Index   Back Top Print

[ DE  - EN  - ES  - FR  - IT  - PL  - PT ]

CELEBRAÇÃO MATUTINA TRANSMITIDA AO VIVO
DA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

"Para não cair na indiferença"

Quinta-feira, 12 de março de 2020

[Multimídia]


 

Introdução à Santa Missa

Continuemos a rezar juntos, neste momento de pandemia, pelos doentes, pelos familiares, pelos pais com crianças em casa... mas, sobretudo, gostaria de vos pedir que rezeis pelas autoridades: elas devem decidir e muitas vezes decidir medidas que não agradam o povo. Mas é pelo nosso bem. E muitas vezes, a autoridade sente-se sozinha. Rezemos pelos nossos governantes, que devem tomar a decisão sobre estas medidas: que se sintam acompanhados pela oração do povo.

Homilia

Esta narração de Jesus é muito clara; pode parecer uma narração para crianças: é muito simples. Jesus quer indicar-nos com isto não só uma história, mas a possibilidade de que toda a humanidade viva assim, que todos nós vivamos assim.

Dois homens, um satisfeito, que sabia vestir-se bem, talvez buscasse os grandes estilistas da época para se vestir; usava roupas de púrpura e linho finíssimo. E depois vivia bem, pois todos os dias oferecia esplêndidos banquetes. Ele era feliz assim. Não tinha preocupações, tomava precauções, talvez alguma pílula contra o colesterol para os banquetes, mas a vida ia bem assim. Estava tranquilo.

À sua porta havia um pobre: chamava-se Lázaro. Ele sabia que o pobre estava ali, sabia. Mas parecia-lhe natural: “Eu vivo bem e ele... mas assim é a vida, que se vire”. No máximo, talvez – o Evangelho não diz – às vezes dava alguma coisa, algumas migalhas. E assim a vida dessas duas pessoas passou. Ambos passaram pela Lei que cabe a todos nós: morrer. Morreu o rico e morreu Lázaro. O Evangelho diz que Lázaro foi levado para o Céu, ao lado de Abraão... Do rico diz somente: foi enterrado. Ponto. E acaba.

Há duas coisas que impressionam: que o rico soubesse que havia aquele pobre e que conhecesse o seu nome, Lázaro. Mas não importava, parecia-lhe natural. O rico talvez fizesse também os seus negócios que, no final, iam contra os pobres. Conhecia claramente, estava informado sobre aquela realidade. E a segunda coisa que me impressiona muito é a expressão “grande abismo” que Abraão diz ao rico. “Entre nós há um grande abismo, não podemos comunicar; não podemos passar de uma parte para a outra”. O mesmo abismo que havia na vida entre o rico e Lázaro: o abismo não começou lá, o abismo começou aqui.

Pensei no drama deste homem: o drama de ser muito informado, mas manter o coração fechado. As informações deste homem rico não chegavam ao coração, não sabia comover-se, não podia comover-se diante do drama dos outros. Nem mesmo sabia chamar um dos jovens que serviam o banquete e dizer “leva-lhe isto, aquilo...”. O drama da informação que não chega ao coração. Isto acontece também connosco. Todos nós sabemos, porque vemos no telejornal, vemos nos jornais, quantas crianças passam fome hoje no mundo; quantas crianças não têm os remédios necessários; quantas crianças não podem ir à escola. Continentes com este drama: nós sabemos isto. Pobrezinhos... e continuamos. Esta informação não chega ao nosso coração e muitos de nós, muitos grupos de homens e mulheres vivem este distanciamento entre aquilo que pensam, o que sabem e aquilo que ouvem: o coração está separado da mente. São indiferentes. Assim como o rico era indiferente à dor de Lázaro. Há o abismo da indiferença.

Quando fui pela primeira vez a Lampedusa, veio-me esta expressão: a globalização da indiferença. Talvez nós hoje aqui em Roma estejamos preocupados porque “parece que as lojas estão fechadas, tenho que comprar isto, e parece que não posso passear todos os dias, e parece que...”: preocupados com as minhas coisas. E esquecemos as crianças famintas, esquecemos aquela pobre gente que nos confins dos países buscam a liberdade, aqueles migrantes forçados que fogem da fome e da guerra e encontram somente um muro, um muro feito de ferro, um muro de arame farpado, mas um muro que não os deixa passar. Sabemos que isto existe, mas não chega ao coração... Vivemos na indiferença: a indiferença é o drama de estar bem informado, mas não sentir a realidade dos outros. Este é o abismo: o abismo da indiferença.

Depois há outra coisa que impressiona. Aqui sabemos o nome do pobre. A gente sabe. Lázaro. Também o rico sabia, porque quando estava no inferno pede a Abraão que envie Lázaro. Ali reconheceu-o: “Manda-me Lázaro”. Mas não sabemos o nome do rico. O Evangelho não diz como se chamava este senhor. Não tinha nome. Tinha perdido o nome: havia somente os adjetivos da sua vida. Rico, poderoso... muitos adjetivos. É isto que o egoísmo provoca em nós: faz perder a nossa identidade real, o nosso nome, e somente nos leva a avaliar os adjetivos. A mundanidade ajuda-nos nisto. Caímos na cultura dos adjetivos, onde o seu valor é aquilo que possui, aquilo que pode... Mas não “qual é o seu nome?”: perdeu o nome. A indiferença leva a isto. Perder o nome. Somos somente ricos, somos isto, somos aquilo. Somos adjetivos.

Peçamos hoje ao Senhor a graça de não cair na indiferença, a graça de que todas as informações das dores humanas que temos cheguem ao coração e nos levem a fazer algo pelos outros.

 



Copyright © Dicastero per la Comunicazione - Libreria Editrice Vaticana