no sentido estreito da palavra, e requer amor [47]. Ela deriva da comunhão com Deus e tem como finalidade o bem-estar do homem (humanidade). Por isso, ao exortar a Igreja na África e nas ilhas a ser “ministra (servidora) de reconciliação, justiça e paz”, conforme o convite do primeiro sínodo à Igreja para viver na comunhão Igreja-família de Deus, o segundo sínodo convida a Igreja a experimentar as virtudes que fundamentam a nossa comunhão com Deus e a testemunhá-las/vivê-las - ou seja, a reconciliação, justiça e paz através do amor e da misericórdia - no continente. As implicações deste ministério são aquilo que o (tema do) sínodo explica agora com os símbolos do sal e da luz: sal da terra e luz do mundo.

III. DO SER “TESTEMUNHAS DE CRISTO” (At 1,8) A SER “SAL DA TERRA” E “LUZ DO MUNDO” (Mt 5,13.14)

Ao colher os frutos do primeiro sínodo na Ecclesia in Africa, o Papa João Paulo II exaltou o “testemunho” como elemento essencial da cooperação missionária e recordou à Igreja africana que Cristo não só apresenta aos seus discípulos na África o desafio de o testemunhar, mas confere-lhes o mesmo mandato confiado aos dois apóstolos no dia da Ascensão: “Sereis minhas testemunhas” (Act 1,8) na África [48].
Logo, comparando os discípulos de Cristo na África com o sal e a luz, o Santo Padre diz: “Na época actual, no contexto de uma sociedade pluralista, é sobretudo através do empenho dos católicos na vida pública que a Igreja pode exercer uma influência eficaz. Da parte dos católicos, sejam eles profissionais liberais ou professores, empresários ou funcionários, das forças de segurança ou políticos, espera-se que dêem testemunho de bondade, verdade, justiça e amor de Deus nas suas actividades quotidianas. “O dever do fiel leigo (...) é ser sal e luz do mundo (...), particularmente, lá onde ele é o único a poder intervir”.
“Sal da terra” e “luz do mundo”, portanto, foram as imagens/metáforas nas quais o Papa concentrou o seu olhar sobre as actividades missionárias da Igreja na África e nas ilhas. Hoje, este sínodo convida a Igreja na África a interpretar a actuação da sua obra de reconciliação, justiça e paz no continente como “sal da terra” e “luz do mundo”.

Servos (diakonoi) de Reconciliação, Justiça e Paz, como “sal da terra”

A metáfora “sal”, usada por Jesus nos Evangelhos sinópticos, (Mt 5,13; Mc 9,50; Lc 14,34) para descrever a peculiaridade da vida de seus discípulos, é polivalente; tem muitos significados. Assim como o “Mar Morto” é também chamado “mar do sal” (Gn 14,3), para aqueles que vivem próximos das águas do “Mar Morto”, “sal” pode significar “morte” (cf. Gn 19,26). Deus, Senhor da vida, tratará, todavia, as águas do “mar do sal” com a água do templo e dar-lhe-á vida (Ez 47). Por outro lado, o sal pode ser também conservativo. Ele tempera e conserva os alimentos (Job 6,6; Mt 5,13; Lc 14,34), e de maneira semelhante, como no caso da purificação de Eliseu das águas de Jericó (2 Rs 19,22), o sal tem também poder purificador.
O uso do sal para selar amizades e a aliança na época do Antigo Testamento (Esd 4,14) significa, provavelmente, que Deus empregava simbolismos para expressar a continuidade e estabilidade da subsistência dos sacerdotes no Antigo Testamento. “É uma aliança inviolável, perene, diante do Senhor...”(Nm 18,19). O uso do sal em ocasiões de aliança pode estar, talvez, na base do convite de Jesus a seus discípulos: “Tende sal em vós e vivei em paz uns com os outros”(Mc 9,50), um convite a observar a lealdade mútua de uma relação de aliança, e viver em paz.
O sal, porém, é símbolo também de “sabedoria” e de “força moral”; é algo que valoriza as coisas: é o que se verifica quando, por exemplo, é usado para adubar terrenos.
Consequentemente, quando Jesus se refere a seus discípulos como “sal da terra” e quando o sínodo exorta a Igreja na África a ser “servidora de reconciliação, justiça e paz”, como “sal da terra”, quer Jesus quer o sínodo utilizam um símbolo polivalente para expressar as diversas tarefas e exigências de ser discípulos e de ser Igreja (família de Deus) na África. Assim, como no caso dos profetas, negar a Igreja e o seu Evangelho equivale a expressar um juízo e transformar a terra numa “terra de sal” (Dt 29,23; Jr 17,6; Sl 107,34). Num continente em que algumas regiões vivem situações de conflito e de morte, a Igreja deve espalhar sementes de vida: iniciativas geradoras de vida. Ela deve preservar o continente e a sua população dos efeitos destruidores do ódio, da violência, da injustiça e do etnocentrismo. A Igreja deve cuidar e purificar as mentes e os corações de mentalidades corruptas e malignas, e difundir a sua mensagem evangélica, que gera vida, a fim de manter vivos o continente e seu povo, preservando-os no caminho da virtude e dos valores evangélicos, como a reconciliação, a justiça e a paz [50]. Ainda mais importante, porém, é o símbolo do “sal” que convida a Igreja-Família de Deus na África a aceitar dedicar-se (consumir-se) em favor da vida do continente e do seu povo.

