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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

Se o coração for como um mercado

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 02 de 9 de Janeiro de 2014

O coração do homem assemelha-se a um «mercado de bairro» onde é possível encontrar de tudo. O cristão deve aprender a conhecer profundamente o que se passa nele, discernindo o que segue o caminho indicado por Cristo e o que, ao contrário, conduz pela estrada indicada pelo anticristo. O critério para se orientar nesta escolha — afirmou o Papa Francisco na homilia da missa celebrada na manhã de terça-feira, 7 de Janeiro, na capela de Santa Marta, que retornou depois das festas de Natal — é seguir o percurso indicado pela encarnação do Verbo.

O Pontífice propôs esta reflexão comentando a primeira carta de João (3, 22 – 4, 6) na qual o apóstolo «parece quase obsessivo» em repetir alguns conselhos, em particular: «Permanecei no Senhor».

«Permanecer no Senhor», reiterou o Papa, acrescentando: «O cristão, homem ou mulher, é aquele que permanece no Senhor». Mas que significa? Muitas coisas, respondeu o Santo Padre. Embora, explicou, o trecho da carta de João analise uma atitude particular que o cristão deve assumir se quiser permanecer no Senhor: ou seja, a consciência plena «do que acontece no seu coração».

Quando o cristão permanece no Senhor sabe «o que acontece no seu coração». Por esta razão, o apóstolo — observou o Pontífice — «diz: “Queridos, não acrediteis em todos os espíritos, mas ponde-os à prova”; sabei discernir os espíritos, discernir o que sentis, o que pensais, quereis, se é próprio do permanecer do Senhor ou se é algo diferente, que te afasta do Senhor». Aliás «o nosso coração — continuou — tem sempre desejos, anseios, pensamentos: mas todos estes, são do Senhor?

Ou alguns deles nos afastam do Senhor? Por isso, o apóstolo diz: ponde à prova tudo o que pensais, que sentis, que desejais... Se isto estiver em sintonia com o Senhor está bem; mas se não for assim...». Por conseguinte, é necessário «pôr à prova os espíritos — reiterou o bispo de Roma citando ainda a carta de João — «para verificar se realmente provêm de Deus, porque muitos falsos profetas vieram ao mundo”». E falsos, admoestou, podem ser não só os profetas, mas também as profecias ou as propostas. Portanto, é preciso vigiar sempre. Aliás, o cristão, especificou, é precisamente o homem ou a mulher «que sabe vigiar sobre o seu coração».

Um coração, acrescentou o Papa Francisco, no qual há «muitas coisas que vão e voltam... Parece um mercado de bairro onde se encontra tudo». Exactamente por esta razão é necessária uma obra constante de discernimento; para compreender, especificou o Pontífice, o que é verdadeiramente do Senhor. Mas «como se — perguntou-se — se isto é de Cristo?». O critério a ser seguido é indicado pelo apóstolo João. E o Santo Padre recordou-o citando mais uma vez a carta: «Todos os espíritos que reconhecem Jesus Cristo vindo na carne, vêm de Deus; todos os espíritos que não reconhecem Jesus, não são de Deus. São o espírito do anticristo que, como ouvistes, vem, aliás já está no mundo».

«É tão simples: se o que tu desejares — explicou — vai pela estrada da encarnação do Verbo, do Senhor que veio em carne» significa que é de Deus; mas se não segue aquela estrada, então não vem de Deus. Trata-se, em síntese, de reconhecer o caminho percorrido por Deus, o qual «se abaixou, se humilhou até à morte da Cruz». Abaixamento, humildade e também humilhação: «este — especificou o Pontífice — é o caminho de Jesus Cristo». Se um pensamento, se um desejo «te levar — acrescentou ainda — pela estrada da humildade, do abaixamento, do serviço ao próximo, é de Jesus; mas se te levar pelo caminho da suficiência, da vaidade, do orgulho ou de um pensamento abstracto, não é de Jesus». Confirma isto a tentação que o próprio Jesus teve que sofrer no deserto: «As três propostas que faz o demónio a Jesus eram propostas que queriam afastar Jesus deste caminho, do caminho do serviço, da humildade, da humilhação, da caridade feita com a sua vida».

Pensemos — propôs o Pontífice — neste hoje. Far-nos-á bem. Em primeiro lugar: o que acontece no meu coração? O que penso? O que sinto? Presto atenção ou deixo correr, que tudo vai e volta? Sei o que quero? Ponho à prova o que quero, o que desejo? Ou aceito tudo? Queridos, não acrediteis em cada espírito; ponde à prova os espíritos». Muitas vezes, acrescentou, o nosso coração é «como um caminho, onde passam todos». Mas precisamente por isto é necessário «pôr à prova» e perguntamo-nos «se escolhemos sempre as coisas que provêm de Deus, se sabemos quais são os que vêm de Deus, se conhecemos o critério verdadeiro para discernir» os nossos desejos, os nossos pensamentos. E, concluiu, nunca devemos esquecer «que o critério verdadeiro é a encarnação de Deus».

 



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