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SYNODUS EPISCOPORUM
BOLETIM

II ASSEMBLEIA ESPECIAL PARA A ÁFRICA
DO SÍNODO DOS BISPOS
4-25 OUTUBRO 2009

A Igreja em África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz.
"Vós sois o sal da terra ... Vós sois a luz do mundo" (Mt 5, 13.14)


Este Boletim é somente um instrumento de trabalho para uso jornalístico.
A
s traduções não possuem caráter oficial.


Edição portuguesa

08 - 06.10.2009

SUMÁRIO

- QUARTA CONGREGAÇÃO GERAL (TERÇA-FEIRA, 6 DE OUTUBRO DE 2009 - TARDE)

QUARTA CONGREGAÇÃO GERAL (TERÇA-FEIRA, 6 DE OUTUBRO DE 2009 - TARDE)

- INTERVENÇÕES NA SALA (CONTINUAÇÃO)

Às 16h30 de hoje, terça-feira, 6 de outubro de 2009, memória facultativa de São Bruno, monge, com a Oração pela II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, teve início a Quarta Congregação Geral, para a continuação das intervenções dos Padres Sinodais na Sala sobre o tema sinodal A Igreja em África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz “Vós sois o sal da terra ... Vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 13.14).]

Presidente Delegado de turno S.Em. Card. Wilfrid Fox NAPIER, O.F.M., Arcebispo de Durban (ÁFRICA DO SUL).

Nesta Congregação Geral, que se concluiu às 19.00 com a oração do Angelus Domini, estavam presentes 225 Padres.

INTERVENÇÕES NA SALA (CONTINUAÇÃO)

Nesta Quarta Congregação Geral intervieram os seguintes Padres:

- S. E. R. Dom François Xavier MAROY RUSENGO, Arcebispo de Bukavu (REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO)
- S. Em. R. Card. Walter KASPER, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos (CIDADE DO VATICANO)
- S. E. R. Dom François EID, O.M.M., Bispo do Cairo dos Maronitas (EGITO)
- S. E. R. Dom Simon NTAMWANA, Arcebispo de Gitega, Presidente da Associaçáo das Conferências Episcopais da África Central (A.C.E.A.C.) (BURUNDI)
- S. E. R. Dom Martin MUNYANYI, Bispo de Gweru (ZIMBÁBUE)
- S. E. R. Dom Daniel MIZONZO, Bispo de Nkayi (REPÚBLICA DO CONGO)
- S. E. R. Dom Claude RAULT, M. Afr., Bispo de Laghouat (ARGÉLIA)
- S. E. R. Dom Antoine NTALOU, Arcebispo de Garoua (CAMARÕES)
- S. E. R. Dom Michael WÜSTENBERG, Bispo de Aliwal (ÁFRICA DO SUL)
- S. E. R. Dom Armando Umberto GIANNI, O.F.M. Cap., Bispo de Bouar, Presidente da Conferência Episcopal (REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA)
- S. E. R. Dom Giovanni Innocenzo MARTINELLI, O.F.M., Bispo titular de Tabuda, Vigário Apóstolico de Tripoli (LÍBIA)
- S. E. R. Dom Lucius Iwejuru UGORJI, Bispo de Umuahia (NIGÉRIA)
- Rev. Guillermo Luis BASAÑES, S.D.B., Conselheiro Geral para a região África-Madagascar dos Salesianos (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA)
- S. E. R. Dom Berhaneyesus Demerew SOURAPHIEL, C.M., Arcebispo Metropolita de Addis Abeba, Presidente da Conferência Episcopal, Presidente do Conselho da Igreja Etíope (ETIÓPIA)
- S. E. R. Dom Ildefonso OBAMA OBONO, Arcebispo de Malabo, Presidente da Conferência Episcopal (GUINÉ EQUATORIAL)
- S. E. R. Dom Emílio SUMBELELO, Bispo de Uíje (ANGOLA)
- S. E. R. Dom José NAMBI, Bispo de Kwito-Bié (ANGOLA)

Publicamos a seguir as sínteses das intervenções:

- S. E. R. Dom François Xavier MAROY RUSENGO, Arcebispo de Bukavu (REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO)

Ao iniciar pelos danos provocados pelas guerras e pelas violências na parte oriental do nosso país, a República Democrática do Congo, e em particular na nossa Arquidiocese de Bukavu, acreditamos que a reconciliação já não possa limitar-se simplesmente a harmonizar as relações interpessoais. Ela inevitavelmente deve considerar as causas profundas da crise das relações que se põem a nível dos interesses e dos recursos naturais do país, a ser explorados e administrados na transparência e rectidão, em vantagem de todos. Porque as causas das violências na parte oriental da República Democrática do Congo são essencialmente os recursos naturais.
Com esta finalidade, recordamos o trabalho que a comissão «justiça e paz» está a desempenhar na Arquidiocese de Bukavu a fim de que a reconciliação se realize através da reconstrução comunitária.
O objectivo é ajudar as pessoas a reconciliarem-se entre si e com a própria história e a empenhar-se para juntas construir um novo futuro.
Uma atenção muito especial é dedicada aos jovens. Para eles, propomos actividades recreativas e culturais capazes de favorecer a reconciliação a seu nível, graças ao envolvimento de todos e de cada um deles na reconstrução do próprio ambiente.
Este tipo de abordagem deve ser entendido como resposta aos traumatismos comunitários frequentemente esquecidos, com a finalidade de tornar as pessoas responsáveis e protagonistas de uma mudança positiva. É necessário que a educação básica seja incrementada e as populações se organizem em vista de uma maior responsabilidade comunitária. Isto requer também a actuação dos espaços e dos quadros de intercâmbio e de diálogo para uma efectiva participação da população na gestão das riquezas que devem contribuir para a reconstrução, o desenvolvimento, a reconciliação e uma coabitação pacífica.
Enquanto fazemos pronunciamentos nessas sessões, os agentes pastorais na nossa arquidiocese são atacados pelos inimigos da paz. Uma das paróquias da nossa arquidiocese foi incendiada sexta-feira 2 de Outubro último, os sacerdotes foram maltratados, outros pegos como reféns por homens uniformizados que pretenderam um elevado resgate. Fomos obrigados a pagar para poupar a vida dos nossos sacerdotes que os sequestradores ameaçavam massacrar. Com estas acções, querem reduzir ao silêncio a Igreja, que permaneceu o único apoio de um povo aterrorizado, humilhado, explorado, dominado. Senhor, seja feita a tua vontade, venha o teu reino de paz (cf. Mt 10, 7).

