PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA
Quinta-feira, 16 de novembro de 2017
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 47 de 23 de novembro de 2017
Uma pergunta recorrente nas meditações do Papa, durante as missas celebradas em Santa Marta, é o convite a um exame de consciência: «Como está a minha relação com o Espírito Santo?». Também na homilia de 16 de novembro o Pontífice voltou a propor esta interrogação com uma particular declinação: «Creio deveras que o Espírito faz crescer em mim o reino de Deus?».
Com efeito, o reino de Deus foi o tema da sua reflexão, inspirada no trecho do Evangelho de Lucas (17, 20-25) no qual os doutores da lei perguntam a Jesus: «Tu pregas o reino de Deus, mas quando virá o reino de Deus?». Era uma interrogação, explicou, que derivava também da «curiosidade de muitas pessoas», uma pergunta «simples que brota de um coração bom, um coração de discípulo». Não é por acaso que se trata de uma pergunta recorrente no Evangelho: por exemplo, sugeriu o Papa, naquele momento «tão difícil, obscuro» em que João Batista — que estava na escuridão do cárcere e «não entendia nada, angustiado» — enviou os seus discípulos interrogar o Senhor: «Diz-me: és tu, ou devemos esperar outro? Chegou o reino de Deus, ou será outro?».
Reaparece com frequência a dúvida sobre «quando», como acontece no «pedido descarado, soberbo e mau» do ladrão: «Se és tu, desce da cruz», que exprime a «curiosidade» acerca de «quando há de vir o reino de Deus». A resposta de Jesus é: «Mas o reino de Deus está no meio de vós». Assim, por exemplo, «o reino de Deus foi anunciado na sinagoga de Nazaré, a boa nova quando Jesus lê o trecho de Isaías e termina, dizendo: “Hoje cumpriu-se esta escritura no meio de vós”». Um anúncio bom e sobretudo «simples». Com efeito, «o reino de Deus cresce às escondidas», e é o próprio Jesus que o explica com a parábola da semente: «ninguém sabe como», mas Deus fá-la crescer. É um reino que «cresce dentro, de modo oculto, ou está escondido como a gema ou o tesouro, mas sempre na humildade».
Aqui o Papa inseriu a passagem-chave da sua meditação: «Quem faz crescer aquela semente, quem a faz germinar? Deus, o Espírito Santo que está em nós». Uma consideração que explica a vinda do reino com o modo de agir do Paráclito, que «é espírito de mansidão, de humildade, de obediência e de simplicidade». E é o Espírito, acrescentou o Papa, «que faz crescer dentro o reino de Deus, não são os planos pastorais, as grandes coisas...».
Trata-se, disse, de uma ação escondida. O Espírito «faz crescer e quando chega o momento aparece o fruto». Uma ação que escapa à plena compreensão: «Quem — interrogou-se o Papa — lançou a semente do reino de Deus no coração do bom ladrão? Talvez a mãe, quando lhe ensinou a rezar... Talvez um rabino, quando lhe explicava a lei...». Sem dúvida, não obstante na vida ele se tenha esquecido dela, num certo momento aquela semente escondida foi feita crescer. Tudo isto acontece porque «o reino de Deus é sempre uma surpresa que vem» como «dom do Senhor».
No diálogo com os doutores da lei, Jesus medita sobre a caraterística desta ação silenciosa: «Quando o reino de Deus vem, não chama a atenção e ninguém dirá: “Ei-lo aqui, ei-lo ali”». Com efeito, acrescentou, «o reino de Deus não é um espetáculo» nem «um carnaval». Não se mostra «com a soberba, o orgulho, não gosta de publicidade», mas «é humilde, escondido e assim cresce».
Um exemplo evidente vem de Maria. Quando as pessoas a viam seguir Jesus, mal a reconheciam («Ah, ela é a mãe...»). Ela era «a mulher mais santa», mas dado que vivia «escondida», ninguém entendia «o mistério do reino de Deus, a santidade do reino de Deus». E assim, «quando estava próxima da cruz do filho, as pessoas diziam: “Pobre mulher, com este filho criminoso, pobre mulher...». Ninguém entendia, «ninguém sabia».
A caraterística do escondimento, explicou o Papa, deriva precisamente do Espírito Santo que está «dentro de nós»: é ele «quem faz crescer e germinar a semente, até dar fruto». E todos nós somos chamados a percorrer este caminho: «é uma vocação, uma graça, um dom gratuito, não se compra, é uma graça de Deus».
Eis por que razão, concluiu, é bom que «todos nós, batizados», que «temos dentro o Espírito Santo», nos perguntemos: «Como está a minha relação com o Espírito Santo, que faz crescer em mim o reino de Deus?». Com efeito, é preciso entender: «Creio deveras que o reino de Deus está no meio de nós, escondido, ou gosto mais do espetáculo?». É necessário rezar ao «Espírito que está em nós e pedir a graça «de fazer germinar com força, em nós e na Igreja, a semente do reino de Deus, para que se torne grande, dê refúgio a muita gente e produza frutos de santidade».
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