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VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE
AO PAQUISTÃO, FILIPINAS, GUAM, JAPÃO E ALASKA
(16 DE FEVEREIRO - 27 DE FEVEREIRO DE 1981)

SANTA MISSA AS POPULAÇÕES NATIVAS

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

Burnham Park, Baguio City, Filipinas
22 de Fevereiro de 1981

 

Caros irmãos e irmãs em Cristo

1. É para mim uma alegria celebrar convosco a Sagrada Eucaristia, vir a vós entre as vossas belas montanhas, para ser alimentado pela Palavra de Deus e pelo Pão da Vida e unir-me a vós para dar glória e louvor, honra e graças à Santíssima Trindade.

A liturgia da Palavra fala hoje da especial dignidade conferida a todos aqueles que "são de Cristo" (1 Cor 3, 23). Somos convidados a meditar o profundo mistério que nos diz respeito em relação ao baptismo; o mistério de como, mediante a água e o Espírito Santo, nos tornamos habitação de Deus. "Vós sois templos de Deus — escreve São Paulo — o Espírito de Deus habita em vós" (1 Cor 3, 16). Do facto, este é um mistério de fé. Pois, enquanto permanecemos membros de um particular povo e nação, herdeiros de uma única cultura e descendência, ao mesmo tempo, pela infinita misericórdia de Deus, tornamo-nos "concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, com Cristo por pedra angular. N'Ele qualquer construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo no Senhor" (Ef 2, 19-21).

2. Desejei de modo particular esta ocasião de estar com as populações das "Províncias Montanhosas", de me encontrar convosco, membros das tribos de Isneg, Kalinga, Bontoc, Ifugao, Kankany e Ibaloy. Vós, populações nativas desta bela região ao norte de Luzon, como igualmente outras tribos filipinas, apresentais rica diversidade de culturas a vós transmitidas pelos vossos pais e antepassados, e que remontam a tempos anteriores através de inúmeras gerações. Tende sempre profunda estima a esses tesouros culturais que a divina providência vos concedeu em herança. Possam, além disso, esses tesouros, que constituem a vossa herança, ser sempre respeitados pelos outros; que a vossa terra, as vossas boas tradições de família e as vossas estruturas sociais possam ser protegidas, conservadas e enriquecidas!

Meus irmãos e irmãs em Cristo, vós descobristes como o Evangelho não põe em perigo a sobrevivência das vossas culturas, nem destrói as vossas genuínas tradições. Tudo o que é verdadeiramente humano, tudo o que contribui para o bem-estar e o aperfeiçoamento da pessoa humana, consolidado pelo Evangelho e intensificado pela fé em Cristo. Não poderia ser diversamente, pois Cristo é o modelo e a origem da nova humanidade, o "primogénito de toda a criatura" (Col 1, 15). Dado que estais a enfrentar os problemas de hoje conexos com o crescimento social e económico do vosso País, asseguro-vos que a Igreja está convosco ao querer que seja defendido o carácter típico da vossa cultura e oxalá participeis nas decisões que envolvem a vossa vida e a dos vossos filhos. Com efeito, a Igreja nunca se dissocia dos problemas temporais dos próprios membros. Ela permanece junto do pobre e daquele que sofre; quer a justiça e a paz; interessa-se pelas concretas necessidades do fiel. Em tudo isto, porém, a Igreja não esquece nunca a prioridade da sua missão espiritual, recordando-se de que o seu fim último é o de guiar todos os homens e mulheres à eterna salvação em Cristo.

3. Permiti-me também falar-vos da actividade missionária da Igreja, e reflectir sobre os frutuosos resultados por ela conseguidos aqui, no vosso País. Ao ver esta vasta multidão, não posso deixar de recordar os generosos missionários, homens e mulheres, que deixaram a sua terra natal a fim de anunciar o Evangelho no vosso meio. Eles aceitaram muitos sacrifícios pessoais e suportaram grandes sofrimentos para realizar esse trabalho, para vos trazer o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. E os seus esforços não foram em vão! Quando a mensagem de Cristo vos foi anunciada, "aceitaste-a — como diz São Paulo — não como palavra de homens, mas como Palavra de Deus, a qual opera eficazmente em vós, que crestes" (1 Tess 2, 13). Alegro-me convosco deste maravilhoso trabalho da graça! Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo e da Sua Igreja agradeço aos missionários a sua fé e os seus contínuos esforços e perseverante trabalho.

É animador ver a vitalidade da Igreja nas Filipinas: ver, par exemplo, a participação activa realizada pelos leigos; o contributo dado pelos catequistas, pelos assistentes sociais e por tantos outros; e o papel indispensável das famílias cristãs, cada uma a seu modo, ao fazer progredir o Reino de Deus. Há além disso a fundação de numerosas escolas e universidades católicas, de instituições de saúde ou correspondentes a outras necessidades, e a fundação de Seminários como se pode ver aqui em Baguio City. Tudo isto está a testemunhar quanto a Palavra de Deus tem frutificado e qual é a profundidade da vossa fé no Senhor. Alegro-me especialmente porque muitos filipinos responderam a Cristo que os chamava a servir a Igreja como sacerdotes e religiosos, não na pátria, mas também em outros Países. E claro que a actividade missionária da Igreja produziu, na vossa terra, abundantes frutos.

4. Meus irmãos e irmãs, agradecido pela maneira como respondestes de todo o coração ao Evangelho, desde quando ele foi pela primeira vez anunciado no meio de vós, e estimulado pelo mandato missionário que nos foi dado por Cristo, quero exprimir-vos o meu especial desejo: que os filipinos se tornem os principais missionários da Igreja na Ásia. Para tanto, quereria fazer minhas as palavras a vós dirigidas por Paulo VI quando da sua visita pastoral nas Filipinas: "Neste momento não se pode deixar de pensar na importância do chamamento das populações filipinas; esta terra tem, de facto, vocação especial para ser uma cidade situada sobre um monte ou a lâmpada posta no alto (cf. Mt 5, 14-15) a dar testemunho luminoso, entre as antigas e nobres culturas da Ásia. Tanto no piano individual como ao nível de Nação, deveis manifestar com o exemplo da vossa vida, a luz de Cristo" (29 de Novembro de 1970).

Entre todos os vossos vizinhos nesta parte do mundo, vós, cidadãos das Filipinas, ocupais um lugar privilegiado. Só o vosso País é em maioria cristão; representais mais de metade de todos os católicos da Ásia. Ao considerar isto, pergunto-vos: não foi talvez o Senhor da história que vos destinou a ter una papel preeminente no esforço missionário da Igreja nesta região? Não foi Ele que vos preparou para dar vivo testemunho entre as antigas e nobres culturas da Ásia? As últimas palavras pronunciadas por Jesus aos discípulos não assumem para vós especial importância neste momento: "Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda a criatura" (Mt 16, 15)?

Este é o meu sincero desejo e a minha fervorosa oração: que vós, meus irmãos e irmãs das Filipinas, possais ocupar o lugar que vos compete na vanguarda do esforço missionário da Igreja, especialmente aqui, na Ásia. Por isso, exprimo o meu profundo apreço pela recente fundação da Sociedade Missionária das Filipinas; do mesmo modo louvo a obra de evangelização da Rádio Veritas. Que Deus abençoe copiosamente estas iniciativas! E cada um de vós — que vos tornastes templo de Deus mediante o baptismo — possa contribuir para a proclamação do Evangelho, na maneira que lhe é possível.

Proclamai, com a palavra e com as acções, que Jesus Cristo é "o caminho, a verdade e a, vida" (Jo 14, 6), que Jesus Cristo é o Senhor!

 



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