[00042-06.05] [IN017] [Texto original: francês]

- S. Em. R. Card. Walter KASPER, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos (CIDADE DO VATICANO)

Enquanto, graças a Deus, houve um rápido crescimento da Igreja na África, infelizmente registrou também uma fragmentação cada vez mais profunda entre os cristãos. Esta situação não é peculiar somente na África, mas é facilmente atribuível à consolidação histórica da herança de cristianismo dividido que o continente recebeu. Hoje existem também inúmeras e novas divisões na África, como as recentes comunidades carismáticas e pentecostais, as chamadas Igrejas independentes e as seitas. Seu crescimento, a nível mundial, é extenso, e sua vitalidade no continente africano reflete-se na difusão das Igrejas independentes africanas, que acabam de criar uma instituição oficial, a OAIC, cuja sede está em Nairobi. Actualmente, há um diálogo de certo nível, por conta do Global Christian Forum, que se reuniu recentemente em Nairobi.
Em outros níveis, o diálogo com estes grupos não é fácil; muitas vezes é totalmente impossível, por causa de sua agressividade, sem falar em seu escasso conhecimento teológico. Para enfrentar este desafio urgente, devemos adotar um comportamento de autocrítica. Não é suficiente apontar seus erros; precisamos questionar-nos sobre o que está errado, ou aonde é carente o nosso trabalho pastoral. Por que tantos cristãos abandonam a nossa Igreja? O que falta para eles em nós? O que eles procuram em outros lugares? O PCPCU tentou fornecer as respostas em dois simpósios para bispos e teólogos, em Nairobi e Dacar. Estamos prontos para ajudar, inclusive no futuro. Neste contexto, gostaria de mencionar apenas dois pontos importantes: a formação catequética ecuménica e a construção de pequenas comunidades cristãs no coração das nossas paróquias.
Permitam-se agora citar alguns de nossos muitos desafios e compromissos:
1. Olhemos para trás, aos quase cinquenta anos de diálogo ecuménico. Desde o Concílio Vaticano II, realizaram-se progressos ecuménicos importantes, mas o caminho para a plena comunhão eclesial provavelmente é ainda longo e árduo, em função das persistentes dificuldades em nossos diálogos ecuménicos. Hoje, são necessárias medidas adequadas para esforçarmo-nos, com nossos parceiros ecuménicos, em um processo de acolhimento dos frutos do diálogo. O compromisso da Igreja a nível universal deve ser traduzido e assimilado nas Igrejas locais, nos âmbitos da catequese e da formação teológica, a níveis diocesano e paroquial.
2. Enquanto a Igreja Católica na África manteve tradicionalmente o diálogo constante com as tradições protestantes históricas, e hoje promove-o com as mais jovens, a recente e rápida difusão da ortodoxia no continente torna fundamental para a Igreja católica na África comprometer-se no diálogo e nas relações positivas também com nossos irmãos e irmãs ortodoxos.
3. A Igreja católica na África deve impulsionar as relações ecuménicas com os movimentos evangélicos, carismáticos e pentecostais no continente africano, vista a importância de suas expressões indígenas e de suas afinidades com a visão do mundo cultural tradicional africano. De um lado, tal compromisso ecuménico exige uma fidelidade inspirada nos princípios da Igreja sobre o ecumenismo (UR, nn. 2-4), e de outro, a compreensão específica das expressões culturais africanas. O diálogo e a busca da unidade devem levar em consideração o contexto das raízes culturais africanas. Com efeito, as raízes de árvores diferentes, separadas, mas próximas entre si, entrelaçam-se, embora continuem separadas em sua luta para acessar às mesmas fontes de vida, a terra e a água. Este ‘cruzamento’ é o emblema da aproximação ecuménica, relaciona-se à toda a questão da inculturação e da relevância do contexto.
4. A nossa busca da unidade na verdade e no amor não deve jamais prescindir da compreensão de que a unidade da Igreja é dever e dom do Espírito Santo, que vão bem além de nossos esforços ecuménicos (UR, 8). Todavia, o ecumenismo não produzirá frutos duradouros se não for acompanhado por gestos concretos de conversão, que movam as consciências e favoreçam a cura das recordações e das relações. Como afirma o Decreto sobre o Ecumenismo, “Não existe um ecumenismo verdadeiro sem a conversão interior” (UR, n. 7). Tal metanóia (UR, nn. 5-8; UUS 15s.; 83ss) aproxima-nos ainda mais de Deus, no centro de nossas vidas, de modo tal que nos faz aproximar ainda mais, uns dos outros.
Logo, o tema do sínodo representa um desafio para a Igreja na África a fim de que afine sua visão ecuménica e ofereça aos povos africanos a busca da unidade como tesouro auténtico do Evangelho. A Igreja católica na África é encorajada a continuar a construir pontes de amizade e, através de um ecumenismo espiritual orante e o consequente discernimento do desejo de Deus, a comprometer-se no “ministério da reconciliação” (2Cor 5, 18),que nos foi confiado por meio de Cristo. Esta é a base de nosso compromisso ecuménico. A renovação da vida interior do nosso coração e da nossa mente é o ponto crucial de todo o diálogo e a reconciliação, fazendo do ecumenismo um esforço recíproco de compreensão, de respeito e de amor, para que o mundo creia.

