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MENSAGEM URBI ET ORBI
DO PAPA JOÃO PAULO II
PARA A PÁSCOA DE 1983

 

1. "Porque buscais entre os mortos aquele que vive?

Não está aqui, mas ressuscitou" (Lc. 24,5-6).

As mulheres, que tinham ido procurar Cristo crucificado — morto entre os mortos — ouvem estas palavras. E não as compreendem.

Mas o sepulcro está vazio.

Desde as primeiras horas da manhã do Dia a seguir ao sábado, difunde-se a novidade do sepulcro vazio.

Neste anúncio exprime-se a primeira mensagem pascal.

"Procurais a Jesus, o Nazareno, o crucificado: ressuscitou, não está aqui" (Mc. 16, 6).

"A destra do Senhor fez prodígios" (SL. 117 [118], 16).

2. Em direcção àquele "lugar onde o tinham posto" (Mc. 16, 6) peregrinam os séculos. E as gerações detêm-se diante do sepulcro vazio, do mesmo modo que aí se detiveram as primeiras testemunhas a seu tempo.

Neste Ano, mais do que nunca, vamos em peregrinação ao sepulcro de Cristo. Voltemos às primeiríssimas palavras que foram ditas às piedosas Mulheres, nas quais ficou expressa a mensagem pascal.

Neste Ano, mais do que nunca, a Igreja aspira a ser testemunha da Ressurreição: estamos, efectivamente, no Ano Santo da Redenção, do Jubileu extraordinário.

A Redenção promana da Cruz e tem o seu complemento na Ressurreição.

Agnus redemit oves. Christus innocens Patri reconciliavit peccatores (O Cordeiro redimiu o seu rebanho. Cristo inocente reconciliou com o Pai os pecadores).

3. E eis o homem subtraído à morte e restituído à vida.

Eis o homem subtraído ao pecado e restituído ao Amor.

Todos vós, em qualquer lugar que vos encontreis, que vós embrenhais nas trevas da morte, escutai: Cristo ressuscitou!

Todos vós que viveis sob o peso dos pecados, escutai: Cristo venceu o pecado, com a sua Cruz e Ressurreição! Submetei-vos à sua potencia!

4. Mundo contemporâneo: submete-te à sua potência!

Quanto mais descobrires as velhas estruturas do pecado e quanto mais te aperceberes do horror da morte a pairar no horizonte da tua história, tanto mais hás-de submeter-te à sua potência!

5. Ó Cristo, que na vossa Cruz acolhestes o nosso mundo humano — o mundo de ontem, de hoje e de amanhã, o velho mundo do pecado — fazei com que ele possa existir como novo na vossa Ressurreição; fazei com que ele se torne novo mediante a visita da potência da Redenção a todos os corações dos homens.

6. Ó Cristo Ressuscitado, nas vossas chagas glorificadas acolhei todas as chagas dolentes do homem contemporâneo: aquelas chagas de que tanto falam os meios de comunicação social, e também aquelas outras que, silenciosamente, fazem doer no segredo recôndito dos corações. Que elas sejam curadas no mistério da vossa Redenção. Que elas fiquem cicatrizadas e fechadas mediante o Amor, que é mais forte do que a morte.

7. Por este Mistério

— estamos convosco, os que sofreis a miséria e a fome, assistindo impotentes, por vezes, à agonia dos filhos que pedem pão;

— estamos convosco, plêiades de milhões de prófugos, expulsos das vossas casas e desterrados das vossas pátrias;

— estamos convosco, todos os que sois vítimas do terror, encerrados em prisões ou em campos de concentração, consumidos por maus tratos ou por torturas;

— estamos convosco, os sequestrados;

— estamos convosco, os que viveis com o pesadelo de ameaças quotidianas de violência ou de guerra civil;

— estamos convosco, os que sofreis por causa de calamidades imprevistas, como está a suceder nestes dias com a população da antiga cidade de Popayan, gravemente atingida pelo terremoto;

— estamos convosco, famílias que pagais o tributo da vossa fé em Cristo com discriminações suportadas ou com o terdes de renunciar a estudos ou a um futuro honroso para os vossos filhos;

— estamos convosco, pais que continuamente viveis em ansiedade por causa do tormento espiritual ou por um certo extraviamento dos vossos filhos;

— estamos convosco, jovens que vos achais desanimados, por não encontrar trabalho, uma casa e a dignidade social a que aspirais;

— estamos convosco, os que sofreis por causa da doença, da idade e da solidão;

— estamos convosco, os que vivendo perdidos no meio da angústia e da dúvida, invocais a luz para a mente e a paz para o coração;

— estamos convosco, os que, sentindo o peso do pecado, invocais a graça de Cristo Redentor.

Mas, por este Mistério da Ressurreição também

— estamos convosco, os que nestes dias haveis dado novo impulso aos propósitos de vida cristã, lançando-vos nos braços misericordiosos de Cristo;

— estamos convosco, os convertidos e os recém-baptizados, que descobristes o convite do Evangelho;

— estamos convosco, os que procurais superar as barreiras da desconfiança, com gestos de bondade e de reconciliação, no seio das famílias e das sociedades;

— estamos convosco, homens do trabalho e da cultura, que aspirais a ser o fermento evangélico no ambiente onde exerceis a actividade;

— estamos convosco, pessoas consagradas a Cristo e, especialmente convosco, os que vos prodigalizais para levar aos irmãos — sobretudo em terras de missão — a Boa Nova da humanidade remida por Cristo;

— estamos convosco, mártires da fé em Cristo, que no meio de opressões muitas vezes escondidas ou ignoradas enriqueceis a Igreja, suportando com paciência e implorando perdão e conversão para quem vos persegue;

— estamos convosco, homens de boa vontade de todas as raças e de todas as latitudes, que de alguma maneira sentis a atracção de Cristo e dos seus ensinamentos.

Sim, estamos com todas as chagas dolorosas da humanidade contemporânea; e estamos com todas as expectativas, esperanças e alegrias dos nossos irmãos, às quais Cristo Ressuscitado dá sentido e valor.

8. A Igreja no dia de hoje compartilha a Mensagem Pascal com todos os Irmãos em Cristo e com todos os homens do mundo.

Estamos de modo particular convosco, os que estais onde a opressão das consciências não permite rezar em conjunto nem celebrar a Páscoa.

Acolhei todos as palavras desta Mensagem!

Que se façam eco dela as várias línguas e onde estas faltarem, que se torne eloquente a linguagem do Espírito, que directamente visita as almas e fala no mais íntimo dos corações.



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