VIAGEM APOSTÓLICA À ESPANHA
31 DE OUTUBRO - 9 DE NOVEMBRO DE 1982
DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AOS REPRESENTANTES DAS CONFISSÕES CRISTÃS
NÃO CATÓLICAS NA ESPANHA
Madrid, 3 de Novembro de 1982
1. O texto da carta aos Efésios (4, 1-6) que acabámos de ouvir é, queridos irmãos, uma exortação a viver a solicitude cristã pela unidade no amor.
Saúdo-vos com grande afecto, a vós cristãos de outras Confissões que, na Espanha, seguem o Evangelho de Jesus Cristo. A comum profissão deste nome faz de nós verdadeiros irmãos. No início do nosso encontro de hoje evoco as palavras do Salmo: "Como é bom, como é agradável viverem os irmãos em unidade!" (Sl 132, 1).
Na minha visita pastoral a Espanha, como costumo fazer nas minhas viagens apostólicas, não quis deixar de me pôr em contacto convosco, para juntos orarmos e compartilharmos as nossas ansiedades pela restauração da unidade entre todos os cristãos. Desde o começo do meu pontificado, a causa do ecumenismo foi, e sempre tem sido, um dos meus objectivos primordiais.
2. Temos estreitos vínculos comuns fundamentados na Bíblia, Palavra de Deus, na fé apostólica que professamos nos grandes Símbolos e que se torna vida no Baptismo. O aprofundamento na sacramentalidade baptismal abre diante de nós perspectivas extraordinariamente positivas no caminho da plena unidade (cf. Unitatis Redintegratio, 22). E a oração pela unidade, feita em cada uma das nossas comunidades, ou também, quando for possível, em fraterna união de corações, não será o melhor meio para atrair sobre o compromisso ecuménico o Espírito de concórdia, que transforma as nossas vontades e as torna dóceis à sua inspiração?
Cada área geográfica tem a sua própria história religiosa, e as actividades ecuménicas têm, nos diversos lugares, características distintas e peculiares. A configuração histórica do vosso povo espanhol faz que a tarefa ecuménica tenha aqui matizes especiais. É patente o desequilíbrio numérico entre os católicos e os cristãos de outras Igrejas e Comunidades. No entanto, o problema da divisão na Espanha, e a sua eventual solução, não se podem separar desse mesmo problema e dos esforços já realizados para o solucionar tal como se apresentam a nível universal. É muito importante para todo o trabalho ecuménico que, nesta Nação de maioria católica, sejam fraternas as relações entre todos os que têm o nome de cristãos.
3. Sei que, por razões históricas bem conhecidas, sofrestes no passado para poder manter as convicções da vossa consciência. Graças a Deus, aquela situação foi superada, dando lugar a uma aproximação progressiva mútua, baseada na verdade e na caridade. É conveniente continuar a purificar a memória do passado, a fim de se encaminhar para um futuro de compreensão e de colaboração mútuas. A vossa presença neste acto, demonstra claramente que estais actuando nessa direcção.
Conheço — e estou sumamente satisfeito com isso — que existem diversas formas de colaboração na Espanha entre a Igreja católica e as outras Igrejas e Comunidades. A Comissão Cristã Interconfessional que, por parte católica, foi sempre estimulada pela Comissão Episcopal de Relações Interconfessionais, ocupou-se de questões vivas e actuais que interessam todos os cristãos: objecção de consciência, problemática dos matrimónios mistos, liberdade religiosa, direito à liberdade de ensino, organização e promoção das Semanas de Oração, a edição interconfessional do Novo Testamento em espanhol — um trabalho admirável — e outras. É preciso continuar a esforçar-se pelo cumprimento do desejo do Senhor, manifestado na Útima Ceia: Que todos sejam um só, para que o mundo creia (cf. Jo 17, 21).
4. Obrigado pela vossa presença, e a minha saudação fraterna a todos os irmãos e irmãs a quem representais. Peço ardentemente ao Senhor que todos permaneçamos "firmes num só espírito, combatendo juntos pela fé do Evangelho" (Fil 1, 27), para glória da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo.
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