Servidores (diakonoi) de Reconciliação, Justiça e Paz, como “luz do mundo”

A referência aos discípulos como “luz do mundo” utiliza uma simbologia cujas origens provêm do Antigo Testamento: a característica e a missão de Sião, a cidade sobre uma colina. Consequentemente, o Servo-Messias foi convocado para assumir esta vocação, realizando-a em Jesus. Logo, Jesus é a “luz do mundo”, aliás, a “luz verdadeira, que ilumina todo homem” (Jo 1, 9) e transforma também os seus discípulos em “luz do mundo”.

Sião, a cidade sobre a colina e Luz das Nações

Sião é a montanha da casa do Senhor (Is 2,2); é a morada da Arca da Aliança (2 Sm 6; 1 Rs 8,20-21) e o Nome do Senhor (Dt 12,5). A Arca da Aliança abrigava a Lei de Deus; a Lei era “uma lâmpada e o ensinamento, uma luz” (Pr 6,23; Sl 19,8; 119,105; Br 4,2).
Todavia, o nome de Deus representava a “presença de Deus” e a luz da presença de Deus pressupunha o poder e a acção salvífica de Deus (Is 10,17; Sl 27; 36,9) para salvar Jerusalém e seu povo [51]. Em virtude da posse da luz do conhecimento da Lei e da luz da salvação de Deus, Jerusalém tornou-se uma luz para as nações e os reis.[52].

A experiência em Sião se torna a vocação do Servo-Messias

Nas mãos de Isaías, a experiência de Jerusalém, luz das nações e dos reis, é apresentada como a vocação de um servo. O servo de Javé, dotado do Espírito de Javé para levar justiça às nações (Is 42,1; 51,4) é visto como a aliança do povo e a “luz das nações” (Is 42,6, 49,8 ss). Sua convocação para ser “luz das nações” implica numa experiência pessoal da salvação de Javé (Is 49,7), o que permitiu que a salvação de Javé alcançasse todos os cantos da terra. Nesses trechos, referentes ao servo, “luz” é o conhecimento da Lei e da salvação de Deus; é um dom destinado a chegar a todos os povos.
Jesus realiza a vocação do Servo-Messias

A imagem do Servo-Messias se realiza em Jesus. Mt 4,16 cita Is 9,2 e alude à estrela do nascimento de Jesus para destacar a realização e a continuação, em Jesus, do simbolismo revelador e salvífico da luz no Antigo Testamento. Jesus é a “luz da salvação de Deus”(Jo 1,5; 3,19; 8,12; 12,46) e é a “luz da Palavra/Lei/Sabedoria de Deus” (Jo 1,4; 9,5; 12,36,46). Jesus é a “luz do mundo” (Lc 2,32; Gv 1,9); morre e ressuscita para “anunciar a luz ao povo e aos gentios” (Act 26,23).