[00043-06.05] [IN018] [Texto original: inglês]

- S. E. R. Dom François EID, O.M.M., Bispo do Cairo dos Maronitas (EGITO)

Pronuncio esta intervenção em meu nome pessoal e refiro-me aos nn. 102, 126 e 128, que tratam das relações com as religiões, insistindo acerca da formação dos futuros sacerdotes na África, sobre a necessidade de passar do diálogo entre as culturas para a cultura do diálogo.
Um pensador asiático, Wesley Ari Raja, dizia: «Precisamos não só do conhecimento do outro, mas sobretudo do outro para melhor nos conhecer». Com esta premissa, podemos constatar que a questão do diálogo se põe como problema cultural e espiritual por excelência, dado que está ligado mais à compreensão de nós mesmos que à nossa tomada de posição em relação ao outro.
A história ensina-nos que a fonte do dinamismo que renova as identidades culturais está na sua maior abertura universalista que a leva a abraçar as diversidades e a criar uma osmose contínua que enriquece; o isolamento cultural, ao contrário, conduz à perda da identidade.
O termómetro do bom estado de saúde de um povo ou de uma comunidade está na centralidade do outro no seu programa comunitário. Isto explica a centralidade do amor ao próximo no cristianismo que faz da Igreja uma diaconia ao serviço do homem.
Neste sentido, uma das Cartas dos Patriarcas católicos do Oriente afirmava que «a presença dos outros na nossa vida representa a voz de Deus e a nossa relação com eles é um componente essencial da nossa identidade espiritual: por conseguinte é preciso ir além da convivialidade rumo a uma comunhão fraterna mais responsável».
Conclusão:
1. Na minha opinião, a formação dos futuros sacerdotes africanos para só pertencer ao nosso Senhor Jesus, mestre e modelo, constitui a única alternativa para fazer deles instrumentos de paz e de reconciliação. Portanto, a sua missão já não será considerada lugar de concorrência de interesses pessoais, familiares ou tribais, mas lugar de encontro entre irmãos amados pelo Senhor e chamados para construir juntos, na caridade, o seu Reino de Paz e Justiça.
2. Neste ponto, vejo a urgência de uma formação sacerdotal adequada que coloque antes de qualquer prioridade a passagem do diálogo entre as culturas para a cultura do diálogo. Esta missão fará dos futuros sacerdotes africanos os mensageiros do Evangelho da paz, para uma África nova, onde a solidariedade espiritual e humana induza todos e cada um a levar as dificuldades, os sofrimentos, as esperanças e os desafios do Outro, o nosso irmão, diante de Deus. Assim passamos da marginalização para o acolhimento, da rejeição para a aceitação e da rivalidade para a fraternidade.
A cultura do diálogo ressoa quanto dizia Santo Agostinho: «Et in omnia caritas».

[00044-06.04] [IN019] [Texto original: francês]

- S. E. R. Dom Simon NTAMWANA, Arcebispo de Gitega, Presidente da Associaçáo das Conferências Episcopais da África Central (A.C.E.A.C.) (BURUNDI)

Em nossa sub-região, diversas categorias e grupos sofrem hoje o peso de males que foram apenas recordados. As famílias vivem deslocadas, desestabilizadas, empobrecidas. Algumas não possuem casas adequadas para morar, nem terras para cultivar e sobreviver, nem meios para educar seus filhos, pagar atendimento médico, etc. A estas carências, acrescentam-se fenómenos como a violência contra as mulheres, o recrutamento de crianças pelos grupos armados, etc.
Enquanto a responsabilidade desta situação é de todos os componentes da sociedade, alguns, porém, têm responsabilidades maiores do que outros. Pensamos, principalmente, na classe política dirigente. Entre outras coisas, deplora-se o fato de que os políticos utilizem os conflitos étnicos para conquistar o poder, ou para mantê-lo. Alguns vêem sua função exclusivamente como uma fonte de enriquecimento pessoal, de suas famílias ou amigos. Desta forma, fazem triunfar o clientelismo e o tribalismo sobre os valores autênticos, comprometendo gravemente a paz social.
Nesta situação, a Igreja desempenhou um papel, com suas mensagens e exortações, assim como com seu testemunho de fraternidade, superando fronteiras e barreiras geradas por conflitos armados e por guerras.
Alguns irmãos bispos assumiram a direcção de Conferências Nacionais Soberanas, assegurando a mediação entre as diferentes partes, em seus países. Do mesmo modo, nossas comissões “Justiça e Paz” em alguns países participaram da preparação das eleições, oferecendo educação cívica e eleitoral. Em situações de guerra, as comissões Caritas-desenvolvimento socorreram milhares de pessoas indefesas.
Todavia, é preciso curar não só a pobreza espiritual, mas também o empobrecimento generalizado e o desmedido depauperamento dos nossos povos, oferecendo-lhes remédios adequados. Com efeito, as populações se tornaram vulneráveis precisamente porque são pobres ou empobreceram. Os ricos as manipulam a seu gosto; e os mau-intencionados utilizam as divisões étnicas para dividir o povo e continuar a enriquecer em meio a situações de conflito nas quais as pessoas não podem reivindicar seus direitos.

