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VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE À GRÃ-BRETANHA
28 DE MAIO - 2 DE JUNHO DE 1982

SANTA MISSA NA CATEDRAL DE LIVERPOOL

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

Liverpool, 30 de Maio de 1982

 

Seja louvado Jesus Cristo

1. Quando está para concluir-se o domingo do Pentecostes, estamos reunidos nesta igreja, a Catedral de Cristo Rei em Liverpool, para celebrar a Sagrada Eucaristia, fonte e auge da vida cristã, além de sacramento da união e do amor.

Durante esta minha peregrinação apostólica à Grã-Bretanha, causa-me prazer não só celebrar a Eucaristia, mas também administrar os outros sacramentos aos fiéis das Igrejas locais. Tive já ocasião de celebrar baptismos e crismas, e de dar a extrema unção aos doentes. Embora não me seja possível esta tarde celebrar o sacramento da Confissão, desejo todavia sublinhar a importância da penitência e da reconciliação na vida da Igreja, e na vida individual de cada membro seu.

Há dois anos o Congresso Pastoral Nacional reuniu-se nesta Catedral para inaugurar os seus trabalhos com uma cerimónia de arrependimento e reconciliação. Os presentes oraram para obter saúde e perdão, e também a graça de serem fiéis à vontade de Deus. Pediram que a luz e a sabedoria guiassem as suas decisões e reforçassem o seu amor para com a Igreja. Esta tarde encontramo-nos reunidos diante do mesmo altar para honrar e glorificar o Senhor, para louvar o nosso Deus que é tão misericordioso. Damo-nos conta da necessidade de conversões e reconciliações. Também nós pedimos para compreender onde houve discórdia. Procuramos encontrar unidade no mesmo Espírito Santo que oferece tantos dons aos fiéis e diversos ministros à Igreja.

2. Antes do primeiro Pentecostes, Jesus disse aos discípulos: "Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (Jo 20, 23). Estas palavras do nosso Salvador levam-nos a recordar o dom fundamental da nossa redenção: o dom de ficarmos com os nossos pecados perdoados e nos encontrarmos reconciliados com Deus. A remissão dos pecados é dom totalmente gratuito e não merecido, renovação de vida que não conseguiremos ganhar para nós de outro modo. Deus no-lo oferece na Sua misericórdia. Como escreveu São Paulo: "Tudo isto vem de Deus, que por meio de Cristo nos reconciliou consigo e nos confiou o ministério da reconciliação" (2 Cor 5, 18).

Não existe nenhum pecado que não possa ser perdoado, se nos aproximamos do trono da misericórdia com coração humilde e contrito. Nenhum mal é mais forte do que a infinita misericórdia de Deus. Tornando-se homem, Jesus penetrou completamente na nossa experiência humana, até ao ponto de sofrer o último e mais cruel efeito do poder do pecado — a morte na Cruz. Tornou-se verdadeiramente como nós, em tudo excepto no pecado. Mas o mal, com toda a sua força, não conseguiu vencer. Morrendo, Cristo destruiu a nossa morte; ressuscitando, reconduziu-nos à vida; as Suas feridas curaram-nos e os nossos pecados foram perdoados. Por este motivo, quando o Senhor apareceu aos discípulos depois da Ressurreição, mostrou-lhes as Suas mãos e o Seu lado. Queria que eles vissem que a vitória fora conseguida; que Ele, Cristo Ressuscitado, tinha transformado os sinais do pecado e da morte em símbolos de esperança e de vida.

3. Com a vitória da Sua Cruz, Jesus Cristo obtivera para nós o perdão dos nossos pecados e a reconciliação com Deus. E são estes os dons que nos oferece Cristo quando envia o Espírito Santo à Igreja, pois dissera aos Apóstolos: "Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados" (Jo 20, 23). Por meio do Espírito Santo a Igreja continua a obra de Cristo que está em reconciliar o mundo com Ele. Em todas as épocas, a Igreja é a comunidade dos fiéis que se reconciliaram com Deus, a comunidade daqueles que receberam a reconciliação querida por Deus Pai e obtida mediante o sacrifício do Seu amado Filho.