Os discípulos de Jesus e os Cristãos como luz do mundo

Consequentemente, a referência aos discípulos como “luz do mundo” nada mais é do que o modo pelo qual Jesus faz dos seus discípulos a sua extensão e representação no mundo. “Vós sois a luz do mundo” expressa, desta forma, a grande vocação dos discípulos de Jesus: um chamado a realizar, em Cristo, a vocação de Israel no Antigo Testamento a ser testemunha da luz do conhecimento da Lei de Deus (Evangelho) e da sua salvação no mundo.
Esta elevada vocação dos seguidores de Jesus é a proposta do Sínodo para a Igreja na África; ela tem início com o seu chamado (baptismal) que faz deles uma “raça eleita, um sacerdócio real, uma nação santa, um povo da sua particular propriedade, a fim de que proclameis as excelências daquele que vos chamou das trevas para a sua luz maravilhosa” (1 Pd 2,9). Respondendo ao chamado, eles se rendiam à iluminação da Palavra da verdade (Ef 1,17 ss), à luz do Evangelho da salvação (2 Cor 4,4) e a seu convite ao arrependimento. A vida que provém do estado de discípulo faz deles “luz no Senhor e filhos da luz” (Ef 5,8), “filhos da luz e filhos do dia”(1 Ts 5,5; cf. Rm 13,12). E Deus disse: “Do meio das trevas brilhe a luz!, foi ele mesmo quem reluziu em nossos corações, para fazer brilhar o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo” (2 Cor 4,6). Ela conduz à fé em Jesus e a receber o selo prometido pelo Espírito Santo (Ef 1,13) para viver uma vida sem manchas, porque “o fruto da luz é bondade, justiça e verdade” (Ef 5,9).

Conclusão: que terra? Que mundo?

Nos tempos de Jesus, a terra e o mundo para o qual os discípulos deviam ser “sal e luz” eram a terra e o mundo de fora do círculo dos doze, “pois aos que são de fora tudo se lhes propõe em parábolas” (Mc 4,11).
Neste sínodo, a terra e o mundo para os quais os Católicos do continente e das ilhas devem ser “sal” e “luz” como servos de reconciliação, justiça e paz é a África dos nossos dias, assim como descrito no Instrumentum laboris e mencionado acima [53]. É aqui que Jesus Cristo, depois de ter sido revelado através das Escrituras, como nossa reconciliação, justiça e paz, agora chama e autoriza os seus discípulos na África e nas ilhas a dedicarem-se, como sal e luz, na construção da Igreja na África como uma verdadeira família de Deus, através dos ministérios da reconciliação, justiça e paz, exercidas no amor, como seu mestre.