[00045-06.05] [IN020] [Texto original: francês]

- S. E. R. Dom Martin MUNYANYI, Bispo de Gweru (ZIMBÁBUE)

A Igreja no Zimbábue aprecia muito que o Instrumentum laboris tenha-se ocupado de questões de grande interesse para o nosso país - como a pobreza, a violência, a falta de reconhecimento às mulheres, às crianças e aos grupos de minoria - e também de problemas relativos à injustiça na Igreja, como as condições de trabalho dos seus empregados.
O Zimbábue viveu experiências sociopolíticas muito difíceis e desumanas que remontam aos períodos pré-colonial, colonial e pós-colonial que devem ser tratadas com urgência. Na busca de uma reconciliação duradoura, seria um erro pedir às pessoas que simplesmente se esquecessem do passado.
Há necessidade de reconciliação não só no país em geral, mas também na Igreja, pois vemos aumentar a tensão nalgumas das nossas paróquias devido às diferenças linguísticas e étnicas.
Na África, quando falamos de justiça, certamente falamos de partes envolvidas, que compreendem inclusive as famílias. As comunidades precisam reunir-se para debater os próprios problemas num cenário da «Árvores das Palavras». E deveria ser instaurada a justiça retributiva e regenerativa antes da morte de uma das partes em causa.
As questões de justiça na Igreja referem-se obviamente o não pagamento aos nossos trabalhadores da quantia suficiente que constitua um justo salário e o mau uso dos recursos da Igreja por parte de sacerdotes nas despesas das comunidades. Algumas práticas da Igreja tendem a ter preconceitos contra as meninas. Por exemplo, as meninas são castigadas e os meninos não.
Enquanto Igreja local, instituímos estruturas como a Comissão «justiça e paz» para nos dedicar aos aspectos históricos negativos da nossa experiência.
A inteira tarefa deveria começar na família, como esclareceu justamente o Papa Bento XVI: «A família é a primeira e insubstituível educadora para a paz... porque permite realizar experiências determinantes de paz».
Ao fazer isto, deveriam ser levadas a sério, literalmente, as palavras de João Paulo II: «Não existe paz sem justiça, não existe justiça sem perdão». Este é o reino da justiça defendido no Instrumentum laboris, que resume a mensagem evangélica de reconciliação, justiça e paz.

[00046-06.05] [IN021] [Texto original: inglês]

- S. E. R. Dom Daniel MIZONZO, Bispo de Nkayi (REPÚBLICA DO CONGO)

O objectivo deste Sínodo - parece-nos - é o empenho de todos os actores e as instituições a instaurar uma paz autêntica, real e duradoura na África, noutros termos, a vinda do Reino de Deus neste continente. Para alcançar este objectivo, a nossa principal tarefa consiste na busca onto-teológica da Verdade.
Com efeito, em quase todos os nossos países, na África, em particular os que conheceram ou ainda conhecem a guerra, celebrámos cerimónias e actos de reconciliação nacional, processos aos autores dos genocídios em nome da justiça, gestos simbólicos de paz e outras iniciativas. Contudo, não obstante tais esforços, a paz autêntica, real e duradoura, embora esteja na ordem do dia, à África não chegou ainda. Por quê? Porque falta a verdade.
«Quid est veritas?», Jo 18, 38. A interrogação de Pilatos permanece actual na África. As respostas de Jesus são iluminadoras: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida», Jo 14, 6. «Por isso vim ao mundo: para dar testemunho da verdade» Jo 18, 37b. No Reino de Deus «Misericórdia e justiça inclinar-se-ão do céu» Sl 84 (85), 11.12.
A paz é de Jesus: «Dou-vos a paz, dou-vos a minha paz». Não como a dá o mundo», Jo 14, 27ª.
Também São Paulo realça que Cristo «é a nossa paz», Ef 2, 14 porque é ontologicamente Verdade.
Encorajamos a Instituição dos Tribunais Internacionais (TPI) das Comissões de verdade e reconciliação pela paz, que foram um bem para a África do Sul, porque só «a verdade nos torna livres» Jo 8, 32b e nos trará a paz autêntica, real e duradoura. «Africa semper novi».

[00050-06.03] [IN022] [Texto original: francês]

- S. E. R. Dom Claude RAULT, M. Afr., Bispo de Laghouat (ARGÉLIA)

