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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

Na missa sem relógio

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 07 de 13 de Fevereiro de 2014

Não se vai à missa com o relógio na mão, como se tivéssemos que contar os minutos ou assistir a uma representação. Vai-se para participar no mistério de Deus. E isto é válido também para quantos vêm a Santa Marta participar na missa celebrada pelo Papa, que — disse o Pontífice aos fiéis presentes na capela da sua residência, na manhã de 10 de Fevereiro — «não é um passeio turístico. Não! Vós vindes aqui e reunimo-nos para entrar no mistério. Esta é a liturgia».

Para explicar o sentido deste encontro directo com o mistério, o Papa Francisco recordou que o Senhor falou ao seu povo não só com as palavras. «Os profetas — disse — referiam as palavras do Senhor. Os profetas anunciavam. Acontece o mesmo também na Igreja». Fá-lo através da sua Palavra recolhida no Evangelho e na Bíblia: fala-nos através da catequese, da homilia. Quando celebramos a missa, não fazemos uma representação da Última Ceia». A missa «não é uma representação, é algo diverso. É precisamente a Última Ceia; é exactamente viver outra vez a paixão e a morte redentora do Senhor. É uma teofania: o Senhor torna-se presente no altar para ser oferecido ao Pai pela salvação do mundo».

Em seguida, o Papa Francisco propôs, como muitas vezes costuma fazer, um comportamento comum nos irmãos: «Nós ouvimos ou dizemos: “mas, agora eu não posso, tenho que ir à missa, tenho que ir ouvir missa”. A missa não se ouve, nela participa-se. E participa-se nesta teofania, neste mistério da presença do Senhor entre nós». Depois, o Papa referiu outro comportamento bastante comum entre os cristãos: «Quantas vezes — observou — contamos os minutos... “tenho só meia hora, tenho que ir à missa...”». Esta «não é a atitude que a liturgia nos pede: a liturgia é tempo de Deus e espaço de Deus, e nós devemos estar ali no tempo de Deus, no espaço de Deus e não olhar para o relógio. A liturgia é precisamente entrar no mistério de Deus; deixar-se levar ao mistério e estar no mistério».

E, dirigindo-se precisamente a quantos estavam presentes na celebração acrescentou: «Estou certo de que todos vós viestes aqui para entrar no mistério. Mas talvez alguém tenha dito “tenho que ir à missa a Santa Marta, porque no passeio turístico de Roma é preciso ir visitar o Papa em Santa Marta todas as manhãs... Não! Vós vindes aqui, nós reunimo-nos aqui, para entrar no mistério. E o Pontífice concluiu convidando os presentes a «pedir hoje ao Senhor que conceda a todos este sentido do sagrado.

Na missa celebrada na sexta-feira 7 de Fevereiro o Papa centrou a sua meditação sobre a figura do precursor. O «ícone do discípulo» descrito corresponde às características de João Baptista. Jesus deve ser anunciado e testemunhado com força e clareza — disse — sem meias-medidas, voltando sempre à fonte do «primeiro encontro» com ele e sabendo viver também a experiência da «escuridão da alma».

Partindo da narração da sua pregação e morte, descrita pelo Evangelho de Marcos (6, 14-29), o Papa disse que João é «um homem que teve uma vida breve, um tempo breve para anunciar a palavra de Deus». Ele era «o homem que Deus enviou para preparar o caminho do seu Filho».

O Pontífice traçou o perfil de João Baptista indicando três características fundamentais. «O que fez João? Antes de tudo — explicou — anunciou o Senhor. Anunciou que o Salvador, o Senhor, estava próximo; que o Reino de Deus estava próximo». Um anúncio que ele «fez com vigor: baptizava e exortava todos a converter-se». João «era um homem forte e anunciava Jesus Cristo: foi o profeta mais próximo de Jesus Cristo. Tão próximo que precisamente ele o indicou» aos outros. Com efeito, quando viu Jesus, exclamou: «É ele!».

Como Jesus, disse ainda o Papa, «também João teve o seu horto das oliveiras, a sua angústia na prisão quando pensava que errou». Por isso ele «envia os seus discípulos a perguntar a Jesus: diz-me, és tu ou errei e há-de vir outro?». É a experiência da «escuridão da alma», da «escuridão que purifica». E «Jesus respondeu a João como o Pai respondeu a Jesus: confortando-o». Também «João passou por esta escuridão» mas foi «anunciador de Jesus Cristo: não se apropriou da profecia» tornando-se «imitador de Jesus Cristo».