NOTAS

[1] João Paulo II, Discurso na Catedral de Cristo Rei (17 de Setembro de 1995), Joanesburgo, África do Sul: “Aqui em Joanesburgo, na África do Sul, em união com a Igreja desta parte do continente, encontramo-nos para promulgar a Exortação Apostólica “Ecclesia in Africa”, que contém as propostas dos Padres Sinodais no final da sessão de trabalho realizada em Roma, em abril de e maio de 1994. Com a Autoridade Apostólica que cabe ao Sucessor de Pedro apresento a toda a Igreja de Deus na África e Madagáscar, a profunda reflexão e resoluções para o sínodo...”
[2] Cf. João Paulo II, Exortação Apostólica Pós-sinodal Ecclesia in Africa, # 13.
[3] Cf. João Paulo II, Discurso aos participantes do 12º Encontro do Conselho Pós-sinodal da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos para a Segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, em 15 de Junho de 2004.
[4] Primeira Assembleia Especial para a África, Instrumentum laboris, 1993 # 1. O mesmo documento afirmou: “Parece que a África esteja vivendo um momento favorável que convida os mensageiros de Cristo a se entregarem totalmente a Cristo”: Instrumentum laboris, 1993 # 24.
[5] Ibidem, # 22- 24. “Sinais dos tempos” referindo ao contexto africano, onde o Evangelho tem de ser proclamado.
[6] Cf. A heróica vida dos mártires e santos africanos, por um lado, e a heróica vida e o esforço pela independência dos africanos na África pós-colonial, na África do Sul, no Sudão, etc, por outro.
[7] Cf. João Paulo II, Discurso aos participantes do 12º Encontro do Conselho Pós-sinodal da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos, 15 de Julho de 2004.
[8] Cf. João Paulo II, Exortação pós-sinodal Ecclesia in Africa # 13-14, 39-42, 51; Segunda Assembleia Especial para a África , Lineamenta, # 6-8.
[9] Segunda Assembleia Especial para a África, Lineamenta, “Prefácio”.
[10] É o que o Instrumentum laboris refere para uma “continuidade dinâmica” e ilustra copiosamente.
[11] Cf. João Paulo II, Carta do Arcebispo Eterovic por ocasião do Encontro do Conselho Especial para a África da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos (23 de fevereiro de 2005).
[12] Cf. João Paulo II, Exortação pós-sinodal Ecclesia in Africa # 4.
13] Cf. Ibidem., # 2-5. De facto, o SECAM “estudou caminhos e significados planejando este o encontro continental . A consulta da conferência episcopal e todos os Bispos da África e Madagáscar foi realizada, depois que eu convoquei a Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos. (Ecclesia in Africa # 5).
[14] Segunda Assembleia Especial para a África, Instrumentum laboris # 21-33.
[15] Nana Akuffo-Addo, Ministro dos Negócios Estrangeiros da República de Gana (2001-2008) disse no encontro com o presidente Kikwete, da Tanzânia, “já existem na África alguns dirigentes fortes que estão prontos para seguir em frente; e nós desejamos estar ao seu lado” (Fraternidade Matin, sexta-feira 10/07/09, pág. 1)
[16] NEPAD significa Nova Parceria Económica para o Desenvolvimento da África . NEPAD exige que seja respeitado o governo democrático, e não aceita golpe de Estado. Existe a configuração do Peer Review Mechanism da antiquada performance do governo. Reconhecemos o ritmo de trabalho do African Union Parliament e a implementação dos pré-requisitos dos Estados membros do NEPAD que foi criticado pela sua lentidão.
[17] Lomé Culture é o nome dado a uma série de acordos de cooperação ao desenvolvimento entre países da Comunidade Europeia (CEE) e suas ex-colónia. Entrou em vigor em 1957 com o tratado de Roma, que sancionou a CEE. Lomé I ‘ Lomé IV estabeleceu um regime de ajudas mediante o Comércio entre CEE e 46 países ACP (em relação aos direitos humanos, princípios democráticos e exercício da lei). A convenção de Iaundé foi assinada em 1975 entre a CEE e os países ACP para fornecer infra-estrutura ao desenvolvimento dos países francófonos. A Convenção de Cotonou, assinada entre a UE e os 70 países ACP, deveria durar vinte anos. Ela era finalizada à redução da pobreza, ao desenvolvimento sustentável e à gradual integração das economias ACP na economia mundial.