Nossa Igreja no Norte da África encontra-se numa “encruzilhada” geográfica e humana que nos coloca no cruzamento da Europa, Oriente Médio e África subsaariana. A população é composta por Árabes e Berberes, mas também há, no sul, uma componente de povos negros, dos quais muitas vezes nos esquecemos. A religião dominante, e quase exclusiva, é o Islã, atravessado por múltiplas correntes. Neste vasto universo geográfico, humano e religioso, nós cristãos e cristãs vivemos a nossa vocação ao Encontro e ao Diálogo.
- Inicialmente, é preciso dizer que é difícil para nós, situarmo-nos e ancorarmo-nos, no coração da Igreja na África, não obstante o próprio nome da África tenha origens no Magreb, pois deriva de “Ifriqiya”, cidade de Santo Agostinho. Fazemos parte da Igreja da África e o nosso profundo desejo é reforçar a nossa pertença ao coração desta Igreja.
- A herança colonial ainda pesa em nossos ombros. A Igreja no Magreb está ainda marcada. A esta condição, soma-se também a difícil relação histórica entre os mundos árabe e africano, causada parcialmente pela escravidão, praticada não só por Ocidentais.
- Mas a nossa situação é uma graça a ser acolhida. Somos uma Igreja cada vez mais multicultural, graças à presença de religiosos, religiosas, sacerdotes e leigos, estudantes e migrantes provenientes de além do Saara ou de outros continentes.
Estes elementos fornecem uma imagem mais universal da Igreja, mas apresentam um sério desafio à nossa Igreja no Magreb: a unidade e a comunhão. A participação na nossa vida eclesial de cristãos e cristãs de toda condição, provenientes da Europa, das Américas, da Ásia, do continente africano, do Oriente Médio, mas também da África do Norte: tudo constitui uma novidade que exige de nós a abertura ao universal. Com todas as nossas diferenças e nossas complementariedades conjugadas, e apesar da nossa pequenez, homens e mulheres, construímos a Igreja de Cristo, uma Igreja de Pentecostes.

[00047-06.07] [IN023] [Texto original: francês]

- S. E. R. Dom Antoine NTALOU, Arcebispo de Garoua (CAMARÕES)

Nos Camarões, como em diversos outros países africanos, observa-se que muitos cidadãos com cargos de responsabilidade se professam filhos da Mãe Igreja; podemos encontrá-los practicamente em todos os setores da vida da sociedade, como nas áreas da saúde e da educação, da política, da economia, da cultura, da vida associativa, etc.; também não é dificil encontrar pessoas que sejam orgulhosas daquilo que receberam da Igreja na sua infância ou juventude. Mas muitas vezes temos também a amarga experiência da diferença, que não deve ser menosprezada, existente entre a organização da vida social e as exigências da mensagem evangélica.
Nos encontramos diante de um problema muito sério, do qual é preciso individuar a causa principal para encontrar uma solução. Da parte minha, creio que a idade das nossas igrejas na África ajuda a situações às quais me refiro e algumas carências na organização da pastoral na maior parte das nossas dioceses explicam isso. Trata-se de uma formação doutrinal insuficiente dos cristãos que hoje assumem cargos de responsabilidade dentro das estruturas dos nossos países. Para a maior parte deles, portanto, a única bagagem doutrinal é a que receberam no momento da preparação aos sacramentos da iniciação. Por isso, não devemos nos surpreender se muitas vezes, no diálogo social, eles não tenham muito a oferecer lá onde ao invés outros grupos de interesse ou de pressão são dotados de armas potentes para a luta ideológica; os nossos fiéis não têm outra coisa a oferecer a não ser a sua boa vontade.
Portanto, é mais do que urgente assegurar uma formação cristã sólida aos filhos e às filhas da nossa Igreja que se empenham na política, na economia e nos demais setores centrais da vida dos nossos países africanos. O programa de tal formação, entre outras matérias deverá deixar amplo espaço à doutrina social da Igreja, à Bíblia, à teologia, à moral e à história da Igreja. Sobretudo, dever-se-á procura formar a consciência das nossas elites. Graças a Deus, já surgiram algumas iniciativas positivas em alguns lugares do continente (escolas de teologia) e está começando a formar-se um laicado consciente das suas responsabilidades num mundo que deve ser transformado a partir de dentro. Actualmente, essas experiências são ainda muito limitadas para que o impacto do fermento evangélico seja percebido de modo claro nos reflexos e nos comportamentos de indivíduos e grupos. Mas a direção tomada é a direção justa.

[00048-06.04] [IN024] [Texto original: francês]

- S. E. R. Dom Michael WÜSTENBERG, Bispo de Aliwal (ÁFRICA DO SUL)

Com frequência leigos e hierarquia não estão em perfeita sintonia. É necessária a reconciliação no seio da Igreja. Um plano pastoral levou ao desenvolvimento de uma comunidade melhor. Esta reconciliação no seio da Igreja incidiu sobre o empenho de evangelização dos leigos para reconciliar um mundo dividido. A unidade e a cooperação da Conferência episcopal apoia os leigos ao criar redes de colaboração. As pequenas comunidades cristãs - radicadas na fé - colaboram no campo social para transformar a sociedade a nível local. Este empenho desenvolve-se também através das diversas instituições. Com a falta, muito sentida, de uma catequese mais profunda, este empenho «em todas as camadas da sociedade» requer uma cuidadosa formação. As instituições que trabalham em diversos níveis assistem os agentes pastorais e os leigos com a formação indulgente. Contudo, é preciso fazer ainda mais para criar redes sólidas e eficientes. A colaboração dos bispos com os leigos nos âmbitos pastorais pode ser desenvolvida ulteriormente até a níveis regional e continental. O ministério de reconciliação dos leigos deve ser reconhecido através das celebrações que consolidem, confirmem e também preparem para esta missão. A experiência sacramental fornece uma formação ao divino. A celebração frequentemente carente do sacrifício da reconciliação durante a Eucaristia impede uma experiência regular da relação íntima de Deus consigo mesmo e com os outros. Este desequilíbrio na vida sacramental da Igreja deve ser eliminado pelo bem da espiritualidade que inclui a reconciliação.

