PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA
Pelo caminho do bom pastor
Segunda-feira, 30 de outubro de 2017
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 44 de 2 de novembro de 2017
Há cinco verbos «de proximidade» que Jesus vive em primeira pessoa e indicam os critérios do «protocolo final»: ver, chamar, falar, tocar e curar. Com base nisto serão julgados não só os pastores, os primeiros que correm o risco de serem «hipócritas», mas todos os homens. Com a advertência que não são suficientes palavras bonitas e boas maneiras, porque Jesus nos pede para tocar diretamente a carne do próximo, sobretudo do sofredor. Este foi «o caminho do bom pastor» que o Papa indicou na missa.
«Nesta passagem do Evangelho — observou imediatamente Francisco referindo-se ao trecho de Lucas (13, 10-17) — encontramos Jesus não pelo caminho como era seu costume, mas na sinagoga: ao sábado a comunidade vai à Sinagoga rezar, ouvir a palavra de Deus e também a pregação; e Jesus estava ali, ouvindo a palavra de Deus». Mas «também ensinava, e dado que tinha autoridade — uma autoridade moral muito grande — convidavam-no a tomar a palavra», precisamente para «ensinar às pessoas». E «na sinagoga havia uma mulher que andava curvada, completamente curvada, pobrezinha, e não conseguia endereitar-se: uma doença da coluna que há anos a mantinha assim».
E «o que fez Jesus? Surpreende-me — confidenciou o Papa — os verbos que usa o evangelista para dizer o que fez Jesus: “viu”, viu-a; “chamou”, chamou-a, “disse-lhe”; “Impôs as mãos sobre ela e curou-a”». São «cinco verbos de proximidade».
Em primeiro lugar, explicou o Pontífice, «Jesus aproximou-se dela: a atitude do bom pastor, a proximidade». Porque «um bom pastor está próximo, sempre: pensemos na parábola do bom pastor que Jesus pregou», tão «próximo» da ovelha «tresmalhada que deixa as outras e vai à sua procura».
Aliás, afirmou Francisco, «o bom pastor não pode estar distante do seu povo e este é o sinal de um bom pastor: a proximidade. Ao contrário, os outros, neste caso o chefe da sinagoga, aquele pequeno grupo de clérigos, doutores da lei, alguns fariseus, saduceus, os ilustres, viviam separados do povo, repreendendo-o constantemente». Mas, realçou o Papa, «eles não eram bons pastores, estavam fechados no próprio grupo e não se importavam com o povo: talvez, se importassem, quando terminava o serviço religioso, de ir ver quanto dinheiro tinha sido recolhido com as ofertas, importavam-se com isso, mas não estavam próximos do povo, não estavam próximo da gente».
Eis que «Jesus apresenta-se sempre assim, próximo», observou o Pontífice. E «muitas vezes o Evangelho revela que a proximidade vem daquilo que Jesus sente no coração: “Jesus ficou sensibilizado”, narra por exemplo um excerto do Evangelho, sente misericórdia, aproxima-se». Por esta razão, «Jesus está sempre ali com as pessoas descartadas por aquele pequeno grupo clerical: ali estavam os pobres, os doentes, os pecadores, os leprosos: estavam todos ali, porque Jesus tinha esta capacidade de se comover diante da doença, era um bom pastor». E «um bom pastor aproxima-se e tem a capacidade de se comover».
«Diria — afirmou Francisco — que a terceira caraterística de um bom pastor consiste em não se envergonhar da carne, tocar a carne ferida, como fez Jesus com esta mulher: “tocou”, “impôs as mãos”, tocou os leprosos, tocou os pecadores». É «uma proximidade muito concreta». Portanto, tocar «a carne». Porque «um bom pastor não diz: “Mas, sim, está bem, sim, sim, eu estou próximo de ti com o espírito”». Na realidade «esta é uma distância» e não uma proximidade.
Ao contrário, insistiu o Papa, «o bom pastor faz o que fez Deus Pai, aproximar-se, por compaixão, por misericórdia, da carne do seu Filho, é isto que significa ser um bom pastor». E «o grande pastor, o Pai, ensinou-nos como ser bons pastores: abaixou-se, esvaziou-se, esvaziou-se de si mesmo, aniquilou-se, assumiu a condição de servo».
Precisamente «este é o caminho do bom pastor» explicou o Pontífice. E a este ponto podemos questionar: «“Mas, os outros, aqueles que seguem o caminho do clericalismo, de quem se aproximam?». Eles, respondeu Francisco, «aproximam-se sempre do poder do momento ou do dinheiro e são maus pastores: pensam apenas em como chegar ao poder, ser amigos dos poderoso e negociam tudo ou pensam nos seus bolsos. Eles são hipócritas, capazes de tudo». Sem dúvida «a essa gente não lhe interessa o povo». E quando Jesus os define com aquele bonito adjetivo que utiliza muitas vezes em relação a eles — “hipócritas” — ficam ofendidos: “Mas, não, nós seguimos a lei”». Ao contrário, «o povo estava contente: é um pecado do povo de Deus ver quando os maus pastores são repreendidos; que pena, sim, mas sofreram tanto que “gozam” com este pouquinho».
«Pensemos — foi a sugestão do Pontífice — no bom Pastor, pensemos em Jesus que vê, chama, fala, toca e cura; pensemos no Pai que se faz carne no seu Filho, por compaixão». E «este é o caminho do bom pastor, o pastor que hoje vemos aqui, neste trecho do Evangelho: é uma graça para o povo de Deus ter bons pastores, pastores como Jesus, que não se envergonham de tocar a carne ferida, pois sabem que sobre isso — não só eles, inclusive todos nós — seremos julgados: tinha fome, estava preso, estava doente...».
«Os critérios do protocolo final — concluiu o Papa — são os critérios da proximidade, os critérios desta proximidade total», para «tocar, compartilhar a situação do povo de Deus». E «não nos esqueçamos: o bom pastor faz-se sempre próximo das pessoas, sempre, como Deus nosso Pai se aproximou de nós, em Jesus Cristo feito carne».
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