[18] Os principais objectivos do NEPAD são: erradicar a pobreza, ajudar os países africanos rumo ao crescimento e ao desenvolvimento sustentável; acabar com a marginalização da África do processo de globalização, acelerar a tomada de consciência e de poder das mulheres.
[19] “Cooperação significa partilhar com as populações africanas um ponto de vista: a ideia de uma África que é moderna e independente, onde os homens e as mulheres africanas, confiantes em si mesmos, construam a própria vida e o próprio futuro, percorrendo o caminho do desenvolvimento sustentável e democrático. Somente os estímulos e os esforços realizados pela África levarão ao sucesso” (Discurso do Dr. Uschi Eid, Secretário de Estado Parlamentar do Ministério Federal para a Cooperação Económica e o Desenvolvimento da Alemanha, o TICAD III [Conferência Internacional de Tóquio sobre o Desenvolvimento da África], Tóquio 2003)
[20] Barack Obama expressou o mesmo conceito aos governantes africanos no seu discurso ao Parlamento de Gana durante a visita ao país em Julho passado.
[21] Quando o ex-presidente Clinton em 2003 visitou Gana, o Herald Tribune escreveu: “Foi-nos dito que Clinton tinha ído para mudar a ideia que a América tem sobre a África: não mais de um continente desesperado, mas um lugar de oportunidade e esperança”.
[22] Cf. Bento XVI, Carta Encíclica Caritas in veritate, Vaticano, 2009.
[23] Segunda Assembleia Especial para a África, Instrumentum laboris, n. 11.
[24] Cf. João Paulo II, Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Africa n. 63.
[25] Cf. Confissão de Paulo: “Ouvistes certamente da minha conduta de outrora no judaísmo, de como perseguia sobremaneira e devastava a Igreja de Deus... quando, porém, aquele que me separou desde o seio materno e me chamou por sua graça, houve por bem revelar em mim o seu Filho... (Gl 1, 13-16).
[26] Neste sentido, Deus é como o pastor que busca a ovelha perdida. É como a mulher que procura uma moeda perdida e como o pai cujo amor provoca o retorno do filho pródigo (cf. Lc 15). É como Jesus que encontra Zaqueu num sicômoro e diz-lhe para descer (Lc 19,5).
[27] Cf. Pietro Bovati, Restabelecer a justiça, Analecta Bíblica 110, PIB Roma, 1986.
[28] Às vezes, a exigência de conciliação inclui e faz brotar um gesto concreto, como o reconhecimento da existência dos direitos, cuja negação e abuso fizeram aumentar a situação de conflito e hostilidade (cf. Abraão e Abimeleque em Gn 21, 25-34).
[29] Neste sentido, existem factores que favorecem a reconciliação e que os servos da reconciliação devem abraçar; existem outros factores que impedem a reconciliação e que os servidores da reconciliação devem evitar:
a. Factores que impedem: a impiedade e o desprezo pela relação com Deus; a negação dos direitos dos outros, o engano e os preconceitos, a hipocrisia e a paz aparente, a atenção selectiva, o silêncio da cumplicidade e a falência das estruturas do Estado.
b. Factores que a favorecem: o perdão, o amor fraterno, a comunicação, o diálogo, a educação para a paz e a reconciliação.
[30] Sacramentum Mundi 3, 235.
[31] Cf. Paulo VI, Carta Encíclica Populorum Progressio, nº 26.
[32]Sacramentum Mundi 3, 236.
[33] Cf. The Interpreter’s Dictionary of the Biblie, vol 4, 85-88. 91-99.
[34] A “justiça”, de qualquer forma se manifeste baseia-se sobre tudo aquilo que é devido a uma pessoa em virtude da sua dignidade e da sua vocação à comunhão com as pessoas (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja nº 3, 63).