[00051-06.03] [IN025] [Texto original: inglês]

- S. E. R. Dom Armando Umberto GIANNI, O.F.M. Cap., Bispo de Bouar, Presidente da Conferência Episcopal (REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA)

Procuramos aprofundar a crise que nos trouxe sofrimentos físicos e morais. Reunimo-nos para que todos pudessem exprimir o seu pensamento.
Em todos há o desejo de sair dessa crise, de reencontrar o caminho do diálogo, da conversão.
Aguarda-nos a delicada e necessária tarefa de ajudar os sacerdotes que têm problemas a reencontrar o caminho da verdade. Esperamos do Sínodo uma palavra clara e persuasiva sobre este tema.
O desafio é grande: como ajudar os sacerdotes a formar verdadeiras famílias sacerdotais. Sente-se a exigência de um directório de vida sacerdotal.Se a crise nos trouxe sofrimentos nos ajudará a crescer mais harmoniosamente. Temos necessidade de intensificar a união profunda com Cristo.
O nosso país há mais de 15 anos busca uma paz social, um equilíbrio que dê mais segurança e estabilidade, necessárias para atrair investimentos e fazer deslanchar a actividade económica, desenvolver os serviços sociais: escola, saúde, diálogo social.
Infelizmente a impunidade continua a cobrir crimes e injustiças. Os conflitos de interesse que afligem o Darfur, também se repercutem no nosso país.
A Igreja continuou a estar presente em todo o país. Também nas áreas consideradas vermelhas, isto é inseguras; continuou a sua obra nas escolas, na saúde, ao lado das pessoas desalojadas e deficientes.
Quero reafirmar a disponibilidade do pessoal das missões neste contexto de insegurança para assegurar o serviço de mediação entre forças governamentais e rebeldes, e muitas vezes também com os bandidos.
Com esses acordos eu pude fazer chegar em todos os lugares alimento, medicamentos, e assegurar encontros de diálogo entre as partes em causa, que contribuíram para diminuir as tensões.
Parece-me que a Igreja tem a vocação a estar presente nestes lugares humildes e escondidos, para ajudar a resolver os conflitos dentro de casa quando esses surgem. A sua voz é ouvida e procurada, porque tem credibilidade.

[00052-06.04] [IN026] [Texto original: italiano]

- S. E. R. Dom Giovanni Innocenzo MARTINELLI, O.F.M., Bispo titular de Tabuda, Vigário Apóstolico de Tripoli (LÍBIA)

Sabemos que no continente africano há mais de dez milhões de deslocados, migrantes que buscam uma pátria, uma terra de paz.
O fenómeno deste Êxodo revela uma face de injustiça e de crise sociopolítica na África. Na Líbia, vivemos a tragédia deste fenómeno... Chegar à Líbia, para ser rejeitado pela Europa...
Milhões de imigrantes entram na Líbia a cada ano, provenientes dos países da África subsaariana. A maior parte deles foge da guerra e da pobreza do próprio país e chega à Líbia, onde procura trabalho para ajudar sua família ou um modo para ir à Europa, na esperança de encontrar uma vida melhor e mais segura. Muitos deles deixaram-se enganar pelas promessas de um emprego bem retribuído e vêem-se obrigados a aceitar trabalhos mal-pagos e perigosos, e por vezes, não encontram nada. Muitas mulheres, quando entram no país, são obrigadas a prostituir-se ou a escravizar-se. Todos os imigrantes ilegais correm o risco de ser encarcerados, deportados, e pior ainda, eles não têm acesso à assistência legal e ao atendimento médico.
Na Líbia, há centros de acolhimento para todos os clandestinos, mas todos os que se dirigem ao Centro de Serviço Social da Igreja são originários da Eritréia e Nigéria, ou etíopes, sudaneses e congoleses...
Para muitos, a imigração é uma tragédia, sobretudo porque se tornam vítimas do tráfico e da exploração (especialmente as mulheres), além de terem seus direitos humanos desprezados. Agradecemos, porém, ao Senhor, por seu testemunho cristão. É uma comunidade que sofre, que procura, precária, mas repleta de alegria na expressão da fé! E que num contexto social e religioso muçulmano, dá credibilidade à Igreja... e vive o diálogo da vida com muitos muçulmanos. São a nossa Igreja na Líbia, peregrina e estrangeira, luz de Jesus e sal para o povo que a circunda.
Peço a seus pastores que não se esqueçam deles, neste Êxodo forçado!

[00053-06.04] [IN027] [Texto original: francês]

- S. E. R. Dom Lucius Iwejuru UGORJI, Bispo de Umuahia (NIGÉRIA)

As multinacionais exploram os recursos naturais na África numa medida que não há precedentes na história. Utilizam os recursos que se acumularam durante tanto tempo e não se preocupam se as gerações futuras ficarão sem meios de subsistência. Esta exploração irresponsável do meio ambiente tem um impacto negativo sobre os africanos e ameaça as suas perspectivas de viver em paz.
Ligado a este problema está a degradação ambiente da África. Grandes áreas são destruídas devido ao desflorestamento, à extracção do petróleo, assim como ao escoamento do lixo tóxico, dos frascos de plástico e material em celofane. Além disso, a erosão causada pelo homem arrasa os terrenos agrícolas, destrói as estradas e enche de areia as fontes de água. Esses factores empobrecem as comunidades africanas, aumentando as tensões e os conflitos.
Os dons da criação provêm de um Pai amoroso. Cada geração tem necessidade deles para o próprio sustento. Devem ser conservados (Gn 2,15) e utilizados com moderação. Os actuais desafios ecológicos são o resultado dos pecados do homem: egoísmo, avidez, falta de sensibilidade pelos danos ambientais e incapacidade de cuidar da terra.
A Igreja na África deve suscitar uma «conversão ecológica» através de uma educação intensiva. Deve educar as pessoas a ser mais sensíveis para com o crescente desastre ambiental e a necessidade de reduzi-lo. Todos devem tornar-se cada vez mais conscientes de que as gerações futuras têm o direito de viver num meio ambiente intacto e sadio e de usufruir os seus recursos.

