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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

 Prece na escuridão

Terça-feira, 30 de Setembro de 2014

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 40 de 2 de Outubro de 2014

 

A «oração da Igreja» pelos muitos «Cristos sofredores» que «estão em toda a parte» também no mundo de hoje. Pediu o Papa Francisco durante a missa, invocando-a sobretudo por «aqueles nossos irmãos que por serem cristãos são expulsos da própria casa e ficam sem nada», pelos idosos deixados de lado e pelos doentes sozinhos nos hospitais: enfim, por todas as pessoas que vivem «momentos obscuros».

O Pontífice inspirou-se na primeira leitura — tirada do livro de Job (3, 1-3.11-17.20-23) — na qual está contida «uma oração especial. A própria Bíblia diz que é uma maldição», explicou. De facto, «Job abriu a boca e amaldiçoou o seu dia», lamentando-se «do que lhe tinha acontecido». A este propósito, o bispo de Roma frisou que «Job, homem rico e justo, que verdadeiramente adorava a Deus e seguia os mandamentos», disse estas palavras depois de ter perdido tudo. Foi posto à prova e naquele momento acabou a paciência e ele disse isto.

Depois, confidenciou que na sua experiência pastoral muitas vezes ele mesmo ouve «pessoas que vivem situações difíceis, dolorosas, que perderam tanto ou se sentem sozinhas e abandonadas e vêm lamentar-se e questionam-se: Porquê? Rebelam-se contra Deus». E a sua resposta é: «Continua a rezar assim, porque também esta é uma oração». Como a de Jesus, quando disse ao Pai «Por que me abandonaste?». Pois «rezar é tornar-se verdade diante de Deus. Reza-se com a realidade. A oração verdadeira vem do coração, do momento no qual vivemos». É precisamente «a oração nos momentos de escuridão, nos momentos da vida nos quais não há esperança» e «não se vê o horizonte».

Eis a actualidade da palavra de Deus, porque também hoje «muitas pessoas estão na situação de Job. Muitos irmãos e irmãs que perderam a esperança». E o pensamento do Pontífice dirigiu-se imediatamente «para as grandes tragédias» como a dos cristãos expulsos das próprias casas e privados de tudo, que se perguntam «Mas, Senhor, eu acreditei em ti. Porquê?». Por que «crer em ti é uma maldição?». O mesmo é válido para os idosos, para os doentes, para as pessoas solitárias. Com efeito, é «por todas essas pessoas e também por nós quando caminhamos na escuridão», que a «Igreja reza». E ao fazê-lo, carrega sobre si mesma esta dor.

Santa Teresa do Menino Jesus defendia-se desta insídia «rezando e pedindo forças para ir em frente na escuridão. Isto chama-se “entrar em paciência”». Uma virtude que deve ser cultivada com a oração, porque — advertiu o bispo de Roma — «a nossa vida é demasiado fácil, as nossas lamentações são teatrais» se forem comparadas com as «lamentações de muitos irmãos e irmãs que estão na escuridão, que quase perderam a memória, a esperança, que estão exilados, inclusive de si mesmos».

Recordando que o próprio Jesus percorreu «este caminho: desde a noite no monte das Oliveiras até à última palavra na Cruz: “Pai, por que me abandonaste?”», o Santo Padre expressou dois pensamentos conclusivos que «nos podem servir». O primeiro foi o convite a «preparar-nos para quando vier a escuridão». Portanto, é preciso «preparar o coração para aquele momento». O segundo é uma exortação a «rezar, como reza a Igreja e com a Igreja».

 



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