[35] Isso constitui também a base do imperativo fundamental que impõe o respeito positivo pela dignidade e pelos direitos dos outros e também uma ajuda solidária em ir atender as necessidades (cf. Gaudium et Spes, n. 23'32, 63-72; Papa João XXIII, Carta Encíclica Mater et Magistra. A condição dos filhos, comum à humanidade exige que os homens sejam rectos, agindo segundo a vontade de Deus, unidos na solidariedade e pelo amor de Deus, como amor de Pai.
[36] Tamar era mais justa do que o sogro, porque ele não respeitava a tradição familiar (Gn 38, 26), Davi não deveria matar Saul, “porque é o consagrado do Senhor” (1Sm 24, 7, 11) e um “pai” para ele (1Sm 24, 12). Quando uma relação muda, mudam também as exigências. Aquele que cuida dos órfãos e das viúvas e defende-os, é justo (Job 29, 12 -16; Os 2, 19). Aquele que trata os servos com humanidade, vive em paz com o seu próximo, fala bem dos outros, é recto/justo (Job 31, 1-13; Pr. 29, 2; Is 35, 15; Sl 52, 3, etc). A rectidão/justiça como comportamento compete aos membros da comunidade, às vezes é tutelada e aplicada pelos magistrados, quando julgam os casos nos tribunais. Este é o significado da justiça; então quer Deus quer o rei desempenham um papel de juiz (Dt 25, 1; 1Rs 8, 32; Ex 23, 6ss; Sl 9, 4;5 0, 6, 96, 13). Os julgamentos rectos são considerados característicos do Messias-Rei.
[37] O malvado (עשר) é aquele que exercita a força e a falsidade, ignora os deveres que o parentesco e a aliança imporiam-lhes, pisa nos direitos dos outros (The Interpreter’s Dictionary of the Bible), vol 4, 81).
[38] O Papa João XXIII definiu a misericórdia um “especial poder do amor, que prevalece sobre o pecado e a infidelidade dos escolhidos” (Dives in Misericordia, 4.3).
[39] O Papa João XXIII ensina-nos que nas relações entre pessoas e grupos sociais etc., a “justiça não basta”. É necessário aquele “poder mais profundo que é o amor” (Cf. Dives in Misericordia, 12).
[40] Catecismo da Igreja Católica, 2304. Ver também Gaudium et Spes, nº 78.
[41] Ibidem.
[42] “Em todo o Evangelho de Lucas, a ‘paz na terra’ atinge os eleitos, os discípulos, os estrangeiros, aquele que acolheu a graça de Deus e responderá com fé” (Cf. Dictionary of Jesus and the Gospels, ed. Joel B. Green et alii, Inter Varsity Press 1992 p. 605).
[43] João XXIII, Carta Encíclica Pacem in Terris, n. 174.
[44] Gaudium et Spes, nº 84.
[45] Embora isto seja uma tarefa, algo no qual se actuar, a “paz” é um dom de Deus, algo que nossa paz terrena só antecipa vagamente.
[46] No caso da mulher hemorroíssa (Mc 5, 24-34), por exemplo, Jesus não só curou sua impureza religiosa e social (o tema do sangue), mas também revelou o segredo e tornou pública a fé e a cura (Mc 5, 34; 2,5; 10,52) Tal cura representou o retorno total da mulher à saúde, à sua comunidade e ao Deus da sua fé.
[47] Gaudium et Spes, nº 78
[48] JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Africa, nº 86
[49] Ibidem., nº 108.
[50] Cf. SECAM, Seminário sobre o Sínodo, Abdjan, Costa do Marfim, 2009: Grupo Carrefour nº III.
[51] Assim a grande restauração e justificação que Javé realiza em relação a Jerusalém é descrita por Isaías como o retorno da luz de Javé: “Não terás mais necessidade de sol para te alumiar, nem de lua para te iluminar: permanentemente terás por luz o Senhor, e teu Deus por resplendor” (Is 60, 19-29).
[52] O Testamento de Levi extenderia a luz de Jerusalém a seus filhos, os Israelitas, e exorta-os dizendo: “Sede a luz de Israel, mais pura de todos os gentios... O que os gentios fariam se vós estivésseis nas trevas pelas transgressões?” (14,3).
[53] Cf. Páginas 20 - 25 acima