Além disso, a Igreja é, por sua natureza, sempre reconciliadora, pois transmite aos outros o dom que ela recebeu, o dom de ter sido perdoada e ter ficado uma coisa só com Deus. Realiza ela esta passagem de vários modos, mas especialmente através dos sacramentos, e de modo particular através da confissão. Com este sacramento consolador ela conduz cada fiel pessoalmente para diante de Cristo, e, através do ministério da Igreja, o próprio Cristo dá perdão, força e misericórdia. Através deste sacramento altamente individual, Cristo continua a vir ao encontro dos homens e das mulheres do nosso tempo. Restabelece a união onde havia discórdia, leva a luz aonde reinava a obscuridade, e dá uma esperança e uma alegria tais que o mundo não poderia nunca dar. Através deste sacramento a Igreja proclama ao mundo a infinita riqueza da misericórdia de Deus, aquela misericórdia que destrói as barreiras que nos separam de Deus e do nosso próximo.

Neste dia do Pentecostes, enquanto a Igreja proclama a acção reconciliadora de Jesus Cristo e o poder do Espírito Santo, eu apelo para todos os fiéis da Grã-Bretanha, e para todos os outros membros da Igreja que podem ouvir a minha voz ou ler as minhas palavras: Meus caros, demos maior importância ao sacramento da Confissão na nossa vida. Esforcemo-nos por salvaguardar o que na minha primeira encíclica descrevi como o "direito de Cristo de encontrar cada um de nós no momento-chave da vida espiritual, constituído pelo momento da conversão e do perdão" (Redemptor hominis, 20). E em particular peço-vos, meus irmãos sacerdotes, que vos convençais de quão estreita e eficazmente podeis colaborar com o Salvador na divina obra da reconciliação. Por falta de tempo algumas actividades importantes devem por vezes ficar abandonadas ou adiadas, mas nunca a confissão. Dai sempre a precedência a este encargo tipicamente sacerdotal, representando o Bom Pastor no sacramento da Confissão. E enquanto testemunhardes e louvardes esta maravilhosa acção do Espírito Santo nos corações humanos, sentireis que fostes chamados a uma ulterior conversão e a um amor mais profundo por Cristo e Seu rebanho.

4. Enquanto os Cristãos hoje se esforçam por reconciliar o mundo, sentem a necessidade mais que nunca forte de serem completamente reconciliados entre si. De facto o pecado da desunião entre Cristãos, que existe de há séculos, pesa desmedidamente sobre a Igreja. A gravidade deste pecado foi claramente demonstrada durante o Concílio Vaticano II, que estabeleceu: "Sem qualquer dúvida esta discórdia está em aberta contradição com a vontade de Cristo, provoca um obstáculo no mundo e dificulta que a santa causa proclame a boa nova a toda a criatura" (Unitatis redintegratio, 1).

A restauração da unidade entre os Cristãos é uma das maiores preocupações da Igreja na última parte do século XX. E esta tarefa diz respeito a nós todos. Ninguém pode ser exonerado de tal responsabilidade. Na verdade, cada um pode dar o seu contributo, por pequeno que possa parecer, e todos são chamados àquela conversão interior que é a condição fundamental do ecumenismo. Como ensinou o Concilio Vaticano II: "Esta mudança no coração e na santidade da vida, juntamente com as orações públicas e particulares pela unidade dos Cristãos, deve considerar-se a alma de todo o movimento ecuménico, e pode justamente ser chamado 'ecumenismo espiritual'" (ibid., 6).

O Espírito Santo, fonte de toda a unidade, provê o Corpo de Cristo com uma "variedade de dons" (1 Cor 12, 3), a fim de que possa ser construído e reforçado. Assim como o Espírito Santo deu aos Apóstolos o dom das línguas, de modo que todos quantos se encontravam em Jerusalém, durante o primeiro Pentecostes, pudessem ouvir e compreender a única palavra de Cristo, porque não poderemos também nós pedir que o mesmo Espírito Santo nos dê os dons de que temos necessidade para continuarmos a obra da salvação, e para sermos reunidos, como um único corpo, em Cristo? Nisto cremos e por isto pedimos, esperançados no poder que o Espírito deu à Igreja durante o Pentecostes.

5. "Enviai o Vosso Espírito... e renovareis a face da terra" (Sl 104, 30). Estas palavras do salmo são também a nossa oração que hoje dirigimos com toda a alma a Deus Todo-Poderoso para que renove a face da terra por meio do poder do Espírito que dá a vida. Mandai adiante o vosso Espírito, ó Senhor, renovai os nossos corações e as nossas mentes com os dons da luz e da verdade. Renovai as nossas casas e as nossas famílias com os dons da unidade e da alegria. Renovai as nossas cidades e as nossas aldeias com a verdadeira justiça e a paz duradoura. Renovai a vossa Igreja no mundo com os dons da penitência e da reconciliação, com a unidade na fé e no amor.

Enviai adiante o Vosso Espírito, ó Senhor, e renovai a face da terra!

 



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