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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

No sinal da cruz

Terça-feira, 4 de abril de 2017

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 15 de 13 de abril de 2017

Fazer o «sinal da cruz» distraidamente e ostentar «o símbolo dos cristãos» como se fosse «o distintivo de um clube de futebol» ou «um ornamento», talvez com «pedras preciosas, joias e ouro», nada tem a ver com o mistério de Cristo. A ponto que o Papa Francisco sugeriu um rigoroso exame de consciência precisamente sobre a cruz, para verificar o modo como cada um de nós usa no dia a dia o único e verdadeiro «instrumento de salvação». «Chama a atenção — observou imediatamente Francisco referindo-se ao trecho do evangelista João (8, 21-30) — que nesta breve passagem do Evangelho por três vezes Jesus diz aos doutores da lei, aos escribas e a alguns fariseus: “Morrereis nos vossos pecados”». Sim, repete-o «três vezes». E «fá-lo — acrescentou — porque eles não entendiam o mistério de Jesus pois tinham o coração fechado e não eram capazes de o abrir um pouco, de procurar entender o mistério que era o Senhor». De facto, explicou o Papa, «morrer no próprio pecado é terrível, significa que tudo acaba ali, na sujidade do pecado».

Mas depois «este diálogo — no qual Jesus repete três vezes “morrereis nos vossos pecados” — continua e, no final, Jesus olha para a história da salvação passada e faz com que se recordem de algo: “Quando tiverdes levantado o Filho do homem, então conhecereis quem sou e que nada faço por mim mesmo”». Sim, o Senhor diz exatamente isto: «Quando tiverdes levantado o Filho do homem».

E com estas palavras — afirmou o Pontífice, referindo-se ao trecho tirado do livro dos Números (21, 4-9) — «Jesus recorda o que aconteceu no deserto, que ouvimos na primeira leitura». Foi o momento em que «o povo cansado, não conseguindo suportar o caminho afasta-se do Senhor, fala mal de Moisés e do Senhor, e encontra as serpentes que mordem e matam». Então «o Senhor diz a Moisés que faça uma serpente de bronze e a eleve, e a pessoa que fosse mordida pela serpente e olhasse para aquela de bronze, ficaria sarada».

«A serpente — prosseguiu o Papa — é o símbolo da maldade, é o símbolo do diabo: era o animal mais astuto no paraíso terrestre». Porque «a serpente é capaz de seduzir com mentiras, pois é o pai da mentira: este é o mistério». Mas então «devemos olhar para o diabo para nos salvar? A serpente é o pai do pecado, porque fez a humanidade pecar». Mas eis que «Jesus diz: “Quando eu for elevado, todos virão a mim”. Obviamente este é o mistério da cruz».

«A serpente de bronze curava — disse Francisco — mas a serpente de bronze era sinal de duas realidades: do pecado cometido pela serpente, da sedução da serpente, da astúcia da serpente; e também era sinal da cruz de Cristo, era uma profecia». E «por isso o Senhor diz: “Quando tiverdes levantado o Filho do homem, então conhecereis quem sou”». E assim podemos dizer, afirmou o Papa, que «Jesus se “fez serpente”, Jesus “fez-se pecado” e assumiu sobre si toda a sujidade da humanidade, toda a imundície do pecado. E “fez-se pecado”, fez-se elevar para que todos o vissem, as pessoas feridas pelo pecado, nós. Este é o mistério da cruz e São Paulo diz: “Fez-se pecado” e assumiu a aparência do pai do pecado, da serpente astuta».

«Quem não olhava para a serpente de bronze depois de ter sido ferido por uma serpente do deserto — explicou o Pontífice — morria no pecado, o pecado de maledicência contra Deus e contra Moisés». Sim, «quem não reconhece naquele homem elevado, como a serpente, a força de Deus que se fez pecado para nos curar, morrerá no próprio pecado». Porque «a salvação só vem da cruz, mas daquela cruz que é Deus feito carne: não há salvação nas ideias, na boa vontade, no compromisso de ser bom, não!». Na realidade, insistiu o Papa «a única salvação está em Cristo crucificado, porque só Ele, como a serpente de bronze significava, foi capaz de assumir todo o veneno do pecado e de nos curar».

«Mas o que é a cruz para nós?» foi a pergunta formulada por Francisco. É o símbolo dos cristãos, e nós fazemos o sinal da cruz mas nem sempre o fazemos bem, às vezes fazemo-lo assim... porque não temos fé na cruz». A cruz, afirmou o Papa, «para algumas pessoas é um distintivo de pertença: “Sim, uso a cruz para fazer ver que sou cristão”». E «está bem», contudo «não só como distintivo, como se fosse um clube de futebol» mas, disse Francisco, «como memória d’Aquele que se fez pecado, que se fez diabo, serpente, por nós; abaixou-se até se aniquilar totalmente».

Além disso, é verdade, «outros usam a cruz como um ornamento, com pedras preciosas, para se mostrar» observou o Pontífice. Mas «Deus disse a Moisés: “Quem olhar para a serpente será curado”; Jesus diz aos seus inimigos: “Quando tiverdes levantado o Filho do homem, então conhecereis quem sou”». Substancialmente, explicou Francisco, «quem não olhar para a cruz com fé morrerá nos próprios pecados, não receberá a salvação».

«Hoje — afirmou o Papa — a Igreja propõe um diálogo com este mistério da cruz, com este Deus que se fez pecado, por amor a mim». E «cada um de nós pode dizer “por amor a mim”». Assim, prosseguiu, é oportuno perguntar-me como uso a cruz: como uma recordação? Quando faço o sinal da cruz estou ciente do que faço? Como uso a cruz: só como um símbolo de pertença a um grupo religioso? Como uso a cruz: como ornamento, como uma joia de ouro com muitas pedras preciosas?». Ou «aprendi a carregá-la nos ombros, onde dói?».

«Cada um de nós hoje — recomendou o Pontífice na conclusão da sua meditação — olhe para o Crucificado, olhe para este Deus que se fez pecado para que nós não morrêssemos nos nossos pecados e responda a estas perguntas que vos sugeri».

 



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