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  DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AOS TRABALHADORES DO CENTRO INDUSTRIAL
 DE POMÉZIA (ITÁLIA)

14 de Setembro de 1979

 

A graça e a paz do Senhor Jesus estejam com todos vós, caríssimos Irmãos e Irmãs.

Não posso esconder a minha alegria profunda ao encontrar-me no meio de vós, operários e operárias. Sede todos bem-vindos a este encontro. Agradeço vivamente o convite que me dirigistes e a demonstração de afecto a mim reservada. Agradecimentos especiais ao Senhor Presidente da Câmara pelo seu gentil acolhimento, ao representante dos empresários e ao dos operários, pelas belas palavras que me dirigiram e fizeram que me sentisse em uníssono com a vossa fé de cristãos e com os vossos corações, com os vossos problemas de homens.

1. Permiti-me, antes de iniciar a minha conversa convosco, dirigir uma saudação cordial de bons votos a todos os componentes das famílias desta bela e activa vila. que se encaminha para vir a tornar-se cidade e A. se impõe ao respeito de todos pela laboriosidade e pelo esforço social.

Vão sobretudo urna saudação e uma carícia para as crianças aqui presentes e para as que ficaram em casa: sejam elas abençoadas porque são a riqueza e a alegria dos vossos lares.

Saudação especial dirijo a vós, jovens, meninos e meninas, que tanto estimo pela autenticidade e pela vossa capacidade de coerência e de sacrifício, de que dais tantas vezes prova eloquente.

Saudação a vós, homens e mulheres, que levais o peso, muitas vezes esmagador, da fadiga quotidiana, nas indústrias e nos campos: conheço bem o vosso estado de alma e as tensões que sofreis; também eu, como já disse noutra ocasião, tive "a experiência directa dum trabalho físico como o vosso, duma fadiga diária e da dependência que impõe, do peso e da monotonia" (João Paulo II, Discurso aos operários de Monterrey, México, 1979). Considerai por isso o Papa, vosso amigo e colega.

Uma saudação a todos dentre vós que estão doentes; sabei que me encontro sempre perto de vós com a minha bênção e a minha oração incessante. Como já Cristo na Cruz, vós não podeis mover-vos livremente, mas, como Ele, alargais os braços sobre a vossa cidade, mesmo sobre o mundo inteiro, oferecendo por todos o vosso sofrimento.

Uma saudação particular a vós, empresários, dirigentes e organizadores de empresas, que dais trabalho e pão, a fim de que a sociedade seja transformada mediante a cooperação de todas as forças activas. Tendes certamente grandes méritos, mas também grandes responsabilidades.

Por fim, uma saudação especialmente afectuosa aos Padres Oblatos das duas Paróquias de São Bento e de São Miguel, que multiplicam os seus cuidados, com a presença fraterna, pelo bem espiritual das vossas almas, sob a direcção do Bispo, Dom Gaetano Bonioelli, presente nesta reunião.

2. Ao encontrar-me no meio de vós nesta tarde, apresenta-se-me também a oportunidade de oferecer a minha voz aos problemas que afligem este centro industrial, que em poucos anos registou um aumento de população verdadeiramente enorme. Em 1939 os habitantes não passavam de 1.500 pessoas, hoje, a 40 anos de distância, ultrapassastes o número de 30.000, com 264 administrações. Tudo isto faz que Pomézia — sendo embora zona notavelmente industrializada e com um balanço económico particularmente activo — se encontre a braços com muitos problemas devidos sobretudo h carência de infra-estruturas, necessárias para mais ampla presença de empresas e trabalhadores. Há dificuldades e incómodos na vida social: e permito-me rogar a intervenção solícita das autoridades competentes, exprimindo a minha palavra de ânimo e o meu aplauso aos que dedicam cuidados e meios para vos dar, a vós habitantes de Pomézia, condições cada vez mais justas e mais estáveis para a vossa actividade e para o vosso bem-estar.

3. Nesta Audiência, em que me encontro — em forma, por assim dizer, oficial — com a gente do trabalho na Itália, desejo travar um diálogo convosco e interrogar-vos para conhecer o vosso estado de alma em relação com a Igreja, que alimenta por vós gratidão profunda e simpatia, devido àquilo que sois e àquilo que fazeis. As vezes, pelo contrário, nos ambientes do trabalho encontra-se difundida a opinião contrária. A Igreja, diz-se, ocupa-se dos valores morais e religiosos, e desinteressa-se dos valores económicos e temporais, como se não compreendesse a realidade em que se encontra o trabalhador. Assim duvida-se ou desconfia-se das palavras e dos gestos benévolos da Igreja. Alguns chegam mesmo a perguntar-se: que tem que ver a religião com a indústria, não são duas realidades heterogéneas? Não é isso misturar o sagrado com o profano?