[00054-06.04] [IN028] [Texto original: inglês]

- Rev. Guillermo Luis BASAÑES, S.D.B., Conselheiro Geral para a região África-Madagascar dos Salesianos (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA)

Lá onde hoje algumas populações na África estão tentadas a declarar a impossibilidade de coexistir, de viver em conjunto, de partilhar a mesma terra, os religiosos e as religiosas, chamados a viver a caridade perfeita em comunidade, não só anunciam a todos os povos e etnias na África que é possível viver juntos na diversidade ou tolerar-se, mas que viver e trabalhar juntos é fecundo, é útil e até bonito.
Por conseguinte, proponho que mais que falar das «pessoas consagradas» como actores de reconciliação, de justiça e de paz, sejam destacas as «comunidades de vida consagrada».
A este propósito, vejo com muita urgência a necessidade de que os nossos Pastores na África possam continuar a ajudar a Vida Consagrada a fim de que seja fiel à sua vocação de profunda comunhão e de reconciliação:
- promovendo nas Igrejas o conhecimento da natureza da Vida Consagrada e mais especificamente da sua profecia de comunhão;
- exortando para que na formação à Vida Consagrada na África, se dê centralidade à formação para vida comunitária intercultural, internacional e inter-étnica;
- evitando que a exigência de serviços pastorais, cada vez mais vasta, urgente e diversificada, consiga minar o testemunho comunitário da vida consagrada com o risco que o sal perca o seu bom sabor;
- encorajando os diversos Institutos religiosos nascidos na África a abrirem-se o quanto antes à missão ad gentes para mostrar com clareza que nenhum carisma está vinculado de modo exclusivo a uma etnia ou nação (cf. VC 78)

[00055-06.03] [IN029] [Texto original: italiano]

- S. E. R. Dom Berhaneyesus Demerew SOURAPHIEL, C.M., Arcebispo Metropolita de Addis Abeba, Presidente da Conferência Episcopal, Presidente do Conselho da Igreja Etíope (ETIÓPIA)

Espero que este sínodo para a África estude as causas que estão na base do tráfico humano, das pessoas deslocadas, dos trabalhadores domésticos explorados (principalmente as mulheres do Oriente Médio), dos refugiados e dos migrantes, especialmente dos africanos que chegam em barcaças e pedem asilo, e que produza posições e propostas concretas para mostrar ao mundo que a vida dos africanos é sagrada e não sem valor, como ao invés parece ser apresentada e vista por muitos meios de comunicação.
Como é de conhecimento, a União Africana (UA) tem a sua sede em Addis Abeba, onde foi fundada. A UA é o fórum da liderança política na África. É útil saber que quase 50% dos integrantes da UA são membros da Igreja Católica. Até agora, o Núncio Apostólico na Etiópia foi convidado a participar como observador das assembleias gerais da UA quando se realizam em Addis Abeba. É meu auspício que a Santa Sé nomeie um representante permanente junto à UA, que participe em todos os encontros em qualquer lugar esses se realizem e assim poderia manter um contato pessoal com os membros católicos desta importante instituição.
Este representante especial deveria preferivelmente possuir credenciais diplomáticas semelhantes às de um Núncio Apostólico. Seria nomeado para dedicar-se totalmente a esta missão, de modo que pudesse participar dos encontros e encontrar as pessoas que têm influência determinante no processo decisional.
Seria também necessário um representante do Simpósio das Conferências Episcopais da África e do Madagáscar (SECAM) na UA, pelo menos a nível de observador, a fim de que a Igreja católica na África tenha uma só voz junto à UA e possa encorajar os fiéis leigos católicos que trabalham na UA.
Da parte nossa, como Igreja local na Etiópia, nos comprometemos em fazer o melhor possível para acolher um representante especial da Santa Sé ou do SECAM e, no caso desejem residir em Addis Abeba para facilitar o seu trabalho, colaborar com a sua missão. Estou certo de que a União Africana estaria disponível em aceitar esses representantes e que os membros leigos católicos deste organismo se sentiriam particularmente apoiados pela Igreja católica na sua missão.

[00056-06.04] [IN030] [Texto original: inglês]

- S. E. R. Dom Ildefonso OBAMA OBONO, Arcebispo de Malabo, Presidente da Conferência Episcopal (GUINÉ EQUATORIAL)

