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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AOS COLABORADORES DO «GOVERNATORATO» VATICANO

Sábado, 6 de Janeiro de 1980

 

1. Para todos vós a minha saudação cordial! Estou contente por este encontro especial que decorre no clima tão característico das festas natalícias e nos oferece a possibilidade —  desejada por vós e por mim — de trocarmos bons votos para o novo ano, há pouco começado.

Eis-vos reunidos, vós que prestais os vossos serviços nas dependências do Governatorato, com os vossos familiares, e os operários das Empresas que prestam serviço no Vaticano, com as respectivas famílias. Encontrardes-vos reunidos consente, a vós e a mim, uma percepção, mesmo física, da realidade humana desta vossa comunidade que trabalha quotidianamente nos limites deste Estado, minúsculo no seu território mas muito importante sob o ponto de vista espiritual. Isto dá ao vosso trabalho — e vós tendes, com certeza, consciência disso — um "significado" de todo particular; isto é, o de uma colaboração que vos torna, embora sob planos diferentes, parte activa de um organismo complexo que se movimenta em torno do Papa possibilitando-lhe o seu trabalho e ajudando-o nele, na sua missão universal de Vigário de Cristo.

Uma consciência semelhante, a que se junta a da nobreza e dignidade do vosso esforço diário, seja este qual for, pode dar-vos a legítima altivez de estardes assim, mais que os outros, ligados intimamente ao Sucessor de Pedro, para quem todo o mundo católico olha como centro da própria comunhão na caridade.

2. O primeiro sentimento que, a vosso respeito, me vem ao espírito, é o da gratidão. Estou certo que cada um de vós cuida, com sentido de responsabilidade e generosa dedicação, dos próprios deveres, empenhando-se em dar o seu próprio e efectivo contributo ao bom funcionamento de toda a estrutura, que não é só conjunto de edifícios, mas é sobretudo estrutura social, que dá pelo nome de Vaticano.

É-me grato, portanto, aproveitar esta ocasião para a todos manifestar o meu apreço e para dizer a cada um o meu obrigado. Queria que a expressão deste meu sentimento de reconhecimento vos fizesse sentir melhor a cordialidade característica da minha relação convosco, cordialidade que, por vossa parte, de certo partilhais: relação que não é, que não pode limitar-se a ser a que liga — como se costuma dizer — um "dador de trabalho" aos prestadores de serviço, mas é, antes e sobretudo, a relação de um pai, necessitado de ajuda, com os filhos que lhe prestam essa ajuda. Isto não significa, naturalmente, que não devam reinar em tal relação os soberanos critérios da justiça e a atenção devida à dignidade do trabalho e à personalidade do trabalhador, quer este seja empregado ou operário: critérios e atenção que, pelo contrário, seguindo as pegadas dos meus grandes e mais próximos Predecessores, pretendo afirmar cada vez melhor, nos princípios e na prática; mas quer ainda dizer que, para além e acima de tais exigências, eu desejo ser para vós — e como tal vós quereis decerto ver-me e considerar-me — o pai que, além daquilo que vos é devido por justiça, vos quer dar o seu afecto.

3. Isto leva-me a testemunhar-vos, neste nosso encontro, um segundo sentimento: o da minha solicitude, sincera e profunda, por vós e pelas vossas famílias. Isto sinto por todos aqueles que, no mundo, vivem do próprio trabalho, e do trabalho tiram satisfações e também dificuldades; mas isto vale, em particular, para vós que me estais muito próximos. É sentimento em que entra, em primeiro lugar, a consideração dos problemas materiais da vossa existência; a que é meu desejo e propósito ir ao encontro, no que me seja possível e o consintam as condições da Sé Apostólica, na forma e no modo mais adequados.

Conheço esses problemas; conheço, em particular, as preocupações — e, por vezes, as angústias — de vós, pais; com o futuro dos vossos filhos.

A minha compreensão traduz-se em oração; uma oração, a que vos peço unais as vossas, de cristãos, convencidos de que se não é o Senhor a edificar a casa, em vão trabalham aqueles que se esforçam em construí-la (Cfr. Sl. 127 (126), 1).

Decerto não vos admirareis que o Papa se valha desta ocasião para vos exortar a um empenho renovado de coerência com os princípios da fé que professais; ele encoraja-vos a conquistar cada vez mais profundamente a alegria de vos saberdes amados pessoalmente por Cristo, o qual se fez menino, pobre e inerme, para que ninguém tivesse medo d'Ele, mas antes se sentisse atraído a aproximar-se d'Ele com plena confiança e amor espontâneo. Ide, também vós, a Cristo e sede-Lhe fiéis antes de mais na intimidade dos vossos sentimentos pessoais, depois no testemunho corajoso das vossas palavras, e finalmente — e é isto o que mais conta — na límpida coerência das vossas acções.

Nunca vos envergonheis de vos dizerdes cristãos, e comportai-vos de modo que nunca tenha Cristo de se envergonhar de vós. Possam os vossos filhos, olhando para vós, sentir alegria de pertencerem à Igreja e vibrar de entusiasmo pela nobreza dos ideais que orientam a vossa existência. Fazei-lhes entender com a seriedade dos vossos costumes, com a rectidão do vosso proceder, com a caridade para com o próximo e a sensibilidade às necessidades de cada irmão — o que é um cristão e qual é a sociedade pacífica e justa que ele está em condições de construir.

4. Com estes sentimentos dirijo-vos os meus votos de Ano Bom. Os auspícios, sob os quais se abriu 1980, não são, infelizmente, encorajadores. Correndo os olhos pela panorâmica do mundo, somos instintivamente levados a aplicar ao nosso tempo as palavras do texto profético de Isaías, que ouviremos amanhã: A escuridão envolve a terra, e trevas densas cobrem as nações ( Is 60, 2). Nós, todavia, não podemos nem queremos abandonar-nos ao desencorajamento perante as escuras previsões que de muitos lados se levantam. Vem em nossa ajuda, o anúncio que Isaías proclama, no mesmo texto, a quantos, na fé, fazem parte do povo de Deus, a nova Jerusalém: Ergue-te e resplandece, que a tua luz desponta, e a glória do Senhor está sobre ti (Is 60, 1). A luz, a que alude o Profeta, é Cristo. Durante estes vinte séculos de história, gerações inteiras encontraram na Sua mensagem, constantemente proclamada pela Igreja, a resposta satisfatória às suas interrogações, o conforto nas suas ansiedades, a guia e o amparo nos momentos difíceis. Na verdade "os povos caminharam à sua luz" (Cfr. Is 60, 3)! Ora bem! Não são poucos os sinais que nos trazem o testemunho de um renovado interesse, por parte desta nossa geração, pela pessoa de Cristo e pelo seu Evangelho. Há, portanto, motivo para esperarmos e para nos sentirmos empenhados em cooperar mais generosamente na difusão da luz que vem de Cristo "Redentor do homem e centro do cosmos e da história".

Nesta perspectiva renovo, a vós e aos vossos familiares, sobretudo aos vossos filhos para quem se dirige, de modo particular, o nosso pensamento nestes dias em que contemplamos no Presépio o Deus feito menino, os meus votos mais fervorosos de serenidade interior; de bem-estar e de paz. Comprova-o a Bênção especial que, com paterno afecto, a todos concedo de coração.

 

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