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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

Depressão ou esperança?

Quinta-feira, 27 de Novembro de 2014

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 49 de 4 de Dezembro de 2014

Francisco lançou um convite à «esperança», a não se deixar deprimir nem assustar por uma realidade feita de «guerras e sofrimentos». Recordando como as grandes construções, ignorando Deus, estão destinadas a desabar: foi assim para a «malvada Babilónia», que caiu na corrupção da mundanidade espiritual. Foi assim também para a «distraída Jerusalém», que caiu por ser «suficiente» a si mesma, incapaz de se dar conta das visitas do Senhor. Assim, para o cristão, a atitude recta é sempre a «esperança», nunca a «depressão», disse o Papa na missa de 27 de Novembro, dedicada à Bem-Aventurada Virgem da Medalha Milagrosa, amada pela espiritualidade das filhas da Caridade de são Vicente de Paulo, a congregação que presta serviço nesta Casa.

«Nestes últimos dias do ano litúrgico, a Igreja propõe-nos a meditação sobre o fim do mundo, os últimos dias». E «fá-lo com várias imagens e temas: amanhã serão evocados os sinais dos tempos». Mas «chama sempre a nossa atenção para o fim: a aparência deste mundo dissipar-se-á e haverá outra terra, outro céu; e este mundo será transformado». Assim, «hoje meditamos sobre a queda de duas cidades que se afastaram do Senhor, que se sentiam satisfeitas consigo mesmas». Na primeira leitura, tirada do Apocalipse (18, 1-2.21-23; 19,1-3.9) João fala da queda da Babilónia enquanto Lucas, no Evangelho (21, 20-28) cita as palavras de Jesus sobre a queda de Jerusalém.

Contudo, «a queda destas cidades ocorre por motivos diferentes». Babilónia, «símbolo do mal e do pecado», tornou-se «covil de demónios, refúgio de espíritos impuros, de feras horrendas»: caiu «por causa da corrupção». É o próprio apóstolo que o diz: «Ela, a grande, corrompia a terra com a sua prostituição». Babilónia «era corrupta, sentia-se dona do mundo e de si mesma, com o poder do pecado». E «quando o pecado se acumula, ela perde a capacidade de reagir e começa a apodrecer».

«Assim acontece também com as pessoas corruptas, que não conseguem reagir», porque «a corrupção lhes dá um pouco de felicidade e poder, fazendo-as sentir satisfeitas», mas «não deixa espaço ao Senhor, à conversão». Eis, então, o perfil da «cidade corrupta». E «hoje a palavra corrupção diz-nos muito: não é só económica, mas contém muitos pecados; é corrupção com o espírito mundano». De resto, «a pior corrupção é o espírito de mundanidade». Com efeito, «Jesus orou muito ao Pai para preservar os seus discípulos do espírito do mundo, que nos faz sentir já aqui como no paraíso». Mas «dentro, a cultura corrupta está podre: mais do que morta.... E isto não se vê». Babilónia é o «símbolo» de «qualquer sociedade, cultura ou pessoa que se afasta de Deus, do amor ao próximo, acabando por apodrecer em si mesma».

Ao contrário, «Jerusalém cai por outro motivo»: era «a esposa, a noiva do Senhor, que a amava muito!», mas «não se dava conta das visitas do Senhor, levando-o a chorar»: «Quantas vezes eu quis reunir os teus filhos como a galinha reúne os seus pintainhos, mas tu não te deste conta do número de vezes que Deus te visitou!».

Portanto, se «Babilónia caiu devido à corrupção, Jerusalém fê-lo por distracção»; em síntese, «não se sentia carente de salvação: tinha os escritos dos profetas, de Moisés, e isto já lhe era suficiente». Ma tais escritos estavam «fechados». Assim, a cidade «não deixava espaço à salvação, mantinha as portas fechadas ao Senhor». «Estes exemplos podem levar-nos a pensar na nossa vida: também nós, um dia, ouviremos o som da trombeta». Mas «em que cidade estaremos nesse dia? Na corrupta e suficiente Babilónia? Na distraída e fechada Jerusalém?». Contudo, no final ambas serão destruídas.

Mas «a mensagem da Igreja hoje não acaba com a destruição: há sempre uma promessa de esperança». Com efeito, no momento em que Babilónia cai «ouve-se o grito de vitória: aleluia, felizes os convidados para o banquete de núpcias do Cordeiro! Aleluia, agora que tudo foi purificado começa o banquete!». Contudo, aquela cidade «não era digna de tal banquete».

Por outro lado «o texto da queda de Jerusalém consola-nos muito com esta palavra de Jesus: levantai a cabeça!». O Senhor convida a «olhar», a não se deixar «apavorar pelos pagãos», pois «os pagãos passarão, e só os devemos suportar com paciência, como fez o Senhor com a sua paixão». Eis então o convite de Jesus: «Levantai a cabeça!».

O Pontífice concluiu a sua meditação com este apelo à esperança. «Quando pensamos no fim da nossa vida, do mundo com todos os nossos pecados, com a nossa história pessoal, pensemos no banquete que nos será oferecido gratuitamente e levantemos a cabeça». Não à «depressão», sim à «esperança»! É verdade que «a realidade é feia: há muitos povos e cidades que sofrem; tantas guerras, ódio e inveja; muita mundanidade espiritual e corrupção». Mas «tudo isto passará». Eis o motivo pelo qual devemos «pedir ao Senhor a graça de estar preparados para o banquete que nos espera, com a cabeça sempre levantada!».

 



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