Caríssimos Irmãos e Irmãs, responder-vos-ei com toda a franqueza que estas objecções não têm razão de ser, quando se considera a vossa actividade como parte duma actividade mais vasta, que é a própria do homem, a moral, e quando se têm presentes as finalidades a que o vosso trabalho quer chegar, isto é, à vida do homem na sua totalidade e no seu destino superior e imortal. Dir-vos-ei também que estas objecções poderiam fechar a entrada, no vosso sector, aos factores espirituais, cuja falta é causa de verdadeiras e reais deficiências, de desordem, de perigos e prejuízos. O elemento cristão, em vez de gerar inquietações, faz que elas se vençam devidamente, porque leva à fábrica paz, justiça e unidade. Por isso, nas grandes Encíclicas sociais, como a Rerum Novarum de Leão XIII, a Quadragesimo Anno de Pio XI, a Mater et Magistra e a Pacem in Terris de João XXIII, e a Populorum Progressio de Paulo VI, os Sumos Pontífices nunca se cansaram de afirmar que é necessário um coeficiente religioso para dar melhor solução às relações humanas derivadas da organização industrial, isto não já para empregar o factor religioso como elemento alienante, mas para descobrir pelo contrário, à sua luz, a carência fundamental de todo o sistema que pretenda considerar como puramente económicas as relações humanas nos locais de trabalho, e para sugerir quais são as outras relações que devem integrá-las, regenerá-las mesmo, segundo a visão cristã da vida: primeiro o homem, depois o resto. Conforta notar como a religião cristã proclama a primazia de Deus sobre todas as coisas e põe, por isso mesmo, em actividade, nas realidades temporais, a primazia do homem. Conforta também observar como tal primazia constitui o motivo que estimula e justifica aquele dinamismo social e aquele progresso cívico, a que o fenómeno industrial imprime o seu movimento inevitável. E é precisamente em virtude do reconhecimento de tal primazia que hoje se está a sair do estádio primitivo da era industrial, quando se julgava que a harmonia social resultava unicamente do determinismo das condições económicas em jogo, ao passo que é a todos conhecido como tantos danos são causados pela busca do bem-estar humano fundado, exclusiva e unicamente, sobre os bens económicos e sobre uma visão materialista da vida, que não serve o homem mas o escraviza.

É preciso não esquecer, a este propósito, que o trabalho é para o homem e não o homem para o trabalho; se assim não fosse, o homem voltaria a ser escravo. Ora se o homem é o primeiro valor, nós não podemos diminuí-lo e par assim dizer decapitá-lo, negando-lhe a sua projecção essencial para a transcendência, isto é, para Deus, que fez do homem colaborador Seu. Nesta visão superior, o trabalho — pena e ao mesmo tempo prémio da actividade humana — comporta outra relação, quer dizer, a essencialmente religiosa, que foi expressa com felicidade na fórmula beneditina: ora et labora. O facto religioso confere ao trabalho humano uma espiritualidade animadora e redentora. Tal parentesco entre trabalho e religião reflecte a aliança misteriosa mas real que medeia entre o operar humano e o providencial de Deus, causa primeira que domina e governa o que foi criado.

4. Eis, Irmãos caríssimos, as razões por que a Igreja, como insinuava acima, não pode olhar para o trabalhador sem experimentar um sentimento sincero de simpatia; simpatia que significa participação no seu sofrimento, compreensão e disposição para a estima, para a amizade e para o amor; que significa ainda reconhecimento e proclamação da sua dignidade de homem, de irmão e de pessoa inviolável, sobre cujo rosto está impressa a imagem de Deus.

Simpatia que brota, também e sobretudo, de Cristo ter sido homem do trabalho manual; esteve na dependência de São José, foi o filho do carpinteiro (Mt 13. 55). Cristo está sempre convosco, está sempre no meio de vós: onde quer que o homem sua, trabalha e sofre, está Ele presente. Posso dizer que vim aqui procurá-lo entre vós, que vos sujeitais à vossa penosa fadiga, como Ele em tempos na oficina de Nazaré. Em nome d'Ele portanto vos abençoo a todos e vos aperto a mão em sinal de fraterna benevolência.

 

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