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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Confiar na promessa de Deus

Segunda-feira, 26 de junho de 2017

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 26 de 29 de junho de 2017

Todos deveríamos ter o ADN de Abraão, pai na fé, e viver com o estilo cristão do «despojamento», sempre «a caminho» sem nunca cair na comodidade, mas com a capacidade de «dizer bem». Certos de que não servem horóscopos ou necromantes para conhecer o futuro, porque é suficiente ter confiança na «promessa de Deus». Eis as coordenadas «simples» do ponto de vista cristão que o Papa Francisco repropôs na missa.

A primeira leitura, observou imediatamente o Papa referindo-se ao trecho tirado do livro de Génesis (12, 1-9), «fala-nos do início da nossa família, do início de nós cristãos como povo». E «começou assim, com Abraão — explicou — e por isso dizemos que ele é nosso pai». Mas precisamente «o modo como foi chamado Abraão marca também o estilo da vida cristã, o estilo». Com efeito, Abraão responde à pergunta sobre «como devemos ser cristãos: se quiseres, facilmente vais ali, lês isto e terás o estilo». Um estilo que certamente se encontra «também nos Evangelhos». Mas assim tal «como na semente há o ADN [o ácido desoxirribonucleico, o ADN] do fruto que virá depois, também em Abraão há o estilo da vida cristã, o estilo de nós como povo».

E «uma primeira dimensão deste estilo é o despojamento» sublinhou Francisco. «A primeira palavra» que o Senhor diz a Abraão é «Vai-te embora». Portanto, «ser cristão inclui sempre esta dimensão do despojamento que encontra a sua plenitude no despojamento de Jesus na cruz». Por este motivo, «há sempre um “vai-te embora”, “deixa”, para dar o primeiro passo: “Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai e vai para a terra que eu te mostrar ”» é a ordem que o Senhor dá a Abraão.

Mas «se fizermos um pouco de memória — prosseguiu o Papa — veremos que nos Evangelhos a vocação dos discípulos é um “vai-te embora”, “deixa” e “vem». O mesmo acontece com «os profetas, pensemos em Eliseu, ao trabalhar a terra: “Deixa e vem” — “Mas pelo menos permite-me que me despeça dos meus pais” — “Mas vai e volta”». É sempre o estilo de “deixa e vem”.

«Um cristão deve ter esta capacidade de ser despojado» insistiu o Pontífice. «Caso contrário, não existem cristãos autênticos» e certamente «não o são os que não se deixam, digamos, despojar e crucificar com Jesus na cruz», como por exemplo fez São Paulo. E «Abraão, está escrito na carta aos Hebreus, “para ser fiel obedeceu” partindo para uma terra que devia receber como herança e foi sem saber onde ia». Aliás, afirmou o Papa, «o cristão não tem horóscopo para ver o futuro; não vai ter com o necromante que tem a esfera de cristal», porque «quer que lhe leia a mão: não, não sabe para onde vai, deve ser guiado».

Por conseguinte, «o despojamento «é como uma primeira dimensão da nossa vida cristã». E isto «porquê? Para uma ascese firme? Não, para ir ao encontro de uma promessa». Eis, então, «a segunda» dimensão indicada por Francisco: «Nós somos homens e mulheres que caminham rumo a uma promessa, a um encontro, a algo — uma terra, diz a Abraão — que devemos receber como herança».

«Eu gosto de ver — confidenciou o Pontífice — como se reitera neste trecho, e naqueles que se seguem deste capítulo, que Abraão não edifica uma casa: arma uma tenda, porque sabe que está a caminho e confia em Deus, confia». E «ele, o Senhor, fazer-lhe-á saber qual será a terra. Lemos que lha mostrou: “À tua descendência, eu darei esta terra”». Por sua vez, «o que edifica Abraão, uma casa? Não, um altar para adorar o Senhor: faz o sacrifício e depois pega na tenda e continua a caminhar».

Portanto, está «sempre a caminho». Uma atitude que nos recorda que «o cristão parado não é um verdadeiro cristão: o caminho começa todos os dias de manhã, o caminho de se entregar ao Senhor, o caminho aberto às surpresas do Senhor, muitas vezes boas, muitas vezes más — pensemos numa doença, numa morte — mas aberto, porque eu sei que tu me levarás para um lugar seguro, para uma terra que tu preparaste para mim». Eis então, prosseguiu o Papa, «o homem a caminho, o homem que vive numa tenda, uma tenda espiritual: a nossa alma, quando se organiza demasiado, se instala demasiado, perde esta dimensão de ir rumo à promessa e, em vez de caminhar em direção à promessa, traz consigo a promessa e possui a promessa». Mas «isto não está bem, não é propriamente cristão».

«Outra caraterística, outra dimensão da vida cristã que vemos aqui, nesta semente desde o início da nossa família, é a bênção» explicou Francisco. «Por cinco vezes — observou — deve ser pronunciada a palavra “bênção”, cinco vezes neste pequeno trecho de nove versículos» tirado do livro de Génesis. Porque «o cristão é um homem, uma mulher que “bendiz”, ou seja, diz bem de Deus e dos outros, e que se faz bendizer por Deus e pelos outros pelo modo como vai em frente».

Resumindo, afirmou o Papa, «este é um esquema, digamos assim, da nossa vida cristã: o despojamento, a promessa e a bênção, tanto a que Deus nos dá quanto a que nós damos aos outros». Porque, advertiu, «todos, inclusive vós leigos, deveis bendizer os outros, dizer bem dos outros e dizer bem dos outros a Deus. E isto significa “bendizer”». Mas «estamos acostumados — advertiu Francisco — a não dizer bem muitas vezes e a língua move-se um pouco como quer, não é?».

Por esta razão, acrescentou, «gosto do mandamento que Deus dá ao nosso pai Abraão, como síntese da vida, como ele deve ser: “Caminha na minha presença e sê irrepreensível”»: Portanto, explicou, «“caminha na minha presença”, ou seja, diante de mim, deixando-te despojar por mim e aceitando as promessas que eu te fizer, confiando em mim, “e sê irrepreensível”». No fundo, comentou Francisco, «a vida cristã é tão simples». E sugeriu que não nos esqueçamos do estilo do «despojamento, da promessa juntamente com a confiança em Deus e a tenda — sem nos organizarmos nem instalarmos demasiado — e do bendizer».

 



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