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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Por uma cultura do encontro

 Terça-feira, 13 de setembro de 2016

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 37 de 15 de setembro de 2016

Um convite a trabalhar pela «cultura do encontro» de modo simples, «como fez Jesus»: não só vendo mas olhando, não apenas ouvindo mas escutando, não só cruzando-se com as pessoas mas detendo-se com elas, não só dizendo «que pena, pobrezinhos!» mas deixando-se arrebatar pela compaixão; «e depois aproximar-se, tocar e dizer: “Não chores” e dar pelo menos uma gota de vida». Meditando em especial sobre o episódio da viúva de Naim, narrado no Evangelho de Lucas (7, 11-17), o Pontífice frisou que esta «palavra de Deus» fala de «um encontro. Há um encontro entre as pessoas, entre as pessoas que estavam na estrada». E isto, comentou, é «algo incomum». Sim, «quando vamos pelo caminho cada qual pensa em si mesmo: vê, mas não olha; ouve, mas não escuta»; em síntese, cada um vai pelo seu rumo. Por conseguinte, «as pessoas cruzam-se entre si mas não se encontram». Porque, esclareceu libertando o campo de qualquer equívoco, «o encontro é outra coisa», e é precisamente «isto que o Evangelho de hoje nos anuncia: um encontro entre um homem e uma mulher, entre um filho único vivo e um filho único morto; entre uma multidão feliz, porque tinha encontrado Jesus e o seguia, e um grupo de pessoas que, chorando, acompanhava aquela mulher», uma viúva que ia enterrar o seu filho único.

Este encontro, explicou Francisco, «faz-nos refletir sobre o modo como nos encontramos». Com efeito, «diz o Evangelho: “Vendo-a, o Senhor sentiu grande compaixão”». A propósito, o Pontífice observou que não é «a primeira vez» que o Evangelho fala da compaixão de Cristo. Também «quando Jesus viu a multidão, no dia da multiplicação dos pães — recordou — sentiu grande compaixão e, diante do sepulcro do seu amigo Lázaro, chorou».

Uma compaixão, admoestou o Papa, que não é a mesma que geralmente nós sentimos «quando por exemplo vamos pela estrada e vemos uma cena triste: “Que pena!”». De resto, «Jesus não disse: “Pobre mulher!”». Ao contrário, «foi além. Encheu-se de compaixão. “Aproximou-se e disse-lhe: não chores”». E deste modo «com a sua compaixão Jesus participa no problema daquela senhora. “Aproximou-se, falou-lhe e tocou”. O Evangelho narra que tocou o caixão. Mas certamente quando disse “não chores”, tocou também a viúva. Uma carícia. Porque Jesus estava comovido. E depois realiza o milagre», ou seja, ressuscita o jovem.

Nisto o Papa viu uma analogia: «O filho único morto assemelha-se a Jesus e torna-se filho único vivo, como Jesus. E um gesto de Jesus mostra a ternura de um encontro e não só a ternura, a fecundidade de um encontro. “O morto sentou-se e começou a falar, e Ele — Jesus — restituiu-o à sua mãe”. Não disse: “Fiz o milagre”. Não, mas: “Veem, toma-o, é teu”». Eis porque «cada encontro é fecundo. Cada encontro restitui as pessoas e as coisas ao seu lugar».

Trata-se de um discurso que parece atual até para os homens de hoje, demasiado «habituados com uma cultura da indiferença» e por isso necessitados de «trabalhar e pedir a graça de fazer uma cultura do encontro, deste encontro fecundo, deste encontro que restitua a cada pessoa a sua dignidade de filho de Deus, a dignidade de um ser vivo». Nós «estamos acostumados com esta indiferença», realçou o Papa, quer «quando vemos as calamidades deste mundo» quer diante das «pequenas coisas». Limitamo-nos a dizer: «Que pena, pobrezinhos, como sofrem», mas depois vamos em frente. Mas o encontro é diferente, como explicou Francisco: «Se não olho — não é suficiente ver, não: é preciso olhar — se não paro, se não olho, se não toco, se não falo, não posso realizar um encontro, não posso ajudar a construir uma cultura do encontro».

Voltando à descrição da cena evangélica, o Pontífice frisou que, face ao milagre feito por Jesus «a multidão amedrontada glorificava a Deus. E também aqui gosto de ver — confessou — o encontro de todos os dias entre Jesus e a sua esposa, a Igreja, que espera o seu regresso. E cada vez que Jesus encontra uma dor, um pecador, uma pessoa desviada, olha para ela, fala-lhe, restitui-a à sua esposa». Portanto, «esta é a mensagem de hoje: o encontro de Jesus com o seu povo; o encontro de Jesus que serve, que ajuda, que é o servo, que se humilha, que é condescendente com todos os necessitados». E, frisou Francisco, «quando dizemos “necessitados” não pensamos somente nos desabrigados», mas também em «nós necessitados — necessitados da palavra de Jesus, de carícias— e inclusive em quantos nos são queridos». Um exemplo concreto? O Papa descreveu a imagem de uma família reunida à volta da mesa: «Quantas vezes as pessoas, enquanto comem, veem televisão ou escrevem mensagens no telemóvel. Todos são indiferentes ao encontro. Não há encontro nem sequer no núcleo da sociedade, que é a família», comentou. Eis então a sua exortação conclusiva «a trabalhar por esta cultura do encontro, com tanta simplicidade como fez Jesus».

 



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