[00011-06.09][RE000] [Texto original: inglês]

AVISOS

- COLETIVAS DE IMPRENSA
- “BRIEFING”
- “POOL”
- BOLETIM SYNODUS EPISCOPORUM
- COBERTURA TV AO VIVO
- NOTICIÁRIO TELEFÓNICO
- HORÁRIO DE ABERTURA DA SALA DE IMPRENSA DA SANTA SÉ

COLETIVAS DE IMPRENSA

A primeira Coletiva de Imprensa (com a tradução simultânea em italiano, inglês, francês e português) realizar-se-à segunda-feira HOJE 5 de outubro 2009, por volta das 12h45, na Sala João Paulo II da Sala de Imprensa da Santa Sé. Intervirão:
- S. Em. R. Card. Peter Kodwo Appiah TURKSON, Arcebispo de Cape Cost (GANA), Relator Geral
- S. E. R. Dom Odon Marie Arsène RAZANAKOLONA, Arcebispo de Antananarivo (MADAGÁSCAR)
- Rev. P. Federico LOMBARDI, Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Secretário ex-escritório da Comissão para a Informação (VATICANO)

Os fotógrafos e operadores audiovisuais (cinegrafistas e técnicos) para obter a permissão de acesso devem se dirigir ao Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais.

As próximas Coletivas de Imprensa serão realizadas:
-Quarta-feira 14 de outubro 2009 (após a Relatio post disceptationem)
- Sexta-feira 23 de outubro 2009 (após o Nuntius)
- Sábado 24 de outubro 2009 (após o Elenchus finalis propositionum)

“BRIEFING”

Para uma mais eficaz informação sobre os trabalhos sinodais foram organizados 4 grupos linguísticos para os jornalistas credenciados.

A seguir estão relacionados para cada grupo linguístico o lugar do “Briefing” e o nome do Assessor de Imprensa:

Grupo linguístico italiano
Assessor de Imprensa: Rev. Mons. Giorgio COSTANTINO
Lugar: Sala dos jornalistas, Sala de Imprensa da Santa Sé

Grupo linguístico inglês
Assessor de Imprensa: Sr. Festus Abdul TARAWALIE
Lugar: Sala João Paulo II, Sala de Imprensa da Santa Sé

Grupo linguístico francês
Assessor de Imprensa: Rev. Mons. Joseph Bato’ora BALLONG WEN MEWUDA
Lugar: Sala das telecomunicações, Sala de Imprensa da Santa Sé

Grupo linguístico português
Assessor de Imprensa: Sra. Maria Dulce ARAÚJO
Lugar: Sala “Blu” 1° andar, Sala de Imprensa da Santa Sé

Em linha de máxima, os Assessores de Imprensa realizarão o “Briefing” por volta da 13h10:
- Terça-feira 6 de outubro 2009- Quarta-feira 7 de outubro de 2009
- Quinta-feira 8 de outubro de 2009
- Sexta-feira 9 de outubro de 2009
- Sábado 10 de outubro de 2009
- Segunda-feira 12 de outubro de 2009
- Terça-feira 13 de outubro de 2009
- Quinta-feira 15 de outubro de 2009
- Sábado 17 de outubro de 2009
- Terça-feira 20 de outubro de 2009

Algumas vezes os Assessores de imprensa poderão estar acompanhados por um Padre sinodal ou por um perito.

Os nomes dos participantes e eventuais variações das datas e horários acima citados serão divulgados apenas será possível.

“POOL”

São previstos “Pools” de jornalistas credenciados para entrar na Sala do Sínodo, em linha de máxima para a oração de abertura das Congregações Gerais no início da manhã, nos seguintes dias:
- Terça-feira 6 de outubro 2009
- Quinta-feira 8 de outubro de 2009
- Sexta-feira 9 de outubro de 2009
- Sábado 10 de outubro de 2009
- Segunda-feira 12 de outubro de 2009
- Terça-feira 13 de outubro de 2009
- Quinta-feira 15 de outubro de 2009
- Sábado 17 de outubro de 2009
- Terça-feira 20 de outubro de 2009
- Sexta-feira 23 de outubro de 2009
- Sábado 24 de outubro de 2009

No Escritório de Informação e Credenciamento da Sala de Imprensa da Santa Sé (na entrada, a direita) serão colocadas à disposição dos jornalistas listas de inscrição aos “Pools”.

Para os “Pools” os fotógrafos e os operadores TV devem se dirigir ao Pontifício Conselho das Comunicações Sociais.

