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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Beleza pequena e grande

Sexta-feira, 13 de Novembro de 2015

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 47 de 19 de Novembro de 2015

«Nunca cair na idolatria das imanências e na idolatria dos hábitos» mas, ao contrário, ter em mira «sempre mais: da imanência olhar para a transcendência e dos costumes olhar para o hábito final, que será a contemplação da glória de Deus». Com a certeza de que se «a vida é boa, também o ocaso será muito bom». Eis as recomendações, para não cair nas duas idolatrias. Francisco, partindo do salmo 18, proposto pela liturgia, no qual se lê «os céus proclamam a glória de Deus», disse: «a sua glória, a sua beleza, a única beleza que permanece para sempre».

Ao contrário, «as duas leituras — quer a do livro da Sabedoria (13, 1-9), quer a do Evangelho (Lc 17, 26-37) — falam-nos de glórias humanas, aliás de idolatrias». Em particular, observou o Papa, «a primeira leitura fala da beleza da criação: é bela! Deus fez coisas belas!». Mas, frisou imediatamente, «o erro, o erro daquela gente que, nestas coisas belas, não foi capaz de olhar mais além, ou seja, para a transcendência». Sim, certamente são coisas «belas em si mesmas, têm a sua autonomia de beleza neste caso», mas aqueles homens «não reconheceram que esta beleza é um sinal de outra beleza maior que nos espera». Precisamente «aquela beleza» à qual se refere o salmo 18: «Os céus proclamam a glória de Deus». É «a beleza de Deus».

Ao contrário, lê-se no livro da Sabedoria, estes homens «fascinados» pela beleza das «coisas criadas por Deus acabaram por considerá-las como “deuses”». Trata-se da «idolatria da imanência». Na prática pensaram precisamente que «estas coisas são sem um além e são tão bonitas que são deuses». Mas assim «apegaram-se a esta idolatria; sofriam de admiração pelo seu poder e energia». Sem considerar, ao contrário, «quanto é superior o seu soberano, porque foram criados por Aquele que é o princípio e autor da beleza».

«É uma idolatria olhar para as muitas belezas sem pensar que haverá um ocaso», frisou o Pontífice, relevando contudo que «também o ocaso tem a sua beleza». E todos corremos «o perigo» de ter «esta idolatria de sermos apegados às belezas da terra, sem a transcendência». É precisamente, insistiu Francisco, «a idolatria da imanência: pensamos que as coisas são quase deuses, que nunca acabarão». E «esquecemo-nos do ocaso».

«A outra idolatria é a dos costumes», afirmou Francisco. No trecho evangélico de hoje «Jesus, falando do último dia, precisamente do ocaso, diz: “Como sucedeu nos dias de Noé, assim sucederá também nos dias do Filho do Homem: comiam, bebiam, os homens casavam-se e as mulheres davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca”». Em síntese, «tudo é habitual, a vida é assim: vivemos desta maneira, sem pensar no ocaso deste modo de viver».

Mas «também esta é uma idolatria: ser apegado aos hábitos, sem pensar que isto terminará». E «a Igreja faz-nos olhar para o fim destas coisas». Por conseguinte, «também os hábitos podem ser considerados como deuses». Então «a idolatria» consiste em pensar que «a vida é assim», a ponto de ir em frente por hábito. E tal «como a beleza acabará noutra beleza, também os nossos hábitos acabarão numa eternidade, noutro hábito. Mas há Deus!».

Eis então, explicou Francisco, que «a Igreja nos prepara, nesta semana, no final do ano litúrgico e nos faz pensar precisamente no fim das coisas criadas». Sim, «serão transformadas, mas há um conselho — acrescentou Francisco — que Jesus nos dá no Evangelho de hoje: “não voltar atrás, não olhar para trás”». E «lembrai-vos da esposa de Lot».

Também «o autor da carta aos Hebreus», observou por fim o Pontífice, aceita «este conselho e diz: “Nós — crentes — não somos gente que volta atrás, que cede, mas pessoas que vão sempre em frente”». E Francisco relançou, por sua vez, o conselho de «ir sempre em frente nesta vida, olhando para as belezas, e com os hábitos que todos temos, mas sem os divinizar» porque «acabarão». Por conseguinte, concluiu, «sejam estas pequenas belezas, que reflectem a grande beleza, os nossos hábitos para sobreviver no cântico eterno, na contemplação da glória de Deus».

 


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