Omitindo o capítulo IV do Instrumentum laboris, refiro-me aos actores e às instituições chamadas a darem testemunho da fé em Cristo em todos os âmbitos e sectores da sociedade com discernimento local.
Há anos - como referência histórica - os cristãos conheceram dificuldades com a perseguição religiosa, já superada, que foi de cunho marxista e comunista. Actualmente os cristãos vivem a inquietação do materialismo da vida, que prejudica os valores do reino de Deus. Por isso, a mensagem «combater a pobreza, construir a paz» é muito actual para a dignidade de todos e o bem comum.
Quanto às instituições, empenhamo-nos a promover a fé com a Palavra de Deus e a dar impulso à sagrada Eucaristia celebrada e adorada, vínculo de caridade. Sabemos que o conteúdo da Nova Evangelização é Jesus Cristo, o Enviado do Pai. Por Ele, confiamos na força da fé e da Palavra de Deus em si mesma, para purificar os corações.
Nesta perspectiva, a reconciliação, a justiça e a paz fundam-se no amor, no perdão e na misericórdia de Deus em Cristo. Por isso, na realidade pastoral incide o ensinamento da «Caritas in veritate», que afirma: «A caridade é a via-mestra da doutrina social» (n. 2). Com a sua difusão e aplicação.
Conclusão: 1. A cultura da solidariedade é uma urgência dos nossos tempos contra os quais pressiona o lema «divide e vencerás» nas hostilidades e rivalidades tribais e propiciam a violência, o terrorismo e as guerras: a cultura da morte. «A paz nasce num coração novo». Cremos na esperança. O Deus da paz doar-nos-á a paz que os homens não podem dar. 2. A nossa tarefa é instaurar a civilização do amor. Como proposta válida para a presença da Igreja na sociedade é a conversão ao amor forte e sincero, como o amor de Deus em Cristo morto e ressuscitado, pela convivência fraterna, a humanização e a salvação total.
Além disso, a África é a reserva espiritual do mundo e a nova pátria de Cristo.

[00057-06.04] [IN031] [Texto original: espanhol]

- S. E. R. Dom Emílio SUMBELELO, Bispo de Uíje (ANGOLA)

No nosso contexto angolano, a justiça deve caminhar de mãos dadas com o perdão. Sem perdão, não pode haver reconciliação e consequentemente a Paz, porquanto desenvolvimento de qualquer povo ou Nação fica indefinidamente adiado, quando faltam mecanismos de perdão.
Nos últimos 30 anos, uma boa parte dos Países Africanos, e Angola não foge à regra, sofreu profundas modificações. As imensas e múltiplas convulsões populacionais, relacionadas com a guerra, transformaram a sociedade Africana. Presentemente mais de metade da população vive em zonas urbanas. Uma das primeiras consequências: a da sua identidade étnico-tribal; povos de diferentes origens e respaldos sociais, que agora vivem juntos num mesmo meio urbano, dando origem a uma fusão cultural. Segunda consequência: conflitos inter-étnicos, gerados pelas condições de mal-estar económico e grande desigualdade social.
O verdadeiro perdão deve incluir a busca da verdade. Faz parte dessa verdade o reconhecer o mal feito e, se possível, repará-lo. Com efeito, o perdão não elimina nem diminui a exigência da reparação, que é própria da justiça, mas que pretende reintegrar as pessoas e os grupos na sociedade. Passos concretos: 1. através das CJP, Pro Pace, promover oportunas investigações, a propósito das prevaricações de grupos étnicos ou de injustiças, para acertar a verdade como primeiro passo para a reconciliação. 2. Apostar na "reconstrução humana", que passa pela modificação do comportamento da personalidade que foi mal construída, e/ou sofreu algum abalo nas suas estruturas, e/ou nas estruturas da sua sociedade. A "reconstrução humana" é, portanto, um trabalho que se espera da Igreja, a fim de que o "indivíduo destruído" volte a torna-se pessoa e aceitar-se a si mesmo e fazer com que ele aprenda a criar novos impulsos, e que estes se transformem em capacidade de aceitar os outros.

[00059-06.03] [IN033] [Texto original: português]

- S. E. R. Dom José NAMBI, Bispo de Kwito-Bié (ANGOLA)

A cultura democrática vai dando passos, embora timidamente. Em Angola ainda não se realizam eleições com aquela periodicidade desejável. Há políticos desejosos de uma verdadeira mudança da situação, mas outros resistem, são insensíveis e procuram apenas os próprios interesses. Os ventos de democracia fazem-se sentir mais na capital do que noutros pontos do país e com poucos meios de comunicação social. Verifica-se a falta de uma verdadeira educação cívica dos cidadãos o que favorece a manipulação. Tudo isto aliado ao analfabetismo no meio rural torna a situação muito precária. A consciência crítica das pessoas é fraca. Para alguns tudo o que é dito pelos meios de comunicação social é visto como verdadeiro. Deste modo pensa-se que é urgente que se promova a educação cívica dos cidadãos e se fortaleça a consciência crítica dos mesmos. Isto significa também promover a defesa da liberdade de expressão e de opinião como apanágios da democracia e lugares de desenvolvimento. Os leigos que militam nas diversas instituições civis, nos partidos políticos, no Parlamento, são chamados a dar um verdadeiro testemunho da reconciliação, da justiça e da paz. Por isso, consideramos fundamental continuar a apostar na formação dos mesmos a todos os níveis.
O continente africano é considerado rico, mas os seus povos continuam pobres. Algo de positivo está sendo feito para reduzir a pobreza. Em Angola nota-se um grande esforço para se sair da pobreza. Foram concebidos grandes e pequenos projectos para o efeito. Todavia, a diferença entre ricos e pobres continua enorme. A acumulação de riquezas nas mãos de poucas pessoas é gritante, o que gera e pode gerar sempre conflitos. A população dos meios rurais está a ser atraída pela vida das cidades o que traz consigo vários problemas sociais. A imigração a partir de países vizinhos está agudizar-se e traz consigo várias consequências sociais. Existe a questão das terras ocupadas em prejuízo dos pequenos camponeses, o que tem gerado conflitos.

[00058-06.04] [IN032] [Texto original: português]

Em seguida houve um tempo para intervenções livres.

 

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