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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

O povo sabe se o bispo é um pastor

Sexta-feira, 4 de maio de 2018

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 20 de 17 de maio de 2018

O bispo é um homem que «sabe vigiar com o seu povo» com «uma atitude de proximidade» e de envolvimento total. E «o povo sabe reconhecer se o bispo é um pastor», que constrói uma relação «pessoal» a ponto de «conhecer os nomes de todos» para se ocupar deles, ou se é «um empregado» homem de negócio «sempre com a mala na mão». A missão do bispo de «guardar e confirmar a fé» foi traçada e reafirmada pelo Papa.

«Ontem a liturgia fez-nos refletir sobre a transmissão da fé, sobre a maneira como se transmite a fé», observou imediatamente o Papa. E «hoje este trecho dos Atos dos Apóstolos — explicou referindo-se à primeira leitura (15, 22-31) — faz-nos meditar sobre o modo como preservar a fé e confirmar na fé», recordando-nos que «este preservar e confirmar na fé é o trabalho principal dos bispos».

«A situação é clara» prosseguiu o Pontífice, e «descrevem-na os apóstolos, os bispos» na carta aos cristãos de Antioquia que se encontra nos Atos: temos «conhecimento de que, sem autorização da nossa parte, alguns dos nossos vos foram inquietar, perturbando as vossas almas». Em síntese, «os bispos, os apóstolos, reagem juntamente com Pedro diante desta falta de paz: estavam perturbados — explicou Francisco — porque chegaram aqueles, que eram cristãos, mas pretendiam reinstaurar a iniciação judaica, os judaizantes, e diziam: «nós somos os detentores da verdadeira doutrina, não a que Paulo anuncia». Como se quisessem dizer: «Paulo não; nós. Estas são notícias más».

Mas «com este discurso — afirmou o Papa — aqueles infelizes sentiam-se desorientados: apresentaram-se estes “ortodoxos da verdadeira doutrina” para defender o povo, mas surtiram o efeito contrário». A ponto que «a comunidade ficou perturbada, desorientada». Por um lado, pensava o povo, «Paulo diz-nos isto», mas «estes, que são doutores formados dizem-nos outra coisa». Afinal «qual é o caminho?».

Eis então que, «em Jerusalém, Pedro e o colégio dos bispos tomam conta da situação, rezam, refletem e respondem». São «precisamente os bispos que preservam a fé e, ainda mais, num momento em que o povo está desorientado, devido a estas pessoas que se intrometem com doutrinas que parecem mais ortodoxas mas, afinal, não têm raízes cristãs, são os bispos que confirmam na fé».

Assim, observou o Pontífice, «o povo, que estava perturbado, mudou o seu ânimo depois da carta» como refere a página dos Atos dos Apóstolos: «Depois de a lerem, todos ficaram satisfeitos com o encorajamento que lhes trazia». Eis que a situação «muda», porque «quando o bispo confirma na fé, chega a alegria, a alegria do coração».

Com efeito, prosseguiu, «o bispo é aquele que vigia». E «a palavra grega diz isto»: o bispo é aquele «que preserva». Em suma, o bispo «é também um pouco a sentinela, que sabe vigiar para defender o rebanho dos lobos que chegam: vigia, está acima da grei e com a grei; caminha com o seu rebanho; cuida dele».

A vida do bispo está associada à vida do rebanho» insistiu o Papa. Certamente «ele não é um empregado de uma multinacional, por exemplo, que vai inspecionar». Ao contrário «o bispo está associado ao rebanho, mas vigia». E «há um aspeto mais profundo na maneira de vigiar do bispo», porque «ele, como os pastores, vigia». E «vigiar — explicou Francisco — significa estar com o povo, até de noite: pensemos nos pastores de Belém» que «alternadamente vigiavam durante a noite».

«Vigiar», frisou o Pontífice, é «uma linda palavra para descrever a vocação do bispo: vigiar para proteger dos lobos, para confirmar a fé quando o rebanho está um pouco desorientado, para preservar a fé» De resto, acrescentou, «vigiar significa integrar-se na vida da grei. Jesus distingue bem o verdadeiro pastor do empregado, daquele que é remunerado e não lhe interessa se o lobo chega e come» uma ovelha: «não lhe interessa».

Ao contrário, «o verdadeiro pastor que vigia, que está inserido na vida do rebanho, defende não só todas as ovelhas: defende cada uma, confirma todas e se uma se afastar ou se extraviar, ele vai procurá-la, reconduzindo-a ao redil». E «está tão envolvido que não deixa que nem sequer uma se perca». Mas esta é também «a prece de Jesus: na última ceia pede ao Pai a graça de que ninguém se perca: Jesus é bispo ali e como bispo cuida de todos».

«Vigiar significa tudo isto» afirmou o Papa, recordando que «o verdadeiro bispo não é apenas um vigiador que olha do alto para baixo, não é apenas a sentinela», mas «é aquele que vigia participando; que conhece o nome de cada uma das ovelhas e isto faz-nos compreender como Jesus concebeu o bispo: próximo».

«A capacidade de vigiar tem a ver com a “proximidade”» insistiu Francisco. Por isso o pastor conhece cada ovelha «pelo nome, diz Jesus». E «o Espírito Santo deu ao povo de Deus o instinto de compreender onde há um verdadeiro bispo em relação a um bispo desorientado». De resto, acrescentou, «quantas vezes ouvimos dizer: “Oh, este bispo, sim, é bom, mas não cuida muito de nós, está sempre atarefado”; ou então,: “Este bispo intromete-se nos assuntos, é um pouco calculista e isto não está bem”; ou ainda: “Este bispo ocupa-se de coisas que não estão em sintonia com a sua missão”; ou: “Este bispo está sempre de mala na mão, viaja continuamente”, ou ainda “com a guitarra na mão”, cada qual pode pensar».

«O povo de Deus — repetiu o Pontífice — sabe quando o pastor é pastor, quando o pastor está próximo, quando sabe vigiar e dar a própria vida por ele». O ponto central é precisamente «a proximidade» e «a vida do bispo deve ser com o rebanho, com cada um». E «a alegria do bispo» é «que nenhuma ovelha se tresmalhe». E mais ainda, «a morte do bispo, do verdadeiro bispo» é sempre «no seu rebanho».

«Comove-me tanto pensar — confidenciou a propósito Francisco — na morte de São Turíbio de Mongrovejo: lá, numa pequena aldeia indígena, numa tenda, circundado pelos cristãos indígenas que tocavam para ele a chirimia para que morresse em paz». É a imagem do «povo que ama o bispo que cuidara dele».

«O bispo, com esta atitude de proximidade, de vigiar, de se envolver — também de oração, pois a primeira tarefa do bispo é rezar — tem aquela relação íntima que Jesus quis entre o bispo e o povo, e com esta atitude confirma na fé» afirmou o Papa. Por conseguinte, ele «preserva a fé do povo». E foi precisamente «isto que os apóstolos fizeram com Pedro em Jerusalém: viram estes inquietos que iam lá, pensando ser os verdadeiros teólogos do cristianismo, para oferecer a verdadeira doutrina», mas no final «perturbaram o povo, e os apóstolos decidiram intervir e confirmar aquele povo de Deus na fé». Na prática, «fizeram-se próximos».

Rezemos ao Senhor — concluiu o Pontífice — para que nos conceda sempre bons pastores» e «que nunca falte à Igreja pastores que vigiem: não podemos ir em frente sem eles: Que sejam homens trabalhadores, de oração, próximos do povo de Deus. Numa palavra: homens que saibam vigiar».

 



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