Em conclusão o Papa Francisco sugeriu um exame de consciência «sobre o nosso discipulado» através de algumas perguntas: «Anunciamos Jesus Cristo? Aproveitamos ou não da nossa condição de cristãos como se fosse um privilégio?». E por fim, mais uma pergunta: «Caminhamos pela via de Jesus Cristo, o caminho da humilhação, da humildade, do abaixamento pelo serviço?». Para o Pontífice, se nos apercebemos que não somos «determinados nisto», é bom «questionar-nos: mas quando aconteceu o meu encontro com Jesus Cristo, aquele encontro que me encheu de alegria?». É uma maneira de voltar espiritualmente àquele primeiro encontro com o Senhor», «voltar à primeira Galileia do encontro: todos nós temos uma!». O segredo, disse o Papa, consiste precisamente em «voltar lá: voltar a encontrar-nos com o Senhor e ir em frente por este caminho tão bonito, no qual ele deve crescer e nós devemos morrer».

E na missa de quinta-feira 6 de Fevereiro, Francisco indicou as «grandes graças» da vida cristã. Viver toda a vida dentro da Igreja, como pecadores mas não como traidores corruptos, com uma atitude de esperança que nos leva a deixar uma herança feita não de riqueza material mas de testemunho de santidade.

O bispo de Roma centrou a sua reflexão no mistério da morte, a partir da primeira leitura — tirada do primeiro livro dos Reis (2, 1-4.10-12) — na qual, disse, «ouvimos a narração da morte de David». Toda a vida de David é «um percurso, um caminho ao serviço do seu povo». E «assim como começou, assim acaba». O mesmo, observou o Papa, acontece também na nossa vida que «começa, caminha, vai em frente e termina». O Papa convidou «a pedir a graça de morrer em casa: morrer em casa, na Igreja». E acrescentou que «esta é uma graça» e «não se compra». Porque «é uma dádiva de Deus».

Depois propôs outra reflexão sobre a morte de David. «Nesta narração — observou — vê-se que David está tranquilo, em paz, sereno». A ponto que «chama o seu filho e lhe diz: eu vou pelo caminho de cada homem na terra». Por outras palavras David reconhece: «Agora é a minha vez!». E depois, lê-se na Escritura, «David adormeceu com os seus pais». Eis, explicou o Papa, o rei que «aceita a sua morte com esperança, em paz». E «esta é outra graça: a graça de morrer com esperança, ciente de que este é um passo» e que «do outro lado esperam por nós». Com efeito, também depois da morte «a casa continua, a família continua: não estarei sozinho!». Trata-se de uma graça que deve ser pedida sobretudo «nos últimos momentos da vida: nós sabemos que a vida é uma luta e que o espírito do mal quer saquear».

Outro pensamento sugerido pelo Papa é «o problema da herança». A propósito «a Bíblia — esclareceu — não nos diz que quando David morreu vieram todos os netos, ou bisnetos, pedir a herança!». Há muitas vezes «tantos escândalos sobre a herança que dividem as famílias». Mas não é a riqueza a herança que David deixa. De facto, lê-se na Escritura: «E o seu reino consolidou-se muito». David, ao contrário, «deixa a herança de quarenta anos de governo ao seu povo e o povo consolidado, forte».

A este propósito o Pontífice recordou «um dito popular» segundo o qual «cada homem, na vida, deve deixar um filho, plantar uma árvore e escrever um livro: esta é a melhor herança». O Papa convidou cada um a perguntar-se. «Que herança deixo eu aos que vêm após mim? Uma herança de vida? Pratiquei tanto o bem que o povo me quer como pai ou como mãe?». Talvez não «tenha plantado uma árvore» ou «escrito um livro», mas dei vida, sabedoria?». A verdadeira «herança é a que David» revela ao dirigir-se no momento da morte ao seu filho Salomão com estas palavras: «Sê forte e mostra-te homem. Observa a lei do Senhor, teu Deus, procedendo pelos seus caminhos e praticando as suas leis». Assim as palavras de David ajudam a compreender que a verdadeira «herança é o nosso testemunho de cristãos deixado ao próximo».

 



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