Os participantes nos “Pools” devem estar às 08h30 no Setor Imprensa, montado diante da entrada da Sala Paulo VI, de onde serão acompanhados por um membro da Sala de Imprensa da Santa Sé (para os redatores) e por um membro do Pontifício Conselho das Comunicações Sociais (para os fotógrafos e operadores TV). É solicitado um traje apropriado à circunstância.

BOLETIM SYNODUS EPISCOPORUM

O Boletim informativo da Comissão para a informação da II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, com o título Synodus Episcoporum, publicado pela Sala de Imprensa da Santa Sé, será publicado em 6 edições linguísticas (plurilíngüe, italiana, inglês, francês, espanhol e português), com 2 números ao dia (manhã e tarde) ou segundo a necessidade.
A edição da tarde será publicada após a conclusão da Congregação Geral da manhã e a edição da tarde será divulgada na manhã do dia seguinte.

A distribuição aos jornalistas credenciados será realizada na Sala dos jornalistas da Sala de Imprensa da Santa Sede.

A edição plurilíngüe trará as sínteses dos discursos dos Padres sinodais preparados por eles mesmos, nas línguas nas quais serão entregues para a publicação. As demais 5 edições publicarão a versão respectivamente em italiano, inglês, francês, espanhol e português.

O próximo quinto número do Boletim conterá os Relatórios sobre as relações dos vários continentes com a África e o Relatório sobre Ecclesia in Africa, que serão apresentados na segunda Congregação Geral na tarde de hoje, segunda-feira, 5 de outubro.

COBERTURA TV AO VIVO

Serão transmitidas aos vivo através do monitores na Sala das Telecomunicações, na Sala dos jornalistas na Sala João Paulo II da Sala de Imprensa da Santa Sé:
- Sábado 10 de outubro de 2009 (18h): Oração do Terço com os Universitários dos Ateneus Romanos (Sala Paulo VI)
- Domingo 11 de outubro de 2009 (10h): Solene Concelebração Eucarística com Canonização (Praça São Pedro)
- Terça-feira 13 de outubro de 2009 (09h): Parte da Congregação Geral durante a qual será apresentada a Relatio post disceptationem
- Domingo 25 de outubro de 2009 (09h30): Solene Concelebração da Santa Missa de encerramento do Sínodo (Basílica de São Pedro)

Eventuais variações serão publicadas apenas será possível

NOTICIÁRIO TELEFÓNICO

Durante o período sinodal estará em função um noticiário telefónico:
- +39-06-698.19 com o Boletim ordinário da Sala de Imprensa da Santa Sé;
- +39-06-698.84051 com o Boletim do Sínodo dos Bispos, parte da manhã;
- +39-06-698.84877com o Boletim do Sínodo dos Bispos, parte da tarde.

HORÁRIO DE ABERTURA DA SALA DE IMPRENSA DA SANTA SÉ

A Sala de Imprensa da Santa Sé, por ocasião da II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos permanecerá aberta conforme o seguinte horário, de 2 a 25 de outubro de 2009:
- De segunda-feira 5 de outubro a sexta-feira 9 de outubro: 09h – 16h
- Sábado 10 de outubro: 09h -19h
- Domingo 11 de outubro: 09h – 13h
- Segunda-feira 12 de outubro: 09h – 16h
- Terça-feira 13 de outubro: 09h – 20h
- De quarta-feira 14 de outubro a sábado 17 de outubro: 09h – 16h
- Domingo 18 de outubro: 11h – 13h
- De segunda-feira 19 de outubro a sábado 24 de outubro: 09h – 16h
- Domingo 25 de outubro: 09h – 13h
Os funcionários do Escritório informação e credenciamento estarão à disposição (na entrada a direita):
- Segunda a sexta-feira: 09h – 15h
- Sábado: 09h – 14h

Eventuais mudanças serão comunicadas, apenas será possível, através de anúncios no quadro de avisos da Sala dos jornalistas na Sala de Imprensa da Santa Sé, no Boletim da Comissão para a informação da II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos e na área Comunicações de serviço do site Internet da Santa Sé.

 

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