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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Três características

Terça-feira, 15 de Dezembro de 2015

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 51 de 24 de Dezembro de 2015

Quais são as características do povo de Deus? Como deve ser a Igreja? Foi o tema da meditação que o Papa Francisco, inspirando-se na liturgia do dia, desenvolveu durante a missa.

Em relação ao trecho do Evangelho de Mateus (21, 28-32) no qual Jesus, dirigindo-se aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo, afirma: «Em verdade vos digo: os publicanos e as meretrizes preceder-vos-ão no reino de Deus», o Pontífice observou «a energia» com a qual ele repreende o «modo de pensar, de julgar e de viver» de quantos eram considerados mestres.

Também o profeta Sofonias, na primeira leitura (3, 1-2.9-13), «usa a voz de Deus e diz: “Ai da que é rebelde, ai da impura, ai da cidade tirânica! Ela não ouviu o apelo, nem aceitou o aviso; nunca confiou no Senhor nem se aproximou do seu Deus”». Praticamente, é a mesma repreensão dirigida «ao povo eleito, aos clérigos daquele tempo». E, frisou o Papa, «dizer a um sacerdote, a um chefe dos sacerdotes, que uma meretriz será mais santa do que ele no reino dos Céus» é uma acusação decididamente «grave».

De resto, Jesus «tinha esta coragem de dizer a verdade». Mas então, acrescentou Francisco, diante de certas repreensões, vem-nos a pergunta: «Como deve ser a Igreja?». De facto, as pessoas sobre as quais lemos no Evangelho eram «homens de Igreja», eram «chefes da Igreja». Veio Jesus, veio João Baptista, mas eles «não ouviram». E o trecho do profeta recorda que apesar de Deus ter escolhido o seu povo, «ele tornou-se uma cidade rebelde, impura, que não aceita a Igreja nem o povo de Deus como devem ser».

Contudo, eis que diante de tudo isto, o profeta Sofonias comunica ao povo uma promessa do Senhor: «Eu perdoar-te-ei». Isto é, explicou o Papa, «o primeiro passo para que o povo de Deus, a Igreja, todos nós, sejamos felizes é sentir-nos perdoados».

E depois da promessa do perdão, há ainda a explicação de «como deve ser a Igreja: “Deixarei subsistir no meio de ti um povo humilde e modesto que porá a sua confiança no nome do Senhor”». Portanto, o povo de Deus fiel, afirmou Francisco, deve «ter estas três características: humildade, pobreza e confiança no Senhor».

Em seguida, o Pontífice reflectiu e analisou cada uma das três características fundamentais.

Antes de tudo, a Igreja deve ser «humilde». Isto é, uma Igreja «que não se vangloria dos poderes, das grandezas». Mas, advertiu o Papa: «humildade não significa uma pessoa amorfa, débil», com expressão resignada, porque isto «não é humildade, é teatro! É fingir humildade». A verdadeira humildade, ao contrário, começa «com um primeiro passo: sou pecador». Se, explicou Francisco, «não és capaz de dizer a ti mesmo que és pecador e que os outros são melhores do que ti, não és humilde». Por conseguinte, «o primeiro passo na Igreja humilde é sentir-se pecadora» e o mesmo é válido para «todos nós». Se, ao contrário, «algum de nós costuma ver os defeitos dos outros e fazer mexericos» certamente não é humilde mas «considera-se juiz dos outros». Diz o profeta: «Deixarei subsistir no meio de ti um povo humilde». E nós, recomendou o Pontífice, «devemos pedir esta graça, que a Igreja seja humilde, que eu seja humilde, que cada um de nós seja humilde».

Depois, a meditação passou para a segunda característica: o povo de Deus «é pobre». Em relação a isto Francisco recordou que a pobreza é a «primeira das bem-aventuranças». Mas o que quer dizer «pobre de espírito?». Significa «apegado só às riquezas de Deus». Certamente, «uma Igreja que vive apegada ao dinheiro, que pensa no dinheiro, em como ganhar mais dinheiro... não o é». Por exemplo, explicou o Papa, havia quem «ingenuamente» dizia às pessoas que para passar pela porta santa «se deveria dar uma oferta»: esta, afirmou claramente o Pontífice, «não é a Igreja de Jesus, é a Igreja dos chefes dos sacerdotes, apegada ao dinheiro».

Para fazer compreender melhor o seu pensamento, Francisco evocou também a vicissitude do diácono Lourenço — que era «o ecónomo da diocese» — o qual, quando o imperador lhe disse para «trazer as riquezas da diocese» a fim de pagar um tributo e evitar de ser condenado à morte, voltou «com os pobres». Isto é, os pobres são «a riqueza da Igreja». «Se tivermos um coração pobre e desapegado do dinheiro» e estivermos «ao serviço» dos outros até podemos ser «donos de um banco». «A pobreza», acrescentou o Papa, é caracterizada precisamente por «este desapego» que nos leva a «servir os necessitados». E o raciocínio concluiu-se com uma pergunta dirigida a cada um: «Sou ou não sou pobre?».

Por fim, a terceira característica: o povo de Deus «porá a sua confiança no nome do Senhor». Também neste caso uma pergunta muito directa: «Onde está a minha confiança? No poder, nos amigos, no dinheiro? No Senhor!».

É esta «a herança que o Senhor nos promete: “Deixarei subsistir no meio de ti um povo humilde e modesto que porá a sua confiança no nome do Senhor”. Humilde porque se sente pecador; pobre porque o seu coração é apegado às riquezas de Deus mas se as possuir é para as administrar; confiante no Senhor porque sabe que só o Senhor pode garantir algo que lhe faz bem». Por isso Jesus teve que dizer aos chefes dos sacerdotes, os quais «não entendiam estas coisas», que «uma meretriz entrará antes deles no reino dos Céus». Concluindo, disse, «nesta expectativa do Senhor, do Natal», peçamos que nos dê «um coração humilde», um coração «pobre» e, sobretudo, «confiante no Senhor», porque «o Senhor nunca desilude».

 


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