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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Sempre a caminho

Quinta-feira, 11 de maio de 2017

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 20 de 18 de maio de 2017

Um «povo a caminho» que, «entre graça e pecado», vai em frente na história rumo «à plenitude dos tempos». E neste povo está incluído cada cristão que percorre o seu itinerário pessoal até ao dia em que se encontrar «de caras» com aquele Deus que, entretanto, «nunca nos deixa sozinhos». O quadro delineado pelo Papa abrange toda a história da salvação.

Uma meditação sugerida pelo trecho dos Atos dos Apóstolos (13, 13-25) no qual se lê sobre uma pregação de São Paulo em Antioquia da Pisídia. Neste trecho, observou o Pontífice, «chama a atenção» o facto de que «Paulo, para falar de Jesus, começa de longe: a partir de quando o povo saiu do Egito». A mesma coisa, acrescentou o Papa, fez Estêvão que «antes de ser lapidado, anuncia Jesus Cristo, mas começa a partir de Abraão, ainda mais longe». E assim faz Jesus com os discípulos de Emaús, quando «explicava os profetas começando por Moisés».

Um detalhe que solicitou a curiosidade do Pontífice: «Por que não iam imediatamente ao cerne da pregação, que é Jesus Cristo, como fez por exemplo Marcos, no início do Evangelho?». Ao contrário, disse, «a pregação de quase todos começa desde o início, a partir da história». Isso é devido ao facto de que «Deus se revelou na história: a salvação de Deus, aquela maravilha da sua misericórdia que mencionamos na oração, hoje, inicialmente, tem uma grande história, uma longa história; uma história de graça e de pecado».

Portanto, Francisco aprofundou precisamente este aspeto sugerindo, por exemplo, a leitura das genealogias de Jesus escritas por Mateus e Lucas, onde se encontram «muitos homens e mulheres bons, muitos santos e muitos pecadores». Nesta sequência «cumpria-se a promessa de Deus e quando chegou a plenitude dos tempos, enviou o seu Filho». Eis a primeira consideração: «A salvação de Deus está a caminho rumo à plenitude dos tempos», um caminho onde há «santos e pecadores». O Senhor, explicou o Papa, «guia o seu povo, com momentos bons e difíceis, com liberdade e escravidão; mas guia o povo rumo à plenitude», ou seja, quando «apareceu Jesus».

Portanto, continuou o Pontífice: «Não terminou ali: Jesus foi-se embora, mas não nos deixou sozinhos: deixou-nos o Espírito». Aquele Espírito que «nos faz compreender a mensagem de Jesus». Começa deste modo «um segundo caminho, o do povo de Deus depois de Jesus», à espera de «outra plenitude dos tempos, quando Jesus vir pela segunda vez». É o caminho da Igreja que «vai em frente», com «muitos santos e pecadores; entre graça e pecado», com a atitude que se encontra no Apocalipse: «Vem, ó Senhor Jesus; vem. Esperamos por ti».

Este segundo caminho, explicou o Papa, serve «para compreender, para aprofundar a pessoa de Jesus, para aprofundar a fé», graças ao «Espírito Santo que Jesus nos deixou». E serve, acrescentou, também «para compreender a moral, os mandamentos». Com efeito, observou, «algo que outrora parecia normal, que não era pecado», hoje é considerado «pecado mortal»: na realidade «era pecado, mas o momento histórico não permitia que fosse entendido como tal».

Para melhor compreender este conceito, Francisco deu alguns exemplos, começando pela escravidão: «Quando íamos à escola — recordou — contavam-nos o que faziam aos escravos, eram levados de um lado para outro, vendidos noutro lugar, na América Latina eram vendidos e comprados». Hoje é considerado «pecado mortal», antes não; «aliás, alguns diziam que era possível fazer isto, porque esta gente não tinha alma!». Evidentemente, «era necessário que o tempo passasse para compreender melhor a fé, para compreender melhor a moral». E isto não significa que hoje não haja escravos: «há mais, mas pelo menos sabemos que é pecado mortal».

O mesmo processo ocorreu relativamente à «pena de morte que outrora era normal. Hoje afirmamos que é inadmissível». Pensemos também nas «guerras de religião»: hoje, disse o Pontífice, «sabemos que não só é um pecado mortal, um sacrilégio, mas até uma idolatria».

Este caminho está constelado também por muitos santos que ajudam a «esclarecer» a fé e a moral. Os santos «que todos conhecemos e os santos escondidos: a Igreja está cheia de santos escondidos!». Precisamente esta santidade, especificou o Papa, «é a que nos leva em frente, rumo à segunda plenitude dos tempos, quando o Senhor vier, no final, para ser tudo em todos».

Este é o modo como, explicou, o Senhor «quis deixar-se conhecer pelo seu povo: a caminho». E o mesmo «povo de Deus está a caminho, sempre». Mais ainda: «quando o povo de Deus para, torna-se prisioneiro, como um pequeno jumento num estábulo», fica ali e «não compreende, não vai em frente, não aprofunda a fé, o amor, não purifica a alma».

Prosseguindo a meditação, o Pontífice evidenciou «outra plenitude dos tempos, a terceira», ou seja, «a nossa». Isto é: «cada um de nós está a caminho rumo à plenitude do próprio tempo. Cada um de nós chegará no momento do tempo pleno e a vida findará e deverá encontrar-se com o Senhor. Este momento é o nosso, pessoal». Os apóstolos e os primeiros pregadores, explicou, «necessitavam de fazer compreender que Deus amou, escolheu, amou o seu povo a caminho, sempre. Jesus enviou o Espírito Santo para que nós pudéssemos pôr-nos a caminho». E ainda hoje «é o Espírito que nos impele a caminhar». Esta, disse o Papa, «é a grande obra de misericórdia de Deus. Cada um de nós está a caminho rumo à plenitude pessoal dos tempos».

Na conclusão, Francisco, convidou todos a questionar-se: «Será que acredito que a promessa de Deus estava a caminho? Acredito que o povo de Deus, a Igreja, está a caminho? Acredito que estou a caminho?». E acrescentou: «Quando me vou confessar digo, sim, três ou quatro coisas que errei», ou «penso que aquele passo que estou a dar é um passo a caminho rumo à plenitude dos tempos?». Muitos santos no Antigo Testamento (como David) e também depois da vinda do Espírito Santo (como Saulo) «pediram perdão», mas é necessário compreender que «pedir perdão a Deus não é uma coisa automática». Ao contrário, «compreender que estou a caminho, num povo a caminho e que um dia — talvez hoje, amanhã ou daqui a trinta anos — me encontrarei de caras com aquele Senhor que nunca nos deixa sozinhos, mas nos acompanha no caminho». Por conseguinte, é preciso compreender que este caminho «é a grande obra de misericórdia de Deus».

 



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